LIÇÃO Nº 7– OS DONS DE PODER - JOVENS E ADULTOS

Lições Bíblicas Mestre<br>Jovens e Adultos - 2º trim-2011
                                   Os dons de poder manifestam a onipotência divina no meio da Igreja.
INTRODUÇÃO
- Em prosseguimento ao estudo das doutrinas da nossa fé, estudaremos os dons de poder, a última categoria que nos falta analisar dos dons espirituais.

Os dons de poder manifestam a onipotência divina no meio da Igreja, mostrando-nos que estamos na companhia do Todo-Poderoso.


I –  A RAZÃO DA MANIFESTAÇÃO DO PODER DE DEUS AO HOMEM
- Na análise dos dons espirituais elencados pelo apóstolo Paulo em I Co.12:8-10, falta-nos apenas analisar os chamados “dons de poder”, como são conhecidos os dons de curar, a operação de maravilhas e a fé.

- Já tivemos oportunidade de verificar que os dons espirituais, em número de nove (se bem que “os dons de curar” revelam haver mais de um, o que faz com que o número seja superior a nove), estão relacionados com cada um dos atributos de Deus em relação à Sua criação. Assim, os chamados “dons de fala” (que analisamos na lição 5) manifestam a onipresença divina; os “dons de ciência” (que analisamos na lição 6), a onisciência divina e, agora, veremos os “dons de poder”, que manifestam a onipotência divina.

- No relato da criação, vemos que Deus do nada fez tudo, algo que ninguém jamais poderia nem poderá fazer. Deus tem todo o poder, daí porque um de Seus nomes é “Todo-Poderoso” (El Shaddai- אל שדי- Gn.17:1; 28:3; Jó 5:17; 6:4,14), nome, aliás, que é abundante no livro de Jó, considerado o mais antigo livro das Escrituras, e que é um título divino característico da época dos patriarcas. No Antigo Testamento, este termo aparece 48 (quarenta e oito) vezes.

- Tryggve N.D. Mettinger, teólogo sueco, afirma que “El Shaddai” é “o mais antigo nome divino da Bíblia” e que “…Seu nome provavelmente se relaciona com a palavra babilônica que designa ‘montanha’; em segundo lugar, que a maior parte das vezes em que se menciona este nome divino, isso acontece relacionado com as bênçãos; em terceiro lugar, que à atividade de El Shaddai parece limitar-se à família e à descendência, e, por último, que parece induvidável que se trata de um antiquíssimo nome divino, talvez o mais antigo dos recolhidos pela Bíblia…” (O significado e a mensagem dos nomes de Deus na Bíblia, p.113).

- Tais considerações mostram-nos, claramente, que Deus Se identificou, primeiramente, como o Todo-Poderoso, que a manifestação do Seu poder é uma de Suas primeiras revelações ao homem, precisamente para que o ser humano compreenda quão importante é servir e adorar a Deus.

Deus manifesta o Seu poder não para que o homem se sinta atemorizado, mas, como ensina Mettinger, a revelação de Deus como Todo-Poderoso tem um propósito definido: o de mostrar ao homem que Deus está acima de todas as coisas (daí a remissão à “montanha”) e que a submissão a Ele, ante o reconhecimento de Seu poder, trará tanto bênçãos quanto proteção, vez que nos tornaremos Sua família, Sua descendência(Ef.2:19).

A onipotência de Deus ensina-nos que Ele tem todo o poder, ou seja, não existe ser mais poderoso do que Ele. Daí porque ter o Senhor, por boca do profeta Isaías, ter afirmado: “operando eu, quem impedirá?” (Is.43:13 “in fine”) ou ter o apóstolo Paulo, ao verificar esta verdade bíblica, ter indagado: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm.8:31), bem como o apóstolo João ter ressaltado que “Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo.” (I Jo.4:4).

A onipotência de Deus ensina-nos que todo o poder pertence a Deus (Sl.62:11). Um dos graves equívocos do ser humano é tentar construir estruturas de poder fora de Deus. Em Babel, a rebeldia se iniciou quando Ninrode começou a irrogar o poder para si (Gn.10:8). O orgulho, a soberba e a arrogância do homem, que o levam a se achar poderoso e a querer a glória para si, ao invés de reconhecer a onipotência de Deus e a glória que só a Ele é devida, tem sido a principal causa de derrota e fracasso na vida de tantas pessoas. Que Deus nos guarde de assim agirmos, correndo o risco de virarmos animais  como Nabucodonosor (Dn.4:30-37), ou sermos comidos de bicho como Herodes Agripa I (At.12:21-23).

- O poder de Deus se manifesta, pois, não para subjugar o homem, mas, sobretudo, para que o homem possa compreender a posição de Deus sobre todas as coisas, de forma a que voluntária e alegremente o homem aceite servi-l’O e adorá-l’O e, com esta atitude, receber do Senhor as bênçãos decorrentes do imenso amor e bondade de Deus, as “firmes beneficências de Davi” (Is.55:3).

- Quando reconhecemos que Deus é Todo-Poderoso, passamos a buscá-l’O e a n’Ele confiar e, em sendo assim, passamos a ter a Sua proteção, o Seu cuidado. Por isso, ao Se revelar a Abraão como “El Shaddai”, o Senhor mandou que o patriarca andasse em Sua presença e fosse perfeito (i.e., irrepreensível) (Gn.17:1). Reconhecer a Deus como Todo-Poderoso é submeter-se a Ele, passar a viver de acordo com a Sua vontade.



