LIÇÃO Nº 6 – A EFICÁCIA DO TESTEMUNHO CRISTÃO

3º Trim. 2011 - A Missão Integral da Igreja - Lição 6

                                           Ser testemunha de Jesus é uma das manifestações do reino de Deus através da Igreja.
INTRODUÇÃO
Uma das manifestações do reino de Deus é a “marturia” (μαρτυρία), ou seja, cada discípulo do Senhor ser Sua testemunha, ou seja, prova visível do poder transformador do Evangelho na criatura humana.
Como testemunhas do Senhor Jesus, passamos a ser luz do mundo e sal da terra e podemos ser chamados pelo mundo de “cristãos”, ou seja, “parecidos com Cristo”, “semelhantes a Cristo”, “pequenos Cristos”.

I – O QUE É TESTEMUNHO

- “Testemunho” é palavra que vem do latim “testimonium”, cujo significado é “depoimento, declaração”. “Testemunho” é “ato ou efeito de testemunhar”; “declaração, depoimento de uma ou mais testemunhas”; “demonstração cabal, plena; prova”; “afirmação fundamentada; depoimento, comprovação”.

A primeira vez que a palavra “testemunho” surge na Versão Almeida Revista e Corrigida é em Gn.21:30, quando Abraão apresenta sete cordeiras de seu rebanho a Abimeleque, rei de Gerar, como prova de que o patriarca havia cavado o poço de Berseba, servindo, portanto, de comprovação do pacto que haviam feito para cessar a contenda que havia entre eles. É a palavra hebraica “’edah” (צדה), que, como ensina D.H. Wheaton, colaborador do Novo Dicionário da Bíblia, “…sempre se refere à pessoa ou coisa que dá testemunho…” (Testificar. In: DOUGLAS, J.D. (org.).O novo dicionário da Bíblia, t.II, p.1588). É o que encontramos, também, em algumas passagens na história de Israel, coisas que serviam de prova de fatos para o povo como o altar construído pelas tribos de Ruben, Gade e a meia tribo de Manassés (Js.22:34) ou a pedra que serviu de prova do pacto renovado por Israel na velhice de Josué (Js.24:27).

- Dentro desta ideia de “prova”, “declaração” e “depoimento”, o texto bíblico chamou de “Testemunho” o conteúdo do interior da arca do concerto (Ex.16:34; 25:16,21), a palavra hebraica “’eduwth” (צדות), derivada da palavra “’edah”. A importância do “Testemunho” era tanta que a própria arca foi chamada, por vezes, de “arca do testemunho” (Ex. 25:22; 26:33,34; 30:6,26; 31:7; 39:35; 40:3,5,21; Nm.4:5; 7:89; Js.4:16).

- Este “testemunho” que havia na arca eram as tábuas de pedra que reproduziam os dez mandamentos, escritos pelo dedo de Deus (Ex.31:18; 32:15; 34:29; 40:20; Lv.16:13; Nm.17:10), ou seja, o “testemunho” era, como afirma D.H. Wheaton, “…sinal de advertência, lembrete, exortação…”, ou seja, algo que pudesse ser visto e observado, uma prova de algo. Este “testemunho” era tão importante que não só a arca passou a ser chamada de “arca do testemunho”, como também o próprio tabernáculo foi chamado de “tabernáculo do testemunho” (Ex.38:21; Nm.1:50,53; At.7:44) ou “tenda do testemunho” (Nm.9:15; 17:7,8; II Cr.24:6), como também o véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo de “véu do testemunho” (Lv.24:3).

- Também passou a ser chamado de “testemunho” a cópia da lei que Moisés deixara para o povo (Dt.31:9), mais precisamente a cópia da lei que deveria estar diante do rei (Dt.17:18,19), como se verifica nos dias de Joás (II Rs.11:12; II Cr.23:11). Passou-se, então, a se chamar de “testemunho” a própria lei como um todo, como se vê no Sl.19:7; 78:5; 119:88 como também em Is.8:16,20.

“Testemunho”, portanto, é um sinal, uma prova da lei do Senhor, uma demonstração, uma comprovação de que Deus havia dado Sua lei ao povo e que tal lei devia ser cumprida. Vê-se isto claramente na profecia de Isaías, em que o Senhor convida os Seus discípulos a não seguirem os caminhos tortuosos dos ímpios, mas, sim, a temer a Deus, a fazer o que Lhe era agradável (Is.8:11-22). Os discípulos são aqueles que têm como sinal a lei do Senhor, aqueles que têm testemunho, que são provas visíveis da santificação e do temor a Deus. O profeta já dizia aquilo que é repetido pelo poeta sacro Bruno Skolimovsky (1884-1961): “O povo de Deus aqui na Terra tem um sinal” (início da primeira estrofe do hino 455 da Harpa Cristã). Este sinal é o testemunho!

- Não é, portanto, surpreendente que o Senhor Jesus tenha se referido ao “testemunho” como prova, como sinal. Ao leproso que curou, Jesus mandou que fosse apresentar a oferta segundo a lei de Moisés, para que isto lhe servisse de “testemunho”, ou seja, de prova de que havia sido limpo (Mt.8:4; Mc.1:44; Lc.5:14). Também disse que Seus discípulos seriam “testemunho” perante governadores e reis e perante os gentios (Mt.10:18; Mc.13:9; Lc.f21:12,13), bem como que o próprio Evangelho seria “testemunho” para todos os povos, e enquanto isto não ocorresse não terminaria a dispensação da graça (Mt.24:14).

- Em o Novo Testamento, a palavra “testemunho” é “martyrion” (μαρτύριον), que D.H. Wheaton diz ser “…aquilo que pode servir como evidência ou prova ou o fato estabelecido pela evidência” (op.cit.). Jesus, portanto, afirma que Seus discípulos devem ser “prova” para os gentios, ou seja, para as nações, para o mundo. Prova de que? Prova da salvação na pessoa de Jesus Cristo, prova da transformação operada pelo Evangelho.

- Jesus pode exigir que Seus discípulos deem testemunho, porque Ele mesmo deu testemunho aos homens. Durante Seu ministério terreno, Jesus sempre mostrou que era “varão aprovado por Deus” (At.2:22), tanto que procuraram Seus inimigos, em vão, algum testemunho contra Ele (Mc.14:55). O testemunho de Jesus, quando aceito, confirma que Deus é verdadeiro (Jo.3:33; I Jo.5:10) e que, por isso, proporciona salvação aos homens (Jo.5:34). O testemunho de Jesus, além de verdadeiro, é bom (Jo.18:23; I Tm.6:13) e o objetivo na vinda de Jesus ao mundo era dar testemunho da verdade (Jo.18:37).

