LIÇÃO 1 QUANDO A CRISE MOSTRA SUA FACE - JOVENS E ADULTOS


4º Trim. 2011 - Lição1:Quando a Crise Mostra sua Face
COMENTARISTA :  Elinaldo Renovato de Lima
ESBOÇO Nº 1
A)INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
                                               Estamos a findar mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, motivo pelo qual agradecemos a Deus por mais esta oportunidade de termos podido, apesar de todas as vicissitudes do tempo atribulado que estamos a viver, aprender em ambiente de liberdade de culto e de crença mais um pouco da Sua Palavra, fonte de sobrevivência espiritual para todos os servos de Cristo Jesus.
                                               Devemos ser extremamente gratos ao Senhor por isso, visto que vivemos em um mundo onde um em cada três cristãos não tem liberdade para cultuar a Deus e onde são mortos, por causa da fé, cerca de cento e cinco mil cristãos por ano, o que dá a média de um cristão morto a cada cinco minutos, segundo recentes estatísticas divulgadas (Martírio hoje: moree um cristão a cada cinco minutos devido à fé. Disponível em: http://blogdopealex.blogspot.com/2011/06/martirio-hoje-morre-um-cristao-cada.html Acesso em 22 ago. 2011), a mostrar como o verdadeiro povo discriminado e odiado neste mundo é o povo de Deus, os servos de Jesus Cristo, como, aliás, já adiantara o próprio Cristo (Jo.15:18-20).
                                               Neste ano, no primeiro trimestre letivo, estudamos o livro de Atos dos Apóstolos, tendo, no segundo trimestre, por ocasião do centenário das Assembleias de Deus no Brasil, estudado as doutrinas pentecostais. Em seguida, no terceiro trimestre, estudamos a missão integral da Igreja, a doutrina do reino de Deus, que, historicamente, foi negligenciada no movimento pentecostal.
                                               Seguindo o esquema já adotado há alguns anos pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus, este último trimestre é dedicado ao estudo de um livro do Antigo Testamento, completando, assim, dois trimestres de estudo bibliológico (ou seja, estudo de um livro das Escrituras, sendo um do Novo Testamento e outro do Antigo Testamento) e dois trimestres de estudo temático.
                                               O livro do Antigo Testamento escolhido para nosso estudo, neste último trimestre de 2011, foi o livro de Neemias, uma escolha muito apropriada visto que o livro trata de um momento de grave crise na história do povo judeu, crise esta que comprometia a própria sobrevivência desta “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”.
                                               Para esta crise, Deus levantou um homem, Neemias, cuja ação permitiu, ao lado de Esdras, manter viva a nação judaica depois do cativeiro da Babilônia, de maneira a que pudesse aguardar a vinda do Salvador.
                                               De igual modo, nós, como Igreja do Senhor, podemos, se tivermos a mesma determinação, integridade e coragem demonstradas por Neemias, manter vivo o povo de Deus até a vinda do Salvador, que está às portas para vir arrebatar a Sua Igreja.
                                               A capa da revista do trimestre traz-nos pessoas que, enquanto edificam uma construção, estão armados, todos trabalhando, sem ninguém estar ocioso.
                                               Esta ilustração está baseada no relato do capítulo 4 do livro de Neemias, um dos momentos mais angustiantes vividos pelos judeus na reconstrução dos muros de Jerusalém, quando Neemias recebe a notícia de que os seus inimigos estavam prontos a atacar os judeus e destruir o trabalho que estava sendo realizado.
                                               Naquele instante, Neemias não tinha um exército que pudesse enfrentar os inimigos, nem tampouco condições para interromper a obra de reconstrução. Assim, num gesto que revela a sua fé em Deus, determinou que os construtores continuassem o seu trabalho, ao mesmo tempo que punha guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos, armou as famílias com espadas, lanças e arcos, sendo que os construtores passaram a trabalhar, tendo, em uma das mãos armas e na outra o material para a construção (Ne.4:10-23).
                                               Foram dias de tensão, angústia, mas, também, de ação e determinação, o que levou o povo a concluir a obra de reconstrução dos muros de Jerusalém no prazo de cinquenta e dois dias (Ne.6:15).
                                               Esta narrativa dá-nos a lição de que a nossa edificação espiritual, o nosso crescimento na vida espiritual, é uma constante luta contra as hostes do nosso maligno inimigo. Há uma oposição intrínseca à atividade da Igreja, pois as portas do inferno se levantam contra ela desde o seu surgimento (Mt.16:18).
                                               No entanto, assim como fez Neemias e os judeus sob seu comando, temos de, apesar da oposição do maligno, levar avante a edificação da Igreja, iniciada por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Ef.3:19-22), edificação feita em amor (Ef.4:16) e que exige, da parte de todos nós, dedicação, zelo e ação, não permitindo que o inimigo possa nos intimidar.
                                               Para tanto, devemos manter constante vigilância e termos, às mãos, as armas que o Senhor nos proporciona, armas espirituais, chamadas pelo apóstolo Paulo de “armas da justiça à direita e à esquerda” (II Co.6:7), como também de “armas da luz” (Rm.13:12), uma verdadeira “armadura de Deus”, com a qual poderemos resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes (Ef.6:13). Vivendo desta maneira, agindo, vigiando e devidamente armados, também concluiremos a nossa missão, sendo vitoriosos contra o mal.
                                               O livro de Neemias tem 13 capítulos e, como são 13 as lições, verificamos que, praticamente, cada lição corresponde a um capítulo do livro, de modo a termos uma visão global deste livro.