- Uma vez debaixo do senhorio de Deus, o homem passa a provar a todos os seus semelhantes que Deus é Todo-Poderoso. “…El Shaddai é exatamente assim. Ele nos envolve, ele nos agasalha, nos protege de tal forma que tudo aquilo que poderia nos atingir, irá atingir em primeiro lugar ao El Shaddai. Seja o que for, não nos atingirá frontalmente, pois na eminência de perigo, Ele imediatamente tomará posição. El Shaddai é Aquele que é mais do que suficiente. El significa poder e Shaddai é usado para a que amamenta. A Dra. [Edmeia Willians] falava sobre amamentação e ela descrevia que a mãe através do leite passa vida para a criança e o mesmo Ele faz conosco. Ele nos dá vida. O Deus Todo-Poderoso Se levanta em nossa defesa, faz caminho onde não há caminha, dispersa os nossos inimigos e tem cuidado e amor muito mais profundo do que aquelas que amamentam. E quem é mãe sabe muito bem o quanto amam seus filhos e o que seriam capazes de E fazer para protegê-los. Uma mulher se transforma em uma leoa para defender a sua cria. Agora tente imaginar o que o nosso Deus não faria para nos defender dos perigos da vida. Veja o que diz a Sua Palavra: “Achou-o na terra do deserto, e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho”. Dt 32.10. Shaddai é a abreviatura da frase Shomer daltot Israel que significa Guardião dos Portões de Israel. Além de guardar os muros e os portões da nação Israel, Ele cuida dos nossos portões, pois nós somos Israel espiritual.…” (LOPES, Regina. El Shaddai. Disponível em:http://www.reflexoes.diarias.nom.br/REGINALOPES/ELSHADDAI.pdf Acesso em 30 mar. 2011).

- Daí porque, na Igreja, que é “a família de Deus”, ser imprescindível, indispensável que o poder de Deus se manifeste, não só no meio do povo do Senhor, mas também diante dos homens, para que os homens possam vir a compreender que necessitam se submeter a este Deus e, assim, desfrutar do Seu amor. A manifestação do poder de Deus é uma necessidade para que o Evangelho seja propagado, não para que as pessoas creiam em Deus por causa dos milagres, mas para que, através da manifestação do poder do Senhor, o homem compreenda a necessidade que tem de obedecer-Lhe e Lhe dar a devida adoração.

- A manifestação do poder de Deus na vida dos Seus servos, pois, é uma consequência inevitável de nossa obediência ao Senhor. Não há como mostrarmos ao mundo que estamos a servir e a adorar verdadeiramente ao Senhor sem que tenhamos o rastro da manifestação do poder de Deus. Por isso, o Senhor foi claro ao afirmar que os sinais seguem aos que creem (Mc.16:17), circunstância que nos faz imitadores do próprio Cristo, cujo ministério foi também seguido por sinais (Mt.9:35; Mc.1:34,39; At.10:38).

- A presença dos “dons de poder”, portanto, é uma característica que tem de estar presente na Igreja, sem o que o poder de Deus não se manifestará aos homens e eles não poderão se submeter ao Senhor, a tê-lo como o Todo-Poderoso. A manifestação do poder de Deus confirma a Palavra que é pregada (Mc.16:20), autenticando a mensagem da salvação (At.8:6; 15:12; Rm.15:19; II Co.12:12; Hb.2:4).

Não se devem buscar os sinais (Mt.16:1,4; Lc.11:16,29; I Co.1:22), mas os sinais confirmam a Palavra de Deus e fazem com que muitos creiam em Deus (Jo.2:11,23). Como a missão da Igreja é fazer as pessoas se chegarem a Cristo, vemos que a manifestação dos “dons de poder” é uma necessidade para a evangelização.

Não apenas pelos “dons de poder” se manifesta o poder de Deus, visto que temos, também, as “operações de Deus” (I Co.12:6), pelas quais o poder do Senhor é manifestado independentemente da posse de dons espirituais, a saber os sinais que seguem aos que creem (Mc.16:17-18). “…Jesus deixa claro, em Mc.16:15-20, que esses sinais não são dons especiais para apenas alguns crentes, mas que seriam concedidos a todos os crentes que, em obediência a Cristo, dão testemunho do evangelho e reivindicam as suas promessas.(…). A ausência desses ‘sinais’ na igreja, hoje, não significa que Cristo falhou no cumprimento de Suas promessas. A falta, conforme Jesus declara, está na vida dos Seus seguidores…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Sinais dos crentes, p.1496).

- Mas, após o revestimento de poder no batismo com o Espírito Santo, abre-se a oportunidade para que o Espírito Santo manifeste o poder de Deus  de modo ainda mais intenso e eficaz mediante os “dons de poder”, a saber: os dons de curar, a operação de maravilhas e o dom da fé.

II – OS DONS DE CURAR
- Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, saúde é “estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para a forma particular de vida (raça, gênero, espécie) e para a fase particular de seu ciclo vital”, é o “estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar”. Vem do latim “salus, salutis”, que significa “salvação, conservação da vida”.

- Como se pode perceber, pelas definições dadas, a saúde é um quadro de manutenção da vida, de pleno funcionamento de todos os órgãos e de uma harmonia entre todas as funções do organismo. Nada mais é, portanto, do que a realização daquilo que foi projetado para o organismo, o cumprimento de todo o propósito estabelecido para aquele ser vivo.

- É, portanto, claro que o estado de saúde exige, para sua ocorrência, que se tenha a perfeita realização do propósito divino para o homem. A saúde é o pleno funcionamento do organismo humano, o cumprimento do propósito divino, pois foi Deus quem criou o homem (Gn.1:26,27).

- Para que houvesse plena saúde, porém, seria preciso que o homem se mantivesse de acordo com o propósito divino, que era, como vemos no relato da criação, o de manter uma comunhão com Deus e de, a partir desta comunhão, dominar sobre a criação terrena. Temos aqui a síntese do que se chamou de “mordomia”, ou seja, o homem deveria ser servo de Deus, cuidando da Terra para o Senhor.



- Contudo, o homem não obedeceu a este propósito divino e pecou. Ao desobedecer a Deus, o homem perdeu este estado de equilíbrio, tanto que um dos juízos lançados por Deus sobre ele foi o da morte física: “…maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também de produzirá e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás…” (Gn.3:17 “in fine”-19).

- A sentença divina sobre o homem, por causa do seu pecado, atingiu diretamente a questão da saúde. A terra, antes o local da realização do propósito divino para o homem, passou a ser um obstáculo para este mesmo ser humano. A terra foi maldita e, como algo maldito, traria infelicidade, incômodo e aborrecimento para o homem. A natureza passou a colaborar para um crescente desequilíbrio do organismo humano, desequilíbrio que levaria, mais cedo ou mais tarde, à extinção da atividade, com a degeneração do organismo, que estaria fadado a se desfazer, voltando a ser pó, o mesmo pó que o Senhor havia tomado para formar o homem.

