LIÇÃO 5 – A IMPORTÂNCIA DOS DONS ESPIRITUAIS

Lições Bíblicas Aluno<br> Jovens e Adultos 2º trim-2011
                                   Uma das formas de operação do Espírito Santo, na atual dispensação, é através da concessão de dons aos servos do Senhor.
INTRODUÇÃO

O batismo com o Espírito Santo, a chamada “segunda bênção”, é apenas o primeiro degrau da manifestação do poder do Espírito Santo na Igreja. Depois do revestimento do poder, também chamado de “dom do Espírito Santo” (cf. At.2:38; 10:45), o Senhor deixa à disposição uma série de dádivas para que Seu povo possa eficazmente cumprir as tarefas cometidas à Igreja até que o Senhor Jesus volte para buscá-la. São os “dons do Espírito Santo” que o Espírito reparte particularmente a cada crente como quer (I Co.12:11).


No avivamento pentecostal, iniciado na rua Azusa e que chegou ao Brasil em 1911, não só houve o revestimento do poder, como o Senhor também concedeu dons a diversos crentes, como tem feito desde então. Preocupante, porém, tem sido a negligência da esmagadora maioria dos crentes pentecostais na atualidade na busca destes dons, uma necessidade premente na Igreja, notadamente quando se aproxima o dia da volta de Cristo, o que faz com que vivamos dias trabalhosos, de aumento da iniquidade e, portanto, de grande opressão maligna, a exigir, de cada um de nós, o máximo de poder de Deus que pudermos obter de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

I – OS DONS ESPIRITUAIS FORAM POSTOS À DISPOSIÇÃO DA IGREJA PELO PRÓPRIO SENHOR

-  Uma das operações do Espírito Santo entre os homens é a de transmitir poder a fim de que o nome do Senhor seja glorificado. A transmissão de poder dá-se a partir do revestimento de poder, que é o batismo com o Espírito Santo, conforme dito pelo próprio Jesus em Lc.24:49.

- Entretanto, a transmissão de poder não se limita ao batismo com o Espírito Santo. Ao contrário do que muitos crentes acham, o batismo com o Espírito Santo é apenas o início desta transmissão de poder, o estágio inicial para uma vida de consagração a Deus e de vaso para que o poder de Deus se manifeste a favor da humanidade. Não é por outro motivo que o batismo com o Espírito Santo é o primeiro ato revelador da Igreja para os homens, no limiar do livro de Atos dos Apóstolos. Que tenhamos este entendimento para que, ao contrário do que anda ocorrendo na igreja dos nossos dias, os crentes não se satisfaçam com o batismo com o Espírito Santo e encerrem sua jornada espiritual no seu primeiro degrau.
OBS: É elucidativo verificar que uma das reuniões da Congregação Cristã no Brasil, denominação pentecostal criada em 1910, no Brasil, também sob o impacto do avivamento da rua Azusa, é chamada de “busca de dons”, a refletir, portanto, qual era o pensamento e a mentalidade vigentes no início do avivamento que deu início ao movimento pentecostal mundial, pensamento e mentalidade que precisam ser resgatados na atualidade, máxime quando se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja. Como nos alerta a Palavra de Deus, “quem é santo, seja santificado ainda” (Ap.22:11 “in fine”), “porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé” (Rm.13:11 “in fine”).

- Os dons espirituais são chamados, no original grego, de "charismata"(χαρισματα), palavra que significa "graças", ou seja, os dons espirituais são dádivas, são favores imerecidos que Deus concede aos homens que estão dispostos a servi-l’O e que, por obediência, já alcançaram o batismo com o Espírito Santo.

-  A verificação do significado da palavra "charismata""(χαρισματα) é muito importante, pois demonstra, de forma cabal, que os dons espirituais são concessões divinas, decorrem do exercício da Sua infinita misericórdia, não havendo, portanto, qualquer merecimento, qualquer mérito por parte daqueles que são aquinhoados pelo Espírito Santo com um dom espiritual. O dom espiritual é concedido não porque alguém seja mais espiritual ou melhor do que outro, mas em virtude da soberana vontade do Senhor. Quem o diz não somos nós, mas a própria Palavra de Deus: "Mas um só mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer." (I Co.12:11).

- Nem sempre temos esta noção na igreja. Muitos são os que acham que os portadores de dons espirituais são crentes superiores aos demais, que têm um nível maior de espiritualidade e que, em razão disto, desfrutam de uma posição diferenciada no meio da comunidade. Este pensamento, inclusive, tem feito com que muitos crentes andem à procura destes irmãos a fim de que obtenham curas divinas, maravilhas, sinais ou profecias, num comportamento totalmente contrário ao que determina a Palavra de Deus, que ensina que os sinais seguem os crentes e não que os crentes correm atrás de sinais (Mc.16:17,20).

- Jesus não aprovou esta conduta, típica dos judeus formalistas e descrentes (Mt.12:38,39). Nenhum outro sinal devemos buscar, como disse nosso Senhor e Salvador, senão a Sua ressurreição, que é a garantia da aceitação do Seu sacrifício e do perdão dos nossos pecados. Creiamos em Deus e em Seu Filho(Jo.20:29).
OBS: "…Um ministro verdadeiramente cristão buscará muito mais fazer o bem espiritual para as almas dos homens do que obter para si os maiores aplausos…" (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Conciso, p. 1524.In: Master Christian Library, CD-ROM) (tradução nossa). Como este ensino precisa ser rememorado por muitos ministros do evangelho nos dias de hoje…

- Há, ainda, um agravante nesta conduta de busca de irmãos portadores de dons espirituais. Esta prática é um comportamento que faz com que a pessoa que busque tais “irmãos abençoados” mostre, claramente, a sua incredulidade, visto que, se somos salvos, temos o Espírito Santo em nós mesmos. Assim sendo, não há qualquer necessidade de buscarmos o Espírito Santo em outrem. Tal conduta revela que tais pessoas estão sendo iludidas pelo inimigo e já não creem que são templo do Espírito Santo. Tomemos muito cuidado, pois, nos últimos dias desta dispensação, muitos correrão de um lado para outro atrás do Cristo, quando o Cristo tem de estar em nós (Mt.24:23-26).



