LIÇÃO Nº 12 – CONSERVANDO A PUREZA DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

Conteúdo Adicional para as aulas de Lições Bíblicas
                                                Neste final de dispensação, precisamos tomar cuidado para que, por intermédio de heresias e modismos, não venhamos a apostatar da fé.
                                  
INTRODUÇÃO
- E continuação ao estudo das doutrinas pentecostais, hoje estudaremos os desvios doutrinários que, ao longo deste maior avivamento da história da Igreja, têm surgido para transtornar a fé dos crentes em Cristo Jesus.
- É mister que haja heresias no meio do povo de Deus para que se manifestem os sinceros (I Co.11:19), mas, nestes dias derradeiros, em que haverá a apostasia (I Tm.4:1), precisamos vigiar para que não venhamos a perder a nossa salvação.


I – HERESIAS E MODISMOS QUE PERVERTEM A GENUÍNA FÉ

- Sendo o mais longo e duradouro avivamento da história da Igreja, a “chuva serôdia” do “ano aceitável do Senhor”, o movimento pentecostal, naturalmente, enfrenta sérios desvios doutrinários, visto que o inimigo de nossas almas não haveria de se manter inerte ante tamanha demonstração da graça de Deus neste final da dispensação da graça.

- Satanás, desde a sua primeira aparição no relato bíblico, já é apresentado como sendo um ser que tem a capacidade de quase não ser percebido, que é capaz de adquirir extrema penetração, que tem uma grande sensibilidade para perceber ou sentir as coisas com antecedência e, desta maneira, elaborar coisas finas ou muito engenhosas, que tem grande capacidade de insinuação e que, assim agindo, consegue atingir os seus objetivos. A Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) traduz a palavra “ ‘aruwm” (ערום) de Gn.3:1 por “sagaz”, que é aquele que tem faro apurado, que tem seus sentidos sutis, de onde vem, por exemplo, a palavra “presságio”, ou seja, aquilo que é sentido ou percebido com antecedência.

- A palavra “sutileza” significa “caráter ou qualidade do que é sutil”. “Sutil”, por sua vez, tem o significado de “quase imperceptível devido ao diminuto volume, tamanho ou espessura; fino, tênue, delgado”; “que tem grande sensibilidade, extrema penetração ou agudeza para perceber, distinguir ou expor coisas finas ou muito engenhosas; penetrante, perspicaz, aguçado”, “que se infiltra por todas as partes, que se insinua com grande facilidade; penetrante”.
- Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo recomenda que devamos ter cuidado com as vãs sutilezas (Cl.2:8), porque a sutileza sempre é engenhosa, é “bem produzida”, para usarmos uma expressão muito comum nos nossos dias, feita sob medida para nos trilhar do rumo da verdade, da vida espiritual, porque, como diz o apóstolo, ela é feita segundo as tradições dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo.

A sutileza é a marca registrada do diabo (Jo.8:44) e, portanto, tudo quanto se referir a tal comportamento tem como mentor e inspirador o inimigo das nossas almas. As Escrituras registram ser ele o mais sutil de todos os seres criados por Deus e não há coisa alguma sutil que não esteja, de modo direto ou indireto, relacionado a ele.

- Por isso, quando se fala em heresias, em falsas doutrinas, temos de levar em consideração que toda esta parafernália de seitas e heresias, que toda esta engenhosidade de engano e sutileza que procura obscurecer a verdade da revelação de Deus ao homem parte da ação direta do diabo. Se é verdade que nem toda doutrina é diretamente doutrina demoníaca ou satânica (cf. I Tm.4:1), pois a Bíblia fala de mandamentos de homens (Tt.1:14), não podemos deixar de reconhecer que sempre que alguém distorce a verdade divina, mente e faz o que é próprio do pai da mentira, que é o diabo (Jo.8:44). Assim, por trás de todo falso ensino, está sempre o nosso adversário, de forma direta ou indireta.

- Satanás tem como alvo predileto, desde sua derrota definitiva diante do Senhor na cruz do Calvário, a Igreja, o corpo de Cristo, pois, como o próprio Jesus anunciou ao revelar ao mundo a existência deste povo santo, “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt.16:18 “in fine”), numa clara evidência que haveria persistente luta entre o adversário e a Igreja do Senhor (cf. Ef.6:12).

- O adversário tem tentado de todas as formas atrapalhar e prejudicar o trabalho da Igreja, lutando dia e noite, noite e dia contra ela (Ap.12:10), utilizando, para tanto, daquilo que tem de melhor, ou seja, a sua sutileza. Assim como agiu no Éden, enganando nossos primeiros pais, assim como agiu no deserto da Judeia, tentando enganar a Jesus, tem agido em todas as nações contra o povo do Senhor, procurando enganar os que creem em Jesus como Senhor e Salvador, mediante o artifício da distorção das Escrituras e da infiltração de ensinos falsos que levem à morte espiritual de muitos.

- Já nos tempos apostólicos, no limiar da igreja primitiva, a Igreja sofreu o ataque do inimigo e muitos se deixaram seduzir pelo adversário, abandonando a fé genuína na Palavra de Deus e adotando ensinos falsos e distorcidos. Os apóstolos levantaram-se contra os judaizantes (Gl.5:1-4), os gnósticos (Cl.2:18-23; I Jo.4:1-3), os nicolaítas (Ap.2:2,6,15) e os que apresentaram falsos ensinos sobre a ressurreição (II Tm.2:17,18).

- A partir de então, mostra-nos a história do cristianismo, não houve época em que não se levantassem movimentos, doutrinas e grupos que distorceram a Palavra de Deus e construíram “outros evangelhos”, muito diferentes daquele que foi anunciado pelo Senhor Jesus. A situação chegou a tal ponto que a própria cúpula governante do que se dizia ser a Igreja do Senhor era a fomentadora dos falsos ensinos, criando-se a lamentável situação que só iria melhorar a partir da Reforma Protestante.

- Tudo isto, porém, já estava previsto nas Escrituras. Sem falar nos problemas existentes na igreja dos dias apostólicos, os escritores do Novo Testamento já alertavam os crentes que os dias finais do tempo da Igreja na Terra seriam nebulosos e repletos de falsos ensinos numa profusão nunca antes conhecida.

- Jesus, em Seu sermão escatológico, disse que os últimos dias seriam caracterizados pelo aparecimento de falsos profetas, que seriam muitos e enganariam a muitos (Mt.24:11). Estes falsos profetas, explica-nos pormenorizadamente o apóstolo Pedro, surgiriam do meio da igreja (II Pe.2:1), de forma encoberta, ou seja, a exemplo de seu inspirador, sutilmente, apresentando falsos ensinos que conduziriam à perdição.

- Tais falsos mestres seriam pessoas que até haviam sido salvas por Jesus, mas, infelizmente, cederiam aos encantos da sedução do maligno e prefeririam as benesses desta vida terrena a se manterem fiéis ao Senhor. Como são encobertos, pois, tendo aparência de ovelhas, são, interiormente, lobos devoradores (Mt.7:15), devem ser reconhecidos pelos seus frutos, isto é, pelas suas características, pelo seu modo de vida, bem como discernidos por um acurado estudo das Escrituras.