- Assim, podemos afirmar que a doença e a morte física não estavam projetadas para o homem, não faziam parte do propósito divino, mas que são resultado do pecado, consequências do pecado. Assim, quando Deus apresentou o Seu plano da salvação, esta teria, necessariamente, de propiciar um mecanismo de erradicação da doença e da morte física. A salvação é o restabelecimento da comunhão entre Deus e o homem, o retorno à condição originalmente prevista para o ser humano, demonstrando, desta maneira, tanto a fidelidade divina, quanto a Sua misericórdia.

A saúde do homem, portanto, é um objetivo perseguido por Deus quando do estabelecimento do plano da salvação. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), ao tirar o pecado, haveria, também, de tirar tudo aquilo que era consequência do pecado, ou seja, a morte física e o seu corolário, que é a doença. Não é por acaso que, durante Seu ministério terreno, Jesus tenha, por diversas vezes, curado enfermos, como comprovação de que Seu trabalho, sobre a face da Terra, era restaurar aquele estado anterior ao pecado, um estado onde a doença simplesmente inexistia (Mt.8:16; 12:15; 14:14; 19:2; 21:14; Mc.1:34; 6:5; Lc.7:21). Na sua feliz síntese do ministério de Cristo, o apóstolo Pedro não deixou de lembrar que Jesus “…andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38b).

O plano de Deus para a salvação do homem, portanto, abrange a cura das enfermidades dos homens, a erradicação da doença, o restabelecimento da saúde. Como Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8), continua a ser Aquele que foi dar saúde ao criado do centurião romano (Mt.8:7), o mesmo que foi anunciado por Pedro e que deu saúde para Eneias (At.9:34). Por isso, dentre as tarefas que o Senhor deixou à Sua Igreja, está a de curar os enfermos (Mc.16:18).

- No entanto, o fato de que a saúde faz parte do plano de Deus para a salvação não significa que a doença venha a ser erradicada da vida de todo aquele que aceita a Jesus Cristo como Senhor e Salvador da sua vida. Assim como o fato de ser salvo não nos livra da morte física, consequência praticamente inevitável do pecado e que acomete tanto os salvos quanto os ímpios, assim também não estamos imunes à doença. Jesus cura os enfermos, este é um sinal de que venceu a morte e o inferno, de que é o Salvador do mundo, mas daí a se dizer que todo salvo não fica doente há uma grande distância.

- Temos de ter consciência de que há uma promessa de Deus para a cura física, que é um dos efeitos da obra feita por Cristo no Calvário. O profeta afirma que, ao subir à cruz, Jesus tomou sobre Si as nossas enfermidades (Is.53:4), enfermidades estas que não se restringem ao aspecto espiritual, mas também abrangem as que atingem o nosso corpo, pois a salvação é integral. A saúde mencionada em Is.53:5 também se relaciona com o corpo físico.

- Para que não houvesse qualquer dúvida quanto à abrangência do corpo na promessa de cura, o ministério terreno de Jesus, que era o que anunciava o profeta Isaías, sempre foi um ministério marcado pela cura divina, a ponto de o próprio Jesus, para demonstrar a João Batista, que era Ele mesmo o Messias, para tanto efetuou diversas curas, demonstrando, assim, que era através da cura divina que demonstrava a Sua qualidade de Cristo (Mt.11:4,5). Os discípulos do caminho de Emaús referiram-Se ao Senhor como sendo “varão poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo” (Lc.24:19), enfatizando, assim, em primeiro lugar, os sinais e maravilhas que havia operado, onde se destaca a cura de enfermidades. Por fim, Pedro, quando quis sintetizar o ministério de Cristo Jesus, tudo resumiu ao dizer que “andou fazendo bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At.10:38 “in fine”).



- Vemos, portanto, que a cura divina é elemento indissociável do ministério de Jesus, é uma de “Suas marcas registradas” e a Igreja, como corpo de Cristo (I Co.12:27), outra coisa não deve fazer senão prosseguir este mesmo trabalho e até ampliá-lo, como prometeu o Senhor (Jo.14:12). Em Mc.16:18, é claro que a cura de enfermidades é um dos sinais que seguem aos que creem, sendo prova disso a história da igreja primitiva, onde a cura física sempre esteve associada à pregação do Evangelho, a começar da narrativa do coxo que se encontrava na porta Formosa do templo (At.3:1-11).

- “…O Novo Testamento registra três maneiras como o poder de Deus e a fé se manifestam através da igreja para curar: (a)  imposição de mãos ( Mc.16:15-18; At.9:17); (b) a confissão dos pecados conhecidos, seguida da unção do enfermo com óleo pelos presbíteros (Tg.5:14-16); e (c) os dons espirituais de curar concedidos à igreja (I Co.12:9)…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. A cura divina, pp.1402-3).

Os dons de curar são o poder que Deus dá a alguns de Seus servos para a cura de enfermos de forma extraordinária, sobrenatural. “…Esses dons são concedidos à igreja para a restauração da saúde física, por meios divinos e sobrenaturais…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Dons espirituais para o crente, p.1756). Não devemos confundir os dons de curar com o sinal de cura de enfermos, que se trata de uma operação divina feita para a confirmação da pregação do Evangelho. Os dons de curar são repartidos pelo Espírito Santo especificamente a alguns, enquanto que, na operação de cura, Deus Se manifesta para confirmar a Sua Palavra.

- A manifestação destes dons na Igreja se apresenta, pela vez primeira, na já mencionada cura do coxo da porta Formosa do templo. Na descrição desta cura, vemos que os dons de curar operam de forma especial na vida de um crente que o possui. Pedro e João estavam indo ao templo à hora da oração e foram impulsionados pelo Espírito Santo para dizer ao coxo que olhasse para eles. Foram, então enfáticos ao afirmar que “o que tinham”, isso davam ao coxo, ou seja, a cura da enfermidade. Ajudaram o coxo a se levantar e ele, então, crendo no que lhe haviam dito (“levanta-te e anda”), levantou-se e começou a glorificar a Deus (At.3:1-10).