-  A posse dos dons espirituais é, sem dúvida, uma grande bênção que Deus nos dá, é mais um talento concedido pelo Senhor aos Seus servos, é mais uma ferramenta que é colocada à disposição da Igreja através de um vaso escolhido. Indubitavelmente, devemos, como servos do Senhor, buscar os dons espirituais, pois eles indicam que há um crescimento espiritual do seu detentor, mas por vontade e misericórdia de Deus, para a Sua glorificação e a edificação espiritual do povo de Deus, menina dos olhos do Senhor (Zc.2:8). Quem recebe um dom espiritual deve estar consciente que, em razão deste dom, não foi feito melhor dos que os demais irmãos, mas, bem ao contrário, foi-lhe dada uma responsabilidade ainda maior, de forma que deverá, sempre, usar este dom conforme a vontade do Senhor e de acordo com as Escrituras, pois deve sempre exercer este dom para a glória do nome do Senhor.
OBS: Neste ponto, aliás, é interessante observar o que diz a respeito a Constituição 'Lumen Gentium", o principal documento doutrinário do Concílio Vaticano II, que estabeleceu as diretrizes da Igreja Romana a partir da década de 1960: "…Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja.…" (Lumen Gentium 12. In: VIER O.F.M., Frederico. Compêndio do Vaticano II, p.53). Também oportuno é o ensinamento do prof. Felipe Aquino, católico romano: "…A nossa vida espiritual tem duas dimensões, primeiro uma dimensão voltada para dentro de nós e depois outra voltada para fora. Na segunda dimensão está a Igreja, é a dimensão de comunidade, a dimensão de caminhar com o povo de Deus, e Deus nos concede então os dons carismáticos, que não são necessariamente para nós mas para os outros, por exemplo o dom da sabedoria que não é a sabedoria para alimentar a nós mas para alimentar os outros, não apenas para nos orientar, o dom da fé, da ciência, o dom de cura, de milagres que são dons como diz São Paulo para o bem da Igreja, para os outros, para utilidade de todos. Quando nós exercemos os dons carismáticos não quer dizer que já somos santos, porque Deus pode usar quem Ele quiser da maneira que quiser, mas é preciso dizer que quanto mais santo a pessoa for mais fácil é para Deus usar essa pessoa, por isso os dons carismáticos não estão separados dos dons de santificação, e eu até diria que existe uma grande interface entre eles, quanto mais a pessoa vive os dons de santificação mais aptidão ela tem para viver os dons carismáticos. Na dimensão interior estão os dons de santificação." (Dons carismáticos. Disponível em:  cancaonova.com/portal/canais/rcc/pg_dons_carism.php?menu_id=9  Acesso em 31 dez. 2003)

-  Somente possuem dons espirituais aqueles que forem, antes, revestidos de poder. Este princípio bíblico, nem sempre ensinado pelos estudiosos da Bíblia Sagrada, decorre do próprio teor das Escrituras. Não vemos os discípulos exercerem os dons espirituais antes de serem revestidos de poder.

- Na nossa atual dispensação, é necessário que o Espírito Santo reparta os dons espirituais conforme a Sua vontade entre os crentes, mas somente aqueles crentes que já estiverem envolvidos pelo Espírito, a quem se transmitiu poder, transmissão esta que é feita única e exclusivamente por força do batismo com o Espírito Santo. Todos os crentes que são mencionados como portadores de dons espirituais no livro de Atos dos Apóstolos, são crentes que foram, antes do exercício destes dons, revestidos de poder, batizados com o Espírito Santo. É o que vemos na vida de Pedro, Paulo, Filipe e Estêvão, para ficarmos nos principais exemplos.

Os dons espirituais, portanto, são dádivas, poderes que o Espírito Santo concede a alguns crentes, a fim de que seja evidenciada, no meio do povo de Deus, a presença do Senhor e seja confirmada a pregação do Evangelho(Mc.16:20), ele próprio poder de Deus para a salvação de todo aquele que nele crê (Rm.1:16).

- Por isso dizemos que o crente pentecostal, ou seja, o crente que crê na operação ainda hoje do Espírito Santo como agente transmissor de poder divino na pregação do Evangelho, é um crente que crê no Evangelho completo, pois a pregação do evangelho abrange não só a notícia de que Jesus é o Senhor e Salvador do mundo e que é preciso n’Ele crer para alcançar o perdão dos pecados e a salvação da alma, obtendo, assim, a vida eterna, como também esta mensagem é confirmada da parte de Deus mediante a operação do Seu poder, através do batismo com o Espírito Santo e, depois, dos dons espirituais, cuja recepção se torna possível em virtude do revestimento de poder, do mergulho, da imersão do ser do crente no fogo do Espírito de Deus, no seu completo envolvimento com a terceira Pessoa da Trindade Divina.