- O apóstolo Pedro, aliás, elenca quais são as características dos falsos mestres, a saber(II Pe.2):

a) fraudulentos- a principal característica do falso mestre é o engano, como não poderia ser diferente para quem é agente do diabo, o pai da mentira (cf. Jo.8:44). Há, sempre, um hiato entre as palavras e a conduta do falso mestre, entre sua aparência pública e sua vida privada. - Mt.23:3-4; Ap.2:2
OBS: "... Os métodos de ensino dos gnósticos eram subversivos. Nunca entravam em uma comunidade declarando em que criam. Mostravam-se astutos, procurando firmar o pé, antes de dizerem suas posição. O termo grego 'pareisago' indica 'trazer secretamente', ' trazer maliciosamente'. A metáfora tencionada é a de um 'espião' ou 'traidor', cujo propósito é o de prejudicar ou destruir, que oculta o seu verdadeiro intento. Comparar com Jd.4...." (CHAMPLIN, R.N. Novo Testamento Interpretado,  v.6, p.191)

b) dissolutos - a palavra grega original "aselgeia" (άσέλγεια) significa "deboche total, indecência desavergonhada, desejo desenfreado, depravação irrestrita. A pessoa com essa característica tem uma oposição insolente à opinião pública, pecando à luz do dia com arrogância e desdém" (cf. Bíblia de Estudo Plenitude, palavra-chave, p.1312). Os falsos mestres são pessoas que, normalmente, se deixam levar pela lascívia, pelo desregramento moral e sexual, buscando os prazeres deste mundo, ainda que ostentem uma aparência de piedade, servindo, apenas, de escândalo que prejudica a imagem do Evangelho ante os gentios - II Tm.3:4-7; Jd.4,18,19; Mt.18:7; Ap.2:20-22.
OBS: "...Os crentes são constantemente assediados pelos valores distorcidos deste mundo. Assim como as pessoas da época de Isaías, a nossa sociedade também chama o mal de bem e o bem de mal. Mas não podemos permitir que essas 'virtudes' ímpias influenciem nossa maneira de viver...." (O Mestre, Professor, Editora Vida, v.14, p.156)

           "...assim como o homem jamais saberá quem ele próprio é sem conhecer a causa explícita da razão de sua existência. Quando descobre, renuncia tudo que é fútil, material e, por consequência mortal, em favor do que é espiritual e, por consequência, imortal." (CARVALHO, Ailton Muniz de. Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação, 4. ed.,  p.26).

                      " Dissolução significa orgia sexual sem refreio. Judas condena aqueles que ensinam que a salvação pela graça permite que crentes professos vivam na prática de pecados graves sem sofrerem juízo divino. Talvez ensinassem que, seja como for, Deus perdoará aqueles que continuamente entregam-se às concupiscências carnais, ou, que os que agora vivem na imoralidade sexual estão eternamente seguros se, no passado, eles creram em Cristo ( cf. Rm. 5:20; 6:1). Pregavam o perdão do pecado, mas não o imperativo da santidade." (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Jd.4, p.1975).


c) avarentos - os falsos mestres têm amor ao dinheiro e trocam a glória celeste e a vida eterna pelas riquezas desta vida, pelo vil metal. A igreja passa a ser meio de lucro e de enriquecimento; as almas passam a ser mercadorias. São os legítimos sucessores de Balaão, o "profeta mercenário" - I Tm.6:5,10; Jd.11; At.8:18-24; 20:33,34; Jo.10:12,13; Ap.2:14 (lamentavelmente, já chegamos a observar certos "obreiros" que se gabam de serem "bons obreiros" pelo fato de estar havendo maior contribuição financeira nas igreja que dirigem e de haver medição de "competência" exclusivamente sob este prisma. São, realmente, os últimos dias os que estamos vivendo...)
OBS: "...Os falsos mestres comercializarão o evangelho, sendo peritos na avareza e em conseguir dinheiro dos crentes, a fim de promover ainda mais seus ministérios e seus modos luxuosos de vida. (1) Os crentes devem estar a par de que um dos métodos principais dos falsos ministros é usar 'palavras fingidas', ou seja, contar histórias impressionantes, mas inverídicas, ou publicar estatísticas exageradas a fim de motivar o povo de Deus a contribuir com dinheiro. Glorificam a si mesmos e promovem seu próprio ministério com esses relatos inventados (cf. II Co.2:17). Deste modo, o crente sincero, mas desinformado, torna-se um objeto de exploração; (2) Pelo fato de esses obreiros profanarem a verdade de Deus e fraudarem o seu povo com sua cobiça e engano estão destinados à perdição e à destruição." ( BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a  II Pe.2:3, p.1949-50)

              "...Os falsos mestres abandonam o juízo correto e o senso espiritual, em troca da  'obtenção' do erro de Balaão, tornando-se lisonjeadores, a fim de obterem vantagens financeiras. Os falsos mestres se utilizam da 'religião' para obterem vantagens pecuniárias. Aproveitam-se dos sentimentos religiosos de outros a fim de promoverem seu próprio enriquecimento (...) É triste a situação quando homens supostamente espirituais se tornam 'comerciantes', e não profetas..." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6., p.192).



"... existem: 1. O caminho de Balaão (II Pe.2:15); 2. O erro de Balaão (Jd.11); 3. A doutrina de Balaão (Ap.2:14). C.I. Scofield diz acerca dessas três coisas próprias de Balaão: ' o erro de Balaão era que, raciocinando segundo a moralidade natural, e assim vendo erro em Israel, ele supôs que um Deus justo teria de amaldiçoá-los. Era cego para com a moralidade superior da cruz, mediante a qual Deus mantém e reforça a autoridade e as tremendas sanções de sua lei, de tal modo que vem a ser o justo e o justificador do pecador crente. A 'recompensa' de Judas poderia não ser dinheiro, mas popularidade e aplauso. No tocante ao 'caminho de Balaão', diz o mesmo autor: ' Balaão foi o típico profeta alugado, ansioso apenas por mercadejar o seu dom. Este é o caminho de Balaão. E, no tocante à doutrina de Balaão, diz Scofield:  'A doutrina de Balaão era o seu ensino a Balaque a corromper o povo (israelita), p qual não podia ser maldito, tentando-os a se casarem com mulheres moabitas, contaminando assim seu estado de separação e abandonando o seu caráter de peregrinos. É tal união entre a igreja e o mundo que se torna a falta de castidade espiritual. (Isto Scofield diz comentando Ap. 2:15)..." (CHAMPLIN, R.N. Novo Testamento Interpretado, v.6, p.200).

               " Na acirrada disputa por novos seguidores, muitas religiões, em sua atual expressão em nosso país, estão deixando de ser fontes de valores éticos e se transformando em pontos de ofertas de serviço de cunho mágico-místico(...) Quanto maior a liberalização do mercado religioso, esse outro nome sociológico da liberdade religiosa, tanto mais dinamizada fica a concorrência entre as agências da salvação. Isso força as empresas de bens religiosos a produzirem (depressa) resultados palpáveis, seja para os clientes, seja para si mesmas. Para os clientes, os resultados buscados devem aparecer no mínimo sob a forma de experiências religiosas imediatamente satisfatórias _ o êxtase, o transe, o júbilo, o choro, o alívio, enfim, a emoção_ ou terapeuticamente eficazes e, no máximo, sob a forma de prosperidade econômica real; para as empresas religiosas (igrejas e cultos), os resultados visados se põem em termos de crescimento e faturamento da organização, expansão da clientela, fixação mercadológica de suas marcas diferenciais e popularidade das lideranças-ícone..." (Antônio Flávio PIERUCCI. Religião. www.uol.com.br/fsp/mais/fs3112200019.htmAcesso em 03 maio 2011). Este comentário de um especialista da sociologia das religiões de nosso país é forte mas, lamentavelmente, retrata com fidelidade a realidade atual do mundo religioso brasileiro...