Os discípulos de Jesus, portanto, como são Seus imitadores (I Co.11:1), também devem ter este “bom testemunho”. Ser discípulo de Jesus é ter “o testemunho de Jesus Cristo” (Ap.12:17). Ter o “testemunho de Jesus Cristo”, ou seja, ter o sinal de Jesus é guardar os mandamentos do Senhor, é seguir os Seus passos, é viver como Ele viveu. É através deste testemunho que se mostra que “o reino de Deus está entre os homens” (Lc.17:21).

- Para ter o testemunho de Jesus é preciso crer em Jesus como o Filho de Deus (I Jo.5:10). É pela fé em Jesus que se inicia o testemunho do discípulo do Senhor, como, aliás, já ocorria com os antigos (Hb.11:2). Por isso, o testemunho cristão não vem do homem, mas, sim, de Deus (I Jo.5:9), porquanto a fé vem de Deus (Ef.2:8). Quem crê em Jesus começa a ter o testemunho, pois “…o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho.” (I Jo.5:11).

- Vê-se, pois, claramente que não há como um discípulo verdadeiro e genuíno de Jesus deixar de ter o Seu testemunho, deixar de ser um sinal, uma prova da salvação operada por meio do Senhor Jesus. Quem não tem este testemunho, quem não tem este sinal simplesmente está a mostrar que não pertence ao povo de Deus, ao reino de Deus.

O testemunho nasce pela fé, mas é demonstrado por atos e gestos que demonstram que a pessoa é efetivamente uma pessoa salva, uma pessoa justa. A primeira pessoa a alcançar este testemunho foi Abel (Hb.11:4), testemunho este demonstrado pelo sacrifício que ofertou a Deus, porque seu sacrifício demonstrou sua fé em Deus, o reconhecimento de que Deus era o seu Senhor e que só n’Ele havia possibilidade de salvação.

- O testemunho caracteriza-se, pois, pela prática de atos que são agradáveis a Deus, que demonstram obediência e reconhecimento da soberania do Senhor sobre o homem. Não é possível ter o testemunho de Jesus Cristo sem que passe a viver como Ele, sem que se faça aquilo que o Senhor tem ordenado na Sua Palavra. O testemunho nada mais é que a expressão do amor à Palavra do Senhor (Ap.1:2,9; 6:9; 12:11,17).

- O testemunho é algo que não vem da pessoa que o tem, mas que é reconhecido por todos os que o veem. Por isso, Jesus recebeu o testemunho da parte de Deus (Jo.5:31,32), como também da parte dos profetas (Jo.5:33; At.10:43) e até mesmo de Seus discípulos (Jo.19:35). Testemunho não é algo que seja declarado ou anunciado pelo seu portador, pois o que se teria seria a autoglorificação.

- Por isso, vemos que o verdadeiro discípulo de Jesus não se diz portador de bom testemunho, mas seu testemunho é dado por Deus (At.13:22; 15:8) e pelos homens (Mt.5:16; At.11:26; 16:2; 22:12). Os discípulos têm de ser chamados “cristãos”, ou seja, “semelhantes a Cristo”, “parecidos com Cristo”, “pequenos Cristos” e não se autodenominarem “cristãos”, como costuma ocorrer. Quem se diz crente, santo, fá-lo porque seus atos não permitem concluir que o seja. Fujamos destes arrogantes, destes autointitulados crentes e ajamos como servos de Deus, dando, pelos nossos atos e não pelas palavras, testemunho do Senhor (At. 16:2; 20:24; 26:22; 28:23).
- Nos dias em que vivemos, onde as palavras sofrem grande desgaste, essencial é que sejamos portadores do chamado “testemunho mudo”, ou seja, aquele testemunho que resulta de nossas atitudes, de nossas ações, de nossos gestos. “…O testemunho mudo é tão importante que ele pode fazer com que as pessoas creiam ou duvidem das nossas palavras; o testemunho mudo nos dá ou tira a credibilidade. No mundo atual, todos estão sempre sendo observados por alguém. O testemunho mudo é o resultado de como nos veem aqueles que nos observam.…” (O Testemunho cristão. Disponível em: http://www.google.com/search?q=cache:wBKZV6VRmKYJ:www.maranataonline.com/toquefeminino/conduta.asp+%22testemunho+mudo%22&hl=pt-BR&gl=br&strip=1 Acesso em 02 abr. 2008.

- Para que possamos dar bom testemunho, temos de ter fé, de ter recebido o Espírito Santo, ou seja, termos aceitado a Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador e passado a fazer aquilo que Ele manda. Nosso testemunho não advém daquilo que falamos, seja a respeito de nós mesmos ou a respeito do Senhor, mas daquilo que fazemos e do que Deus faz para confirmar tal testemunho. O apóstolo Paulo afirmava que seu testemunho não era baseado em palavras, mas na demonstração do poder de Deus (I Co.2:1-4), pois o testemunho de Cristo é confirmado por meio do enriquecimento espiritual, seja através dos dons (I Co.1:4-7), seja através dos sinais e maravilhas (At.14:3)

- Não é por outro motivo que o Senhor Jesus, antes de subir aos céus, disse aos discípulos que deveriam permanecer em Jerusalém para serem revestidos do poder para, então, serem Suas testemunhas desde Jerusalém até os confins da terra (At.1:4-8), demonstrando, assim, que a presença do poder de Deus seria necessária para a confirmação do testemunho. No entanto, se o testemunho é confirmado pela presença do poder de Deus, não podemos nos esquecer que o testemunho já está presente a partir do instante em que recebemos o Espírito Santo em nossa conversão, a partir do momento que passamos a andar segundo o Espírito e não segundo a carne (Rm.8:9).

- Quando passamos a ter Jesus como nosso único e suficiente Senhor e Salvador, passamos a viver como o patriarca Jó, sendo homens retos, sinceros, tementes a Deus e que se desviam do mal e, por isso, Deus passa a dar testemunho de nós (Jó 1:8; 2:3). O primeiro testemunho que o Pai deu a respeito de Jesus foi no exato instante em que Ele foi ungido pelo Espírito Santo, quando de Seu batismo (Mt.4:17), a demonstrar, claramente, que é necessário recebermos o Espírito de Deus em nós para que venhamos a dar bom testemunho.