Uma pregação do evangelho, sem a confirmação dos sinais, é um evangelho incompleto. Não resta dúvida de que se trata de uma genuína pregação do Evangelho, pois o Evangelho é poder de Deus para salvação e, portanto, não está no pregador a capacidade para o convencimento dos pecadores, para o seu arrependimento e para o novo nascimento, mas, sim, na virtude que emana da própria Palavra de Deus, que é mais penetrante do que espada alguma de dois gumes e que penetra na divisão da alma e do espírito e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hb.4:12).

- Entretanto, tal pregação será, sempre, algo que ficará sem a devida confirmação, sem o devido respaldo, que ateste que o que foi falado não foi apenas palavra persuasiva de sabedoria humana, uma grande exposição retórica, um discurso emocionador, mas demonstração de Espírito e de poder(I Co.2:4).



- Em o nosso cotidiano, temos algo que pode bem ilustrar esta situação: o serviço postal abre-nos a possibilidade de, quando encaminhamos um telegrama, termos a recepção de uma confirmação. Quando optamos pelo recebimento da confirmação, temos a certeza de que a correspondência foi entregue, podemos até usar a confirmação como prova caso surja algum problema posterior. Se não temos a confirmação, temos a ideia de que a correspondência tenha sido entregue, mas não teremos como provar. Assim é a pregação do evangelho que é confirmada pela demonstração de Espírito e de poder.

Devemos, também, aqui distinguir entre os dons espirituais dos dotes naturais, dos talentos individuais que alguém tenha. Sabemos que todas as coisas pertencem ao Senhor (Sl.24:1) e que somos simples administradores do que Deus nos concede desde quando passamos a existir como seres humanos (Gn.1:26-28). Somos mordomos de Deus. Assim, tudo que achamos ter não é nosso, mas, sim, algo que nos foi confiado pelo Senhor.

- Entretanto, não podemos confundir os dons espirituais, que são "…meios pelos quais o Espírito revela o poder e a sabedoria de Deus, através de instrumentos humanos, que os recebem e bem usam…"(BÉRGSTEN, Eurico. Teologia sistemática: doutrina do Espírito Santo, do homem, do pecado e da salvação, p.39-40) , com habilidades que Deus tenha concedido a alguém, que as possua naturalmente, que façam parte da sua natureza.

- Assim, por exemplo, sabemos que há pessoas que têm habilidades musicais ou artísticas, alguém que tem uma memória prodigiosa, outros que têm uma capacidade de liderança, e assim por diante, que são, sim, como sabemos, dádivas dadas por Deus aos indivíduos, mas que são dádivas inseridas na natureza de cada um, sem que, para tanto, tenha havido a operação sobrenatural de Deus, através do Espírito Santo, sem que tenha existido o envolvimento, o revestimento de poder.

- Tais dotes naturais não podem, portanto, ser considerados como dons espirituais, pois são talentos, dotes, dádivas naturais que, como tudo, provém de Deus, mas sem o sentido que aqui estamos estudando. São habilidades, tendências e dotes que são dados ao homem natural, ou seja, a qualquer ser humano, qualidades que existem independentemente de um relacionamento de comunhão entre Deus e o homem.

- Já os dons espirituais, porém, são manifestações sobrenaturais do poder de Deus através de um indivíduo, é o próprio Espírito Santo atuando, através de um servo do Senhor, para a realização de ações que fogem às leis naturais e que são feitos que não se encontram na natureza do indivíduo, mas algo que foi adquirido pelo instrumento de Deus pela Sua própria e soberana vontade.

Os dons espirituais, também, distinguem-se das qualidades decorrentes da conversão, do novo nascimento. Quando uma pessoa aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador passa por uma completa transformação, pois o trabalho do Senhor é este mesmo: fazer com que as pessoas passem da morte para a vida (Jo.5:24), saiam das trevas para a luz (I Pe.2:9). Como disse Paulo, quem está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas passaram e tudo se fez novo (II Co.5:17).

- Em razão disto, a pessoa nascida de novo, convertida ao Senhor, passa a ter um novo caráter, tendo novas qualidades e realizando outras obras (Gl.5:22), o que caracteriza o que se denomina, nas Escrituras, de fruto do Espírito Santo.

- Não obstante, este fruto do Espírito não se confunde com os dons espirituais. O fruto do Espírito está presente em toda pessoa convertida, em toda nova criatura, em todo filho de Deus, o que não acontece com os dons espirituais, que são dados individualmente, não a todos mas apenas a alguns dentre os servos do Senhor, pois a Bíblia nos ensina que é repartido particularmente (I Co.12:11), enquanto que o fruto é geral, tanto que Jesus disse que, por ele, seriam identificáveis os Seus seguidores (Mt.7:17-20).

Os dons espirituais não se confundem, ainda, com os dons ministeriais, também chamados de dons de Cristo, ainda que sejam também dádivas divinas deixadas à disposição da Igreja. A distinção está na própria forma pela qual as Escrituras mencionam e tratam cada uma destas figuras. Enquanto que os dons espirituais são mencionados como sendo repartidos particularmente pelo Espírito Santo, segundo a Sua vontade, para a edificação espiritual dos crentes, para utilidade dos crentes (I Co.12:4-11), os dons ministeriais são tratados como dádivas vindas da parte de Jesus, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação da igreja (Ef.4:11,12), ou seja, os dons ministeriais são dádivas que são concedidas à igreja pelo seu máximo governante, pela sua cabeça que, como comandante-em-chefe da Igreja, escolhe, dentre os Seus servos, aqueles que devem coordenar, dirigir e orientar o povo de Deus.