d) atrevidos, obstinados, blasfemos - Sob estes adjetivos, Pedro demonstra a rebeldia dos falsos mestres em relação à sã doutrina. Para satisfazer seus desejos desenfreados e sua avareza, os falsos mestres se rebelam contra a Palavra de Deus, distorcendo-a para que sejam atingidos os seus interesses. Não hesitam, portanto, em contrariar ou negar o que a Bíblia está a ensinar, alterando deliberadamente a doutrina para que possam ganhar adeptos e cumprir a sua finalidade. Apontam outro evangelho, outro Cristo, outra salvação - Mt.24:26; II Tm.4:3,4; Gl.1:6-9; I Tm.6:3-5.
OBS: "...Quando o homem perde a sabedoria, é imediatamente dominado pela vaidade, que é irracional. (...) Nesse momento de insanidade, o homem pode destruir a si próprio e, sem que haja uma intervenção exterior, é certa a sua destruição..." (CARVALHO, Ailton Muniz de. Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação, 4. ed., p.171).

e) agradáveis - Os falsos mestres, como têm de arrebanhar adeptos após si para poderem enriquecer e satisfazer seus prazeres, buscam a popularidade a qualquer custo. Têm, sempre, mensagens agradáveis e populares ao povo. Dizem o que o povo quer ouvir, a fim de que possam explorá-lo a seu bel-prazer. - Gl.1:10; Rm.8:8; 15:1-3.
OBS: "...Infelizmente, em nossos dias, muitos têm perdido o equilíbrio. Uns por falta de conhecimento da Palavra de Deus, põem-se a ensinar costumes e modos humanos, que nada tem a ver com a salvação ou santificação; são doutrinas dos homens, que perecem com o tempo (Cl. 2:22). Outros preferem ignorar totalmente qualquer ensino de santificação e consagração, preferindo transformar suas igrejas em verdadeiras sociedades entre irmãos, mas voltados para o lazer e a satisfação da carne. Tais "pastores" e "mestres" são considerados biblicamente falsos, pois, ao invés de levarem o povo a Cristo, procuram trazer as almas em torno de si mesmos, procurando explorá-los e seduzi-los ao sectarismo religioso...." (SILVA, Osmar José da  . Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.137)
          "...Há ainda um fenômeno que começa a ser captado pelas pesquisas e está chamando a atenção dos estudiosos do assunto no Brasil e no exterior. Boa parte dos fiéis está olhando para a religião como se estivesse diante de uma prateleira de supermercado. Empurrando seu carrinho, a pessoa escolhe os itens que mais lhe agradam entre os oferecidos. (...) Nas pesquisas, esse grupo dos sem religião definida é um dos que mais crescem no Brasil, ao lado daquele dos pentecostais e do movimento de Renovação Carismática da Igreja Católica..." (KLINTOWITZ, Jaime. Um povo que acredita, Veja, nº 1731, ano 34, nº 50, 19/12/2001, p.126). Não temos aqui o cumprimento de II Tm. 4:3 ?

- Através de agentes desta natureza, fica muito mais fácil enganar os incautos, mas não devemos nos prender às pessoas ou à sua aparência, mas, sim, aos seus ensinos, às suas mensagens. O adversário procura sempre um meio de nos enganar, mas a segurança se encontra em termos conhecimento da Palavra do Senhor e de nela crer para não sermos levados pelos “ventos de doutrinas”.

- A mensagem apresentada pelos falsos mestres não é evidentemente contrária às Escrituras. Pelo contrário, tais mensagens falsas são trazidas de forma encoberta, como adverte o apóstolo Pedro, de modo que devemos estar bem alerta para podermos discerni-las. Mas como é a mensagem trazida pelos falsos mestres, sutis agentes do adversário?



A mensagem é fingida, porquanto é resultado de uma hipocrisia, eis que, aparentemente, é divina, mas esconde um propósito de prazer e enriquecimento do falso mestre que, para tanto, dissimula e distorce a Bíblia. Aliás, assim agiu o adversário ao tentar Jesus (cf. Mt.4:6,7).
OBS: " ...para eles, a salvação está no conhecimento ou 'gnose', que não tem ligação nenhuma com a vida prática. O autor os compara a Balaão, apresentado como modelo do profeta venal e corrupto: o que eles anunciam é uma falsa liberdade, escravidão e degeneração..." (BÍBLIA SAGRADA, Edição Pastoral, nota a II Pe.2:1-22, p.1575).

             "...Quando o mestre e a lição se harmonizam a ponto de ser difícil a distinção entre ambos, então o aluno é impressionado pelo ensino e também pelo mestre. É então que a veracidade do todo, de maneira um pouco inconsciente porém muito positiva, penetra no seu ser(...) Esta harmonia entre a vida e a mensagem (...)era tão evidente na Pessoa de Cristo..." (HURST, D.V. E Ele concedeu uns para mestres, p.74)

-A mensagem, via de regra, procura fugir do "cristocentrismo bíblico", ou seja, procura desviar-se do âmago do Evangelho, que é a salvação do homem por intermédio de Cristo Jesus e de Seu exemplo. A mensagem dos falsos mestres sempre busca diminuir o valor do sacrifício vicário de Jesus para a salvação do homem, bem como menospreza a santificação e a esperança da vinda de Cristo. - Gl.1:9; Dt.13:1-5; Mt.24:24-26; I Jo.2:22; 4:1-3; 5:5; II Jo.7; II Pe.3:3-5.

-A mensagem busca, dentro desta hipocrisia, pouco a pouco desviar os fiéis dos caminhos do Senhor, de forma subreptícia, paulatina e ardilosa - II Pe.2:13, 18, 19 (primeiro, banqueteiam com os fiéis, depois os engodam, prometendo-lhes liberdade). Não sejamos como Gedalias (Jr.40:13-41:3).

A mensagem confunde liberdade com libertinagem, defendendo a prática do pecado e menosprezando a santificação. É a velha prática do "não faz mal" (cf. Ml.1:7,8). Não nos iludamos: a palavra do crente deve ser "sim, sim, não, não", o mais é de procedência maligna (cf. Mt.5:37) e, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (cf. Hb.12:14) - Ap.22:11.
OBS: Neste sentido, apesar de ser o pensamento do Papa João Paulo II, líder da Igreja Romana de 1978 a 2005, por ser absolutamente coerente com o ensinamento bíblico, cabe aqui reproduzi-lo (cfe. I Ts.5:21) : "...Criar o Reino de Deus  quer dizer colocar-se do lado de Cristo. Criar a unidade que ele deve constituir em nós e entre nós que dizer precisamente: recolher (ajuntar!) com Ele. Eis o programa fundamental do Reino de Deus , que Cristo na Sua pregação  contrapõe à atividade do espírito maligno em nós e entre nós. Essa atividade realiza o seu programa em uma liberdade aparentemente ilimitada. Seduz o homem com uma liberdade que não lhe é própria. Seduz ambientes inteiros, sociedades, gerações. Seduz para manifestar no final das contas que esta liberdade não é outra coisa senão adaptar-se a uma múltipla pressão...Pode ele dizer claramente a si mesmo que esta ‘liberdade ilimitada’ se torna afinal uma escravidão ?...Ser livre quer dizer produzir os frutos da verdade, agir na verdade. Ser livre quer dizer também render-se à verdade, submeter-se à verdade e não submeter a verdade a si mesmo, aos próprios caprichos, aos próprios interesses e às próprias conjunturas..."( JOÃO PAULO II. Meditações e orações, p.152-3).