- Nesta descrição, vemos que foram os apóstolos que tomaram a iniciativa de chamar o coxo, oferecendo-lhe a cura da enfermidade. Esta é uma característica do exercício dos “dons de curar”. O portador do dom é impulsionado pelo Espírito Santo de modo específico para chamar o doente a um exercício de fé e, assim agindo, demonstra a sua fé em Deus. O doente, atendendo a este chamado, igualmente crendo na direção do Espírito Santo na vida do portador do dom, é levado à cura e, como consequência disto, o nome do Senhor é glorificado e muitos são levados à conversão.

- É este mesmo itinerário que vemos na cura de Paulo. Ananias foi mandado especificamente pelo Senhor para que impusesse as mãos sobre o recém-convertido e tornasse a ver. Ananias, mesmo, ao chegar à casa e impor as mãos, disse a Paulo que ele tornaria a ver e Paulo, que já tivera a visão da vinda de Ananias, crera na visão e, assim, recebeu a cura. O resultado desta cura foi o duplo batismo de Paulo: o batismo nas águas e o revestimento de poder (At.9:17). Neste episódio, vemos que os dons de curar podem também se manifestar mediante a imposição de mãos, conquanto a imposição de mãos independa da presença dos dons de curar, pois é atitude que todo cristão deve ter, visto que se trata de um “sinal dos que creem”.

- Esta mesma circunstância vemos na descrição da cura de Eneias por Pedro. Pedro, portador dos dons de curar, também tomou a iniciativa de levar Eneias à cura, dizendo que Jesus Cristo lhe dava saúde, mandando-o que se levantasse e fizesse a sua cama. Eneias creu na palavra e assim procedeu, sendo curado. O resultado desta cura foi que muitos se converteram ao Senhor em Lida e Sarona (At.9:32-35).

- Em Listra não foi diferente. Paulo, impulsionado pelo Espírito Santo, viu que um homem leso dos pés tinha fé para ser curado e o mandou levantar, tendo o homem saltado e andado, o que levou as multidões a crerem no Senhor (At.14:8-11).

- Neste episódio de Listra, porém, vemos que o inimigo de nossas almas, aproveitando-se do efeito da cura do homem, quis desvirtuar o acontecimento, fazendo com que as multidões sacrificassem a Paulo e a Barnabé, reconhecendo neles as divindades gregas de Mercúrio e Júpiter, respectivamente. Paulo e Barnabé, porém, ainda que com dificuldade, não aceitaram adoração para si, impedindo, assim, que a glória devida somente a Deus lhes fosse atribuída.

- Eis um dos graves riscos que correm aqueles que o Espírito Santo escolhe para ministrar não só os dons de curar, mas os dons espirituais em geral: a tentação de tomar para si a glória que somente pertence a Deus. Muitos têm apostatado da fé porque, sendo escolhidos pelo Espírito Santo para ser instrumentos do poder de Deus na Igreja por meio dos dons espirituais, envaidecem-se e acabam sendo enganados pelo diabo, aceitando que lhes rendam adoração.



- O resultado desta indevida assunção de uma glória que somente pertence a Deus é apenas um: o Espírito Santo deixa de conceder o poder a estes homens e mulheres e, como consequência, se houver insistência em se manter como portadores destes dons, se não houver arrependimento por parte destas pessoas, elas acabam enveredando para o campo da fraude e até mesmo para a busca de poderes malignos a fim de se manterem como “operadores de sinais” que, no entanto, serão tão somente sinais e prodígios de mentira segundo a eficácia de Satanás (II Ts.2:9). Tomemos cuidado, amados irmãos!

Paulo tinha plena consciência da importância dos dons de curar na obra da evangelização. Ao se despedir dos anciãos de Éfeso em Mileto, fez questão de mostrar que uma das marcas de seu ministério era a de auxiliar os enfermos (At.20:35). Aos coríntios, antes, Paulo também fizera questão de dizer que “os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós, com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas” (II Co.12:12), como também que “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder” (I Co.2:4). Podemos dizer o mesmo?

- Em Malta, já na sua viagem a Roma, Paulo mostrou que o que falara aos efésios não era apenas um retrato de um passado, mas era uma realidade presente. Paulo foi ver o pai de Públio, que estava com disenteria, orou, pôs as mãos sobre ele e o homem foi curado e, logo em seguida, procurado por outros doentes da ilha, que também foram sarados (At.28:10). Mais uma vez vemos que, na atuação dos dons de curar, há uma iniciativa do Espírito Santo por intermédio daquele a quem foi concedido o dom.
OBS: A marca da cura divina em Malta foi tão forte que a Ordem Soberana e Miltar de Malta, organização católica dotada de personalidade internacional, que cuida deos serviços de saúde, adotou este nome e teve por sede, durante muitos anos, a ilha de Malta exatamente por causa deste episódio do ministério do apóstolo Paulo.

- Chama atenção que o apóstolo se refira a “dons de curar”, indicando que se tem mais de um dom. “…O plural (‘dons’) indica curas de diferentes enfermidades e sugere que cada ato de cura vem de um dom especial de Deus.…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Dons espirituais para o crente, p.1756). Não há mal que Deus nos cure, amados irmãos! Aleluia!

Os dons de curar devem ser buscados com zelo (I Co.14:1). Nos dias hodiernos, de multiplicação da ciência (Dn.12:4) e de desprezo a Deus, não são poucos entre os que cristãos se dizem ser já não mais creem na cura divina e, por conseguinte, nem pensam em buscar os dons de curar. Preferem ir atrás dos médicos, não raras vezes, como a mulher do fluxo de sangue, gastando tudo quanto possuem (Mc.5:26). No entanto, é precisamente nestes nossos dias, em que o princípio de dores traz, entre outras coisas, a proliferação de doenças (Mt.24:7), que precisamos, como nunca, que haja crentes dispostos a buscar estes dons de curar.