- Os dons ministeriais não deixam, assim, de ser dádivas sobrenaturais, como são os dons espirituais, mas sua função, no corpo de Cristo, é diferente: não se trata de operações episódicas, de demonstrações esporádicas e temporalmente limitadas, com vistas a um consolo, uma exortação, o suprimento de uma necessidade ou uma instantânea manifestação do poder de Deus para a igreja e, mesmo, para os não salvos, mas de uma atividade contínua, no meio do povo de Deus, para que a igreja cumpra com suas tarefas neste mundo, quais sejam, a evangelização e o aperfeiçoamento dos salvos.

- Enquanto que, com os dons espirituais, de forma sobrenatural, os crentes são usados pelo Senhor como instrumentos para a manifestação de Seu poder, através dos dons ministeriais, Cristo concede à Igreja homens que, diuturnamente, estarão servindo ao corpo de Cristo, que serão, eles mesmos, verdadeiros dons para a igreja. Muito oportuno, aliás, o título que R.N. Champlin deu, na sua Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, para o verbete que estuda os dons ministeriais: "homens como dons espirituais". Os dons ministeriais são indivíduos, seres humanos que Deus destaca para que suas vidas passam a ser um serviço para a igreja do Senhor.

Além dos dons espirituais e dos dons ministeriais, existem, também, as chamadas “operações de Deus”(I Co.12:6), que seriam os poderes conferidos por Deus à igreja, conhecidos como os sinais que seguem aos que creem e descritos em Mc.16:17,18.

- Sua presença, como se verifica, independe do revestimento de poder por parte dos crentes, pois seu intuito é confirmar a palavra que é pregada, complementando, assim, com uma cooperação direta do Senhor (cf. Mc.16:20), a pregação do Evangelho. Entretanto, à evidência, quando os crentes são revestidos de poder, estas operações se intensificam e se multiplicam sobremaneira, não tendo sido por outro motivo que o Senhor Jesus determinou que os discípulos aguardassem antes o revestimento de poder para que, então, iniciassem a evangelização do mundo.

- Por fim, temos, ainda, uma outra classe de dons do Espírito Santo que não se confundem com os dons espirituais, que são os dons chamados de “serviçais”, “dons de serviço” ou, ainda, como denomina o pastor Antonio Gilberto, consultor teológico das Lições Bíblicas, em “dons espirituais de ministérios práticos”, constantes da relação de Rm12:6-8, que se distinguiriam dos outros dons ministeriais porque seriam relacionados mais às ações dos crentes, à prática cristã, não tendo em vista o aperfeiçoamento espiritual dos crentes, como ocorre com os outros dons, que aqui denominamos de “dons ministeriais”, estes elencados em Ef.4:11.

II – O PROPÓSITO DOS DONS ESPIRITUAIS

- Mas, por que o Espírito Santo concede à Igreja dons espirituais? Paulo, ao escrever sobre o tema, responde, inspirado pelo próprio Espírito: “ a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” ( I Co.12:7). “Mas, o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação” (I Co.14:3).“Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles para edificação da igreja” (I Co.14:3).

- Os dons espirituais são “manifestação do Espírito dada a cada um para o que for útil”. De pronto, vemos, pois, que os dons espirituais, enquanto manifestações do Espírito Santo, são manifestações úteis, ou seja, que contribuem para a melhoria da Igreja, para o seu crescimento, para o seu envolvimento com o Senhor.

- O que é “ser útil”?  Diz-nos o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: “que pode ter ou tem algum uso; que serve ou é necessário para algo”, “que traz proveito, vantagem; de que resulta o que se espera; proveitoso, profícuo, vantajoso”. A palavra latina “utilis” tem como significado “'que serve, bom, vantajoso, válido”, exatamente o significado da palavra grega “sympheron” (συμφέρον) que se encontra no texto original.

- Assim, o Espírito Santo se manifesta, através dos dons espirituais, sempre para “trazer proveito”, “trazer vantagem”, “trazer o bem” para a Igreja. A manifestação do Espírito Santo, o Seu “aparecimento” de uma forma especial, tópica e episódica, tem em vista a contribuição para que se obtenha, por parte da Igreja, do povo de Deus salvo por Cristo Jesus, alguma vantagem, algo que se aproveite, que forneça ao povo de Deus o crescimento espiritual.



- De pronto, pois, vemos que o Espírito Santo é quem toma a iniciativa de manifestar-Se, o dom espiritual sempre está sujeito à vontade do Espírito Santo que, conhecendo os corações e o estado da Igreja, sabe que é necessária tal manifestação para promover o crescimento do povo do Senhor.

- Por isso, não podem, de forma alguma, os portadores dos dons espirituais acharem que sempre serão usados pelo Espírito Santo. São eles que estão à disposição do Espírito e não, vice-versa. Muitos portadores de dons espirituais acabam cometendo verdadeiros sacrilégios ao acharem que deve haver a manifestação do dom que receberam no instante em que eles querem e não no momento em que o Espírito Santo assim o desejar. Por isso, vemos tantas invencionices na atualidade, visto que os portadores dos dons espirituais não entendem que o Espírito Se manifesta quando houver necessidade, necessidade esta que não é avaliada pelo homem mas unicamente pelo Santo Espírito.

- A manifestação dar-se-á apenas quando isto for “útil”, ou seja, quando isto concorrer para o bem da Igreja. “Utilidade” está ligada a “vantagem”, a “proveito”, a “lucro”. Quando a Igreja ganhar com esta manifestação, ela se dará conforme a vontade do Espírito Santo.

