LIÇÃO 8 – O COMPROMISSO COM A PALAVRA DE DEUS




4º Trim. 2011 - Lição 8: O Compromisso com a Palavra de Deus I
                                                           O genuíno e autêntico avivamento compromete-nos com a obediência à Palavra de Deus.
INTRODUÇÃO
- Na continuidade do estudo do livro de Neemias, estudaremos o capítulo 10, onde o povo de Judá, de forma solene, assume o compromisso de obedecer à lei de Moisés.
Quando o povo de Deus se arrepende e confessa seus pecados, inevitavelmente tem prazer em seguir a lei do Senhor, pois amar a Deus é cumprir os Seus mandamentos
(Jo.15:14).
I – O POVO ASSUME SOLENE COMPROMISSO DE OBEDECER À PALAVRA DE DEUS
- Na lição anterior, quando analisamos o capítulo 9 de Neemias, vimos que, depois da oração de confissão dos pecados e reconhecimento da soberania de Deus feita pelos levitas que haviam instruído o povo naquele dia 24 de Tisri, quando o povo de Judá, espontaneamente, resolveu confessar as suas misérias e se apresentar diante de Deus, houve a disposição dos judeus, a começar dos maiorais, de firmar um compromisso escrito e solene de que serviriam a Deus (Ne.9:38).
- A disposição do povo, a começar dos maiorais, de firmar um compromisso solene e escrito era a demonstração do que havia no interior dos corações dos que haviam se apresentado diante do Senhor, qual seja, a convicção de que não se poderia agradar a Deus se não se obedecesse aos Seus mandamentos.
- O povo, ciente de todo o histórico de infidelidade e ingratidão que havia na história de Israel, resolvia assumir publicamente, não só perante Deus mas também perante os povos que estavam à sua volta e, mais importante do que isso, perante as gerações futuras, o compromisso de servir a Deus e de obedecer-Lhe segundo os ditames da lei de Moisés, lei que, para ser cumprida pelas gerações de Israel, havia, também, por ordem divina, sido reduzida a escrito.
- A escrita tem esta finalidade, a de propiciar a comunicação entre as mais diferentes gerações. Com a escrita, o homem consegue suplantar, a um só tempo, duas das principais limitações que cercam o ser humano: a credibilidade das informações e a morte.
- A linguagem oral tem um grande limite, que é a credibilidade das informações. Como diz conhecido provérbio popular, “quem conta um conto, aumenta um ponto”. A comunicação oral é passível de distorções, máxime quando se sabe que o homem se encontra escravizado pelo pecado e, por conseguinte, com uma natureza avessa à verdade. Já no Éden, vemos que a mulher distorceu o mandamento divino em seu diálogo com a serpente, acrescendo uma ordem de não tocar na árvore da ciência do bem e do mal e alterando, inclusive, a ordem divina, referindo-se antes à árvore da vida que à arvore da ciência do bem e do mal (compare Gn.2:9,16, e 17 com Gn.3:2,3).
- A linguagem oral, também, tem o limite da morte do homem. O homem não vive para sempre sobre a face da Terra e, portanto, o máximo que pode comunicar pela linguagem oral é para as gerações futuras que conseguir alcançar durante a sua vida (Sl.78:2-8). Entretanto, sobrevindo a morte, não há mais como podermos comunicar oralmente o que sabemos, pois não há qualquer comunicação entre mortos e vivos (Is.8:19; 38:19).
- Quando, pois, os judeus se dispuseram a escrever um compromisso de servir a Deus, não só o escrevendo mas, também, o selando, atitude que dava autenticidade e imutabilidade ao compromisso assumido, estavam demonstrando que estavam dispostos não só a servir a Deus, mas a mostrar para as gerações futuras esta mesma disposição para que o povo não voltasse a desobedecer ao Senhor.
- Já vimos na lição anterior que o primeiro a assumir este compromisso e a assiná-lo foi Neemias, o governador, demonstrando, com isso, que o líder deve ser o primeiro a dar o exemplo, o primeiro a tomar a atitude que deseja para todos os seus liderados. Como afirmou, de modo muito feliz, o comentarista da lição, liderança é caráter e exemplo.
Neemias foi o primeiro a apor sua assinatura no compromisso de obedecer à Palavra de Deus. Em nossos dias, na igreja do Senhor, também os líderes devem ser os primeiros a obedecer às Escrituras. O apóstolo Paulo, em suas instruções a seu filho na fé, Timóteo, foi enfático a este respeito: “…sê o exemplo dos fiéis, na palavra(…)persiste em ler, exortar e ensinar(…). Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina, persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” (I Tm.4:12,13,16). A Tito, outro de seus cooperadores, o apóstolo também ensina o mesmo: “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; Na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade” (Tt.2:7).