                                               O comentarista deste trimestre é o pastor Elinaldo Renovato de Lima, pastor presidente das Assembleias de Deus em Parnamirim/RN, que já há alguns anos vem comentando as Lições Bíblicas e que é conhecido por seus escritos sobre ética cristã.
                                               Que ao término deste trimestre, o estudo do livro de Neemias possa nos dar melhores condições para que, com integridade e coragem, vivermos vitoriosos estes últimos e derradeiros dias da dispensação da graça, a fim de que, vitoriosos sobre o mal, possamos ter condições de adentrar na Jerusalém celestial.
                                               Feliz 2012!
B) LIÇÃO Nº 1 – QUANDO A CRISE MOSTRA A SUA FACE
                                               Neemias teve compaixão de seu povo e tudo deixou para que o plano de Deus pudesse ser cumprido entre os judeus.
INTRODUÇÃO
- O livro de Neemias, que haveremos de estudar neste trimestre, é um retrato vivo de como dever atuar os servos do Senhor em meio a situações de crise.
A crise é uma oportunidade para nos aproximarmos de Deus e termos consciência de que as coisas desta vida são ilusórias e passageiras.
I – O LIVRO DE NEEMIAS
- Neste último trimestre letivo de 2011, somos convidados a estudar mais um livro do Antigo Testamento, desta feita, o livro de Neemias, que, na ordem que adotamos na Bíblia Sagrada, é o décimo sexto livro das Escrituras, o último dos chamados “livros históricos”.
- O livro de Neemias, no cânon judaico, i.e., na ordem estabelecida pelos judeus (a chamada “Bíblia Judaica” ou Tanach), primitivamente, constituía apenas um livro, sob o nome de "Ezra”.  Na Septuaginta (que é a primeira versão da Bíblia — na época apenas o Antigo Testamento — para um outro idioma, no caso, o grego), foi dividido e recebeu o nome de “Segundo Livro de Esdras", assim aparecendo na Vulgata (a tradução da Bíblia para o latim, a língua falada por Roma e que é, até hoje, a versão oficial da Igreja Católica Apostólica Romana). Nas edições impressas da Bíblia a partir de 1525, quando se deu a chamada “edição de Bomberg”,  passaram a ser apresentados separadamente e o segundo livro denominado de "Neemias", o que foi adotado até pelos judeus. "Neemias" significa "Javé consola", “Javé conforta” ou “Deus é o meu deleite”.
O livro de Neemias relata a história de Neemias, copeiro do rei Artaxerxes que, compungido com o triste relato trazido da Palestina sobre a situação deplorável do povo que havia retornado do cativeiro, acaba conseguindo ser nomeado administrador da região pelo rei e, assim, consegue reedificar Jerusalém e preservar a autonomia dos judeus frente aos seus vizinhos, notadamente os samaritanos. Assim, ao lado de uma restauração religiosa com Esdras, Deus providencia a restauração administrativa de Seu povo, através de Neemias.
OBS:  Na síntese própria dos poemas, a poetisa potiguar Maria do Céu Guedes assim resume o livro de Neemias: “Depois, Esdras e Neemias, um testemunho de fé.…” (GUEDES, Maria do Céu. O Antigo Testamento. In: A Bíblia Sagrada em rima e poesia, p.30).
O livro de Neemias tem 13 capítulos e 406 versículos. Segundo o comentarista bíblico norte-americano Finis Jennings Dake (1902-1987), o livro contém 3 profecias, todas cumpridas; 14 ordens, não contendo nenhuma promessa nem tampouco qualquer mensagem direta de Deus. O livro contém, ainda, segundo este comentarista bíblico, 24 perguntas.
O livro de Neemias pode ser dividido em três partes, a saber:
a) 1ª parte - a constituição de Neemias como governador da Judeia - Ne. 1-2
b) 2ª parte - a história da reedificação dos muros de Jerusalém - Ne.3-7
c) 3ª parte - a restauração espiritual, moral e social do povo por Neemias e Esdras - Ne.8-13.
A autoria do livro é atribuída ao próprio Neemias, razão pela qual, aliás, foi dado o seu nome ao livro quando da separação dos dois livros que, primitivamente, eram unidos no cânon judaico. O texto bíblico é claro ao afirmar, logo no início do livro, que se trata de “as palavras de Neemias, filho de Hacalias” (Ne.1:1).
- Alguns críticos bíblicos (cuja tarefa quase sempre é tentar criar impedimentos para que seja aceito o texto sagrado tal qual se encontra), ao analisar o livro, questionam esta autoria, baseados no fato de que, na redação do livro, temos a circunstância de que o narrador se expressa em primeira pessoa, como personagem participante da narrativa, entre os capítulos 1 e 7. Entretanto, há uma modificação nesta narrativa entre os capítulos 8 e 12:26, quando a narração passa a ser feita em terceira pessoa, ou seja, o autor não se apresenta como participante, sendo, então, retomada a narrativa em primeira pessoa no trecho de Ne.12:27-43, para novamente se ter uma narrativa em terceira pessoa em Ne.13:1-3, retomando-se a narrativa em primeira pessoa de Ne.13:4 até o final do livro (Ne.13:31).
- Com base nestas circunstâncias, alguns críticos criaram a teoria de que o livro foi escrito pela mesma pessoa que escreveu os livros de Crônicas e o livro de Esdras, alguém que teria compilado, anos depois dos acontecimentos referentes à reedificação de Jerusalém (dizem alguns até cerca de 100 anos depois dos fatos), ou seja, reunido os escritos históricos existentes, inclusive o que seriam as “memórias de Neemias”, que teria sido o autor apenas dos trechos em que a narrativa se dá em primeira pessoa (Ne.1-7; 12:27-43 e 13:4-31). Há, ainda, quem considere que os trechos em terceira pessoa sejam da autoria de Esdras, que teria compilado as “memórias de Neemias”. Esta é a posição do Talmude (o segundo livro sagrado do judaísmo), que atribui a autoria do livro a Esdras.