O testemunho, pois, é resultado de uma vida de santificação, de uma vida de sinceridade diante de Deus, de uma vida de obediência ao Senhor. O salmista, no Salmo 1, revela que os justos dão bom testemunho porque têm prazer na lei do Senhor e nela meditam de dia e de noite e, por isso, suas ações são elogiáveis. Neste salmo, ainda, vemos que a bem-aventurança, que é a felicidade sublime, nada mais é que o resultado de um bom testemunho e que o bom testemunho é algo que supera o tempo, que não depende das circunstâncias da vida.

- Os antigos procuravam construir “testemunhos” com pedras, porque estas resistiam ao tempo, não dependiam das circunstâncias políticas, sociais ou, mesmo, da sobrevivência do homem para se fazerem presentes. Os antigos escolhiam pedras para seus “testemunhos”, porque o testemunho tinha de transpor a barreira do tempo, os limites da vida de cada pessoa. Vemos, inclusive, que, mesmo na arca do concerto, onde havia, além do testemunho (as tábuas de pedra), a vara de Arão e o maná, num determinado instante, somente possuía o “testemunho”, porque tanto a vara quanto o maná já haviam perecido (I Rs.8:9).

Na nossa dispensação, o “testemunho” é mais forte do que as pedras das tábuas da lei. Neste novo pacto firmado na pessoa de Jesus Cristo, na nova aliança, a lei do Senhor não está mais gravada em tábuas de pedra, mas, sim, nos corações de cada pessoa salva (Jr.31:31-33; Hb.8:8-10). Este testemunho é superior ao anterior, porque é feito por intermédio de “pedras vivas” (I Pe.2:5), por pessoas que são verdadeiras cartas lidas e conhecidas por todos os homens (II Co.3:2).

- Na antiga aliança, as tábuas do testemunho, embora fossem resistentes e tivessem resistido a gerações, não eram vistas pelo povo, porque ficavam dentro da arca, arca esta que ficava no lugar santíssimo e a cujo interior ninguém tinha acesso. Mas, na nova aliança, o testemunho é escancarado, estamos todos com cara descoberta, todos nos apresentamos aos homens como “pedras vivas”, como testemunho do Senhor Jesus e de Sua vitória sobre o pecado e a morte, prontos a sermos apresentados como prova do amor de Deus a toda criatura.

- Por isso, o testemunho de Jesus Cristo tem de causar incômodo para os homens. Como “pedras vivas”, somos testemunho, sinal de advertência e lembrete aos seres humanos de que Jesus é a principal pedra da esquina, ou seja, de que ou alicerçamos nossas vidas n’Ele, tornando-O fundamento de nossa existência ou, então, teremos a Cristo como nossa rocha de escândalo, ou seja, n’Ele tropeçaremos, sofrendo uma queda eterna.

- É por este motivo que o testemunho de Jesus Cristo é, a um só tempo, motivo de regozijo e de agrado como razão para perseguição e aflição. Ao darmos bom testemunho, estamos agradando a Deus e aos Seus filhos, mas, igualmente, gerando ódio e aborrecimento àqueles que rejeitam ao Senhor. O “bom cheiro de Cristo” é cheiro de vida para os que se salvam, mas cheiro de condenação para os que se perdem (II Co.2:15-17). Por isso, não devemos nos surpreender se, ao mesmo tempo em que agradamos a Deus, somos aborrecidos pelo mundo (Jo.15:18,19).

- Ser testemunha de Jesus é, portanto, incomodar o mundo que nos cerca, é ser alguém que provoca atitudes por parte do próximo. Não é por outro motivo que a palavra hebraica para “testemunho” deriva de palavra cujo significado é “responder”. O testemunho gera uma resposta dos que nos cercam, produz uma reação. Jesus quer que ajamos neste mundo, para que, por nossos atos, todos possam ver que Jesus é o Salvador do mundo e que só Ele pode dar a vida eterna.

- Ora, uma testemunha não pode apresentar depoimento contraditório, sem o que será uma testemunha falsa, o que é abominável aos olhos do Senhor que, já nas tábuas de pedra, condenava o “falso testemunho” (Ex.20:6; Dt.5:20). Testemunha verdadeira é aquela que não se contradiz, é aquela que não nega, com seus atos, as suas palavras. O testemunho de Jesus é verdadeiro e não comporta a hipocrisia, que nada mais é do que falar o que não se faz, conduta que mereceu o mais duro discurso de Jesus em Seu ministério terreno (Mt.23).

- Uma testemunha tem de ser relevante, ou seja, não serve como testemunha aquele que nada sabe sobre os fatos, como, aliás, diz o artigo 209, § 2º do Código de Processo Penal. Para ser testemunha de Jesus, portanto, é preciso que conheça o Senhor, que O tenha encontrado, que saiba quem Ele é, que tenha tido intimidade com Ele (Jo.10:14,27). Por isso, só é testemunha do Senhor aquele que O recebeu em seu coração, aquele que é habitação do Espírito Santo (Jo.14:17).

- Uma testemunha não pode ser incapaz, impedida ou suspeita (artigo 405 do Código de Processo Civil). Incapaz é, na lei dos homens, a testemunha que não tem condições de se conduzir, seja por enfermidade mental, seja por causa da menoridade, da imaturidade. Não pode ser testemunha de Jesus aquela pessoa que ainda não consegue discernir a vontade do Senhor, que ainda não teve a experiência pessoal da salvação, que ainda não entrou em comunhão com o Senhor mediante o perdão de seus pecados. Aquele que ainda não tem o discernimento espiritual, que é homem natural, que não possui a mente de Cristo (I Co.2:12-16) não é testemunha de Jesus.
- Testemunha impedida é aquela que, por ter algum traço de parentesco ou um relacionamento muito íntimo com uma das partes, não pode ser considerada imparcial para depor. Não pode ser testemunha de Jesus aquele que, por causa de sua posição diante de Deus, ainda se encontra sob o domínio do mal e do pecado, que é filha do diabo, porque não tem o amor de Deus, que ainda se encontra comprometido com a iniquidade (I Jo.3:4-8), porque ainda se constitui em inimigo de Deus, visto que é amigo do mundo (Tg.4:4).