                  "... Liberdade total o homem nunca teve. Entre todos os seres viventes é o único ser que vive procurando resolver seu problema de aprisionamento, uma vez que sempre esteve preso pelo seu egoísmo.(...) Entretanto, o homem não tem conseguido libertar a si mesmo das agarras psíquicas e espirituais que o aprisionam desde que aceitou a proposta do tentador, de ter conhecimento do bem e do mal.(...) Toda a liberdade que foge dos padrões da ética universal acaba por prejudicar o indivíduo. Portanto, exceder em liberdade pode levar alguém ao desequilíbrio e consequentemente a prejuízos desastrosos.(...) Tenhamos cuidado com a liberdade exagerada; esta poderá se tornar uma arma psicológica contra a moral e os bons costumes...." (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.52,57)

A mensagem não tem consistência nem firmeza. Os falsos mestres são comparados a fontes sem água, pois só Jesus é a fonte de água viva (Jo.4:10,14), bem como com névoa levada pelo vento, que, embora embarace a visão, notadamente durante a noite, aos primeiros raios do Sol da justiça (Ml.4:2), é dissipada (Jo.3:18,19; I Jo.1:5,7).

- Todas estas características devem ser procuradas pelos servos do Senhor, pois temos o Espírito Santo e Ele nos fará lembrar o que o Senhor nos ensinou e, por isso, teremos condições plenas de afastar os falsos mestres do nosso convívio, o que, aliás, ocorria na igreja de Éfeso (Ap.2:2). Tudo, porém, depende, e muito, da nossa vida espiritual de comunhão com o Senhor e do estudo assíduo e ininterrupto da santa Palavra de Deus. Só assim poderemos sobreviver a este verdadeiro dilúvio que tem sido lançado pelo inimigo furioso contra a Igreja.



II – AS HERESIAS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE, DA CONFISSÃO POSITIVA E DO TRIUNFALISMO

- Dentre as distorções que têm assolado o movimento pentecostal, uma das mais disseminadas em nossos dias é a teologia da prosperidade, que caminha “pari passu” com a sua “irmã”, a doutrina da confissão positiva ou do triunfalismo e que tem sido a base dos chamados “movimentos neopentecostais”.

A “teologia da prosperidade” está baseada no “amor do dinheiro”, que, como disse Paulo a Timóteo, é a “raiz de toda a espécie de males” ( I Tm.6:10), Jesus foi bem claro ao mostrar que quem ama as riquezas, quem ama o dinheiro não pode servir a Deus (Mt.6:24).

- O apóstolo Paulo foi claríssimo ao afirmar que se esperarmos em Cristo só para as coisas desta vida seremos os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19). É esta a triste situação espiritual dos milhões que têm procurado Jesus única e exclusivamente para terem a “prosperidade” apregoada pelos falsos mestres da atualidade, eles mesmos escravos da ganância (II Pe.2:3).

- Quando falamos em “teologia da prosperidade” e sua “irmã” “confissão positiva”, “palavra da fé” ou “movimento da fé”, ou, ainda, “triunfalismo”, não falamos, propriamente, de uma seita ou de uma denominação, mas de um movimento que se tem infiltrado, com suas ideias e concepções, em diversas denominações e grupos evangélicos, principalmente os pentecostais, sendo, por isso mesmo, uma das mais perigosas heresias na atualidade. Seus conceitos têm invadido as mentes de muitos crentes, trazendo grandes prejuízos espirituais.

- - Com relação a este “vento de doutrina” que tem soprado fortemente entre os crentes denominado de “teologia da prosperidade” e de “confissão positiva” ou “triunfalismo”, vemos que suas raízes se encontram naquele que muitos dizem ter o mais antigo livro da Bíblia, o livro de Jó, que teria sido escrito ou pelo patriarca Jó, provavelmente contemporâneo de Abraão, ou, então, por Moisés, quando ele ainda se encontrava entre os midianitas.

- Na história de Jó, comparecem perante ele três amigos, Elifaz, Bildade e Zofar, que, diante da prova sofrida pelo patriarca, que perdera seus filhos, seu patrimônio e sua saúde, apresentaram um conceito que tinham a respeito de Deus, que é, precisamente, o conceito que hoje nos é apresentado pela “teologia da prosperidade” e pela “confissão positiva”.

- Esta ideia de Deus que os amigos de Jó apresentam ao longo do livro de Jó é a “teologia”, ou seja, “o discurso sobre Deus” daqueles homens, ideias estas, contudo, que foram consideradas errôneas pelo próprio Deus. Com efeito, pouco antes de o Senhor virar o cativeiro de Seu servo, a Bíblia nos diz que Deus Se apresentou a Elifaz e afirmou que tudo o que fora dito a respeito d’Ele por parte daqueles “teólogos” não estava de acordo com a verdade (Jó 42:7).

- Portanto, como as próprias Escrituras testemunham, as ideias apresentadas pelos amigos de Jó a respeito de Deus são ideias que não devem ser seguidas nem adotadas pelos que servem a Deus, uma vez que se tratam de ideias reprovadas pelo próprio Deus a Seu respeito. Esta “teologia distorcida”, pois, deve ser identificada para que nós, que queremos ter o mesmo testemunho que Jó teve de Deus, não venhamos a cometer os mesmos erros de Elifaz, Bildade e Zofar.

- Em primeiro lugar, os amigos de Jó diziam e os falsos ensinadores de hoje repetem, que há uma relação de barganha entre Deus e os homens, ou seja, Deus abençoa aqueles que Lhe são fiéis e castiga os pecadores, isto é, a bênção divina é uma retribuição pela fidelidade da pessoa. Teríamos um “toma-lá-dá-cá” entre Deus e os homens (cf. Jó 4:7,8; 8:4-6; 11:13-15).

- Entretanto, como bem sabemos, Jó não havia pecado e a perda de todas as suas propriedades, de seus filhos e da sua saúde haviam sido uma permissão divina, tão somente para provar a fidelidade do patriarca, um homem sincero, reto, temente a Deus e que se desviava do mal (Jó 1:1). Deus, na Sua bondade e misericórdia, abençoa tanto a justos quanto a ímpios (Mt.5:45), pois não faz acepção de pessoas (Dt.10:17).

- Em segundo lugar, os amigos de Jó diziam, e os falsos ensinadores de hoje repetem, que há uma correspondência entre o bem-estar físico e social e o bem-estar espiritual de alguém, ou seja, se alguém é saudável e ocupa posição social avantajada, isto é uma demonstração de que se trata de uma pessoa que está em comunhão com o Senhor (cf. Jó 5:22-26; 15:17-35; 18; 20).



- Entretanto, tal pronunciamento dos amigos de Jó também não tem respaldo bíblico, porquanto, se é verdade que o ímpio responderá por sua impiedade e ela lhe selará um triste destino na eternidade, não é menos certo que, por vezes, o ímpio apresenta, nesta vida, saúde física e prosperidade material, sem que isto represente qualquer sinal ou evidência de comunhão com o Senhor. O próprio Jó, ao contrário do que achava o adversário, ao perder sua posição social e suas riquezas, nem por isso deixou de adorar o Senhor e de Lhe reconhecer o direito de dar e de tirar todos os bens de alguém (Jó 1:21).

- Em terceiro lugar, diante do que os amigos de Jó diziam, e os falsos ensinadores de hoje repetem, conclui-se que o arrependimento dos pecados concede automaticamente saúde física e prosperidade material, de forma que bastaria ao patriarca se arrepender dos pecados para retornar ao estado anterior em que se encontrava. Tudo não passaria de uma questão de “pecado oculto”, que deveria ser confessado.