- A circunstância de haver mudança de foco narrativo no livro de Neemias, entretanto, não é suficiente para excluir a autoria de Neemias. Os capítulos 8 a 10 narram o avivamento presidido por Esdras e Neemias, dentro de uma humildade que é peculiar aos servos de Deus, pode muito bem ter utilizado a terceira pessoa precisamente para dar a devida honra a Esdras, que, afinal de contas, até os dias de hoje é um nome mui admirado entre os judeus, que o chegam, inclusive, a denominá-lo de “Segundo Moisés”, por ter sido considerado o responsável pela manutenção da lei entre os judeus.
- O capítulo 11, por sua vez, é uma relação dos habitantes de Jerusalém, ou seja, trata-se de uma transcrição de algum documento mandado elaborar por Neemias, motivo pelo qual a sua inclusão no livro bem explica porque está narrado em terceira pessoa, pois não é um documento da autoria de próprio punho de Neemias. A primeira parte do capítulo 12, também, nitidamente se trata da transcrição de outro documento pelo autor do livro, desta feita, a relação dos que voltaram do cativeiro, o que, também, explica o uso da terceira pessoa. Por fim, o início do capítulo 13, é a narrativa da leitura da lei e das atitudes decorrentes desta leitura quanto à mistura com os gentios (os casamentos mistos), que serve de base para o relato das atitudes tomadas por Neemias quando de seu retorno a Jerusalém, o que também explica o uso da terceira pessoa, precisamente para mostrar que as ações tomadas por Neemias tinham respaldo na lei de Moisés e já haviam sido tomadas anteriormente.
- Além do mais, como esclarece o biblista Shemaryahu Talmon, da Universidade Hebraica de Jerusalém, Neemias é uma “narração em prosa direta (…) gênero (…) deliberadamente cultivado pelos escritores hebraicos, que o julgaram mais adequado para o registro de eventos históricos do que o gênero épico, ou os anais que predominavam nas culturas vizinhas do antigo Oriente Próximo, especialmente na Mesopotâmia.(…). O relato histórico em Esdras-Neemias é diferenciado completamente por características estilísticas que contribuem para uma narração em prosa bíblica vívida, e acentuam sua superioridade em comparação com os anais mesopotâmicos semelhantes a listas. A ação predomina sobre a descrição: os verbos muitas vezes excedem em número os substantivos, adjetivos e advérbios. O efeito dramático resultante é intensificado pelos limites temporais e espaciais estreitos, que circunscrevem a cena da ação…” (Esdras e Neemias. In: ALTER, Robert e KERMODE, Frank. Trad. de Raul Fiker. O guia literário da Bíblia, pp.387-8). Tais peculiaridades também servem de, ao menos, desconfiança das assertivas dos críticos bíblicos.
- Vemos, portanto, que não há motivo razoável para não se creditar a Neemias a autoria do livro, a não ser, logicamente, a dureza de coração dos críticos, que, repetimos, quase sempre querem desacreditar as Escrituras e nada mais do que isto.
A questão da autoria também envolve a questão da data do livro. Se seu autor foi Neemias ou Esdras, o livro deve ter sido escrito na Judeia em algum tempo após o  segundo retorno de Neemias para Jerusalém, ou seja, depois do 32º ano do reinado de Artaxerxes, isto é, depois de 433 a.C., o que torna o livro de Neemias o penúltimo livro  do Antigo Testamento a ser redigido, só menos recente que o livro de Malaquias. Para os críticos, porém, o livro pode ter sido redigido até uns cem anos depois disto, ou seja, cerca de 333 a.C.
- Devemos tomar cuidado, ao analisar os livros de Esdras e Neemias, pois há dois livros apócrifos conhecidos como "Esdras", “Primeiro Livro de Esdras” ou "Terceiro Livro de Esdras" e "Quarto Livro de Esdras". O “Terceiro Livro de Esdras” (também chamado de “Esdras Grego” ou “Primeiro Livro de Esdras”) chegou, inclusive, a compor a Septuaginta e foi traduzido para o latim na Vulgata, embora não tenha sido considerado como canônico, nem mesmo pelos católicos romanos. Ele relata episódios ocorridos nos tempos de Esdras e Neemias, mas que não é autêntico. A propósito, este livro apócrifo reproduz o capítulo 8 de Neemias ao final de seu relato, fazendo querer entender que o avivamento ocorrido se deu antes da ida de Neemias para Jerusalém, o que ajudou, sobremaneira, a gerar uma confusão cronológica com respeito a estes acontecimentos.
- No livro de Neemias, vemos que Deus zelou para que Seu povo estivesse estabelecido e organizado, após o término do cativeiro da Babilônia, a fim de que não perdesse a sua identidade. Como afirmam os defensores da “Teoria da Bíblia como uma roda”, o livro de Neemias, o 16º do cânon, está relacionado com a 16ª letra do alfabeto hebraico (“Ayin” – ע —), cujo significado é “olho”. O relato de Neemias mostra como Deus atentou para a oração do seu servo e abriu os Seus olhos para a situação calamitosa de Seu povo (Ne.1:6), providenciando, através do trabalho (“asah” – עשה) e do testemunho ( “edah” — עדה), a vitória para o Seu povo.