- Testemunha suspeita é aquela que tem algum interesse na solução de uma determinada causa, alguém que é movida por algum fator que a impede de dizer a verdade sobre o que sabe. Não pode ser testemunha de Jesus aquele que ainda tem interesse próprio, que ainda não se despojou do seu “eu”, que não morreu para o mundo. A testemunha de Jesus precisa ter crucificado o velho homem com Cristo, não mais vivendo, mas Cristo vivendo nele (Gl.2:20). Precisa ser alguém que morreu para nascer novamente e, assim, poder dar fruto permanente (Jo.3:3,7; 12:24; 15:16).

- Uma testemunha tem obrigação de depor, não podendo eximir-se de fazê-lo (artigo 206 do Código de Processo Penal). As testemunhas de Jesus, também, têm o dever de viver de acordo com a Palavra de Deus, não podem pedir licença de testificarem do seu Senhor. Jesus disse que elas seriam Suas testemunhas em todos os lugares, que deveriam sempre demonstrar o Seu amor para com Ele, fazendo o que Ele manda (Jo.14:23,24; 15:14). Aquele que não quiser se apresentar como prova de que pertence ao Senhor, de que é testemunha, negará o Seu nome e, portanto, será também alvo da negação por parte do Filho diante do Pai (Mt.10:33; Lc.12:9). O Senhor não tem prazer na alma daquele que recua (Hb.10:38). Por isso, é no momento do perigo de vida, que o Senhor exige que sejamos Suas testemunhas (Mt.10:18).

- Uma testemunha não pode, ainda, fazer manifestações ou apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa dos fatos (artigo 213 do Código de Processo Penal). Assim, também, as testemunhas de Jesus não têm a liberdade de interpretar a Palavra de Deus a seu bel-prazer, de adaptarem as Escrituras a seu modo de vida ou a seus desejos e mentes. Muito pelo contrário, seu testemunho deve ser o de Jesus, aquilo que o Senhor nos deixou na Bíblia Sagrada. Devemos testemunhar a verdade, como fez João Batista, na direção do Espírito Santo e, portanto, perfeitamente de acordo com as Sagradas Letras, pois foram elas inspiradas por este mesmo Espírito (I Pe.1:21). Por isso, as testemunhas de Jesus não distorcem a Bíblia Sagrada nem constroem doutrinas conforme as suas próprias concupiscências.
OBS: Vemos, pois, que as chamadas “testemunhas de Jeová” são testemunhas falsas, já que vivem, desde sua criação, a alterar e adulterar a Bíblia Sagrada…

- Uma testemunha, por fim, antes de ser inquirida, é alvo da análise dos envolvidos que podem contraditá-la, ou seja, podem levantar suspeitas quanto à veracidade e credibilidade da pessoa da testemunha. Assim também as testemunhas de Jesus, assim como o próprio Senhor, são alvo de uma análise e verificação diuturna não só da parte dos homens, mas também do inimigo e de seus anjos, sendo alvo de todo tipo de acusação e de enfrentamento. Jesus, como o cordeiro pascal (Ex.12:3-6), foi observado e posto à prova pelos judeus e pelo próprio inimigo durante três anos e meio, não tendo sido achado qualquer defeito ou pecado n’Ele (Lc.23:4,14.22), motivo pelo qual pôde subir ao Calvário e Se oferecer como sacrifício perfeito pelo perdão dos nossos pecados. Nós, também, enquanto testemunhas do Senhor, servimos de espetáculo para o mundo, aos anjos e aos homens (I Co.4:9), para que possam ver que o reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude (I Co.4:20) e, após todas as dificuldades, após termos sofrido com vitupérios e tribulações (Hb.10:33), não sejamos reprovados (II Co.13:5-7), mantendo-nos obedientes e agradáveis ao Senhor (Tt.1:16).

III – SER TESTEMUNHA DE JESUS É SER LUZ DO MUNDO E SAL DA TERRA

- Tendo visto o que é ser testemunha de Jesus Cristo, verificamos que a testemunha de Jesus traz incômodo para o mundo, porquanto ao agir segundo os mandamentos do Senhor, torna-se cheiro de salvação para os que se salvam e cheiro de condenação para os que se perdem. Não há como ser testemunha de Jesus e não causar uma resposta do próximo, do mundo que nos cerca. Por isso, disse o Senhor Jesus, no sermão do monte, que Seus discípulos são luz do mundo e sal da terra (Mt.5:13-16). Tanto a luz quanto o sal modificam, alteram o ambiente onde se encontram e se constituem em dois excelentes símbolos para que entendamos o valor do testemunho cristão.

- É muito interessante que venhamos a verificar estas duas figuras, pois elas são um ensino precioso para que saibamos estabelecer os parâmetros de nosso comportamento, para sabermos se, efetivamente, temos sido discípulos do Senhor ou se, ao contrário, temos sido apenas motivo de escândalo, obstáculos à propagação do Evangelho e à salvação das almas.

- Por primeiro, cumpre observar, de pronto, que estas duas figuras mostram que os cristãos devem ser semelhantes a Cristo. Jesus disse que devemos ser a luz do mundo, mas Ele próprio disse que era a luz do mundo (Jo.8:12; 12:46). Ao dizer que somos o “sal da terra”, o Senhor também nos identificou a Ele, já que o sal era o elemento presente em todas as ofertas apresentadas ao Senhor (Lv.2:13), de modo que não se tratava de símbolo senão de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29).

- Assim, ao apresentar estas duas figuras para indicar qual deve ser o comportamento da Igreja, Jesus simplesmente está a Se apresentar como o modelo desta Igreja. Por isso, como afirmou o escritor Charles M. Seldon em seu famoso livro, a principal diretriz da ética cristã é perguntar, antes de tomar qualquer atitude ou decisão: “Em seus passos, que faria Jesus?”