- A Igreja é “ a geração eleita, sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncie as virtudes d’Aquele que a chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (I Pe. 2:9). Desta maneira, “vantagem”, “proveito”, “utilidade” será sempre algo que conceda à Igreja condições de se manter neste patamar estabelecido pelo Senhor Jesus. A manifestação dos dons espirituais tem em vista dar à Igreja condições para que ela seja propriedade de Jesus, proclamadora da salvação em Cristo, um povo santo e pronto para oferecer a Deus um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o culto racional (Rm.12:1).

- Como manifestação do Espírito Santo, os dons espirituais somente podem promover a glorificação do Senhor Jesus (Jo.16:14), bem assim nos fazer lembrar tudo quanto foi ensinado pelo próprio Cristo (Jo.16:13), inclusive, a exemplo do que o Senhor fez às igrejas da Ásia Menor, trazendo instruções específicas do Senhor à igreja local ou a membros em particular, sempre com o objetivo de dar condições para que a Igreja cresça, crescimento este que se dá, sobretudo, em amor, o caminho mais excelente (I Co.12:31; Ef.4:16).

Os dons espirituais, pois, têm como objetivo a edificação da Igreja, pois tudo que é proveitoso, vantajoso promove o crescimento espiritual do povo de Deus. Os dons espirituais, ao se manifestarem, pois, contribuem decisivamente para esta edificação (I Co.14:12).

- Edificação da igreja não é seu crescimento numérico, como muitos podem pensar. A edificação de que se trata aqui é a edificação espiritual, a edificação em amor (Ef.4:16), a edificação em santidade, que faz com que cada um de nós se torne templo santo no Senhor e morada de Deus em Espírito (Ef.2:21,22). A edificação, também, faz com que façamos um culto racional ao Senhor (Rm.12:1).

- Daí porque eventuais manifestações que ocorram na Igreja, ainda que sobrenaturais, cujo resultado não seja esta edificação, não são, de forma alguma, manifestações do Espírito Santo, mas atuações carnais, quando não demoníacas, que devem ser repelidas pelos servos do Senhor. Muito engano se tem produzido atualmente, precisamente porque não se verifica a existência, ou não, de edificação da Igreja quando de tais manifestações.

- Esta utilidade dos dons espirituais não se circunscreve, porém, à edificação. O apóstolo Paulo, ao tratar do dom de profecia, ao lado da edificação, também disse que o dom de profecia servia para exortação e consolação do povo de Deus (I Co.14:3). Embora Paulo tenha se referido apenas ao dom de profecia no texto sagrado, tais qualidades podem ser aplicadas a todos os dons espirituais. Além da edificação, pois, também os dons espirituais proporcionam a exortação e a consolação da Igreja.

A exortação é uma atitude absolutamente necessária no meio do povo de Deus. Tanto assim é que a Bíblia nos registra um “dom de serviço”, que é o dom de exortar (Rm.12:8). Exortar é animar, incentivar, estimular (II Pe.3:1). Ao contrário do que certas pessoas entendem por “exortar”, não se trata de uma atitude com vistas a humilhar ou ferir alguém, mas, bem ao contrário, é uma atitude que tem em vista animar alguém a que prossiga servindo a Deus. Tão importante é a exortação para o povo de Deus, que uma das funções do dom espiritual de profecia é, precisamente, o de exortar a igreja (At.15:32; I Co.14:3).

- Admoestar, embora seja também uma atitude de incentivo e de ânimo, está mais relacionado à repreensão, pois se trata de um conselho, de uma advertência em vista de algum fato inconveniente, sendo, praticamente, uma das formas de exortação, uma exortação voltada para a repreensão (cfr. Tt.2:15; Hb.12:5).



A exortação tem, por finalidade, fazer com que o povo de Deus continue a servir ao Senhor, tendo progresso espiritual (At.11:23; 13:43; 14:22; II Co.6:1; 8:6; I Ts.4:10; II Pe.1:12; Jd.3). Assim, a exortação leva a uma maior aproximação do Senhor e não a um distanciamento da fé. Muitos dizem “exortar”, mas, na verdade, estão a afugentar os crentes, porque só sabem ferir e humilhar o povo. Exortar não é “alisar” o povo, atitude que o Senhor não aceita (Jr.5:28), visto que temos de falar contra o pecado, doa a quem doer , mas a exortação, conquanto tenha, por vezes, um teor de repreensão, gera alegria espiritual (At.15:31), por que seu objetivo é sempre construtivo, visando o bem-estar tanto espiritual quanto material daqueles que são exortados (At. 2:40; 27:33,34; II Ts.3:12; I Tm.6:2; I Pe.5:12).

- Por isso, a exortação, no texto sagrado, sempre é acompanhada de outras atitudes que nada parecem com as humilhações e feridas que, por vezes, contemplamos no meio do povo de Deus, tais como a consolação, como de um pai em relação a seu filho (I Ts.2:11; Hb.12:5), a edificação (I Co.14:3),  a longanimidade (II Tm.4:2), o conforto (I Ts.3:2). Não é por outro motivo que o resultado da exortação é a produção de qualidades do fruto do Espírito, como a alegria (At.11:23), a moderação (Tt.2:6) e a benignidade (Tt.2:9), sem falar em atitudes concretas de realização da obra de Deus (II Co.8;17; 9:5; I Tm.6:2).

- A exortação, por fim, deve ser exclusivamente baseada na Palavra de Deus, na sã doutrina, não só em palavras mas em uma vida exemplar da parte daquele que exorta (I Ts.2:3; 3:2; I Tm.4:3; II Tm.4:2; Tt.2:15). Muitos têm feito “exortações” com base em “desabafos”, em sentimentos próprios, mas a verdadeira e genuína exortação tem por fundamento a doutrina, sendo, por isso mesmo, fonte de vida e de alegria espiritual, de progresso e renovação espirituais.