Assim como Esdras, Neemias é uma figura de Cristo, mostrando que Jesus é o nosso Restaurador, o Reedificador da comunhão entre Deus e os homens. Em Neemias, Cristo é o reconstrutor de tudo o que está destruído.
OBS:  " O Livro de Neemias ante o Novo Testamento - Este livro registra o cumprimento de todos os passos básicos da restauração do judaísmo pós-exílico, passos estes necessários à vinda de Cristo no início da era do NT. Teve lugar a reconstrução de Jerusalém e do templo, a restauração da lei, a renovação do concerto e a devida preservação da linhagem davídica. Exteriormente, tudo estava em condição para a vinda do Messias (cf. Dn.9.25). O período retratado em Neemias termina com a esperança profética de que o Senhor em breve viria ao Seu templo (Ml.3.1). O NT começa com o cumprimento dessa expectativa e esperança pós-exílica."(BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.728-9).”
                     " Cristo Revelado - Neemias, juntamente com Esdras, exortou o povo de Deus a recordar a lei. Ao fazê-lo, tornou-se parte da cadeia de escritores inspirados das Sagradas Escrituras que colocou o povo nas mãos de um 'aio' (Gl.3.23-24) para ser guardado até a chegada de Cristo. Embora o livro não faça uma menção direta a Cristo, Neemias representa Cristo pela sua vida modelo. Foi um líder corajoso, lutando contra as desavenças e encorajando o povo a fazer a obra de Deus (2.18), semelhante a Cristo que lutou contra a oposição do povo e encorajou Seus discípulos a permanecerem firmes (Jo.15.18-27). Orava com fervor (2.1-20; 6.9-14), como Cristo orava (Lc.6.12). Finalmente, era dedicado à lei de Deus (8.9-10), valor muito importante também na vida de Cristo (Mt.5.17) (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.485).”
II – NEEMIAS TOMA CONHECIMENTO DA TRISTE SITUAÇÃO DOS JUDEUS EM JERUSALÉM
- O livro de Neemias relata “as palavras de Neemias, filho de Hacalias” (Ne.1:1). Neemias, cujo nome significa “Javé conforta”, “Javé consola” ou, ainda, “Javé é o meu deleite”, era um judeu que ocupava uma importante posição na corte do rei da Pérsia, Artaxerxes I Longimano, que reinou de 465 a.C. até 424 a.C. e que foi o quinto rei persa que reinou sobre os judeus. Neemias era o copeiro do rei (Ne.1:11).
OBS: “…O ofício do copeiro real era um posto de grande honra na corte persa. Estando na presença diária do rei e assistindo-o em seus momentos de descanso, o copeiro tinha muitas oportunidades de ganhar a boa vontade do monarca e obter muitos favores que eram negados a outros. Copeiros eram geralmente eunucos. Eram representados frequentemente em monumentos assírios, segurando um copo na mão esquerda e um abanador feito de folhas de palmeiras na mão direita. Um grande guardanapo, ricamente bordado e ornamentado, ficava sobre o seu ombro esquerdo para o rei enxugar os lábios com ele.…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE, p.782, com. Ne.1.1b).
- Tudo indica, portanto, que Neemias pertencia a uma família de judeus que não havia emigrado para a Palestina com o final do cativeiro da Babilônia, ou seja, um grupo de judeus que preferiu as benesses do exílio a retornar à Terra que Deus havia dado a Israel, benesses, aliás, que só tinham aumentado durante o reinado de Xerxes I, antecessor de Artaxerxes I, que reinou de 486 aC. até 465 a.C. e onde se deram os fatos relatados no livro de Ester, quando os judeus, após a ameaça de serem destruídos, acabaram alcançando a proeminência na corte persa.
No vigésimo ano do reinado de Artaxerxes I Longimano (este nome “longimano” significa “de mão longa”, pois, conta a história a sua mão direita era maior que a esquerda), ou seja, por volta de 445 a.C., Neemias recebe a visita de seu irmão Hanani, juntamente com outros judeus, quando, então, Neemias perguntou a respeito dos judeus que moravam na Palestina (Ne.1:2).
- Entendem alguns que Hanani, como era irmão de Neemias, também morava em Susã, então a capital da Pérsia e tinha resolvido fazer uma viagem até a Palestina e, ao chegar lá, pôde verificar a situação deplorável em que se encontravam os judeus, apesar da ida de Esdras treze anos antes para lá (Ed.7:7) e, confiante de que Neemias, diante da situação privilegiada que tinha na corte persa, pudesse ajudar nesta situação, retornou a Susã, fazendo-se acompanhar de alguns judeus.
- Neemias recebeu seu irmão e seus companheiros e indagou a respeito da situação em que estavam seus compatriotas, tendo, então, recebido um relato muito triste. Os judeus estavam em grande miséria e desprezo e o muro de Jerusalém estava fendido e as suas portas, queimadas a fogo (Ne.1:3).
- Alguns críticos, diante deste relato, questionam a circunstância de Esdras ter precedido a Neemias, pois em Ed.9:9 é dito que os reis da Pérsia haviam permitido que fosse construída “uma parede em Judá e em Jerusalém”, o que significaria que haveria muros naquela época, ou seja, depois da reconstrução efetuada por Neemias. No entanto, esta “parede” de que fala o texto de Esdras não significam os “muros de Jerusalém”, mas nos fala de um “abrigo seguro” (assim traduz o texto a Bíblia de Jerusalém), que é, no contexto, o templo cuja reedificação fora autorizada por Dario e concluída em seu reinado e que cujo uso foi confirmado por Artaxerxes (Ed.6:14,15).