III – OPERAÇÃO DE MARAVILHAS
- “Milagre” é uma palavra de origem latina, de “miraculum”, “algo espantoso, admirável,  extraordinário”. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “ato ou acontecimento fora do comum, inexplicável pelas leis naturais”. Na Bíblia On Line da Sociedade Bíblica do Brasil, milagre é conceituado como “fato ou acontecimento fora do comum, que Deus realiza para confirmar o Seu poder, o Seu amor e a Sua mensagem.”
OBS: É interessante a definição dada por um texto islâmico de milagre que, por sua biblicidade, aqui transcrevemos: “Um milagre é definido como um acontecimento extraordinário que não seria possível sob condições normais e que é realizado por Deus através dos Profetas que Ele enviou como Seus Representantes para confirmar sua veracidade.…” (ZIAD, Mohamad. Que é um milagre? Disponível em: http://br.geocities.com/slidesislamicos/jesus_missao1.htm Acesso em 10 jan. 2008)

- A palavra “milagre”, na Versão Almeida Revista e Corrigida, surge apenas seis vezes (Ex.7:9; Mc.6:52; 9:39; Jo.4:54; 6:14 e At.4:22), mas a Bíblia registra, no Antigo Testamento, 67 milagres e, em o Novo Testamento, 20 milagres dos discípulos de Jesus, além de descrever 36 milagres de Jesus, embora faça menção a milagres do Senhor em outras 17 oportunidades, sem mencionar os milagres não registrados. Os milagres, entretanto, nem sempre são traduzidos para “milagre”, sendo comum o emprego de outras palavras como “maravilhas”, “sinais”, “prodígios” e “obras”.



- Em Ex. 7:9, a palavra “milagre” é tradução do hebraico “môphet” (מןפת), cujo significado é, precisamente, o de “algo admirável”, “uma demonstração do poder de Deus”. Em Mc. 9:39, a palavra “milagre” é tradução de “dynamis” (δύναμις), que tem o significado de “poder”, “poder em ação”, enquanto que, nas outras três referências (Jo.4:54; 6:14 e At.4:22), a palavra “milagre” é tradução de “semeion” (σημειον), cujo significado é “sinal”, “marca”, “acontecimento extraordinário, incomum que manifesta que alguém é vindo da parte de Deus”.
OBS: Não fizemos menção de Mc.6:52, pois a palavra “milagre”, neste texto, não se encontra no original, tanto que está em itálico na Bíblia, pois é um acréscimo feito pelo tradutor para que o texto tivesse sentido claro na língua portuguesa.

- O que se percebe, pois, é que “milagre” é um acontecimento que causa admiração, que não é comum. Por quê? Porque é um fato que foge à explicação das leis naturais, é uma ocorrência que não se consegue explicar, que aparentemente contradiz a ordem natural das coisas. Por isso, o milagre é uma demonstração de que Deus criou o mundo, não Se confunde com a Sua criação e, além disso, participa desta criação, fazendo intervenções que modificam as leis por Ele mesmo estabelecidas, quando isto é da Sua vontade e atende aos Seus sublimes propósitos.

- Não é por outro motivo, aliás, que os que não reconhecem a existência de Deus (ateus), ou entendem que Deus e natureza se confundem (panteístas) ou, então, que Deus, embora seja distinto da natureza, nela não intervém (deístas) sejam, também, pessoas que não admitem a existência de milagres, incluídos nestes grupos, pasmemos todos, até supostos “evangélicos” e “teólogos”.

- Usando de argumentos aparentemente lógicos, muitos dizem não ser possível a existência de milagres, pois, sendo Deus imutável e não contradizente, não poderia mudar as leis que criou. Se o milagre é uma mudança, uma alteração das leis da natureza, um acontecimento extraordinário, fora do normal, tem-se que não pode existir, diante da imutabilidade de Deus. Assim, ou o milagre é um acontecimento natural, que o homem não tem conhecimento suficiente para explicar e, portanto, rigorosamente não é um milagre, mas um fato natural que o homem, por ignorância, não sabe explicar, ou, então, é apenas uma fantasia, uma ilusão, pois Deus não pode negar-Se a Si mesmo e, portanto, não pode modificar as leis que criou.

- Este argumento, que não é novo, mas se encontra muito em voga em nossos dias, notadamente naquilo que o pastor Ciro Sanches Zibordi denominou de “evangelho filosófico” e “evangelho teologicocêntrico”, embora tenha a sua lógica, não corresponde à verdade dos fatos. Por primeiro, a própria ciência admite a sua insuficiência e precariedade, tanto que muitos filósofos da ciência estão a dizer que a “verdade científica” é, por natureza, “provisória”. Se assim é, não há como considerar que a ciência possa invalidar os milagres ou negá-los, se admite a sua própria ignorância sobre tudo o que ocorre no universo. Como dizia Shakespeare, “há entre os céus e a terra mais mistérios do que possa imaginar a nossa vã filosofia”. Assim, como considerar que os milagres não existem porque não se podem violar as leis naturais, se nem conhecemos estas mesmas leis?
OBS: “…Enquanto o evangelho teologicocêntrico (…) se fundamenta no que os teólogos dizem de Deus  e Sua obra, o filosófico se baseia  no conhecimento adquirido por meio do exercício do raciocínio humano. No entanto, estes evangelhos se misturam, haja vista terem como principal característica a negação parcial das verdades da Palavra de Deus…” (ZIBORDI, Ciro Sanches. Evangelhos que Paulo jamais pregaria, p.117).

- Por segundo, este raciocínio parte do princípio de que Deus não pode mudar as leis que estabeleceu, como se a criação não tivesse como pressuposto o fato de que o Criador é o dono da criação (Sl.24:1). Ora, a soberania divina não pode ser anulada pelo Senhor, pois Ele não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13). Portanto, a intervenção de Deus na criação é sempre uma possibilidade, pois Deus está acima da criação, visto que ela Lhe é sujeita (I Co.15:27,28). Deus tem propósitos que, ou nos são revelados, ou permanecem ocultos para nós, mas o fato é que, para cumpri-los, mantendo a Sua fidelidade e senhorio, sem qualquer dificuldade altera as leis naturais, pois acima delas está o caráter divino e a Sua soberania. Tanto assim é que este universo desaparecerá (Ap.21:1), para que o Senhor cumpra o Seu propósito de habitar com os homens num ambiente sem qualquer injustiça (Ap.21:3).
OBS: “…Deus indica, com os milagres, os limites do conhecimento e a tecnologia que o gênero humano pode alcançar. A diferença entre um milagre e os avanços tecnológico-científicos é que, enquanto os Profetas são capazes de realizar milagres sem instrumentos ou tecnologia, as pessoas simples e normais podem ter sucesso em atos similares somente com ajuda do material e a tecnologia que eles produziram.…” (ZIAD, Mohamad. op.cit.)