Ao lado da edificação, a exortação serve para um “ajuste”, pois, em toda edificação, sabemos todos, é necessário que se façam “aparos”, ou seja, que arrumem convenientemente os materiais da construção, para que o edifício se mantenha firme e devidamente equilibrado. Este “ajuste” não deixou de ser mencionado pelas Escrituras, que diz que o corpo de Cristo precisa ser edificado de modo a ficar “bem ajustado” (Ef.2:21;. 4:16).

- Este “ajuste” é, precisamente, a exortação, que, no original grego de I Co.14:3, é a palavra “paraklesin” (παράκλησιν), comumente traduzida por “consolação”. Os estudiosos das Escrituras entendem aqui que se fala em “encorajamento”, ou seja, um estímulo para que as pessoas façam aquilo que é certo, aquilo que está na Palavra do Senhor. Trata-se de um convite para que a pessoa fique de acordo com a vontade divina, para que possa crescer espiritualmente, pois não é possível andar com o Senhor sem estar de acordo com Ele (Am.3:3).

- Os dons espirituais manifestam-Se, muitas vezes, para levar o povo a um “ajuste”. Não é apenas através de dons de fala que se tem o objetivo da exortação. Até mesmo em dons de poder tal finalidade se apresenta. Na cura do paralítico que estava junto ao tanque de Betesda, vemos, claramente, que um dos objetivos daquele milagre era fazer com que o paralítico tivesse um novo patamar de vida espiritual. O Senhor, ao encontrar-se com o homem curado, disse a ele que não mais pecasse para que não lhe sucedesse alguma coisa pior (Jo.5:14). Paulo, ao cegar Elimas, também informou àquele feiticeiro que sua cegueira temporária tinha, por finalidade, mostrar-lhe a grandeza do poder de Deus e o desagrado do Senhor com sua oposição ao Evangelho (At.13:9-11).

Outro propósito dos dons espirituais é a “consolação”, palavra que, normalmente, é a tradução de “paraklesis” (παράκλησις), mas, no texto de I Co.14:3, é tradução de “paramutia” (παραμυτία), palavra que pode ser considerada sinônima, mas que tem o sentido mais preciso de “alívio”, “encorajamento”, “consolo”. Com efeito, a palavra  “paraklésis” tem mais o significado de “chamamento ao lado”, “convocação”, “convite”, ou seja, a ação de se pôr ao lado de alguém. Assim, seu uso no sentido de “exortação” em I Co.14:3 parece-nos fazer lembrar do toque das duas trombetas de prata que chamavam todo o povo à presença da tenda da congregação, nos dias da peregrinação no deserto (Nm.10:1-10).

- Paulo, em II Co.1:3, diz-nos que Deus é o “Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação”. Com esta expressão, o apóstolo nos ensina que Deus não nos deixa sós, mas tem prazer em não só fazer o bem, como estar ao nosso lado, ser nosso companheiro durante toda a nossa existência terrena. Ele é o “Deus de toda a consolação”, ou seja, é a fonte de todo conforto, de todo alívio que temos no meio desta vida de aflições que caracteriza a nossa peregrinação por esta Terra.

A consolação é uma operação divina, só Deus pode estar ao nosso lado e aliviar, suavizar e compensar o nosso sofrimento, a nossa angústia, as nossas dificuldades. Quando o apóstolo nos diz que Deus é “o Deus de toda a consolação”, está a nos dizer que não é possível qualquer consolação fora do Senhor. Só Ele pode nos consolar, portanto, pois “toda a consolação” provém d’Ele.



A consolação é a ação de Deus em Seu servo que o faz perceber que o Senhor está ao seu lado, que Ele realmente cumpre com a Sua promessa de estar todos os dias conosco. É o momento em que notamos que o Senhor é Emanuel, ou seja, Deus conosco. A tribulação faz-nos ter a experiência da companhia do Senhor, o que é um grande bem para todo aquele que serve a Deus.