- Apesar de o templo ter sido reconstruído e de Artaxerxes ter determinado que Esdras ensinasse a lei aos judeus que moravam na Palestina (Ed.7:1-7), o quadro trazido por Hanani e seus companheiros era desolador. O ensino da lei por Esdras e a existência do templo não haviam sido suficientes para que os judeus voltassem a ter uma vida própria e digna na Terra Prometida. Pelo contrário, reinavam a miséria e o desprezo e Jerusalém não havia sido reedificada, ficando à mercê de todos os inimigos, já que seus muros estavam fendidos e as portas queimadas a fogo, tudo tal qual havia sido deixado depois da destruição feita por Nabucodonosor, isto há 162 anos. Diante deste quadro, não havia ainda se podido organizar o povo judeu.
- Este relato traz-nos uma importante lição a respeito da estruturação do povo judeu. Não bastava a ida de Esdras, o sacerdote e escriba, para a Palestina para a restauração do povo judeu. Era necessário que, além do ofício sacerdotal (que, inclusive, incluía o ensino da lei para o povo), que alguém fosse constituído para a restauração político-administrativa do povo, eis que, até a vinda do Messias, os legítimos ofícios sacerdotal e régio tinham de ser mantidos separados. Por isso, quando do retorno da primeira leva de judeus, as lideranças eram Josué (o sumo sacerdote) e Zorobabel (o herdeiro presuntivo do trono de Davi) e, agora, apesar de passados treze anos, nada havia sido restabelecido como devido visto que o rei Artaxerxes mandara apenas um sacerdote e escriba (Esdras), não se importando em constituir uma nova autoridade naquelas cercanias.
- Esta circunstância traz-nos, também, uma lição espiritual a respeito da Igreja, o povo de Deus de nossa dispensação. Agora, com Cristo, reunidos que foram os ofícios profético, sacerdotal e régio, nem por isso podemos nos comportar de modo individualista na obra do Senhor. O Senhor Jesus edifica a Sua Igreja através dos dons ministeriais (Ef.4:11-16) e espirituais (I Co.12:1-7), desta maneira, todos os dons são necessários para que a edificação se realize. Assim como a tão só presença de Esdras não pôde restaurar Judá enquanto não veio Neemias, também não há como se ter a edificação da Igreja sem que todos os dons se manifestem e sejam exercitados. Somos um corpo (I Co.12:12,15-27) e, como tal, todos são necessários para a edificação do corpo em amor (Ef.4:16).
- Muitas igrejas locais, na atualidade, encontram-se na mesma situação deplorável que se encontrava a Jerusalém dos dias de Neemias. Vivem em miséria e em desprezo, com seus muros fendidos e as portas, queimadas a fogo. Estão sem qualquer proteção da parte de Deus, sendo alvo de ataques fáceis e impiedosos do inimigo de nossas almas. E qual a razão desta penúria espiritual? Simplesmente porque, a exemplo do que ocorria nos dias de Neemias, ainda não compreenderam que há necessidade do exercício de todos os dons conferidos por Cristo e pelo Espírito Santo, porque há muitos que, de forma ditatorial às vezes, impedem o livre exercício dos dons, pois o “corpo de Cristo” é um mas tem muitos membros e cada um com uma tarefa e função específicas. Lembremo-nos disto e, certamente, a restauração virá!
Diante de um quadro tão triste e lamentável, qual foi a reação de Neemias? Diz-nos o texto sagrado que, por primeiro, Neemias ouviu as palavras. Neemias revela aqui uma qualidade que, certamente, foi crucial para que galgasse a posição de copeiro do rei: era, antes de mais nada, um ouvinte. Como é importante que, em nossas vidas, saibamos mais ouvir do que falar. Não é à toa que Deus nos fez com dois ouvidos e apenas uma boca. Daí ter nos dito o sábio Salomão que “responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv.18:13).
- Neemias, diante de seu irmão e dos companheiros, limitou-se a ouvir aquelas notícias, mantendo uma atitude prudente. Hanani e seus companheiros haviam procurado Neemias buscando ter dele uma solução, consideravam que Neemias era a sua esperança e, diante desta circunstância, Neemias não poderia mostrar diante dele desespero ou perplexidade, ainda que a notícia lhe chocara muito.
- Diante daqueles que vêm ao nosso encontro procurando uma saída, um conselho, uma solução, não podemos, de modo algum, externar desespero, perplexidade e, assim, trazer mais embaraço ou confusão a quem nos busca guarida. Como servos de Deus e, portanto, dotados de esperança (Rm.5:2; 8:24), não podemos externar desespero a quem nos procura, mas temos de ouvir seus relatos e, se for o caso, em privado chorar nossas misérias e perplexidade.
- Neemias ouviu as palavras de Hanani e seus companheiros e, posteriormente, já em privado, sozinho, assentou-se, chorou e se lamentou por alguns dias, jejuando e orando perante o Deus dos céus (Ne.1:4). Como sabemos que isto se deu em privado? Porque somente no mês de Nisã (correspondente a março/abril), ou seja, quatro meses depois de ter recebido as notícias tristes de Hanani e seus companheiros, o que havia ocorrido no mês de Quisleu (Ne.1:1) (correspondente a novembro/dezembro de nosso calendário), é que o rei Artaxerxes viu o semblante triste no rosto de Neemias (Ne.2:1), a indicar, portanto, que, durante todo este tempo Neemias chorou as suas misérias em privado, sem que ninguém tivesse conhecimento disto.