- Paulo, aliás, podia exigir isto de Timóteo porque ele próprio era um exemplo. Aos coríntios, disse que deveriam ser seus imitadores como ele era de Cristo (I Co.11:1) e, para Timóteo, na sua última carta, o apóstolo volta a dizer a seu filho na fé a respeito de ser ele um exemplo, porque ele próprio (o apóstolo) era um exemplo, pois afirma: “Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, caridade, paciência” (II Tm.3:10).
- Não é à toa, pois, que um dos principais requisitos para que se possa ser separado para o ministério é o bom testemunho, tanto na família, quanto na igreja e, também, em relação ao mundo (I Tm.3:2-5). Eis um dos motivos pelos quais há tanto descrédito com relação aos ministros e oficiais da igreja no mundo em que vivemos: porque se tem negligenciado este importante fator que é indispensável para que se possa exercer a liderança no meio do povo de Deus.
Depois de Neemias, assumiram o compromisso solene de obedecer à Palavra de Deus os sacerdotes (Zedequias, Seraías, Azarias, Jeremias, Pasur, Amarias, Malquias, Hatus, Sebanias, Maluque, Harim, Meremote, Obadias, Daniel, Ginetom, Baruque. Mesulão, Abias, Miamim, Maazias, Bilgai e Semaías), os levitas (Jesua, Binuí, Cadmiel, Sebanias, Hodias, Quelita, Pelaías, Hanã, Maca, Reobe, Hasabias, Zacur, Serebias, Sebanias, Hodias, Bani, Beninu) e os chefes do povo (Parós, Paate-Moabe, Elão, Zatu, Bani, Buni, Azgade, Bebai, Adonias, Bigvai, Adim, Ater, Hezequias, Azur, Hodias, Hasum, Bezai, Harife, Anatote, Nobai, Magpias, Mesulão, Hezir, Mesezabel, Zadoque, Jadua, Pelatias, Hanã, Anaías, Oseias, Hananias, Hassube, Haolés, Pilá, Sobeque, Reum, Hasabna, Maaseias, Aias, Hanã, Anã, Maluue, Harim e Baaná), ou seja, os demais maiorais do povo, os elementos mais proeminentes também solenemente se comprometeram a servir a Deus.
- Nos dias hodiernos, não é diferente. O compromisso de santidade, de obediência à Palavra de Deus tem de partir dos que estão à frente do povo. O apóstolo Pedro foi claro ao admoestar os presbíteros, ou seja, aqueles que estão à frente do povo, que “servissem de exemplo ao rebanho” (I Pe.5:3). Como costuma dizer o pastor Anselmo Silvestre, presidente de honra das Assembleias de Deus em Belo Horizonte/MG, “tudo precisa começar pelo altar”.
- Tanto assim é que no texto bíblico são nomeados todos os maiorais, um por um, para que a posteridade pudesse ter conhecimento de cada um dos chefes do povo, dos sacerdotes e dos levitas, além do governador Neemias, que assumiram solenemente e por escrito o compromisso de obedecer à Palavra de Deus.
- Em nossos dias, estes nomes não estão inscritos em um livro feito por homens, como foi o caso nos dias de Neemias. Os nomes estão escritos em livros que se encontram nos céus (Ap.13:8; 21:27; 20:12-15) , onde a traça não consome e onde tudo está sendo registrado para aquele dia (Ml.3:16). Será que temos consciência da solenidade e seriedade do compromisso que assumimos com o Senhor de Lhe servir todos os dias das nossas vidas? Será que podemos dizer como o poeta sacro: “As riquezas do mundo pouco valem pra mim, pois Jesus, no Teu reino, dás-me vida sem fim; e no livro da vida, que conservas aí, certo estou que meu nome foi escrito por Ti. Foi escrito por Ti o meu nome no céu; Sim, no livro da vida, foi escrito por Ti”? (primeira estrofe e estribilho do hino 485 do Cantor Cristão).
Diante do exemplo dado pelos maiorais, o resto do povo, os sacerdotes, os levitas, os porteiros, os cantores, os netinins (que era servos dos sacerdotes, muitas vezes identificados com os descendentes dos gibeonitas) e todos os que tinham se separado dos povos das terras para as leis de Deus, suas mulheres, seus filhos e suas filhas, todos os sábios e entendidos firmemente aderiram ao compromisso e também convieram num anátema e num juramento de que andariam na lei de Deus, que fora dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus e cumpririam todos os mandamentos do Senhor (Ne.10:28,29).