Os milagres existem, pois estão narrados na Bíblia Sagrada, que é a verdade (Jo.17:17), sendo, ademais, uma demonstração de que Deus não só existe, é distinto da Sua criação, como também é um participante dela. Os milagres mostram, assim, a participação divina na criação e, mui especialmente, na vida dos seres humanos, a coroa da criação terrena. São uma prova do desejo de Deus de nos fazer companhia e de estabelecermos com Ele um relacionamento pessoal e eterno.



Os milagres são um modo de Deus Se mostrar presente no Seu povo e, também, uma forma de fazer o povo servir a Deus. Tanto assim é que uma das maneiras de Deus provar a fidelidade de Seu povo foi a de permitir que falsos profetas realizassem sinais e maravilhas (Dt.13:3). Entretanto, estes sinais seriam acompanhados de palavras contrárias à sã doutrina, de modo que o povo não teria outra coisa a fazer senão extirpar o falso profeta do meio do povo, pois era rebelde contra o Senhor (Dt.13:5).

- A ocorrência de milagres na Igreja, assim como no ministério terreno de Jesus, não pode ser associada a uma simples manifestação de espanto por parte do povo. É uma confirmação das palavras que fossem ditas pelo Senhor Jesus, uma demonstração de que Ele era o Messias tão esperado. Como afirma o arcebispo anglicano inglês Richard Chenevix Trench (1807-1886), muitas vezes a palavra “maravilhas” vem associada a outras expressões como “sinais” e “poderes”, numa prova de que “…além de ser uma ‘maravilha’, é também um ‘sinal’, um símbolo e uma indicação da presença próxima de Deus e de Sua obra. Nesta palavra, o fim ético e o propósito do milagre aparecem de um modo muito proeminente, como em ‘maravilha’ no mínimo. Eles são sinais e penhores de alguma coisa mais do que eles próprios e além de si mesmos (Is. 7.11; 38.7); eles são valiosos, não tanto pelo que são, quanto pelo que indicam da graça e do poder daquele que são, quanto pelo que indicam da graça e do poder daquele que os faz, ou da conexão em que ele mantém com o mundo superior…” (Notas sobre os milagres de Nosso Senhor apud CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática. Trad. de Heber Carlos de Campos. t.III, v.5, p.166)

Uma das formas de realização de milagres na Igreja é o dom de operação de maravilhas, que é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que eles operem milagres, operações sobrenaturais distintas da cura de enfermidades. A Bíblia ressalta que, pelas mãos de Paulo, maravilhas extraordinárias eram realizadas (At.19:11).

- Assim como os dons de curar, o dom de operação de maravilhas revela o poder de Deus de modo sobrenatural, levando à conversão das pessoas. Foi o que ocorreu com Pedro, ao ressuscitar Dorcas em Jope (At.9:42) ou com Paulo, ao cegar o falso profeta Bar-Jesus em Pafos (At.13:6-12). Por vezes, a operação de maravilhas tem nítido objetivo de edificação dos crentes, como ocorreu na ressurreição de Êutico por Paulo em Trôade (At.20:6-12).

Os milagres não são demonstrações gratuitas de poder, mas têm sempre um propósito seja de salvação, seja de edificação espiritual dos salvos, motivo pelo qual não devemos nos deixar enganar por “milagreiros” que se apresentam única e exclusivamente para autoexibição e cultivo da própria soberba. Tomemos cuidado, amados irmãos!

IV – O DOM DA FÉ
-  “Fé” é uma das menores palavras da Bíblia Sagrada em língua portuguesa, mas seu tamanho é inversamente proporcional a seu profundo significado, ou melhor, significados, porque esta tão diminuta palavra encerra diversos significados no texto bíblico, sendo que nossa lição se deterá apenas em um deles, a saber, a fé enquanto uma das qualidades do fruto do Espírito.

- A palavra “fé” no Antigo Testamento (em hebraico “ ’emuwn” - אמןו) aparece, explicitamente, apenas duas vezes, em Dt.32:20 (que, em português, nas Versões Almeida(corrigida, revista e contemporânea), é traduzido por ‘lealdade’) e em Hc.2:4, o conhecido texto em que se diz que o justo viverá pela fé e que será, posteriormente, utilizado por Paulo na epístola aos Romanos como base de toda a sua dissertação a respeito da justificação. Na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra só aparece, além de Hc.2:4, em I Sm.21:5, mas como parte da expressão “boa fé”, que designa ingenuidade, inocência, benevolência. Como afirma o Novo Dicionário da Bíblia, porém, “…isso não significa, entretanto, que a fé não seja elemento importante no ensino do Antigo Testamento, pois ainda que a palavra não seja frequente, a ideia o é. É usualmente expressa por verbos tais como ‘crer’, ‘confiar’ ou ‘esperar’, os quais ocorrem com abundância.(…) o exame cuidadoso revelará que, no Antigo Testamento, tal como no Novo,  a exigência básica é a atitude correta para com Deus, isto é, a fé.…” (MORRIS, L.L.. Fé. In: J.D. DOUGLAS (org). O Novo Dicionário da Bíblia, p.605-6).

- Em o Novo Testamento, a palavra grega é “pistis” (πιστις) que, juntamente com o verbo e adjetivos correspondentes (“pisteuo”— πιστευω — e “pistos” — πιστος — respectivamente), aparece dezenas de vezes (L.L. Morris, em o Novo Dicionário da Bíblia, fala que substantivo e verbo aparecem mais de 240 vezes e o adjetivo, 67 vezes). “…Essa ênfase sobre a fé deve ser vista em contraste com a obra salvadora de Deus, em Cristo Jesus. Em o Novo Testamento, o pensamento que Deus enviou Seu Filho para ser Salvador do mundo é central.(…). A fé é atitude mediante a qual o homem abandona toda confiança em seus próprios esforços para obter a salvação (…) É a atitude de plena confiança em Cristo, de dependência exclusiva d’Ele.…” (MORRIS, L.L.. Fé. In: J.D. DOUGLAS (org). O Novo Dicionário da Bíblia, p.606).