- É exatamente este o comportamento que deve ter o servo de Deus. O Senhor Jesus disse que devemos entrar em nosso aposento e, em secreto, abrir nosso coração ao Pai celestial (Mt.6:6). Não podemos ser portadores de desespero e de desânimo seja diante dos irmãos, seja diante dos homens, pois isto seria um escândalo, uma pedra de tropeço para os que nos cercam. Temos de demonstrar sobriedade, equilíbrio diante do próximo, pois nossa vida deve ser, neste mundo, sóbria, justa e pia (Tt.2:12).
Neemias ouviu as notícias e, em privado, demonstrou seu grande amor para com o seu povo. Apesar de nunca ter morado em Jerusalém, de pertencer ao grupo de judeus que resolveu não retornar à Palestina, ele teve compaixão de seu povo, demonstrou ter fé nas promessas de Deus. O fato de viver em Susã não fez com que ele viesse a menosprezar ou desconsiderar seus compatriotas, mas mostrou que, apesar de sua posição, ele se sentia um judeu, alguém que, tal como Moisés, estava disposto a deixar a sua “zona de conforto”, a sua posição para participar da realização das promessas divinas.
Neemias assentou-se e, comovido com a situação dos seus compatriotas (que nem sequer conhecia), começou a chorar. O sentimento de compaixão é indispensável para que possamos realizar a obra de Deus, para que nos disponhamos a ajudar a edificação da Igreja e a salvação dos incrédulos. Este sentimento foi manifestado por Jesus diversas vezes durante Seu ministério terreno (Mt.9:36; 14:14; 15:32; 20:34; Mc.1:41; 6:34; 8:2; Lc.7:13), deixando-nos o exemplo para que sigamos as Suas pisadas (I Pe.2:21).
- Sem que sintamos a compaixão seja por nossos irmãos, seja pelos homens em geral, não podemos jamais ser eficazes no serviço cristão, na obra do Senhor. Se Neemias não tivesse sentido compaixão pelos seus compatriotas, não tivesse sentido a mesma coisa que os judeus miseráveis e desprezados de Jerusalém estavam a sentir, não se disporia a abandonar o conforto da corte de Artaxerxes para enfrentar os desafios que se lhe apresentavam em Judá. Temos tido compaixão do nosso próximo? Temos nos disposto a deixar a “zona de conforto” para fazermos a obra do Senhor? Pensemos nisto!
- Mas Neemias não se limitou a se assentar e chorar. Sabendo que sua condição de copeiro do rei, se era uma posição vantajosa e que permitia pleno acesso ao rei da Pérsia, era assaz insuficiente para resolver a questão. Por isso, sabendo que nada poderia ser feito senão pela intervenção divina,Neemias não se limitou a chorar e lamentar, mas resolveu jejuar e orar ao Senhor (Ne.1:4).
- Como é maravilhoso quando o ser humano reconhece a sua incapacidade e resolve depender de Deus. Não há outro lugar para onde devamos recorrer nos momentos de crise, de angústia e de perplexidade senão aos pés do Senhor Jesus. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos, ensina-nos Tiago (Tg.5:16) e Neemias, consciente de sua justiça, foi pedir a quem podia resolver o problema, ou seja, ao Deus dos céus.
- A crise “…é qualquer evento que é( ou se espera que leve a) uma situação instável ou perigosa que afeta um indivíduo, um grupo, uma comunidade ou toda uma sociedade…” (Crisis. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Crisis Acesso em 22 ago. 2011) (tradução nossa de texto em inglês). Em mandarim (chinês), a palavra “crise” (“weiji”) é a composição de duas palavras: “wei”, que significa “perigo” e “ji”, que significa “ponto crucial”. A “crise”, portanto, é um “ponto crucial”, um “ponto importante”, mas que representa um perigo” (Chinese  word for crisis. In; WIKIPÉDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_word_for_%22crisis%22 Acesso em 22 ago. 2011).
Neemias, ao ter conhecimento da crise, viu ali não um momento de desespero, mas um momento importante para se aproximar de Deus e, assim, encontrar a solução para aquele quadro trágico. As crises que surgem durante nossas vidas aqui na Terra nada mais são que momentos importantes em que temos de nos aproximar do Senhor, evitando que o desânimo tome conta de nós, pois temos de viver no mundo com “bom ânimo” (Jo.16:33). Temos aproveitado estes momentos para nos aproximar do Senhor?
- Quantos de nós temos agido desta maneira? Neemias, como copeiro do rei, poderia, ao saber das notícias, ter aproveitado a primeira ocasião que tinha para se lamentar diante do rei, que, afinal de contas, era a maior autoridade do mundo naquela época (a Pérsia era a potência mundial do momento). No entanto, Neemias sabia que Artaxerxes, apesar de todo seu poder, era apenas um homem e que há um Deus que é o Senhor de todas as coisas. Temos esta mesma confiança no Senhor, ou temos procurado outros “deuses”? Corramos aos pés de Jesus, amados irmãos!
- Além da oração, Neemias, também, recorreu ao jejum, um companheiro apropriado para a oração, máxime quando se está diante de um quadro de urgência e de necessidade de orientação. Não era fácil para Neemias jejuar, visto que era o copeiro do rei e, assim, deveria sempre experimentar tudo quanto fosse levado ao rei, a fim de evitar o envenenamento. Jejuar, assim, era algo extremamente difícil, mas Neemias enfrentou este desafio, a fim de obter de Deus a devida orientação e a solução para o problema de seu povo. Temos nós também nos disposto a nos sacrificar em prol do próximo?