- Verificamos, pois, que, sem a liderança, não há como termos o comprometimento de todos os liderados com a Palavra de Deus. A salvação, é certo, é individual, mas não há como levarmos o povo a um compromisso maior com a obediência se não há exemplo da parte daqueles que estão à frente do povo. Por isso, o Senhor Jesus pôs na Sua igreja pessoas que estejam à frente, que presidam sobre os crentes. Sem o exemplo e o caráter da liderança pouco poderá ser feito em prol do crescimento e da edificação do povo de Deus. Por isso, todos nós devemos orar pelos nossos líderes, interceder por eles para que venhamos a ter uma vida espiritual crescente e abundante.
- É interessante notar, porém, que somente assumiram este compromisso aqueles que “tinham se separado dos povos das terras para a lei de Deus”. Não há como comprometer-se verdadeiramente com a Palavra de Deus sem a separação do pecado. Os judeus que assumiram o compromisso de obedecer à lei tiveram, antes, de se separar dos demais povos das terras, do seu “modus vivendi”. De igual forma, a Igreja é uma “nação santa”, que está no mundo, mas não é do mundo, que tem uma maneira diferente de viver.
Para assumir o compromisso de servir a Deus, portanto, é preciso se separar do pecado, ou seja, se santificar, passar a viver uma vida de santidade. Este compromisso, que é solenemente assumido no batismo nas águas, é renovado periodicamente com a participação na ceia do Senhor, quando afirmamos que estamos em comunhão com Deus e com os nossos irmãos. Por isso, totalmente inadmissível o que se faz, em alguns lugares, na atualidade, que é a indiscriminada entrega da ceia do Senhor a todos os que estão presentes numa reunião na Igreja. Trata-se de uma atitude diabólica, que leva muitos a se fazerem culpados do corpo e do sangue do Senhor (I Co.11:27). Que Deus nos guarde, amados irmãos!
- Devemos, também, observar que o povo “aderiu” à lei de Moisés. Temos aqui uma nítida figura do que os juristas denominam de “contrato de adesão”, cujas principais características, segundo o grande jurista brasileiro Orlando Gomes (1909-1988) são três: a) a uniformidade, que consiste no intento do predisponente de obter, de número indeterminado de aderentes, a aceitação passiva das mesmas condições, de sorte que seja invariável o conteúdo de todas as relações contratuais; b) a predeterminação, por uma das partes, das cláusulas dos contratos a serem estipulados em série; c) a rigidez das cláusulas, impossibilitando a flexibilidade no cumprimento das avenças (Contratos, 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. pp.118/9).
- Vemos, pois, que, ao “aderir” à lei de Moisés, os judeus entenderam que a lei era a mesma para todos, que todos deveriam aceitar o que havia dado por Deus a Israel por intermédio de Moisés, “sem tirar nem pôr”. Deus não faz acepção de pessoas e, portanto, a Sua Palavra é válida para todos: grandes e pequenos, ricos e pobres, doutos e indoutos, homens e mulheres. Hoje nos preocupamos em ver que alguns entendem que pode haver diferença na aplicação das Escrituras a este ou àquele. Os judeus “aderiram” à lei de Moisés, ou seja, entenderam que a Palavra de Deus é a mesma e indistintamente aplicável a todos. O Senhor Jesus fez questão de frisar que a Sua Palavra não há de passar (Mt.24:35; Lc.21:33).
- Ao “aderir” à lei de Moisés, o povo judeu também reconheceu que a lei foi previamente estatuída por Deus e que o seu conteúdo era invariável, imutável, insuscetível de qualquer modificação. Os judeus não ficaram discutindo se o conteúdo da lei, que já tinha milênios, tinha de ser modificado em virtude dos “novos tempos”, mas, simplesmente, reconheceram a soberania divina e que deveriam aceitar todo o seu teor. É por isso, aliás, que Tiago, o irmão do Senhor, séculos depois, diria que quem transgride um ponto da lei, transgride a lei toda, pois ela é um conteúdo único que não comporta qualquer modificação ou secção (Tg.2:10).
- Nos dias difíceis em que vivemos, não são poucos os que cristãos se dizem ser que “selecionam” trechos das Escrituras e que se sentem livres para não observar outros. Se é certo que algumas passagens bíblicas devem ser interpretadas à luz do contexto da dispensação para a qual foram escritas (e, por isso, não devemos cumprir os cerimoniais da lei, visto que eram figura do que se realizou e cumpriu em Cristo Jesus), não podemos deixar de observar que os princípios e valores que são, muitas vezes, figurados e simbolizados por tais prescrições refletem o caráter de Deus, que não muda (Ml.3:6). “Aderir” é aceitar tudo como um bloco só, sem qualquer oportunidade de discussão de quaisquer dos dispositivos que foram estabelecidos pelo Senhor. Lembremos disto!