- A segunda observação que vemos nas duas figuras apresentadas pelo Senhor é de que ser “luz” e ser “sal” é afirmar que há uma contradição, uma oposição entre o modo de viver da Igreja e o modo de viver do mundo. “…A realidade é que o Reino de Deus e o mundo são distintos, é como luz e trevas, porém estão relacionadas uma com a outra: de um lado, a decomposição; do outro, a preservação; de um lado, a escuridão; do outro, a iluminação. O efeito preservador faz cessar a decomposição e a iluminação faz enxergar na escuridão.…” (BARRETO, Hermes. O maior sermão do mundo: a relevância do caráter cristão, p.30).
OBS: Oportuna a reprodução, por sua biblicidade, de palavras do atual chefe da Igreja Romana a respeito disto: “…Hoje vivemos, sobretudo nas sociedades mais avançadas, uma condição muitas vezes marcada por uma pluralidade radical, por uma marginalização progressiva da religião da esfera pública, de um relativismo que atinge os valores fundamentais. Isto exige que o nosso testemunho cristão seja luminoso e coerente, e que o nosso esforço educativo seja cada vez mais atento e generoso.…” (BENTO XVI. Celebração das Vésperas na Festa da Apresentação do Senhor. 02 fev. 2011. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2011/documents/hf_ben-xvi_hom_20110202_vita-consacrata_po.htmlAcesso em 18 jun. 2011)

Dizer que a Igreja é a luz do mundo é afirmar que ela se opõe ao mundo, que é considerado como trevas (Is.9:2; 59:9; Jo.1:5; 3:19; Rm.13:12; II Co.6:14). Ser luz do mundo, como explica Jesus, é praticar boas obras, é conduzir-se com verdade (Jo.3:20,21). O mundo, porém, que está no maligno (I Jo.5:19), não pratica a verdade, pois está sob o domínio do pai da mentira (Jo.8:44) e, por isso, suas obras são más.

- Esta oposição que existe entre a Igreja e o mundo não permite que haja qualquer possibilidade de comunhão, de contacto entre a luz e as trevas. Onde há luz, as trevas se dissipam; onde a luz se apaga, as trevas dominam. Não pode o cristão verdadeiro e genuíno ter a forma do mundo, portar-se como o mundo se porta, pois não é possível qualquer conciliação entre luz e trevas (II Co.6:14b).

- Preocupante, portanto, o gesto de muitos sedizentes cristãos que, sob a justificativa de que “Deus só quer o coração”, procuram cada vez mais se assemelhar às outras pessoas, não ser “diferentes”, ser “iguais às outras”, inclusive alguns buscando basear-se numa falsa doutrina de evangelização, segundo a qual “é preciso ser fraco para ganhar os fracos; ser como os pecadores para ganhá-los para Cristo”. Tal ensino, completamente sem respaldo bíblico, não se coaduna com o ensinamento de Jesus: somos a luz do mundo e não há comunhão entre luz e trevas. Ter uma linguagem e uma estratégia de evangelização para se fazer compreendido pelos pecadores em absoluto significa viver como os pecadores, mas, sim, viver sóbria, pia e justamente no presente século, para que os homens incrédulos percebam a diferença que há entre a luz e as trevas (Tt.2:11,12).

A figura do “sal” também nos dá conta da oposição que existe entre a Igreja e o mundo. Enquanto o mundo é sempre caracterizado pela corrupção generalizada, pela degeneração de costumes e de hábitos (Gn.6:5; Ex.32:7-9; Jz.2:10-15; II Rs.17:7-23; 23:25,26; Ml.1), o sal é o elemento que simboliza a preservação, a conservação, mormente nos dias em que foi redigido o texto bíblico, quando ainda não havia os métodos atuais de conservação de alimentos, todos dependentes da energia elétrica.

- O terceiro fator a que nos remetem as figuras da luz e do sal é a circunstância de que, tanto uma quanto a outra não produzem seus efeitos se não vierem à tona, se não se apresentarem. A luz, como o próprio Jesus disse, não pode ser mantida escondida, tem de se manifestar para que possa iluminar, assim como o sal não pode ser mantido separado dos alimentos, mas tem de se misturar com eles para ter algum efeito.
A Igreja, portanto, não pode cumprir o seu papel sem que se misture no meio dos outros dois povos (judeus e gentios), sem que esteja no meio deles. Por isso, a Igreja está no mundo, embora não seja do mundo. As iniciativas sectárias, ou seja, que procuram separar os cristãos do meio da sociedade, colocar-lhes à parte, em comunidades totalmente separadas e alheias às outras pessoas são movimentos que não têm respaldo bíblico, pois caminham no sentido contrário do ensinamento de Jesus. Precisamos estar no meio de judeus e gentios, sem que compartilhemos os seus valores e crenças, sem que assumamos o seu modo de viver. Somos diferentes, mas temos de estar no meio destas pessoas, sem o que a Igreja não cumprirá o papel que lhe foi destinado pelo Senhor.

- Manter o equilíbrio e estar no centro da vontade do Senhor tem sido um constante desafio da Igreja ao longo da sua história. Muitos se levantam no meio das igrejas locais e defendem uma posição sectarista, de total isolamento da comunidade, obrigando os crentes a viver “dentro das quatro paredes” dos templos e de suas residências, totalmente alheios ao mundo que os cerca. Este comportamento não tem base bíblica e é, na verdade, um farisaísmo que se implanta dentro das igrejas, cujo resultado é a total irrelevância dos cristãos no seio da comunidade. Escondendo-se a luz e não se salgando a alimentação, os cristãos passam a ser inúteis, totalmente dispensáveis, permitindo que, nos locais onde se encontram, haja predomínio das trevas e degeneração de costumes e hábitos cada vez mais intensa.

- Outros, no extremo oposto, no afã de evitar o farisaísmo, acabam assumindo a forma do mundo, confundido “estar no mundo” com “ser do mundo”. Querendo ser “sociáveis”, acabam enveredando pelo caminho do “nicolaísmo”, ou seja, do comprometimento com o pecado e com a corrupção do mundo (Ap.2:6,15). Apagam a sua luz, por causa do pecado que praticam, por causa da hipocrisia que passam a professar (pois não vivem mais como pregam), tornam-se escravos da mentira. Tornam-se um sal insípido, sem sabor, sem poder de conservação, para nada mais servindo senão para ser lançados fora e pisados pelos homens. O resultado é uma série de escândalos que servem para desacreditar a mensagem do Evangelho e, assim, aumentar, ainda mais, as trevas e a corrupção.

Ser “luz do mundo” é iluminar o mundo, ou seja, fazer resplandecer a luz do Evangelho de Cristo (II Co.4:4), o que somente se faz quando praticamos a verdade, quando temos um comportamento de total submissão às Escrituras (II Co.4:2). Quando vivemos conforme a Palavra de Deus, os homens veem que estamos na luz e identificam que somos filhos de Deus e, por isso, glorificam ao nosso Pai que está nos céus, pois sabem que nossas obras são boas (Mt.5:16).