III – A ORAÇÃO DE NEEMIAS
- Neemias relata, então, qual foi a sua oração. Antes de analisarmos esta oração, observemos que Neemias fez contínua oração, que durou, como já dissemos, cerca de quatro meses. Muitos se confundem e dizem que a “oração de Neemias” é uma oração rápida, instantânea, porque se lembram de citar tão somente Ne.2:4, quando Neemias é interpelado pelo rei, mas isto se deu em Nisã, depois que, em privado, Neemias já havia orado quatro meses. Não há dúvida de que Deus responde a orações emergenciais, mas Neemias não é exemplo disso e, sim, deve ser um exemplo de que precisamos manter uma vida de contínua oração.
A oração de Neemias começa com uma invocação de Neemias a Deus, reconhecido como “Senhor, Deus dos céus, Deus grande e terrível”. Foi, de igual modo, que Jesus nos ensinou a orar, pois Sua oração-modelo começa com a invocação “Pai nosso, que está nos céus”.
- Na oração, devemos, antes de tudo, lembrar quem é Deus e quem somos nós. Não podemos orar corretamente senão nos apercebemos de que estamos entrando diante da presença do Senhor, d’Aquele que é o dono de todas as coisas, a quem não temos o direito de nos dirigir, mas que, pelo Seu infinito amor, quer manter um relacionamento conosco.
- Neemias, ao contrário dos falsos arautos da teologia da confissão positiva, não se apresentou diante de Deus para Lhe “cobrar” a fidelidade a Suas promessas, muito menos para dizer que o Senhor era “obrigado” a trazer prosperidade a Jerusalém e ao povo de Judá, diante de Suas promessas. Bem ao contrário, identificou a Deus como o Senhor, o Deus dos céus, o Deus grande e terrível. Precisamos reconhecer a nossa pequenez e nos humilharmos diante do Senhor quando a Ele nos dirigimos. Como ensinava Charles Spurgeon (1834-1892), príncipe dos pregadores britânicos, “…a humildade é a atitude apropriada de um orante…” (SPURGEON, Charles Haddon. Humildade: a amiga do orante. Disponível em:http://bible.org/seriespage/humility-friend-prayer-no-1787 Acesso em 11 set. 2010) (texto em inglês). Temos feito isto?

Neemias, ainda na invocação ao Senhor, reconheceu a fidelidade divina, ao dizer que o Senhor “guardava o concerto e a benignidade para com aqueles que Lhe amavam e guardavam os Seus mandamentos” (Ne.1:5). Aqui temos mais uma indicação de que Deus não ouve a pecadores (Jo.9:31) e que, portanto, a primeira coisa que temos de fazer para entrarmos na presença do Senhor é pedir perdão dos nossos pecados, pois eles nos impedem de sermos ouvidos por Deus (Is.59:2). Deus está pronto a ouvir, diz-nos Neemias, aqueles que “amam e guardam Seus mandamentos”.
Neemias, ao se dirigir a Deus, confessou não só os seus pecados, mas também os pecados dos filhos de Israel (Ne.1:6,7), pois sabia que, sem a confissão e o consequente perdão, jamais poderia entrar na presença de Deus e pedir-Lhe algo. Temos também esta consciência?
- Sendo um cumpridor da vontade do Senhor, Neemias pôde, então, dirigir-se a Deus e pedir que os Seus ouvidos fossem atentos e os olhos, abertos, para ouvir a oração do Seu servo, oração que fazia de dia e de noite não só por si mas também pelos filhos de Israel (Ne.1:6). Vemos, assim, claramente que Neemias era um adepto da oração contínua e que não tem qualquer cabimento denominar de “oração de Neemias” a oração instantânea, emergencial, muito menos assim denominar a oração daquele que só lembrar de orar no momento decisivo de uma adversidade. Nosso papel, amados irmãos, é orar sem cessar (I Ts.5:17)!
Neemias demonstrou, também, em sua oração, que era alguém possuído de fé em Deus. Mesmosabendo da sua situação pecaminosa e da de seu povo, Neemias reconhecia que os ouvidos de Deus eram atentos e Seus olhos estavam abertos para o orante. Quando nos dirigimos a Deus, precisamos entender que, tendo havido a confissão e perdão dos nossos pecados, Deus não só nos ouve como também está a nos ver e, assim, pronto a nos atender, a nos consolar, a conceder o desejo dos nossos corações. Quantos que oram e não têm esta consciência e acabam não orando, pois não confiam que estão sendo ouvidos por Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e Neemias agradou ao Senhor porque confiava que Deus o estava vendo e o estava ouvindo. Tenhamos fé, amados irmãos!
- Neemias reconheceu que a situação do povo de Judá era consequência de seus próprios pecados. O copeiro lembrou que o povo havia perdido a Terra Prometida porque havia transgredido os mandamentos do Senhor e Deus, então, havia cumprido o que dissera, através de Moisés, ou seja, de que a pena máxima pela desobediência seria o exílio (Dt.28:63-65).
- Em nossas orações, também, devemos reconhecer os nossos erros, assumir as nossas culpas, pedindo perdão e misericórdia ao Senhor para sairmos da situação aflitiva em que nos encontramos. Nem toda situação difícil por que passamos é consequência de nossos pecados, pois também pode haver a provação da parte do Senhor (como é o caso de Jó), mas, quando nos dirigimos a Deus em oração, precisamos fazer um autoexame e, se necessário for, assumirmos nossas culpas e pedirmos perdão não só a Deus mas a quem também tenhamos ofendido com nossos erros. Não há caminho para a bênção senão a do arrependimento e confissão de nossos pecados.
- Ao mesmo tempo em que Neemias fazia memória de seus pecados e dos pecados de seu povo, também fazia memória das promessas divinas. Sua confiança em Deus lhe permitia não só assumir suas culpas e as dos filhos de Israel, pois sabia que Deus era misericordioso e grandioso para perdoar (Is.55:7), como também de trazer à memória as promessas de restauração, que também estavam presentes na lei de Moisés (Dt.30:1-10).