- Esta sensação da companhia do Senhor, este sentir de Sua presença faz com que adquiramos a paciência, ou seja, o longo ânimo, faz com que saibamos aguardar, no tempo cronológico, a mudança das circunstâncias, faz-nos vislumbrar a dimensão eterna do Senhor, em que tudo é presente, em que o tempo não abala nem modifica coisa alguma que está à nossa volta.
- Mas, “se as aflições de Cristo abundam em nós”, Paulo também afirma que “assim também a nossa consolação abunda por meio de Cristo” (I Co.1:5b). Se é certo que o crente passa por aflições, também não é menos certo que o Senhor nos consola e nos faz com que superemos estas mesmas aflições. Muitas são as aflições do justo, diz o salmista, mas o Senhor o livra de todas (Sl.37:1). Jesus venceu o mundo e, por isso, apesar das aflições, não temos como perder o bom ânimo (Jo.16:33). As aflições do tempo presente não para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm.8:18), razão pela qual prosseguimos em nossa caminhada rumo ao céu.
- A consolação dada por Deus não é pequena, mesquinha, dada por “conta-gotas”, mas, ao revés, é abundante. Tudo quanto Deus nos dá, dá-nos em abundância. O apóstolo diz que a consolação é abundante e vem por meio de Cristo. Não há como termos consolação a não ser por meio de Cristo. Ninguém vem ao Pai a não ser por Jesus e somente alcançamos o Deus de toda a consolação por meio de Cristo.
- É triste verificarmos que, atualmente, muitos buscam consolar-se através de “fórmulas de fé”, de mentalizações, de procedimentos criados pelos homens, pelos “falsos cristos” e “falsos profetas” que estão a infestar o mundo religioso em que vivemos. Muitos crentes deixam a Palavra de Deus para ir atrás destas “fórmulas mágicas” propaladas por “apóstolos”, “profetas”, “missionários” e tanta gente que tem iludido o povo. Entretanto, a verdadeira consolação somente se obtém por meio de Cristo, que é testificado pelas Escrituras.
Um dos objetivos espirituais da tribulação na vida do crente é para que sejamos instrumentos de consolação e salvação dos outros. Esta consolação se opera a partir do instante em que suportamos com paciência as aflições que também padecemos. Somente teremos condição de consolar os outros se aprendermos a suportar com paciência as aflições de Cristo em nossas próprias vidas.
- Se suportamos os sofrimentos, se aprendemos a esperar com paciência no Senhor (Sl.40:1), temos condição de consolar os outros, porque, se somos participantes das aflições de Cristo, também seremos de Sua consolação (II Co.1:6,7).
- Para tanto, o Senhor, na Sua infinita misericórdia, faz com que haja a atividade dos dons espirituais em Sua Igreja, como um dos meios pelos quais alcançamos a necessária e indispensável consolação. Assim, seja através da aplicação das Escrituras, seja por mensagens vindas diretamente do Espírito Santo, somos consolados, percebemos que o Senhor nos deu uma cruz que é um fardo leve (Mt.11:30), que temos condição de carregar, pois não é algo que não possamos suportar, e, assim, continuamos a correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1,2).

- Evidente, pois, a utilidade dos dons espirituais como promotores da consolação no meio do povo de Deus, dando-lhes condições de ter o “bom ânimo” absolutamente necessário para que vençamos o mundo assim como Jesus (Jo.16:33).

II – OS DONS ESPIRITUAIS: CLASSIFICAÇÃO E OS DONS DE ELOCUÇÃO OU DE FALA

É comumente dito que os dons espirituais são nove, dizer este que se baseia na lista mais completa de dons espirituais que se encontra no Novo Testamento, que se encontra em I Co.12:8-10.

- Entretanto, além desta relação, que é a mais conhecida e a mais pormenorizada, temos, também, a relação constante de Rm.12:6-8, que não é uma relação tão completa quanto a primeira e que parece misturar dons espirituais com dons ministeriais (até porque o texto não é específico com relação aos dons espirituais como é o anteriormente mencionado).

- Mesmo se levarmos em consideração apenas a relação de I Coríntios, não podemos nos esquecer de que um dos itens da relação fala dos "dons de curar" (I Co.12:9), dando a entender, portanto, que há mais de um dom de curar, o que torna, também, precário o entendimento de que os dons espirituais sejam apenas nove.



- Assim, não podemos afirmar com respaldo bíblico que somente haja nove dons espirituais. Entretanto, tal posição bíblica não pode servir de base para que se adicionem outros dons de modo aleatório e sem qualquer respaldo escriturístico, manifestações que, no mais das vezes, não se coadunam com os propósitos e finalidades dos dons espirituais, cuja presença na igreja, inevitavelmente, trará confirmação da pregação do Evangelho, edificação espiritual, consolação, exortação e um maior envolvimento da igreja local com o Senhor e a Sua obra.

- Tomando-se, porém, a relação mais minudente das Escrituras, podemos dividir os dons espirituais em três categorias, a saber:
a) dons de poder: fé, dons de curar, operação de maravilhas - são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas efetuem demonstrações sobrenaturais do poder divino, com a realização de milagres, de maravilhas e de coisas extraordinárias, que confirmem a soberania de Deus sobre todas as coisas e a Sua presença no meio da igreja. São evidências da onipotência divina no meio do Seu povo.

b) dons de ciência: palavra da sabedoria, palavra da ciência, dom de discernir os espíritos - são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas revelem mistérios ocultos aos homens, com a tomada de atitudes e condutas que evidenciem que Deus sabe todas as coisas e que nada Lhe fica oculto. São evidências da onisciência divina no meio do Seu povo.

c)  dons de elocução ou de fala: variedade de línguas, interpretação de línguas e profecia - são dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas sejam instrumentos da voz do Senhor, para que o Espírito Santo demonstre que Se comunica com o Seu povo. São evidências da onipresença divina no meio do Seu povo, uma presença que nos faz descansar e que nos traz edificação.

- Observamos, portanto, que cada dom espiritual tem uma finalidade específica no meio do povo de Deus, tem um propósito, que é o de dar condições para que o crente prossiga a sua jornada em direção a Jerusalém celestial, desvencilhando-se, pela manifestação do poder divino na sua vida, de todo o embaraço que tão de perto o rodeia (Hb.12:1) e, assim, não venha a se envolver com as coisas desta vida, agradando, assim, ao Senhor (II Tm.2:4).

- Tem-se, portanto, no exercício dos dons espirituais, uma inequívoca demonstração do poder de Deus (I Co.2:4), mas sem qualquer oportunidade de exibicionismo ou de glorificação humana, mas única e exclusivamente para a glória de Deus e para pregação do Cristo crucificado (I Co.2:2). É com base nesta peculiar circunstância que podemos identificar e repudiar todas as inovações que hoje contagiam muitas igrejas locais, em especial os “novos dons” e a tão desejada e nunca explicada “nova unção”.