Ser “luz do mundo” é ter comunhão com Deus, o que significa que é viver sem pecar (e, se pecarmos por acidente, pedimos imediatamente perdão a Deus e a quem ofendemos), como também ter comunhão uns com os outros, com a “família de Deus”(Ef.2:19), pois só assim teremos condição de estar debaixo do poder purificador do sangue de Cristo (I Jo.1:5-7).

Ser “luz do mundo” é amarmos o próximo como a nós mesmos, não é apenas dizer que amamos, mas tomarmos atitudes reais que demonstram o nosso amor pelo outro (I Jo.3:17-19), guardando, assim, os mandamentos do Senhor (I Jo.3:24).

Ser “luz do mundo” é também trazer não só iluminação, mas também calor para o mundo. A luz também produz calor e é necessário que o cristão traga, ao mundo, fervor espiritual (Rm.12:11). Para termos fervor espiritual, faz-se mister que vivamos uma vida de santificação, de oração e de jejum, para que sejamos vasos de honra na casa do Senhor e nossas palavras possam “ferver”, atingindo os corações (Sl.45:1). Uma vida de separação do pecado é indispensável para que tenhamos “fervor”, que não se confunde com “barulho” nem tampouco com “emocionalismo” ou “movimentos carnais”.

Ser “luz do mundo” é produzir energia. O cristão verdadeiro traz ânimo e estimula os demais a buscar a Deus, a temer a Deus. Quando o cristão vive uma vida de sinceridade, todos que estão à sua volta percebem a sua condição de santo homem de Deus (II Rs.4:9) e, por isso, passam a desejar a sua companhia, ainda que inconscientemente, pois todo homem tem dentro de si um vazio do tamanho de Deus. Muitas vidas têm se rendido a Cristo por causa dos testemunhos destas “luzes do mundo” que estão a brilhar por este mundo afora (Fp.2:15). O verdadeiro cristão é um dínamo, uma testemunha de Cristo que, revestida de poder, leva multidões aos pés do Senhor com o seu exemplo (I Pe.2:21).

Ser “sal da terra” é conservar o ambiente onde se encontra, é preservar a sua qualidade. O cristão, onde quer que se encontre, precisa ser um instrumento da resistência do Espírito Santo contra a corrupção, contra a degeneração total deste mundo (II Ts.2:7). Se o mundo ainda não apodreceu de vez, se tudo ainda não “degringolou” definitivamente, é porque ainda existe um povo que é o “sal da terra”: a Igreja.

- É muito triste quando percebemos que, em muitos ambientes, a presença de crentes nominais nada representa. A devassidão, a imoralidade, a prostituição e a corrupção predominam nestes lugares, apesar da presença de “sedizentes cristãos” (como, por exemplo, na classe política). Isto é inadmissível, pois o verdadeiro crente, embora não possa impedir o aumento da iniquidade, que está profetizado nas Escrituras (Mt.24:12), deve ser um bastião de resistência, pois é sal da terra.

- Como se comportam as pessoas que conosco convivem quando vão entabular conversas imorais, chocarrices e outras más conversações? Será que se incomodam com a nossa presença? Será que nos respeitam? Ou será que somos os primeiros a nos assentar na roda dos escarnecedores? O ambiente aumenta de padrão moral com a nossa presença, ou não fazemos a menor diferença? Se somos “sal da terra”, evidentemente que somos um instrumento de resistência e, embora não possamos “consertar o mundo”, pelo menos um pouco de moralidade, pureza e santidade levaremos ao ambiente, pois, se somos “sal da terra”, não permitiremos a deterioração total do ambiente.

Ser “sal da terra” é dar sabor ao ambiente onde vivemos. O sal dá sabor, faz com que o alimento se torne gostoso, temperado e agradável. Como crentes, devemos tornar o lugar onde estamos agradável, apetitoso, equilibrado. Como as pessoas se sentem quando estão conosco? Será que irradiamos paz, tranquilidade, confiança, pureza, equilíbrio e moderação? Será que, com exceção daqueles que estão sob possessão maligna, nossa presença é um lenitivo espiritual para as pessoas que nos cercam? Ou será que nós, ao invés de sermos “sal da terra”, temos sido “vinagre”, azedando o ambiente, tornando-o ácido e de difícil convivência? Somos pacificadores ou, pelo contrário, por nosso intermédio é que se produzem as contendas e porfias nos relacionamentos?

Ser “sal da terra” é, também, trazer “calor humano”, solidariedade e amor ao lugar onde estamos. Com efeito, nos países temperados e frios, o sal é utilizado para impedir que o gelo e a neve se produzam nas estradas e ruas no rigor do inverno. O sal, portanto, impede que se consolide a frieza, que predomine o gelo. Temos sido instrumento para o aumento da amizade e do companheirismo entre as pessoas? Temos levado as pessoas a reavaliar a sua relação com Deus, ou somos os principais “refrigeradores” do ambiente onde estamos, levando as pessoas a se distanciar cada vez mais do “Sol da justiça” e do “fervor espiritual”?

Ser “sal da terra” é, muitas vezes, manter-se anônimo, invisível e imperceptível ao olho nu. Com efeito, o sal, no mais das vezes, não é visto embora esteja ali presente. O verdadeiro e genuíno cristão também não aparece, mas deixa que os efeitos da sua presença se apresentem, até porque não quer jamais a glória para si, mas, sim, para o Senhor. Por isso, muitos “aparecidos” não são “sal da terra”, mas pessoas que, por quererem aparecer, acabam fazendo a comida ficar “salgada demais” e imprestável para consumo.

- Ser “luz do mundo”, também, é manter-se anônimo, pois, em verdade, quando brilhamos, não fazemos aparecer a nossa imagem, pois somos apenas espelhos (IICo.3:18), luzeiros(Fp.2:15 ARA), que estão a refletir a imagem de Cristo, o único que deve aparecer e ser glorificado.
OBS: “…Mas a questão é: Qual rótulo nós queremos para a igreja nestes dias? O rótulo virá; cabe a nós trabalharmos para fazer com que as pessoas olhem para nós com simpatia, como olhava a sociedade que cercava a igreja primitiva (At. 2:47) ou com desprezo pelas discrepâncias entre nossa mensagem e nossa prática (que Deus nos livre!!!). Já partimos do princípio que há incontáveis cidadãos analisando as ações da noiva de Cristo, ávidos, observando seus passos e aguardando ansiosamente para dar sua opinião a nosso respeito. Colar um rótulo. Mas é dever da igreja preocupar-se com o que as pessoas pensam de nós? Sem dúvida! Nosso trabalho é ser reflexo de Cristo e é importante que todos consigam enxergar Jesus em nós de forma límpida, transparente e clara. Espelhos do Mestre.…” (BENTES, Fábio. O rótulo da igreja. Disponível em: http://www.bibliaworldnet.com.br/Acesso em 29 dez. 2006).