- Se isto se deu com um homem que viveu na dispensação da lei, com muito maior razão deve ser uma tônica para os que, como nós, vivem debaixo da graça. Não podemos nos deixar esmorecer com nossos fracassos e percalços, mas, se sinceramente pedirmos perdão pelos nossos pecados e não os confessarmos, mas deixá-los, igualmente alcançaremos a misericórdia divina (Pv.28:13).

- Muitos em nossos dias estão caminhamos celeremente para a perdição porque não querem confessar nem deixar os seus pecados, preferindo encobrir as suas transgressões. Não façamos isto, amados irmãos! Temos um Deus grandioso em perdoar e que está disposto a nos dar o Seu perdão e nos ser alvo de Sua misericórdia. Pecado é um assunto entre Deus e o homem e jamais podemos permitir que nossas transgressões permaneçam encobertas por causa de outros homens, por causa de nosso relacionamentos, inclusive com os domésticos da fé. Confessemos e deixemos o pecado e teremos, novamente, como Neemias teve, pleno acesso ao trono da graça.

Neemias não fez qualquer “cobrança” a Deus, mas, assim como confiava no Senhor e sabia do Seu acerto em ter retirado Judá da sua terra, agora pedia ao Senhor a mesma fidelidade no tocante à restauração, uma vez existindo a conversão do povo. Neemias punha-se à disposição do Senhor para efetuar esta conversão e, assim, obter a restauração completa de Judá, como havia sido prometido, mostrando sua fé em Deus. Deus não estava “obrigado” a coisa alguma, mas, sim, ele, Neemias, juntamente com o povo, estava pronto a se converter e, assim, ser alvo da benignidade do Senhor.
OBS: “…Irmãos, fará mal qualquer um de nós que usar a linguagem do mérito diante de Deus, pois mérito algum temos e, se tivéssemos algum, não precisaríamos orar. Foi bem observado por um antigo teólogo, que o homem que pleiteia seu próprio mérito não ora, mas cobra o seu crédito. Se eu peço a alguém que me pague sua dívida, eu não sou alguém que pede, mas alguém que está a exigir os seus direitos. A oração de um homem que pensa que tem méritos é como se estivesse a entregar uma letra ao Senhor: ele não está apresentando um pedido, mas emitindo uma cobrança. O mérito, com efeito, diz: “Pague-me  o que você deve”. Pouco um homem deste obterá de Deus, pois se o Senhor apenas pagar para nós o que Ele nos deve, o lugar além de tormento será nossa rápida herança. Se durante a vida aqui nós recebermos não mais do que nós merecemos, nós seremos rejeitados e abandonados. O mais vil dos mendicantes obterá mais do que estes banidos. Até mesmo a vida, ela própria, é um presente do Criador, ‘De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um da punição dos seus pecados’. Vamos nos manter numa posição de inferioridade tanto quanto podemos, pois nós ainda temos de reconhecer que ‘As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as Suas misericórdias não têm fim’. Qualquer outra atitude que não a de humildade seria muito mal-vinda e presunçosa na presença do Altíssimo.…” (SPURGEON, Charles Haddon. Humildade: a amiga do orante. Disponível em: http://bible.org/seriespage/humility-friend-prayer-no-1787Acesso em 11 set. 2010) (tradução nossa de texto original em inglês) (destaque original).
Ao longo dos meses de oração, Neemias recebeu da parte do Senhor uma convicção: a solução estava nele próprio. Era ele quem Deus havia escolhido para mudar aquela situação em Judá e em Jerusalém. Por isso, sua oração já finalizava com o pedido de bom êxito diante do rei da Pérsia: “Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os Teus ouvidos à oração do Teu servo e à oração dos Teus servos que desejam temer o Teu nome; e faze prosperar hoje o Teu servo e dá-lhe graça perante este homem” (Ne.1:11). Neemias chegou à conclusão, certamente pelo Espírito de Deus, de que era ele quem deveria levar o caso até o rei Artaxerxes e pedia que Deus moldasse o coração do monarca para que fosse obtido o bem-estar de Judá.
Somente através de uma vida de oração contínua e de intimidade com Deus poderemos saber qual é a Sua vontade a fim de podermos cumpri-la. Muitos, na atualidade, permanecem desorientados e sem saber o que fazer simplesmente porque não têm uma vida de íntima comunhão com o Senhor. Esta íntima comunhão somente se dará mediante a meditação nas Escrituras e uma vida de contínua oração. Estabelecendo-se um diálogo com o Senhor por meio da oração (acompanhada, por vezes, do jejum) e da meditação nas Escrituras, poderemos nos transformar a nós mesmos, termos a renovação do nosso entendimento e, desta maneira, experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus em nossas vidas (Rm.12:1,2).
- Neemias tinha amplo conhecimento das Escrituras, tanto que, em sua oração, mostra como tinha consciência do que Deus havia falado ao Seu povo por intermédio da lei de Moisés. Vivia, também, em contínua oração, intensificada que foi após ter sabido da triste notícia da miséria e do desprezo dos judeus em Jerusalém. Por isso, em resposta a esta íntima comunhão com o Senhor, teve condições de identificar que era vontade do Senhor que deixasse aquela posição confortável no palácio de Artaxerxes para ir enfrentar os desafios nos muros fendidos e portas queimadas a fogo de Jerusalém. Precisava, porém, de uma oportunidade para obter a autorização do rei para tal obra. Como isto se daria? É o que veremos na próxima lição.
           Caramuru Afonso Francisco