“Aderir” à lei de Moisés é, por fim, reconhecer a “rigidez das cláusulas, impossibilitando a flexibilidade no cumprimento das avenças”.  Os judeus, quando assumiram o compromisso de servir a Deus, sabiam que a lei, além de imutável e de ter de ser aceita como um só bloco, também não poderia ser “flexibilizada”, ou seja, não haveria como ser alterada ao longo do tempo ou ser mudada por causa desta ou daquela circunstância.
- Esta “flexibilização” da Palavra de Deus é uma das mais presentes distorções que encontramos em nossos dias, em que impera o chamado “relativismo ético”, a ideia de que “tudo é relativo” e que a observância do que diz a Bíblia Sagrada “comporta exceções” de acordo com as circunstâncias da vida. Assim, v.g., admite-se que se possa mentir em “determinadas ocasiões”, o que, à evidência, é a negação do que ensinam as Escrituras.
Assim como os judeus “aderiram” à lei de Moisés, nós, também, devemos aderir aos mandamentos dados por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (At.1:2). Não é possível dizer-se comprometido com a Palavra de Deus sem que aceitemos o que está na Bíblia Sagrada sem qualquer discussão, em sua totalidade e conscientes de que não há a mínima possibilidade de sua alteração. Isto é comprometer-se com a Palavra, isto é comprometer-se com o Senhor Jesus, que é a própria Palavra que Se fez carne (Jo.1:1, 14). Temos feito isto, amados irmãos?
- A “adesão” feita pelos judeus, ainda, diz-nos o texto sagrado, foi “firme”. Não se tratava de algo vindo da emoção, nem do constrangimento por causa da situação surgida naquele dia de arrependimento e confissão. Era algo que provinha do interior de cada judeu, uma disposição nascida na alma e no espírito de cada um dos que ali estavam, que estavam decididos a servir a Deus com coração inteiro. A firmeza e constância devem existir na nossa vida espiritual, sem o que não conseguiremos alcançar a salvação, que exige a perseverança até o fim (Mt.24:13; I Co.15:58).
II – O PRIMEIRO COMPROMISSO ESPECÍFICO ASSUMIDO: A PROIBIÇÃO DOS CASAMENTOS MISTOS
- Conforme bem explana o teólogo anglicano inglês  James Innell Packer (1926- ), os judeus, nesta “adesão” à lei de Moisés assumiram cinco compromissos específicos, que analisaremos aqui de forma breve, até porque alguns destes compromissos serão estudados em lições específicas.
O primeiro compromisso especificamente assumido pelos judeus foi a de não darem seus filhos aos filhos dos povos das terras(Ne.10:30), ou seja, a proibição de casamentos mistos, costume que havia se disseminado entre os judeus que tinham voltado do cativeiro e que já fora objeto de repulsa por parte de Esdras, treze anos antes, quando viera para ensinar a lei do Senhor para os judeus (Ed.9,10).
- Este compromisso decorria da aceitação da lei. A lei exigia, inclusive, que os casamentos se dessem dentro de cada tribo, a fim de impedir que, por causa dos casamentos intertribais, alguma tribo ficasse arriscada a perder a sua herança no meio do povo (Nm.36). Por isso, aliás, quando da guerra civil que envolveu Israel e a tribo de Benjamim, foi permitida uma exceção a esta lei para que Benjamim não deixasse de existir (Jz.21:13-25).
- Vemos aqui, de pronto, que não há como construirmos um povo comprometido com o Senhor se deixarmos a família à mercê do mundo. Para que os judeus se comprometessem com a Palavra de Deus foi indispensável que se separasse dos povos das terras, como já vimos supra, mas esta separação envolve, também, a edificação de famílias que não estejam comprometidas com os povos das terras.
- A família é a “célula máter” da sociedade, inclusive da igreja e, por isso, não podemos ter igrejas sadias se não tivermos famílias sadias. Como se poderia construir um povo comprometido com o Senhor e com a Sua Palavra, se as famílias não tivessem este mesmo comprometimento?
- Não nos aprofundaremos neste estudo, pois ele é tema de uma lição específica (lição 12), mas não podemos deixar de consignar, desde já, que a construção de uma vida familiar comprometida com o mundo e com o pecado é uma das grandes armas do inimigo para impedir a edificação e o crescimento do povo de Deus. O grande problema vivido pelos judeus era o dos casamentos mistos que, presentes nos dias de Esdras, ainda persistiam neste primeiro mandato de Neemias e somente seriam erradicados de forma cabal no segundo período do governo do copeiro do rei Artaxerxes.