- Os dons de ciência e de poder serão estudados em lições específicas neste trimestre. Como não houve, porém, lição destinada aos dons de fala ou de elocução, deles trataremos nesta lição, ainda que sucintamente.

Os dons de elocução ou de fala (também chamados “dons de eloquência”), são em número de três, cuja finalidade é realizar a comunicação entre Deus e o Seu povo, mostrando assim que Deus está presente no meio do Seu povo e que é um Deus vivo, que ainda fala aos Seus filhos. Por meio destes dons, sentimos o descanso do Senhor, pois a Sua presença nos faz descansar (Ex.33:14).

- O primeiro deles é o dom de variedade de línguas ou dom de línguas, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que falem em línguas estranhas, de forma sobrenatural, para o fim de edificação própria de quem fala. É o dom mais disseminado no meio do povo de Deus, até porque é, também, aquele que é mais buscado.

- O dom de línguas não se confunde com o sinal do batismo com o Espírito Santo. O sinal do revestimento de poder é o falar em línguas estranhas, mas o dom de variedade de línguas é algo diverso, pois se trata de uma comunicação que se estabelece em mistério entre Deus e o homem, uma comunicação direta do espírito humano com o Espírito de Deus, tanto que o intelecto humano dele não participa. Sua finalidade, como vimos, é promover a edificação espiritual individual daquele que fala.



- O segundo dom de elocução é o dom de interpretação de línguas, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que interpretem as línguas estranhas faladas por eles ou por outros, para o fim de que a mensagem edifique também a igreja e não apenas quem está falando em línguas. É, por isso, que o apóstolo Paulo aconselha que quem tem o dom de variedade de línguas busque o dom de interpretação (I Co.14:13), pois, assim fazendo, a sua edificação individual se tornará coletiva, além do que seu entendimento também será enriquecido com a sua edificação espiritual. Partir-se-á de uma operação íntima, da qual nosso intelecto não participa, para uma operação que trará fruto para a igreja e para a própria alma do que fala em língua estranha.

- Entretanto, é com pesar que verificamos que este dom é um dos que menos se apresenta na igreja na atualidade, o que causa grande prejuízo espiritual. Se hoje muitos se surpreendem com o fato de grupos idólatras estar falando em línguas estranhas e se existe muita mistificação e falsificação do dom de línguas nas nossas próprias igrejas locais, na atualidade, isto se deve, em grande parte, a esta negligência na busca do dom de interpretação de línguas, pois se o dom de interpretação estivesse tão ativo quanto o dom de variedade de línguas, identificaríamos as falsificações e as imitações demoníacas não causariam tanto abalo na fé de muitos como têm causado. Não nos esqueçamos de que o apóstolo Paulo disse que a associação do dom de variedade de línguas com o de interpretação proporciona o mesmo efeito do dom de profecia (I Co.14:5) e que um dos principais efeitos da profecia é evitar a corrupção do povo de Deus (Pv.29:18a).

- O terceiro dom de elocução é o dom de profecia, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para trazer mensagens de Deus aos crentes com a finalidade de edificar, exortar e consolar a igreja. A profecia é uma demonstração de que Deus está conosco a todo instante e que compartilha de nossos sentimentos, fazendo questão de lhos manifestar para que, sentindo a Sua compaixão, ajamos de acordo com a Sua vontade. A profecia, também, é uma forma de os incrédulos perceberem a presença de Deus e, ante esta percepção, terem o devido temor, que poderá lhes levar à conversão (I Co.14:22-25). Além do mais, como já dissemos supra, a profecia é necessária para impedir a corrupção do povo de Deus. Apresenta-se, assim, como uma verdadeira manifestação de alívio e de descanso ao crente que, revigorado pela profecia, tem alento para prosseguir na sua caminhada rumo ao céu.

- Observamos que, na relação dos dons espirituais, não há o chamado “dom de revelação” ou “dom de visão”, “dons” que são constantemente mencionados e considerados no meio de alguns integrantes do povo de Deus que não têm o costume de ler e meditar na Palavra de Deus. O “dom de revelação”, na verdade, é o dom da palavra da ciência, não podendo ser confundido, como já dissemos, com verdadeiras adivinhações que têm perturbado o povo de Deus nos nossos dias. Deus não tem qualquer propósito de fazer com que alguns de Seus servos sejam “adivinhos”, pois abomina a adivinhação, típica operação maligna.

- A revelação de fatos ocultos tem tão somente o propósito de edificar o povo de Deus, jamais de envergonhar quem quer que seja. Já o chamado “dom de visão” não tem qualquer respaldo bíblico. Verdade é que existe a operação de visão, uma operação divina em que Deus mostra algo para algum servo Seu, mas também com o propósito de proporcionar a edificação de quem vê ou da igreja, jamais para devassar a intimidade ou envergonhar alguém.

- Além da expressão “dons de curar”, não temos qualquer texto bíblico que nos permita dizer que há dons espirituais além dos relacionados neste texto da primeira carta de Paulo aos coríntios. A expressão “dons de curar” apenas permite dizer que há diversos dons de curar, nada, além disto. Por isso, não podemos aceitar “dons” que têm aparecido no meio do povo de Deus.
OBS: Por isso, repudiemos com veemência certas inovações que se apresentam no meio do povo de Deus como “dons” tais como a “risada santa”, o “cair pelo Espírito”, o “dom de lagartixa”, o “vômito santo” e outras “neobobagens pentecostais”, como bem denominou o jornalista cristão Jehozadak Pereira.

                                                                                 
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Dr. Caramuru Afonso Francisco 
fonte PORTAL EBD.OGR.BR