- Temos tido esta conduta no nosso dia-a-dia? Pertencemos mesmo à Igreja? Temos um bom testemunho de Jesus Cristo?
OBS: “…Os problemas que enfrentamos no Brasil hoje são muitos. A corrupção tem aumentado. A degradação moral também. Leis com objetivo de atacar a Igreja estão surgindo. O que fazer? Apenas ficar parados, de mãos cruzadas, vendo as coisas acontecerem?(…). O mandato espiritual da Igreja é para ganhar vidas para Cristo e ‘salgar’ a sociedade, ser relevante, provocar transformações sadias. Que por meio da igreja brasileira brilhe a luz de Cristo, dissipando as trevas espirituais em que está imerso o nosso país.” (PROMOVER transformações na sociedade é o desafio das igrejas do século 21. Mensageiro da paz, ano 77, n. 1.460, jan. 2007, p.5).
IV – SER TESTEMUNHA DE JESUS É SER DIFERENTE PARA FAZER A DIFERENÇA

- Nos dias de hoje, em muitos lugares, é comum ouvir que “o crente deve fazer a diferença”, querendo, com isso, dizer que o cristão deve se sobressair no meio das demais pessoas, já que é filho de Deus e tem a vida eterna.

- Muitos dos que isto dizem, no entanto, estão comprometidos com ideias e doutrinas completamente alheias à Palavra de Deus. Insistem que o cristão deve “fazer a diferença” dentro de uma pregação triunfalista, onde se sobressai o “eu” do indivíduo, onde o que se realça é o egoísmo, a manipulação dos desejos, sonhos e paixões, com emprego de técnicas de sugestão, de promoção da autoestima e outros métodos que nada mais são que uso de instrumentos de autoajuda, onde há a supervalorização do homem e o menosprezo ou negação total de Deus.

- “Fazer a diferença” para estes falsos ensinadores é uma roupagem muito mal disfarçada do que prega o movimento Nova Era, que busca exaltar o homem, incentivando e estimulando o desejo de se igualar a Deus, de ter uma vida independente de Deus, precisamente o engodo com que o diabo tentou e obteve a queda do primeiro casal no Éden (Gn.3:4,5). Este “fazer a diferença” torna-se ainda mais danoso que a pregação da Nova Era, pois esta, ao menos, explicitamente arroga para o homem um caráter divino, enquanto que, numa verdadeira atitude de blasfêmia, este triunfalismo ousa considerar Deus como o principal empregado ou serviçal do ser humano, a ponto de se Lhe poder “exigir”, “requerer”, “colocál’O contra a parede”, ações que, efetivamente, não podem provir de um discípulo de Jesus, mas que é característica própria e peculiar dos que se rebelam contra o Senhor (Sl.2:1,2).

- Quando, porém, analisamos o que é o testemunho cristão, qual a finalidade pela qual o Senhor nos quis fazer Suas testemunhas em todos os lugares do mundo (At.1:8), compreendemos que o cristão deve, mesmo, fazer a diferença entre os demais seres humanos que o cercam, mas não porque Deus lhe seja serviçal ou lhe deva obrigações, mas, muito pelo contrário, porque o cristão é uma pessoa diferente: “…o cristão deve ser alguém com uma mentalidade diferente, cuja postura diante da vida difere, em toda a sua extensão, daquele que não tem a mente de Cristo. Se não for assim, então o cristianismo não será algo realmente fundamental. Mas, na verdade, é assim. Quando essa verdade foi crida e vivida pela igreja, a história mudou; quando é crida e vivida por um cristão, a sua história muda. E quando a igreja se esquece disso, degenera-se em um exercício místico impotente…”(LEITE, Cláudio Antonio Cardoso e LEITE, Fernando Antonio Cardoso. Evangélicos ou evangélicos? A igreja brasileira entre os exemplos do passado e os dilemas do presente. In: LEITE, Cláudio Antonio Cardoso et alii. Cosmovisão cristã e transformação, p.23).

- Ao longo da história da humanidade, toda vez que os cristãos efetivamente se tornaram testemunhas de Jesus, o mundo, mesmo sem ter aceitado a Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador, em sua totalidade, experimentou uma modificação, uma mudança para melhor em suas estruturas, em todos os aspectos. Assim, por exemplo, a civilização romana foi profundamente alterada pela disseminação do Evangelho, como também, durante a Reforma Protestante, experimentou a Europa um processo de transformação que nem mesmo os céticos são capazes de desmentir.

Toda vez que os cristãos assumem o seu dever de serem “pedras vivas”, de serem testemunhas de Cristo Jesus, há uma influência no mundo, pois o cristão, enquanto luz do mundo e sal da terra, promove, a um só tempo, a dissipação das trevas e a conservação do que é santo e louvável, com a cura das chagas e máculas trazidas pelo pecado e pelo mal.

- O progresso da maldade e do pecado a que hoje assistimos é o resultado do esfriamento do amor de quase todos os cristãos (Mt.24:12 ARA), é consequência da apostasia, ou seja, do desvio espiritual deliberado de muitos, cuja luz se apagou, cujo sal se tornou insípido. Assim, em vez de serem “testemunhas” de Jesus, passam a ser “veículos de escândalos”, gerando descrença e incredulidade. Sabemos que isto é cumprimento de profecia, é sinal dos tempos, mas não é porque há estes “filhos da perdição”, que nós deixaremos contaminar as nossas vestes. Sejamos como o remanescente fiel da igreja de Sardo (Ap.3:4-6).

- O Senhor ainda está, como fez na igreja de Sardo, à procura daqueles que ainda não contaminaram as suas vestes brancas (Ap.3:4), a fim de fazê-los vencedores (Ap.3:5). Ainda há tempo e lugar para que espalhemos a luz do Evangelho de Cristo (I Co.4:1-6), para que produzamos o fruto do Espírito, para que salguemos este mundo com a sã doutrina. Não podemos desfalecer, pois sabemos que, no tempo certo, ceifaremos (Gl.6:9).

- Apesar dos tempos trabalhosos em que vivemos, os relatos da Igreja são animadores, pois Jesus é o mesmo (Hb.13:8) e continua a operar como nos tempos antigos ou nos momentos de avivamento da história da Igreja. O testemunho de Jesus continua gerando transformações, produzindo mudanças não só na vida do homem interior, mas, também, na sociedade como um todo. Os exemplos têm sido muitos, como têm recentemente documentado a “International Fellowship of Transformation Partners”, grupo que tem reunido e mantido contactos com diversos movimentos ao longo do mundo, onde os cristãos têm buscado se unir para ser testemunhas do Senhor Jesus, partindo para a humilhação, oração, busca da face do Senhor e conversão dos seus maus caminhos, a fim de obter a bênção da parte de Deus para suas comunidades e nações (II Cr.7:14).
OBS: “…O movimento de transformação está se acelerando e se espalhando entre as nações. Atualmente não menos de 500 comunidades têm experimentado transformação sobrenatural enquanto a presença de Deus permeia as pessoas e a sociedade em todos os níveis. Não é um período de avivamento que é limitado a um lugar ou liderado por um ministro, mas este é um mover de Deus que se espalha e está varrendo comunidade de um para outro país, atravessando denominações, etnias, gêneros e esferas da sociedade. Ninguém o está “dirigindo” ou controlando  seus resultados…” (O movimento de transformação global. Disponível em: http://www.fusionministry.com/GlobalTransMovement.php   Acesso em 01 abr. 2008) (tradução nossa do texto original em inglês).

Para que “façamos a diferença”, precisamos, antes de mais nada, “ser diferentes”. Ser diferente é ser “pedra viva”, é ser testemunha de Jesus e, como vimos supra, uma testemunha não pode ser comprometida com o mundo, alheia ao senhorio de Cristo, hipócrita, falsificadora da Palavra, interessada em coisas desta vida. Uma testemunha não pode estar presa às circunstâncias da vida, mas, como prova de Deus, tem de superar o tempo e todas as demais circunstâncias. A eficácia do testemunho cristão está, precisamente, nesta capacidade, vinda do céu, para que homens e mulheres simples consigam remover, com sua simplicidade e sinceridade, as mais fortes e arrogantes estruturas injustas e pecaminosas.

- As testemunhas de Jesus Cristo, cheias do poder do Espírito Santo, são capazes de encher da sã doutrina o ambiente em que vivem (At.5:28), tendo como compromisso único o de obedecer a Deus (At.5:30), não temendo nem a morte nem o sofrimento, pois consideram um privilégio padecer afronta por causa do nome de Jesus (At.5:41). Não é por outro motivo que a morte por causa do Evangelho passou a ser denominada de “martírio”, ou seja, é o máximo testemunho que um cristão pode alcançar.
- A falta de testemunho por parte daqueles que cristãos se dizem ser, ou seja, o “não ser diferente”, o “parecer-se com o mundo” tem sido um dos principais fatores para o progresso da maldade e para a implantação do ambiente propício ao surgimento do Anticristo. Com efeito, como já dizia o padre Antonio Vieira, o maior orador sacro em língua portuguesa, em pleno século XVII, um dos motivos pelos quais a Palavra de Deus faz pouco fruto nos dias hodiernos é a falta de testemunho dos próprios pregadores. Assim, quando não damos testemunho, além de “não fazermos diferença”, transformamo-nos em instrumento do pecado e do mal.
OBS: Por sua absoluta pertinência, transcreve-se aqui trecho do Sermão da Sexagésima de Vieira: “…Será porventura o não fazer fruto hoje a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será porque antigamente os pregadores eram santos eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu e outros como eu? -- Boa razão é esta. A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia: Ecce exiit, qui seminat, seminare. Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter o nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? -- o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente convertia-se o Mundo, hoje porque se não converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obra são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. A funda de David derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo, senão com a pedra: Infixus est lapis in fronte ejus. As vozes da harpa de David lançavam fora os demônios do corpo de Saul, mas não eram vozes pronunciadas com a boca, eram vozes formadas com a mão: David tollebat citharam, et percutiebat manu sua. Por isso Cristo comparou o pregador ao semeador. O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras. Diz o Evangelho que a palavra de Deus frutificou cento por um. Que quer isto dizer? Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? -- Não. Quer dizer que de poucas palavras nasceram muitas obras. Pois palavras que frutificam obras, vede se podem ser só palavras! Quis Deus converter o Mundo, e que fez? -- Mandou ao Mundo seu Filho feito homem. Notai. O Filho de Deus, enquanto Deus, é palavra de Deus, não é obra de Deus: Genitum non factum. O Filho de Deus, enquanto Deus e Homem, é palavra de Deus e obra de Deus juntamente: Verbum caro factum est. De maneira que até de sua palavra desacompanhada de obras não fiou Deus a conversão dos homens. Na união da palavra de Deus com a maior obra de Deus consistiu a eficácia da salvação do Mundo. Verbo Divino é palavra divina; mas importa pouco que as nossas palavras sejam divinas, se forem desacompanhadas de obras. A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos. No Céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra há tão poucos que o amem, todos o ofendem. Deus não é o mesmo, e tão digno de ser amado no Céu e na Terra? Pois como no Céu obriga e necessita a todos a o amarem, e na terra não? A razão é porque Deus no Céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido. No Céu entra o conhecimento de Deus à alma pelos olhos: Videbimus eum sicut est; na terra entra-lhe o conhecimento de Deus pelos ouvidos: Fides ex auditu; e o que entra pelos ouvidos crê-se, o que entra pelos olhos necessita. Viram os ouvintes em nós o que nos ouvem a nós, e o abalo e os efeitos do sermão seriam muito outros. …” (VIEIRA, Antonio. Sermão da Sexagésima. Disponível em: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/sexagesi.html Acesso em 02 abr. 2008).

- Temos sido testemunhas de Jesus? Há transformação à nossa volta por causa de nosso testemunho? O Senhor tem confirmado o nosso testemunho com demonstração de poder? Temos tido alguma relevância na sociedade em que vivemos? A ordem do Senhor é que sejamos Suas testemunhas onde estivermos. Temos sido obedientes a esta ordenança divina? Pensemos nisso!                                     

                                                                                             Caramuru Afonso Francisco