- Em nossos dias, não é diferente. Muitas das dificuldades sofridas pela Igreja na atualidade têm sua origem e razão de ser na vida familiar dos crentes. Muitas famílias estão, hoje, vivendo um jugo desigual, quando não há o casamento de pessoas crentes com descrentes, o que gera a mistura e o comprometimento com o mundo desde o nascedouro da vida familiar, há, lamentavelmente, também, a mistura com os povos da terra no desenrolar da vida matrimonial. Hoje são muitos os lares que se encontram misturados com os povos das terras, com um “modus vivendi” mundano e pecaminoso imperando entre as quatro paredes de cada casa dos crentes. O resultado é a disseminação do mundanismo e da apostasia nas igrejas locais. Como estão as nossas famílias diante de Deus?
III – O SEGUNDO COMPROMISSO ESPECÍFICO ASSUMIDO: A GUARDA DO SÁBADO
O segundo compromisso assumido pelos judeus foi o de guardarem o sábado, que era um sinal entre Deus e Israel (Ex.31:13). Na sua mistura com os povos das terras, os judeus não estavam, desde a volta do cativeiro, cumprindo a determinação de guarda do sábado, tanto que participavam de compras e vendas neste dia, pois os gentios vinham até onde estavam os judeus para venderem suas mercadorias (Ne.10:31).
- A questão relativa à guarda do sábado e de um dia de guarda para Deus também é objeto de uma lição específica neste trimestre (lição 11), de modo que não nos deteremos aqui neste assunto.
- No entanto, é importante verificarmos, desde já, que o sábado representava uma aliança entre Deus e Israel, era (como até hoje o é) um caráter distintivo do relacionamento com Deus, uma marca que mostrava ao mundo que Israel era a “propriedade peculiar de Deus dentre os povos” (Ex.19:5).
- A circunstância, pois, de os judeus, desde que haviam voltado do cativeiro, deixarem de guardar o sábado por causa dos comerciantes dos povos das terras que vinham ao seu encontro para o comércio naquele dia, era uma nítida atitude de perda de identidade por causa dos povos que os cercavam.
- Também, nos dias hodiernos, não são poucos os que cristãos que se dizem ser que também estão a perder as suas características distintivas do seu relacionamento com Deus por causa dos “povos das terras” que, sorrateiramente, vêm perturbar o nosso relacionamento com Deus com as “coisas desta vida”.
- Tomemos cuidado, amados irmãos, para que não venhamos a perder aquilo que nos torna diferentes dos outros homens, aquilo que nos identifica com o Senhor Jesus, por causa da “sedução das riquezas e dos cuidados do mundo”, pois isto, certamente, fará com que venhamos a morrer espiritualmente, como nos ensina o Senhor Jesus na parábola do semeador (Mt.13:22).
IV – O TERCEIRO COMPROMISSO ESPECÍFICO ASSUMIDO: A GUARDA DO ANO SABÁTICO E DO JUBILEU
O terceiro compromisso específico assumido pelos judeus foi o de guardarem o “ano sabático”, ou seja, de “deixar livre o ano sétimo, e toda e qualquer cobrança” (Ne.10:31).
- Ao aceitarem cumprir a lei, os judeus sabiam que deveriam moldar as suas relações sociais de acordo com o prescrito e isto envolvia a “guarda do ano sabático”, que era o sétimo ano em que não deveria haver produção alguma na terra, que seria deixada para que a própria natureza produzisse, produção esta que era deixada à disposição dos pobres (Ex.23:10,11; Lv.25:1-7).
- O “ano sabático” não havia sido observado pelos judeus antes do cativeiro e este foi o motivo pelo qual o povo judeu ficou setenta anos fora de sua terra (II Cr.36:21; Jr.25:9-12). Assim, ao se comprometer especificamente com a guarda do “ano sabático”, os judeus estavam se comprometendo a não cometerem os mesmos erros do passado.
Como é importante, quando nos comprometemos com a Palavra de Deus, reconhecermos as nossas fraquezas e tomarmos a firme resolução de não repetir os erros do passado. A misericórdia divina está à nossa disposição, mas devemos ter um sincero e genuíno arrependimento, buscando mudar nossa vã maneira de viver que, por tradição, recebemos de nossos pais (I Pe.1:18). Lembremo-nos das palavras do Senhor seja àquela mulher adúltera — “Vai-te e não peques mais” (Jo.8:11 “in fine”); seja ao paralítico do tanque de Betesda — “Eis que já estás são; não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior.” (Jo.5:14 “in fine”).