- Como já podemos perceber, a palavra “fé” traduz conceitos fundamentais, essenciais na revelação de Deus ao homem através da Sua Palavra e não é de admirar, portanto, que a palavra tenha servido para expressar diferentes conceitos, diferentes ideias. Assim, antes que analisemos a fé como um dom espiritual, é essencial que saibamos distinguir os diversos significados que a palavra “fé” traduz, a fim de que não façamos confusão com a ideia que estudaremos, que apenas um dos muitos conceitos que a palavra “fé” nos transmite ao longo do texto sagrado.

- O primeiro significado que temos da palavra fé é chamado pelos estudiosos da Bíblia de “fé natural”, expressão com a qual não concorda o teólogo Russell Norman Champlin, que considera que estamos, neste caso, apenas diante de “confiança” e não de fé. De qualquer maneira, esta “fé natural” é a crença que acompanha toda atividade humana. O homem, por mais racional que seja, sempre é guiado por fé, pela confiança. Esta circunstância, aliás, tem sido admitida pelos cientistas e filósofos nos últimos tempos e é um dos principais pontos da discussão entre fé e razão, que tem tomado conta de centenas de mentes ao longo da história, notadamente após a evangelização do mundo e o predomínio do Cristianismo.

- A “fé natural” é a crença de que algo irá acontecer, crença esta baseada na habitualidade ou no raciocínio humano. Assim, quando nos sentamos em uma cadeira, cremos que não iremos cair e que a cadeira nos agüentará, apesar de sermos mais pesados do que ela. Quando estendemos um braço num ponto de ônibus fazendo sinal para que ele pare, cremos que o motorista irá parar e abrir a porta para que entremos e assim por diante. Todas as ações humanas, umas mais, outras menos, é decorrente da confiança que se estabelece entre as pessoas e que é motivada pelo hábito, pela cultura e, por fim, pela própria razão humana. Esta “fé natural” é própria de todo ser humano e essencial para a vida sobre a face da Terra. Esta fé nada representa no campo espiritual, é fruto da lógica humana. Como vimos, os cientistas e filósofos têm chegado à conclusão de que toda atividade intelectual tem uma dose de fé, e esta fé é a fé natural, que, entretanto, não pode ser o critério, o parâmetro a ser seguido pelo servo de Deus. É óbvio que o servo do Senhor também possui esta fé, pois se trata de um ser humano, mas não pode deixar que esta fé seja o seu guia exclusivo. Este, aliás, o sentido da afirmação de Paulo, de que devemos andar por fé e não por vista (II Co.5:7).

- O segundo significado da palavra “fé” é a “fé salvífica” ou “fé salvadora”. Lewis Sperry Chafer diz que a “fé salvadora” é “…a confiança entretecida nas promessas e nas provisões de Deus a respeito do Salvador que faz o eleito repousar e confiar no Único que pode salvar…” (Teologia sistemática, t.4, v.7, p.131), ou seja, é a crença de que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador de nossas vidas. Quando alguém dá crédito à pregação do Evangelho, considera-se um pecador e se arrepende dos pecados e crê que Jesus pode perdoá-los e se submete à vontade de Deus, crendo que Jesus pode dar-lhe a vida eterna e levá-lo ao céu, age com a “fé salvadora” ou “fé salvífica”.

- Esta fé não nasce no homem, mas é dom de Deus (Ef.2:8). Através da Palavra de Deus(Rm.10:17), o Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8-11) e, deste modo, o homem crê e, mediante esta fé, é justificado (Rm.5:1), ou seja, posto numa posição de justo diante de Deus, o que lhe permite ter paz, isto é, comunhão com Deus, sendo vivificado em Cristo. Esta fé é a que concede salvação para o homem.

- A fé salvadora é um dom de Deus (Ef.2:8). É a capacidade que Deus dá ao homem para crer que Jesus Cristo é o Senhor e Salvador e, portanto, que devemos nos arrepender de nossos pecados e passar a servir-Lhe, passando a fazer a Sua vontade. Quando o homem pecou, perdeu a condição de poder retornar a uma vida de comunhão com Deus. O pecado fez separação entre Deus e o homem não tinha como salvar-se. Por isso, o próprio Deus deu-lhe a boa notícia (o evangelho), ainda no jardim do Éden, de que alguém, da semente da mulher, iria esmagar a cabeça da serpente e triunfar sobre o mal, proporcionando um meio de o homem recuperar a comunhão perdida com Deus. Para que o homem possa salvar-se, além de Jesus ter vindo ao mundo e morrido em nosso lugar, é preciso que sejamos convencidos de que somos pecadores e nos arrependamos e este convencimento exige a crença na obra salvadora de Jesus. Esta crença, esta fé, que nos traz a salvação, vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17). Esta fé não é de todos (II Ts.3:2), ao contrário da fé natural.

- A fé salvadora vem uma vez ao homem e realiza a obra da salvação. É pontual, ou seja, ocorre quando alguém crê em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador. É o dom divino que propicia a reconciliação entre Deus e o homem. É quem promove a justificação do homem e estabelece a comunhão, a paz entre ele e Deus. A partir daí, surge uma confiança pessoal em Deus, mas esta confiança já não é a fé salvadora, mas, sim, o terceiro tipo de fé, de que iremos tratar a seguir.



- O terceiro significado da palavra “fé” é o que Lewis Sperry Chafer denomina de “fé mantenedora ou santificante” e o pastor Antonio Gilberto de “fé ativa”. Esta fé é exercida diariamente pelo salvo, após ter aceito Jesus como seu Senhor e Salvador. É a confiança pessoal em Cristo que decorre da salvação, é a crença que “…segura o poder de Deus para a vida diária de uma pessoa. É esta vida vivida na dependência de Deus, que opera um novo princípio de vida (Rm.6,4). O justificado, por ter se tornado o que é pela fé, deve continuar no mesmo princípio de total dependência de Deus.…” (CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática, t.4, v.7, p.132). Esta fé é o combustível que nos leva a caminhar em direção a Jerusalém celestial. É o elemento que nos faz superar todos os obstáculos e a enxergar as circunstâncias sob o prisma espiritual. Foi esta fé que fez com que os antigos vencessem todas as dificuldades e agora aguardassem o seu aperfeiçoamento com a Igreja, como nos mostra o escritor aos Hebreus no “capítulo da fé” (o capítulo 11 da epístola aos Hebreus). É esta fé que nos faz vencer o mundo (I Jo.5:4). Sendo um desdobramento da salvação, esta fé é própria dos salvos.

