Podemos conhecer a Deus?





Esta é a primeira postagem de uma série de três em que pretendo tratar de nossa visão acerca de Deus, tendo em vista o fato, hoje, bastante comum de muitos insistirem em reduzi-lo aos meandros de nossas limitações e do que pensamos a seu respeito. 

Começo por afirmar que tudo o que dissermos sobre pessoas e coisas não mudará a sua natureza e forma. Elas continuarão a ser o que são, independente do que pensamos e propomos. É óbvio que os julgamentos que fazemos são influenciados pelo nosso background, que sujeita a nossa capacidade de enxergar aos óculos da nossa formação. Mas o modo como enxergamos não altera a essência de nada, mas permite que possamos escrutiná-la na medida em que essa visão seja cada vez mais acurada. No entanto, coisas continuarão a ser coisas e pessoas continuarão a ser pessoas. 

Isso não nos tira o senso crítico de refletir, ponderar e construir juízo de valor, à luz dos elementos que dispomos, mas revela, por outro lado, que, enquanto a natureza e forma das coisas e pessoas não mudam, o nosso pensamento a respeito pode variar de acordo com a nossa visão de mundo. 

É o caso da estátua pintada de ouro do lado esquerdo e de prata do lado direito. Uns dirão que a cor é ouro; outros, que a cor é prata, a depender do ângulo da visão de cada um. Se não houver quem enxergue de uma posição que contemple os dois lados – o todo – prevalecerá em cada mente aquilo que conseguiu enxergar. Para uns, a estátua será ouro; para outros, prata, sem que essa visão reducionista mude um milímetro sequer a natureza e a forma dela. 

Quando falamos ou escrevemos sobre Deus, a partir do pressuposto da crença em sua existência, não podemos deixar de levar em conta que as premissas acima darão o tom da visão que se tem do Todo-poderoso. Sempre teremos quem o verá do lado esquerdo – a cor ouro – enquanto outros o verão do lado direito – a cor prata. Ou seja, o conhecimento a respeito do Criador se restringirá ao ângulo que a visão alcança e aí ficará limitado. Mas isso não mudará a sua natureza. 

Minha opinião sobre Deus não alterará a sua essência. Ele continuará a ser o que é. Jamais tomará a forma camaleônica de existir. Mas temos de convir que, embora ele não mude – disso estamos certos – a minha visão dirá o que penso a seu respeito e o tipo de fé que tenho em Deus. Filhos que crescem à sombra de pais violentos e autoritários, por exemplo, poderão desenvolver uma visão unilateral de um Deus violento e autoritário. 

É vital definir esse ponto porque muito do que se diz e escreve por aí sobre Deus é fruto desse pensar reducionista, que vê apenas um lado da estátua, e confina o Criador aos casulos das concepções humanas. O resultado são essas desastradas teologias, onde se cria um Deus pequeno, mesquinho, impotente, que cabe em nossas mãos, que fica do tamanho do homem, que não enxerga um palmo além do seu nariz, embora – repita-se – nada disso mude a sua natureza.

Afinal, qual é o Deus da sua concepção e em que Deus você crê? 

Voltemos à ilustração da estátua. 

Quem a enxergasse de uma posição que pudesse ver os dois lados – o todo – descobriria que ela era tanto ouro quanto prata, sem se considerar, aqui, por óbvio, os elementos que compunham a sua estrutura. A questão básica, portanto, era encontrar essa posição “privilegiada” de onde a estátua pudesse ser enxergada dos dois lados, de um ângulo com visão de 360 graus. Só que alguns por preguiça, pressa ou desinteresse preferem passar direto, sem perscrutar todas as possibilidades, enquanto outros acreditam que o mundo da praça onde foi construída a estátua se limita ao ângulo de sua visão. E assim uns continuam a achar que ela é ouro; outros, que é prata. 

Em relação a Deus há também uma posição “privilegiada” pela qual podemos enxergá-lo de forma ampla e melhor compreender a sua natureza. Não precisamos permanecer confinados à própria ignorância e aos condicionamentos que se nos impõem, mas nos é possível condicionar o nosso pensamento à vastidão do alcance da visão que esse lugar nos oferece. Suponho que você já o tenha decifrado. É a Escritura. A Bíblia Sagrada. 

Embora muitos prefiram desconsiderá-la e não reconhecer-lhe o mérito, ela é, por assim dizer, o “ponto de observação” de onde Deus pode ser conhecido, tanto em seu “lado ouro”, quanto em seu “lado prata”, para usar a figura da estátua que empreguei acima. É óbvio que nunca o conheceremos em plenitude, enquanto limitados em nossa mente finita, mas a partir da visão acurada que a Bíblia nos permite, temos condições de errar menos em nossas concepções sobre o Criador. 

Em minha próxima postagem quero mostrar porque a Escritura tem essa prerrogativa, para, então, na terceira postagem, concluir sobre o que podemos conhecer acerca de Deus através dela. fonte GEREMIAS DO COUTO