- O “ano sabático”, ademais, era um compromisso que se assumia em amor ao próximo e para que houvesse justiça social. Por intermédio deste instituto, não se permitia que a ganância viesse a reger as relações entre os israelitas e que sempre se tivesse a convicção e certeza de que a fonte de toda bênção material é a nossa comunhão com Deus. A partir do momento em que se deixava a terra descansar e se deixasse à natureza a própria produção, era intensificada a fé de cada israelita no Senhor, além do que se entendia que toda terra pertencia a Deus, tanto que, neste ano, os pobres e os animais poderiam livremente se alimentar do que era produzido.
- Tinha-se, pois, uma demonstração não só de confiança em Deus, mas também de diminuição das diferenças entre ricos e pobres, impedindo o surgimento de uma desigualdade social crescente que somente traria problemas na sociedade, como, aliás, é que vemos em meio ao desenvolvimento do sistema capitalista em nossos dias.
- O “ano sabático” mostra-nos, com clareza, a vinculação que há entre o amor a Deus e o amor ao próximo, pois, em se confiando no Senhor e se deixando que o próprio Deus fornecesse o sustento durante um ano, também se permitia aos pobres da Terra que tivessem acesso a bens que, de ordinário, lhes eram vedados.

- O compromisso assumido pelos judeus na guarda do “ano sábatico” permite-nos observar que, nós, que somos o povo de Deus nesta dispensação, não podemos nos comprometer com a Palavra de Deus sem que nos compromissemos a fazer o bem, assim como o Senhor Jesus(At.10:38), inclusive propiciando melhores e dignas condições de vida a todos os pobres da Terra. Temos nos compromissado com a ação social? Ela faz parte de nosso compromisso com a Palavra de Deus!
- Mas, além do “ano sabático”, os judeus também se comprometeram em observar dois outros institutos da lei de Moisés: o “jubileu” e a “alforria do escravo hebreu no ano sétimo”. Quando o texto sagrado diz que os judeus se comprometeram “a deixar toda e qualquer cobrança” (Ne.10:31), estavam assumindo o compromisso de observar tanto o “ano jubileu” quanto a “alforria do escravo hebreu no ano sétimo”.
- O “ano do jubileu” era o quinquagésimo ano, no qual era apregoada liberdade na terra a todos os seus moradores e onde os judeus retornavam às suas possessões e cada um à sua família, ano em que também não era feito cultivo algum e onde tudo tornava à condição inicial da ocupação da terra, circunstância que fazia com que os acúmulos de capital em poder de alguns fosse neutralizado, impedindo-se, assim, a desigualdade social (Lv.25:8-55).
- O perdão das dívidas no ano jubileu, também, representava a impossibilidade de uma opressão de ricos sobre pobres, sendo, portanto, uma disposição que impedia a desigualdade social gritante e desmedida, como a que vemos em todos os países de nosso planeta na atualidade.
- A “alforria do escravo hebreu no ano sétimo” era outro instituto com que os judeus se comprometeram especificamente. Segundo a lei, os israelitas somente podiam ser escravizados por causa de dívidas e, mesmo assim, durante seis anos. No sétimo ano ou no ano do jubileu, deveriam ser necessariamente libertados pelos seus senhores (Ex.21:2; Lv.25:39-43).
- Esta prática também não tinha sido observada antes do cativeiro, como se verifica no livro do profeta Jeremias, quando se afirma que os escravos hebreus não eram alforriados no tempo de Zedequias (Jr.34:8-22), o que também não se estava a observar nos próprios dias de Neemias (Ne.5:1-13).
- Além da “alforria do escravo hebreu no ano sétimo” também era exigido que houvesse a remissão de todas as dívidas no “ano sabático” (Dt.15:1,2). Temos o que, na atualidade, denominamos de “prescrição”, que é a perda do direito de exigir a dívida depois de um certo tempo. Acima dos valores materiais, está a necessidade de termos comunhão uns com os outros para que, como povo de Deus, cumpramos a vontade do Senhor e sejamos motivos para sua glorificação diante dos homens.
O compromisso com a Palavra de Deus leva-nos, necessariamente, a um relacionamento social justo e equilibrado, onde a dignidade da pessoa humana, imagem e semelhança de Deus, esteja acima de todos os demais valores e princípios. Não há como sermos compromissados com a Palavra de Deus sem nos engajarmos numa atuação de justiça social e de dignificação da pessoa humana. Pensemos nisto e mudemos nosso comportamento diante de uma sociedade injusta e perversa como a que vivemos nestes dias.
V – O QUARTO COMPROMISSO ESPECIFÍCO ASSUMIDO: O SUSTENTO DO SERVIÇO PARA O SENHOR
O quarto compromisso específico assumido pelo povo judeu foi o de estabelecer preceitos pelos quais se impunham cada ano a terça parte de um siclo para o ministério da casa de Deus, o que correspondia a quatro gramas de prata.