- Dizem os lexicógrafos que um dos significados de “fé” é “confiança absoluta (em alguém ou em algo), crédito”. Ora, é precisamente este o significado em que se deve entender fé enquanto “fé ativa” ou “fé mantenedora ou santificante”. Trata-se da atitude de confiança em Deus, de crédito à Sua Palavra, às Suas promessas. Somente podemos dizer que temos fé se dermos crédito à Palavra de Deus e dar crédito à Palavra de Deus é fazer o que Ele manda ali. Muitos, nos nossos dias, procuram, de todas as formas, desacreditar as Escrituras Sagradas, questionando sua autenticidade, sua correção, tão somente para justificar suas ações em desacordo a elas, tão somente para procurar justificativas para suas condutas e pensamentos que estão em desacordo com o que manda a Bíblia Sagrada. Todavia, só pode agradar a Deus quem tem fé e ter fé é dar crédito, confiar em alguém e somente podemos dizer que confiamos em Deus se dermos crédito à Sua Palavra.

- O quarto significado da palavra “fé” é a “fé como crença”, ou seja, como diz Chafer, “.um anúncio doutrinário ou um credo que é algumas vezes conhecido como a fé.…” (op.cit., p.132). Este significado é encontrado em At.6:7. Fé aqui pode ser considerado como o conjunto de doutrinas em que se crê, como o credo. É este, aliás, o significado utilizado no subtítulo deste trimestre letivo da EBD: “as doutrinas da nossa fé”.

- O quinto significado da palavra “fé” é a chamada “fé servidora” ou “fé que serve”, que, segundo Chafer,  é aquela “…que contempla como verdadeiro o fato dos dons divinamente concedidos e todos os detalhes a respeito da designação divina para o serviço. Esta fé é sempre uma questão pessoal, e assim um crente não deveria se tornar um padrão para outro. Esta fé com sua característica pessoal pode ser mantida inviolada, pois o apóstolo Paulo diz: ‘A fé que tens, guarda-a contigo mesmo diante de Deus.’ (Rm.14,22). Grande prejuízo pode vir se um cristão imita outro em questão de designação para o serviço.…” (op.cit., p.132). Esta fé, como se percebe, é a confiança que existe por parte do crente no cumprimento da obra do Senhor. É um dos aspectos da “fé ativa” mencionada pelo ilustre comentarista, que diz respeito ao serviço que temos de fazer na obra do Senhor. É a crença  na orientação dada pelo Espírito Santo no desempenho das tarefas a nós cometidas pelo Senhor ao longo da nossa existência sobre a face da Terra. É um reflexo de nossa obediência e submissão ao Senhor. Podemos, assim, dizer que, após a salvação, mediante a fé salvadora, a fé se desdobra no nosso relacionamento cotidiano com Deus em “fé mantenedora”, que nos mantém no caminho estreito e a “fé servidora”, que nos permite, como membros do corpo de Cristo, nos mantermos obedientes e submissos à vontade do Senhor.

- O sexto significado da palavra “fé” é a “ fé-qualidade do fruto do Espírito Santo”, que o pastor Antonio Gilberto prefere denominar de “fidelidade”, mencionada em Gl.5:22. A fé fruto do Espírito Santo (Gl.5:22) é o resultado da transformação operada pela salvação. Quando cremos em Cristo, tornamo-nos uma nova criatura (II Co.5:17) e passamos a ter um novo caráter, uma nova conduta, a apresentar novas qualidades, entre elas, a fé, que nada mais é do que um comportamento de quem tem confiança em Deus, que tem consciência de que Deus está no controle de todas as coisas, tanto assim que esta qualidade do fruto do Espírito está relacionada com a bem-aventurança dos que são injuriados e perseguidos  (Mt.5:12). Esta fé também não é de todos, mas só daqueles que creram em Jesus e foram nascidos da água e do Espírito (Jo.3:8), daqueles que foram gerados de novo para uma viva esperança, para uma herança incorruptível(I Pe.1:3,4) e que se constitui num dos instrumentos para a nossa perseverança (I Pe.1:5).

-  O sétimo significado da palavra “fé” é o “dom espiritual da fé”, que é o objeto de nosso estudo. Trata-se deuma confiança extraordinária, especial que faz com que pessoas tenham uma crença pontual além dos limites do imaginável e que, mediante esta confiança, realizem coisas que estão além do alcance da imaginação humana.

- Temos sempre ouvido ações e gestos de servos do Senhor que, tomados pelo Espírito com uma fé excepcional, agem de acordo com a vontade de Deus e servem para a Sua glorificação. Assim, por exemplo, agiu Paulo no navio que o levava a Roma, ao usar de autoridade para impedir que algum mal se fizessem aos presos e, assim, sendo um simples prisioneiro, dirigir e comandar a própria salvação de todos os que ali estavam (At.27:30-36).

- Esta fé é apenas daqueles salvos que são aquinhoados pelo Espírito Santo com este dom e devem exercê-lo sempre em vista do consolo, admoestação e conforto da Igreja, “…uma fé sobrenatural especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas. É a fé que remove montanhas (I Co.13:2) e que frequentemente opera em conjunto com outras manifestações do Espírito, tais como as curas e os milagres…”(BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Dons espirituais para o crente, p.1756).

- Nestes dias de tantas investidas do inimigo, que quer nos levar ao desânimo e à descrença, quando há muitos escândalos, ou seja, acontecimentos que têm grande potencial para nos fazer tropeçar na jornada rumo ao céu, torna-se indispensável que busquemos o dom da fé, pois, mediante a utilização destes a quem o Espírito Santo concede tal dom, somos, a exemplo dos passageiros e tripulantes do navio que conduzia Paulo a Roma, edificados, consolados, fortalecidos de tal modo que não nos deixemos desfalecer, mas, estimulados pelo exercício extraordinário e episódico da fé, recobremos ânimo e perseveremos até o fim (At.27:35,36).
                                                                                  Caramuru Afonso Francisco