- Entretanto, como bem sabemos e Jó não se cansa de falar, neste longo diálogo travado com seus amigos, o patriarca não tinha pecado algum, era inocente diante de Deus, não tendo o que confessar. Além do mais, a Bíblia nos mostra que Jó teve o seu cativeiro mudado quando orava pelos seus amigos, ou seja, quando dava mostras de sua santidade, intercedendo por eles, intercessão que foi aceita pelo Senhor (cf. Jó 42:9,10).

- As aflições do patriarca, todo o seu sofrimento, pois, não era sinal ou evidência de pecado, como diziam os seus amigos, mas tudo não passava de uma provação divina, cujo intento era o aprimoramento espiritual de Jó, algo que foi reconhecido pelo próprio servo do Senhor, que, pouco antes de ter seu cativeiro mudado, reconhecia, diante de Deus, o seu crescimento no conhecimento do Senhor (cf. Jó 42:5,6).

- Em resumo, portanto, considerar que o relacionamento entre Deus e os homens é um “toma-lá-dá-cá”, que o bem-estar espiritual corresponde a um bem-estar físico e social, bem como que a doença física ou a desvantagem social são consequências do pecado é “não dizer de Deus o que é reto”, é “acender a ira de Deus” (Jó 42:7).

- Como se não bastasse esta evidência bíblica de reprovação desta “teologia distorcida” dos amigos de Jó, vemos que esta visão, segundo nos diz o próprio Elifaz, que parecia ser o “capitão do time” dos amigos do patriarca, foi resultado de uma manifestação sobrenatural de um “espírito” onde se lançaram as bases deste pensamento (cf. Jó 4:13-21), a indicar, portanto, com clareza de onde provém tal “teologia”, pois tal “espírito” outro não é senão o mesmo que fomenta todo o engano, o pai da mentira.

- Tristemente, nos dias atuais, muitos têm confundido a salvação com a prosperidade material, como também entendido que toda e qualquer doença é fruto do pecado. Tais pensamentos têm comprometido a fé de muitos que estão atrás de Jesus para obterem tão somente riquezas e imunidade quanto a enfermidades. O poder de Deus é buscado tão somente para as benesses desta vida, o que é absolutamente contrário ao que ensinam as Escrituras.

- É com pesar que vemos muitos de nossos púlpitos serem utilizados para levar os crentes a buscar riquezas e a suposta imunidade quanto a enfermidades. “Campanhas” e mais “campanhas” são realizadas para que os crentes tenham “restituições”, “prosperidade material”, “curas e libertações”, sem que se fale um momento sequer na vida eterna, na Jerusalém celestial, na santificação, na iminente volta do Senhor Jesus. Isto tem comprometido grandemente o movimento pentecostal e, o quanto antes, precisamos voltar às origens, ao verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”.

- Esta distorção da teologia da prosperidade e da confissão positiva seja ao extremo de entender que Deus é nosso serviçal, que está à nossa disposição. A fé torna-se “determinação” e a graça de Deus, obrigações que o Senhor supostamente teria em relação aos crentes, que teriam “direitos” em relação ao Senhor. É o que se denomina de “triunfalismo”.

O “triunfalismo” é uma atitude típica dos chamados “movimentos da fé” ou “teologia da prosperidade”.Esta falsa doutrina parte da noção de que, na criação do homem, Deus entregou ao homem o domínio sobre a criação terrena, dando-lhe, pois, “direitos” que ele pode reivindicar diante da Divindade. Tanto assim é que, quando do episódio da queda, o que teria havido seria um “legítimo direito” do homem em transferir a Satanás o domínio desta mesma terra. Evidentemente que Deus não iria permitir isto e, por isso, teria elaborado o plano da salvação do homem, a fim de que o homem pudesse, legalmente, reaver o que havia transferido ao diabo.



- Como Jesus veio ao mundo e cumpriu este desejo do Senhor, o homem que aceita a salvação teria retornado a esta qualidade de “detentor de direitos” diante de Deus e, por isso, não há que se falar em adversidades, dificuldades ou quaisquer outros problemas para o salvo, uma vez que ele tornou a ter os “direitos” que lhe advieram pela “nova criação”. É a partir deste conceito, pois, que surge, no bojo da “teologia da prosperidade”, um triunfalismo, vez que o salvo se sente um “mais do que vencedor”, alguém que “triunfou sobre o diabo” e que, por isso, não tem mais que “pagar coisa alguma ao diabo”, que tem, simplesmente, de “fazer o diabo desaparecer da sua vida, dos seus bens, da sua família e da sua saúde”.

- Não obstante, não é isso que dizem as Escrituras Sagradas. Em primeiro lugar, o homem não é portador de qualquer “direito” diante de Deus. Quando da criação, Deus fez o homem um simples “mordomo”: o domínio sobre a criação terrena não significa, em absoluto, propriedade, mas, sim, poder de administração. Tanto assim é que o homem foi feito “imagem e semelhança de Deus”, ou seja, embora tivesse pontos de contacto com o Senhor, não fora equiparado a Ele, o que, a propósito, é reconhecido pelo próprio Satanás que, valendo-se desta diferença entre Deus e os homens, levou o primeiro casal a desejar ser igual a Deus (cf. Gn.3:5).

- Ao se verificar o texto de Gn.1:26, vemos que, no hebraico, o verbo utilizado para designar o “domínio” do homem é “radah” (רדה), ou seja, “governar”, “dar regras”, que, na versão grega da Septuaginta é “archétosan” (αρχέτωσαν), que também significa “governar”, “administrar”. Não bastasse este significado, o texto bíblico mostra claramente que Deus mantém o controle de toda a situação, seja porque, encontramos Deus ordenando ao homem (Gn.2:15-17), seja porque a narrativa bíblica demonstra que o homem só exerce suas faculdades mais excelentes, entre as quais, a de dar nome aos demais seres (que é o símbolo de sua superioridade), sob os auspícios e a devida supervisão do Senhor (cf. Gn.2:19-23).

- Como se ainda isto não fosse suficiente, as Escrituras são claras ao afirmar que, enquanto o homem tem o governo sobre a criação terrena, o reino, a soberania permanece sendo de Deus, o “dono”, o “proprietário”, ou seja, aquele que tem “poder absoluto sobre a coisa”, pois esta é a noção de propriedade. É o que se verifica no Sl.24:1; 47:8; 59:13; 93:1; 96:10; 97:1; 99:1; Is.52:7 e Ap.19:6, entre outras referências. Nestes trechos, aliás, os verbos são diversos, pois dão a idéia do domínio absoluto. É o verbo “reinar” que está em foco, que, em hebraico é “malak”(מלך)e, em grego, “ebasileuein” (εβασιλευειν).

- O “triunfalismo”, portanto, perde já na sua base, pois todo o edifício que dá ao homem uma qualidade de “supercrente” parte do pressuposto de que ele é “detentor de direitos” diante de Deus e que, por isso, Deus é “obrigado” a praticar determinadas ações em favor dos “salvos”, por força dos “direitos” existentes no relacionamento entre Deus e a humanidade. Nada mais falso. Se é verdade que Deus nos resgatou do pecado e da perdição eterna, fê-lo porque é amoroso e tudo nos concede por “graça”, ou seja, “favor não merecido”, conceito bem diverso do de “direito”. Para nos utilizarmos da linguagem jurídica, tão ao gosto dos “triunfalistas”, a salvação do homem e as bênçãos decorrentes dela são fruto de uma “liberalidade” divina, não de uma “obrigação”.
OBS: “Liberalidade”, como nos diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é “ disposição daquele que, em seus atos ou em suas intenções, dá o que não tem obrigação de dar e sem esperanças de receber nada em troca”. (grifo nosso)

- A base do “triunfalismo” é dizer que, a partir do momento em que o homem aceita a Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador, não é mais possível que o homem passe a ter problemas na vida sobre a face da Terra, pois a sua comunhão com Deus, a sua salvação lhe traz uma posição de “triunfo”, de vitória sobre o diabo. Portanto, é impossível que o salvo venha a sofrer enfermidades ou quaisquer outras necessidades, em especial, as relativas à vida econômico-financeira.

- A salvação é a maior bênção que um mortal poderia receber. Ela é a solução para o problema insolúvel do homem, qual seja, a sua separação de seu Criador por causa do pecado. Sem condições de resolver esta questão, o homem estava irremediavelmente perdido, mas Deus, desde o instante em que sentenciou o homem pelo seu pecado, prometeu reverter o quadro, o que se deu na pessoa de Cristo Jesus.

- Assim, a salvação é, sobretudo, uma bênção espiritual, tem a ver com o reatamento do relacionamento entre Deus e o homem e isto é o mais importante, pois a questão da eternidade é fundamental para o ser humano, que não foi criado para deixar de existir, mas cuja existência perdurará para sempre, na companhia de Deus, ou não.
- Notamos, portanto, que, de pronto, a promessa de Deus que advém da salvação é a do desfrute de todas as bênçãos espirituais. Não há qualquer registro nas Escrituras de promessa de “todas as bênçãos materiais”, mas, sim, de “todas as bênçãos espirituais” (Ef.1:3). É esta a promessa dada por Deus e Ele vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12). As Escrituras, coerentemente, dão a devida importância e relevância para o aspecto espiritual, pois é isto que temos de buscar em primeiro lugar, isto é o que importa. Aliás, foi esta a ordem de Cristo: “Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará, porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo.6:27).



- Não só o crente deve se preocupar em ter uma vida espiritual abundante, cada vez mais crescente, como também deve, em sua vigilância contínua, zelar, prioritariamente, também pelo seu bem-estar espiritual. É, também, orientação do Senhor: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer, no inferno, a alma e o corpo” (Mt.10:28). Como podemos verificar, a preocupação do cristão deve ser com a sua vida eterna, com o seu relacionamento com Deus, deixando todas as demais coisas, conquanto necessárias, num segundo plano.

- Dentro desta perspectiva é que devemos entender que, sobre a face da Terra, a vida nos reserva tanto alegrias quanto tristezas, tanto dias bons quanto dias maus. Quando vemos o que a Bíblia diz a respeito disto, constatamos, para desmentido dos triunfalistas, que o justo não está livre de sofrer contratempos na vida, de ter problemas e dificuldades. As Escrituras, quando falam da adversidade, nunca excluem o justo dela (Sl.27:5; 35:5; Ec.7:14; Mt.7:25,27).

- Muitos, enganados pelo discurso triunfalista, ao se verem envolvidos em dias de adversidade, perdem a fé em Cristo Jesus, pois o mesmo inimigo que distorceu as
Escrituras é o primeiro a lançar nos ouvidos e mentes dos crentes que, como estão a passar dificuldades, a Palavra de Deus não é verdadeira, o que leva muitos a se desviarem da fé. Tomemos cuidado e jamais nos envolvamos com estas falsas doutrinas.

III – AS HERESIAS DO MUNDANISMO E DA LIBERTINAGEM

- Mas além das heresias da teologia da prosperidade e da confissão positiva, temos, também, na atualidade, os falsos ensinos relacionados com o mundanismo e a libertinagem.

- Como já dissemos supra, uma das características dos falsos mestres é a sua vida dissoluta, depravada, ou seja, os falsos mestres, iludidos que estão pelo inimigo de nossas almas, buscam os prazeres desta vida e, em consequência, procuram incentivar e estimular os crentes a tomarem a mesma atitude, envolvendo-se com o mundo e com o pecado.

Um dos pilares do movimento pentecostal, como temos visto ao longo do trimestre, é a doutrina da santificação. A busca do poder de Deus, de uma maior intimidade com o Senhor a partir do batismo com o Espírito Santo é resultado de uma busca pela santificação que foi a principal marca dos avivamentos imediatamente anteriores ao movimento pentecostal, em especial o “avivamento morávio” e o “avivamento wesleyano”.

- O Espírito Santo somente atua da mesma forma que atuou nos dias dos apóstolos quando temos a busca da santificação, pois, como Deus que é, o Espírito é santo e não pode coabitar com o pecado e a imundícia.

- Ora, uma das formas de o inimigo atuar para frustrar o movimento pentecostal, portanto, é, precisamente, a introdução de ensinamentos que levem os crentes pentecostais a não mais se santificarem. A exemplo do conselho que Balaão deu a Balaque para tornar vulnerável o povo de Israel (Nm.31:16), muitos estão, na atualidade, a incentivar e estimular os crentes pentecostais a se misturar com o modo pecaminoso de viver e, desta forma, comprometer a atuação do Espírito Santo na vida destas pessoas.

- Nos últimos tempos, tem-se verificado, no meio do movimento pentecostal, a proliferação de ensinamentos que alegam trazer “liberdade” aos crentes, “liberdade” esta que nada mais é que “libertinagem”, pois a verdadeira liberdade não é fazer o que se quer, mas, sim, obedecer a Deus e à Sua Palavra.

- Muitos têm transtornado a fé de muitos crentes pentecostais com a ideia de que, ante a liberdade que há em Cristo, se possa pecar à vontade, se possa viver de forma “moderna”, ou seja, se possa viver como o mundo vive, já que “Deus só quer o coração”.

- Nada mais enganoso, porém. As Escrituras são claras ao afirmar que, quando somos salvos, nos tornamos “novas criaturas” (II Co.5:17; Gl.6:15) e, por conseguinte, não mais adotamos a vã maneira de viver que havíamos recebido de nossos pais (I Pe.1:18). O salvo em Cristo Jesus, portanto, não pode mais viver como vivia antes, visto que foi retirado das trevas para a maravilhosa luz do Senhor (I Pe.2:9).



Sutilmente, entretanto, ao longo dos anos, o diabo tem introduzido no meio do povo de Deus a ideia de que se pode servir a Deus mantendo a mesma maneira de viver do mundo. Costumamos dizer que o adversário tem se utilizado, com eficácia, de uma palavra para enganar os incautos, a saber: “gospel”. De forma bem sagaz, tem-se adicionado esta palavra inglesa a abominações e, com isto, “santificar” práticas que nada mais são que atitudes pecaminosas que, uma vez adotadas pelos crentes, levam-nos a uma mistura com o pecado, comprometendo a sua própria salvação.

- Assim é que, ao longo dos anos, têm surgido muitas aberrações que propõem a mistura do povo de Deus com o mundo.  Permite-se a embriaguez, com a “cerveja gospel”; permite-se a prostituição com o “ficar gospel” e o “filme pornô gospel”; permite-se a contaminação do louvor com a “música gospel” (e suas variações: “rock gospel”, “samba gospel”, “metal gospel” , “funk gospel” etc., etc., etc.), sem falar em atividades que nada têm de sagradas, como “coreografia”, “dança” e tantas outras invencionices que somente trazem o mundo para o interior das igrejas locais.
OBS: Com respeito à dança, cumpre aqui registrar o que dizia a respeito o missionário Gunnar Vingren ao visitar, em Santa Catarina, um grupo de crentes lituanos que usavam disto em seus cultos, em 1920, “in verbis”: “…Todos aqui são da Lituânia. Receberam-me muito bem. De noite foi realizado um culto, mas como era no idioma lituano, eu não compreendi nada. Primeiro  cantaram um hino. Depois todos tiraram os sapatos e deitaram no chão, formando um círculo. Depois que todos haviam orado, começaram a pular e a dançar durante mais ou menos meia hora. Depois se puseram de joelhos outra vezes e oraram. Eu os exortei a que deixassem essa coisa de dançar, pois isto não está escrito no Novo Testamento, e era uma bobagem que eles deviam abandonar.…” (VINGREN, Ivar. Diário do pioneiro Gunnar Vingren. 5.ed., p.116).

O resultado desta invasão do mundo na liturgia e no modo de vida de muitas igrejas é a perda do poder de Deus e o comprometimento da salvação de muitos. Como o Espírito Santo não coabita com o pecado e a carnalidade, a consequência tem sido desastrosa para o movimento pentecostal e a apostasia tem grassado nas igrejas. O mundanismo tem feito muitos se desviarem da fé. Tomemos cuidado, amados irmãos!

- Esta heresia tem ardilosamente alegado que se trata tão somente de “revisão dos usos e costumes” e, como tal, apenas uma “atualização”, uma “modernização” que não compromete a santidade nem a autenticidade do movimento pentecostal. No entanto, tudo não passa de mais um dos ardis de Satanás, que não podemos ignorar (II Co.2:11).

- Não resta dúvida de que os “usos e costumes” são questão humana e que, por isso mesmo, modificam-se de lugar para lugar, de geração para geração. Não podemos exigir, dentro de um mundo que se modifica rapidamente em nossos dias, que usos e costumes mantenham-se imutáveis.

- No entanto, os chamados “usos e costumes”, se são humanos e variáveis, não podem dar guarida à modificação do que se encontra nas Escrituras, que é a Palavra de Deus, esta sim, imutável e que permanece para sempre (I Pe.1:23,25).

- Assim, por exemplo, em relação às vestimentas dos crentes, se é natural que, ao longo de um século de existência, haja evidentes mudanças no traje dos crentes das Assembleias de Deus no Brasil, que são decorrentes da passagem do tempo, também não é menos verdadeiro que não podem ser admitidas modificações nas regras bíblicas relativas a este assunto, que exigem um traje honesto e modesto por parte dos salvos em Cristo Jesus (I Tm.2:9; I Pe.3:3), bem como a distinção necessária entre trajes de homem e de mulher, inclusive no que diz respeito ao cabelo (Dt.22:5; I Co.11:1-15), e, ainda, a absoluta necessidade de o nosso corpo, como templo do Espírito Santo que é (I Co.6:19), servir à justiça para santificação e não para maldade ou imundícia (Rm.6:12-19).

Não é porque vivemos na liberdade da graça que podemos permanecer no pecado (Rm.6:1,2). O salvo em Cristo Jesus morreu para o mundo e, portanto, não pode viver como os que não têm a salvação. Faz-se absolutamente necessário vivermos em novidade de vida, abandonando todas as práticas pecaminosas.

O mundanismo, que se generaliza em muitas igrejas locais na atualidade sob este falso discurso da “modernização” e “atualização”, impede a ação do Espírito Santo e, como consequência direta disto, cria-se um ambiente propício à instalação, entre os crentes supostamente pentecostais, do misticismo e de manifestações sobrenaturais não provenientes de Deus, para dar a aparência de que, apesar do “mundanismo”, a presença de Deus ainda seria real no meio desta gente.



- Assim, em lugar de genuínas e autênticas manifestações do poder de Deus, em tais lugares, criam-se manifestações que, ou são resultado de um puro emocionalismo, de técnicas de autossugestão aprendidas seja na arte teatral, seja na ciência (como a neurolinguística), ou, então, são manifestações realmente sobrenaturais, mas que tem sua origem na atuação dos espíritos enganadores que estão a levar muitos à apostasia nestes dias finais da dispensação da graça (I Tm.4:1).
- São, precisamente, nestes ambientes envolvidos pela libertinagem e pelo mundanismo que encontram “caldo de cultura” tudo quanto está relacionado com a chamada “nova unção” ou tantas outras invencionices que infestam milhares e milhares de igrejas locais na atualidade (“risada santa”, “vômito santo”, “unções animais”, “bênção de Toronto”, “cai-cai”, também conhecido como “cair no Espírito” e fanerose, “reteté” etc. etc. etc.).

- Em busca de “incentivar” e “estimular” a fé do povo, que se apresenta ausente neste estado de coisas, não faltam “criatividades”, a aumentar ainda mais o misticismo, como a apresentação de “produtos” capazes de trazer “bênçãos divinas”, como são os mais variados “amuletos” que se têm criado (sempre em troca de dinheiro, o que faz com que os falsos mestres “matem dois coelhos com uma só cajadada”, ou seja, a de manter o povo iludido com uma falsa espiritualidade e, simultaneamente, enriquecerem-se à custa destes incautos) como “rosas ungidas”, “óleos de Israel”, “sabonetes de extrato de arruda”, “toalhas”, “lencinhos”, “feixes de trigo”, etc. etc. etc.

- Como não há mais santificação, o Espírito Santo Se afasta destes crentes e se abre a oportunidade para que o inimigo de nossas almas atue livremente, juntamente com seus agentes, para manter o povo iludido e enganado, levando-os à apostasia da fé.

- Além destas manifestações sobrenaturais que nada têm de Deus, tais ambientes também permitem a troca dos cultos de adoração a Deus por verdadeiros espetáculos de entretenimento, onde há a substituição da adoração pela diversão, do culto pelo entretenimento. As reuniões tornam-se verdadeiros eventos sociais, um momento de confraternização e de descontração, onde não há qualquer compromisso com a busca ao Senhor e à Sua glória. Aliás, cada vez mais, há a busca de realização de “shows gospel”, “baladas gospel”, “louvorzões” e coisas similares em vez dos cultos regulares.

- Associa-se, assim, o pentecostalismo a uma mera informalidade na liturgia, a uma participação da membresia nos rituais e momentos dos cultos, achando-se que, desta maneira, se está diante de uma manifestação atual do Espírito Santo como nos dias apostólicos, um grave equívoco, vez que isto nada tem que ver com a atuação do Espírito Consolador naqueles dias.

IV – VIDA DE ORAÇÃO E DE LEITURA DA PALAVRA DE DEUS: ANTÍDOTO E REMÉDIO PARA AS HERESIAS

Os dois pilares da vida devocional do cristão são a oração e a leitura da Bíblia Sagrada. A proliferação das heresias que têm perturbado o movimento pentecostal decorrem, precisamente, de falhas na atuação das lideranças na edificação sadia destes dois pilares na vida dos crentes pentecostais.

- Quando o crente não está voltado para si, mas, sim, para o Senhor, ou seja, quando Deus é o centro da vida da pessoa, ele não consegue viver sem que esteja em constante comunicação com o seu Senhor e isto se dá seja pela oração, seja pela meditação constante das Escrituras. Crente que se volta para Deus precisa ouvi-l’O falar e falar com Ele constantemente, ininterruptamente e é por isso que a Bíblia diz que devemos orar sem cessar (Ef.6:18 “in initio”, I Ts.5:17) e meditar na Sua Palavra de dia e de noite (Js.1:8; Sl.1:2).

- O crente que ora incessantemente, que tem uma vida de oração, não precisa participar de “campanhas”, nem é levado por elas, porque conhece a voz de seu Senhor e por Ele é conhecido (Jo.10:14), não se baseando, assim, em climas emocionais superficialmente criados, porque desfruta de uma intimidade com Deus (Mt.6:6). É um crente que não substitui a sua oração sincera e que vem do profundo de seu espírito, uma verdadeira oração no espírito (Ef.6:18), por “fórmulas de fé”, “correntes de oração”, “determinações”, “novenas”, “meditações”, “concentrações”, que nada mais são que nomes novos para as “vãs repetições” condenadas por Jesus e que já eram praticadas pelos gentios há séculos (Mt.6:7,8).

- Infelizmente, quando o crente não ora, nos momentos de dificuldade e de necessidade, tem a tendência de recorrer a estas “fórmulas mágicas”, a estes verdadeiros “mantras” e “rezas” dos triunfalistas ou às manifestações sobrenaturais geradas pelos “mundanistas”, achando que, desta maneira, conseguirá o favor divino. É muito cômodo para o crente relapso, que não tem intimidade com Deus, usar destes subterfúgios para ter um “atalho” ao trono da graça, mas, como todos sabemos, se não for pelo caminho traçado por Deus, jamais conseguirá algo.

Precisamos, nos dias em que vivem

os, levar o povo de nossas igrejas locais à prática da oração. Falta oração nas igrejas, temos nos dedicado pouco à oração. Por isso, não temos visto tanto a presença de Deus em nossas reuniões e em nossas vidas, porque não pedimos e é necessário que peçamos para que o Senhor nos atenda (Mt.7:7; Lc.11:9; Jo.16:24).

- A oração não é uma fórmula mágica, um “abracadabra” que se dirige a Deus, como ensinam os triunfalistas, nem tampouco uma exigência de supostos “direitos” que tenhamos diante de Deus, mas uma expressão da nossa comunhão com Deus, uma troca de vivências e de experiências entre Deus e o homem, um contínuo aprender de Deus, uma continuada submissão da nossa vontade, a ser clara e explicitamente revelada e confessada ao Senhor, à vontade de Deus, que também no-la revelará em toda a Sua plenitude. O crente que ora é aquele que pode dizer como Jesus, “…tudo quanto ouvi de Meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo.15:15 “in fine”).

- Se levarmos o povo a orar, se nós mesmos orarmos incessantemente, ouviremos coisas grandiosas de Deus, aprenderemos muito d’Ele, saberemos como e o que pedir e não necessitaremos correr daqui para ali, nem dar dinheiro aqui e ali, para sentirmos a presença de Deus e para obtermos as bênçãos de Deus. As maravilhas, os sinais e as coisas extraordinárias que os triunfalistas nos lembram em suas pregações podem, sim, realizar-se nos nossos dias, mas dependem da mesma vida de oração que era mantida pelos homens de Deus que foram os instrumentos do Senhor. É necessário pagar o preço para sermos vasos para honra e santificação, pois nós somos filhos de Deus e não magos ou feiticeiros.

A vida de oração e de busca das bênçãos espirituais dará aos crentes o fervor que caracterizou o início do movimento pentecostale, desta maneira, os crentes serão revestidos de poder e aquinhoados com os dons espirituais, afastando, assim, as operações malignas dos espíritos enganadores, como também desprendendo os crentes de uma perspectiva de vida mesquinha tão somente voltada para as coisas desta vida, para as coisas materiais.

- Mas, além da vida de oração, temos de ter uma meditação constante das Escrituras, devemos manejar bem a palavra da verdade (II Tm.2:15). O desconhecimento da Palavra de Deus é a causa da destruição do povo (Os.4:6) e não é coincidência que os triunfalistas e mundanistas sejam, simultaneamente, os principais inimigos do estudo da Bíblia Sagrada na atualidade.

- Quando conhecemos as Escrituras, logo percebemos as sutilezas do adversário e, logicamente, os falsos mestres, que são agentes do inimigo, não querem que os desmascaremos. Quem estuda as Escrituras, quem se dedica a uma leitura metódica e devocional do texto sagrado não se deixa seduzir facilmente seja pelo triunfalismo, seja pelo mundanismo.

- Os triunfalistas e mundanistas sempre dão a suas pregações egocêntricas e megalomaníacas uma roupagem bíblica. Assim, não faltam imagens e narrativas bíblicas para ilustrarem as suas “campanhas” e os seus “movimentos”. Um dia, é a “campanha da derrubada das muralhas de Jericó”; outro dia, o “jejum de Moisés”; depois, vem “os trezentos de Gedeão”, para não nos esquecermos dos “trinta valentes de Davi” e por aí afora. São, porém, verdadeiras “peles de ovelhas” que se colocam atrás destes movimentos que são “lobos cruéis”, prontos a devorar não só o bolso dos incautos (que é o que pretendem estes mercenários), mas, e isto é mais grave e o mais relevante, a própria fé e a alma dos que se decepcionarão com o não cumprimento destas promessas (que é o que pretende aquele que está por detrás destes movimentos).

- Uma noção ainda que superficial das regras da chamada “hermenêutica”, ou seja, da ciência da interpretação da Bíblia, é suficiente para desbaratar e desmontar todas estas armadilhas criadas pelos triunfalistas e mundanistas e que têm enganado a muitos.

- O problema é que a grande maioria dos crentes não lê a Bíblia e os poucos que a leem não têm a mesma prudência demonstrada no diálogo entre Filipe e o eunuco (At.8:26-40). Ali, verifica-se que, de um lado, o evangelista Filipe tinha a preocupação não só de anunciar a Palavra de Deus, mas de fazê-la entendida por quem a ouvisse, enquanto que, de outro lado, o eunuco também era um leitor atento, alguém que, além de querer ler, queria entender o que estava lendo e estava disposto a ouvir a explicação a respeito do que está escrito. A propósito, o Brasil, segundo recente pesquisa da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), é o único país do mundo em que o chamado “analfabetismo funcional” (aqueles que leem mas não entendem o que leem) aumentou entre os “evangélicos” e, segundo tal pesquisa, porque houve uma diminuição sensível na leitura das Escrituras entre os “evangélicos” no país.



Meditar na Palavra de Deus, envolve, portanto, dois pontos: a leitura e o entendimento. Ora, a leitura só caminha até o entendimento se houver a explicação. Foi, por isso, que os apóstolos se dedicaram, com prioridade, ao ministério da palavra (At.6:2,4) e que Jesus constituiu mestres para o aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11,12). Somente se cada crente for ensinado convenientemente na Palavra, de modo a ter uma vida devocional diária de meditação nas Escrituras, como também motivado a participar das reuniões de ensino da igreja local, que devem ser prestigiadas e valorizadas pelo ministério, é que poderemos escapar das armadilhas do triunfalismo e do mundanismo, como, de resto, de toda e qualquer falsa doutrina.

- O profeta Oseias clamava, no ocaso do reino de Israel (o reino das dez tribos do Norte) que seu povo fora destruído por falta de conhecimento (Os.4:6). É a mesma situação que vemos no meio do movimento pentecostal brasileiro na atualidade, em especial em nossas Assembleias de Deus.

- Sendo a verdade (Jo.17:17), a lâmpada para os nossos caminhos (Sl.119:105), a Palavra de Deus é, a um só tempo, o antídoto e o remédio para as heresias que nos assolam, visto que não só prevenirá os crentes dos engodos do diabo como curará aqueles que já se deixaram envolver por estas falsas doutrinas.

                                                                                  Caramuru Afonso Francisco