OBS: Para se ter uma ideia de quanto isso representa hoje, observarmos que o grama de prata era cotado em R$ 1,804 (um real e oitocentos e quatro milésimos) em 10 out. 2011 no mercado internacional.
- Este verdadeiro “imposto para o templo” foi instituído pelos judeus para que houvesse condições de sustento do serviço do Templo, templo que já estava reconstruído há algumas décadas mas que, pelo que se verifica, carecia de sustento por parte do povo judeu.
- A lei havia estatuído que a tribo de Levi não teria herança no meio do povo, porque ela fora consagrada para o serviço do Senhor (Nm.3:12; 18:6-10), de modo que era necessário que todos os demais israelitas sustentassem a tribo de Levi, que estava integralmente dedicada ao trabalho do Senhor.
- Este sustento era feito mediante as ofertas que eram levadas ao Senhor, como também as primícias de tudo quanto fosse colhido (Nm.18:11-14).
- Além destas ofertas e das primícias, os israelitas também deveriam recolher os seus dízimos (Lv.27:30-32; Nm.18:21; Dt.14:22), que eram destinados ao sustento dos levitas, sendo certo que os levitas, também, deveriam dar “os dízimos dos dízimos”, que eram destinados ao sumo sacerdote (Nm.18:26-28), compromisso que foi assumido também pelos judeus naquele dia de arrependimento e confissão dos pecados (Ne.10:37,38).
- Nos dias de Neemias, tendo em vista que dez das tribos não mais existiam e que a área do país era menor, além da própria existência de uma servidão frente aos persas, foi estabelecido um imposto anual de uma terça parte dum siclo para o sustento do serviço do Templo, independentemente do prescrito na lei, com o que também os judeus se comprometeram (Ne.10:35-37).
Quem tem compromisso com a Palavra de Deus tem, como vemos, compromisso com o sustento do serviço da casa do Senhor. Na graça, embora não tenhamos mais todo o cerimonial previsto para a época da lei, temos, também, de nos preocupar com o sustento daqueles que se dedicam integralmente à obra do Senhor, como também de suas famílias. Trata-se de um elemento que deve ser levado em conta se é que queremos o crescimento da obra de Deus.
- A contribuição estatuída nos dias de Neemias era destinada para as despesas para a manutenção de todo o trabalho no templo como os pães da proposição, a contínua oferta de manjares, o contínuo holocausto dos sábados, das luas novas e para as festas solenes, para as coisas sagradas, para os sacrifícios pelo pecado, sem falar da lenha necessária para que se mantivesse aceso o fogo do altar (Ne.10:33,34). O objetivo era não desamparar a obra de Deus (Ne.10:39).
- As coisas consagradas para o sustento e manutenção dos levitas e do trabalho do Templo também serviam para o sustento e manutenção dos necessitados. Os dízimos, que eram recolhidos no ano terceiro, o “ano dos dízimos”, era destinado ao sustento não só dos levitas, mas também dos órfãos, necessitados, viúvas e estrangeiros (Dt.14:23). Era mais um dos instrumentos de ação social estatuídos na lei de Moisés.
- Notamos, portanto, que quem se compromete com a Palavra de Deus deve, também, comprometer-se com o sustento e a manutenção da obra de Deus, sustento e manutenção que envolve não só o sustento dos obreiros e de suas famílias, mas também o suporte de todas as despesas necessárias para a realização da obra do Senhor.
- Este princípio perdura na dispensação da graça. Quando vemos a igreja primitiva, nela notamos o empenho dos crentes para que houvesse a manutenção e o sustento daqueles que tinham se dedicado à obra de Deus (At.2:44-46; 6:1-3; Fp.2:25; 4:18; I Tm.5:18), como também o cuidado para que os pobres não passassem por necessidades que comprometessem a sua sobrevivência digna (II Co.8, 9).
- Não há qualquer fundamento para que se diga, como alguns, na atualidade, que não há qualquer necessidade de uma contribuição financeira na Igreja. O texto bíblico mostra, claramente, que devemos contribuir para a manutenção e sustento da obra de Deus e que esta obra envolve despesas e a necessidade de sustento daqueles que se dedicam integralmente a ela. Como se não bastasse isso, não podemos ter, na Igreja, qualquer necessitado, o que impõe a contribuição para que seja possível a ação social, não só entre os crentes, mas também em relação aos incrédulos, pois a ação social é parceira da evangelização.
- Em nossos dias, dias de “amor do dinheiro” (I Tm.6:10), vemos dois fenômenos totalmente inadmissíveis para o povo de Deus. Por primeiro, a “mercantilização da fé”, em que, aproveitando-se dos mandamentos bíblicos referentes à contribuição financeira, muitos estão a tornar as igrejas locais em verdadeiras “empresas religiosas”, onde há uma sede de arrecadação que tem em vista tão somente a formação de impérios empresariais travestidos de organizações ou empreendimentos eclesiásticos e a nutrição de uma vida nababesca de poucos, que não estão nem um pouco preocupados com a obra de Deus, que se fazem cercar de um sem-número de “parasitas”, aproveitadores das “migalhas” que caem das mesas destes “mercenários”.
- Por segundo, o “consumismo desenfreado”, que tem tomado conta dos corações de muitos crentes que direcionam os seus recursos para a satisfação de seus desejos e prazeres incontidos, com o desvio dos recursos que deveriam ser destinados à obra de Deus e que servem apenas para a satisfação dos interesses materiais e mundanos dos que cristãos se dizem ser e que fazem com que muito do que poderia ser utilizado na obra de Deus seja destinado para “mercenários” e para pessoas totalmente descompromissadas com o Evangelho.
Quando há compromisso com a Palavra de Deus, também comprometemos o nosso patrimônio com as “coisas de cima”, com aquilo que contribuirá para a salvação das almas e a glorificação do nome do Senhor. Pensemos nisto!
VI – O QUINTO COMPROMISSO ESPECÍFICO ASSUMIDO: A ENTREGA E RESGATE DOS PRIMOGÊNITOS AO SENHOR
O quinto compromisso assumido pelos judeus dizia respeito ao resgate dos primogênitos dos homens e dos animais imundos, que eram avaliados por cinco siclos de dinheiro, valor correspondente a sessenta gramas de prata, algo que constava já da lei de Moisés (Nm.18:15-17).
OBS: Conforme a cotação da prata no mercado internacional em 10 out. 2011, o resgate do primogênito custaria R$ 108,24 (cento e oito reais e vinte e quatro centavos).
- Na última praga sobre os egípcios, antes da libertação de Israel, Deus havia poupado os filhos primogênitos de Israel, motivo por que eles passaram a ser do Senhor, visto que o Senhor os havia poupado quando da passagem do anjo da morte (Ex.13:1,2,11-16). Quando da contagem do povo no deserto, o Senhor tomou para si a tribo de Levi em lugar dos primogênitos, sendo recolhida a diferença em prata para o serviço da obra do Senhor (Nm.3:45-51).
- Os primogênitos dos animais limpos eram sacrificados ao Senhor e a parte comestível deles era consumida pelos sacerdotes e levitas. Já os primogênitos dos homens e dos animais imundos eram resgatados, uma vez que não podiam ser sacrificados, pelo valor de sessenta gramas de prata. Entretanto, todos os primogênitos tinham de ser entregues ao Senhor, porque a Ele pertenciam.
- Temos aqui uma linda figura da lei para os dias da graça, onde devemos dar a primazia ao Senhor. Devemos buscar primeiramente ao reino de Deus e à sua justiça (Mt.6:33), não podendo viver de modo que a prioridade em nossas vidas seja o comer, o beber e o vestir.
Quem se compromete com a Palavra de Deus compromete-se em dar a prioridade às “coisas de cima” (Cl.3:1,2), até porque estamos mortos para o pecado (Rm.6:2; l.3:3), não podendo, pois, dar o primeiro lugar em nossas vidas às coisas passageiras deste mundo.
- Os judeus que haviam voltado do cativeiro não estavam a agir desta maneira. Já nos primeiros dias do retorno, quando eram governados por Zorobabel, haviam se preocupado apenas em si mesmos e não na obra de Deus, o que fez com que o Senhor lhes mandasse uma adversidade econômico-financeira para que se conscientizassem de que deveriam dar prioridade à obra do Senhor, naquela oportunidade, à reconstrução do templo (Ag.1:1-11). Agora, porém, prometiam solenemente modificar esta atitude, servindo a Deus de todo o seu coração.
- Em nossos dias, não tem sido diferente. Muitos estão extremamente preocupados com as “coisas desta vida”, envolvidos numa corrida desenfreada por posição social, fama, prosperidade material e se esquecem de que devem, em primeiro lugar, dedicar-se às “coisas de cima” e a edificar a obra do Senhor. Quais têm sido as nossas prioridades em nosso dia-a-dia?
Com a assunção deste compromisso, o povo estava já preparado para repovoar Jerusalém, pois havia ocorrido a conscientização como nação, o resgate da memória, o avivamento, o arrependimento e o compromisso de servir a Deus. Tinham-se cumprido as condições absolutamente necessárias para que Jerusalém fosse habitada por um povo autenticamente pertencente ao Senhor. Partia, pois, Neemias para mais uma etapa de seu governo. É o que veremos na próxima lição.
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco