LIÇÃO Nº 9 – A ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO RELIGIOSO


4º Trim. 2011 - Lição 9: A Organização do Serviço Religioso I
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
QUARTO TRIMESTRE DE 2011

TEMA –  Neemias – integridade e coragem em tempos de crise

COMENTARISTA :  Elinaldo Renovato de Lima

ESBOÇO Nº 9

                                                           Neemias não reedificou apenas os muros e portas de Jerusalém, mas também restaurou a adoração a Deus.
INTRODUÇÃO
- Na sequência de estudos do livro de Neemias, estudaremos hoje o capítulo 12, quando o governador restaura o culto de adoração a Deus.
O objetivo de Neemias não era tão somente reedificar Jerusalém e repovoá-la, mas tornar a fazer da cidade o centro de adoração do povo judeu ao Senhor.
I – NEEMIAS INICIA A EXECUÇÃO DA TERCEIRA PARTE DE SEU PLANO PARA JERUSALÉM: A RESTAURAÇÃO DO CULTO A DEUS
- Desde o início do estudo deste trimestre letivo, temos visto que Neemias era um exímio administrador pois, além de ser chamado por Deus para a restauração de seu povo, tudo fez com o devido planejamento. Desde o instante em que sentiu do Senhor a convicção de que deveria ser o instrumento do Senhor para a mudança da situação em Jerusalém, vemos Neemias cuidadosamente elaborando um plano para que a vontade do Senhor se fizesse.
- Um bom administrador deve, antes de mais nada, fazer o planejamento, uma etapa indispensável para que tenha êxito no exercício de suas tarefas. “…O planejamento é uma ferramenta administrativa, que possibilita perceber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro, estruturando o trâmite adequado e reavaliar todo o processo a que o planejamento se destina. Sendo, portanto, o lado racional da ação. Tratando-se de um processo de deliberação abstrato e explícito que escolhe e organiza ações, antecipando os resultados esperados. Esta deliberação busca alcançar, da melhor forma possível, alguns objetivos pré-definidos.…” (Planejamento. In: WIKIPÉDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Planejamento. Acesso em 18 out. 2011).
- O servo de Deus  (notadamente os líderes mas não somente eles) deve estar sempre sob a direção e orientação do Espírito Santo no seu dia-a-dia, mas não deve jamais se esquecer de que foi dotado de racionalidade pelo Senhor quando de sua criação e, desta maneira, tudo deve fazer com o devido planejamento, nada fazendo a esmo. É indispensável que tudo que façamos seja previamente planejado, projetado, para que alcancemos bom êxito. Evidentemente que todos os nossos planos devem ser submetidos ao Senhor, pois somos Seus servos, visto que “Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor, a resposta da boca” (Pv.16:1), texto que, porém, antes de infirmar, confirma a necessidade que tenhamos planejamento.
Neemias, em seu governo, mostrou que era um exímio planejador. Já quando conseguira a licença do rei Artaxerxes para ir a Jerusalém, mostrou que tinha tudo planejado, tanto que foi para Jerusalém munido do necessário para que pudesse realizar o seu trabalho, como materiais e cartas aos governadores dalém do rio. Ao chegar à cidade, foi verificar a situação existente e, depois, revelou seus projetos ao povo e obteve seu consentimento, iniciando tudo pela reedificação dos muros e das portas de Jerusalém.

- Realizado o trabalho da reedificação dos muros e das portas em cinquenta e dois dias, iniciou todo o processo para o repovoamento da cidade, processo este que, como vimos, começou pelo resgate da memória e da conscientização da identidade do povo judeu como povo de Deus, passando pelo avivamento, arrependimento, confissão e abandono do pecado, para, então, com um povo qualitativamente diferente daquele encontrado na sua chegada, pudesse fazer o repovoamento da capital, inclusive dando prioridade aos que voluntariamente se decidiam por morar em Jerusalém.
- Terminada esta fase do repovoamento, Neemias, então, dá seguimento a seu plano, mediante a conscientização daquele povo que passava a compor a população de Jerusalém, de que não eram eles meros habitantes e ocupantes de um espaço geográfico, mas que, sendo, como agora o eram, moradores de Jerusalém, deviam estar cônscios de que deveriam ser os primeiros a adorar a Deus no meio do povo de Judá.

- Jerusalém não era para ser apenas a principal cidade do ponto-de-vista social, político ou administrativo, mas, notadamente, deveria ser o centro religioso da nação, pois, afinal de contas, era ali que Deus havia escolhido para Se fazer presente no meio do Seu povo (Dt.12:5,14), era ali que estava o Templo, o centro da adoração a Deus naqueles dias.
Já no repovoamento da cidade, Neemias tomou o cuidado de criar as condições para que Jerusalém fosse o centro de adoração a Deus, não somente pela localização do Templo ali, mas para que todos os seus habitantes participassem deste culto ao Senhor. Assim, tomou o cuidado de que os sacerdotes e levitas habitassem preferencialmente em Jerusalém, sendo, inclusive, constituído superintendente sobre eles a Uzi, filho de Bani, filho de Hasabias, filho de Matanias, filho de Mica (Ne.11:22), que era um dos descendentes dos “filhos de Asafe”, os cantores que haviam sido postos a serviço da casa de Deus desde os dias de Davi (I Cr.25:1), tendo-lhes instituído uma porção por ordem do rei (Ne.11:23), ordem que teve, certamente, origem em sugestão do próprio Neemias, a nos mostrar que, desde antes de sair de Susã, o governador já tinha em mente a restauração do culto ao Senhor.
- Em mais uma demonstração de que Neemias visava, agora em sua nova etapa de governo, a restauração do culto a Deus, temos que, em seu livro, há a transcrição da lista dos sacerdotes e levitas que retornaram do cativeiro com Zorobabel (Ne.12:1-26). Neemias procedia, agora com os sacerdotes e levitas, da mesma forma que procedera com o restante do povo – havia a necessidade do resgate da memória e da conscientização de sacerdotes e levitas de seu papel no meio do povo de Judá. Os sacerdotes e levitas deveriam ter consciência de que haviam sido chamados por Deus para o serviço de adoração, de que tinham sido escolhido pelo Senhor para efetuarem aquele trabalho de grande importância para todo o povo.
Neemias fez questão de rememorar os sacerdotes e os levitas de que todos descendiam da tribo de Levi, que havia sido escolhida por Deus para fazer o Seu serviço diante do povo de Israel em lugar dos primogênitos, que passaram a pertencer ao Senhor desde o momento da libertação do povo no Egito (Nm.3:13,41). Por isso, quando da volta do cativeiro, Zorobabel, então o governador, fez questão de listar todos os levitas que haviam retornado, entre eles, os sacerdotes, que eram os descendentes de Arão (Ex.28:1-3). Assim, se todo sacerdote era levita, nem todo levita era sacerdote.
- Ao fazer este resgate da memória e dar consciência aos sacerdotes e levitas de seu papel no meio do povo, Neemias queria, em primeiro lugar, mostrar-lhes que eles ali estavam não porque o quisessem, mas porque Deus o havia querido, de tal sorte que deveriam estar cônscios de que haviam sido escolhidos e que isto era um verdadeiro privilégio.
- Do mesmo modo, nós, os salvos, que somos os sacerdotes desta dispensação (I Pe.2:9; Ap.1:6), não podemos nos esquecer que também fomos escolhidos e não escolhemos ao Senhor (Jo.15:16) e que, por isso, por termos sido escolhidos, não podemos fazer o que queremos, mas aquilo para o que o Senhor nos chamou. Quando temos esta consciência, nossa conduta será completamente diferente e seremos exitosos e ricamente abençoados por Deus.
- Na relação dos levitas e sacerdotes do tempo do cativeiro, Neemias fez questão de acrescentar aqueles que trabalhavam nos seus dias. Assim, o governador mostrava que tudo não passava de uma continuidade e que todos deveriam manter a tradição de seus pais, permanecendo no serviço ao Senhor. Assim, foram inscritos na relação os levitas nos dias de Eliasibe, que era o sumo sacerdote dos dias de Neemias : Joiada, Joanã e Jadua (Ne.12:22).
- Estes três chefes dos levitas tinham nomes muito elucidativos e instrutivos. “Joiada” significa “Deus conhece”; “Joanã”, “Deus é gracioso” e “Jadua”, “conhecido”. Os nomes dos três chefes dos levitas neste momento de restauração do serviço religioso de Jerusalém revela-nos que Deus conhece todo aquele que se põe a Seu serviço, que todo que trabalha na obra de Deus é conhecido por Ele e que somente podemos fazer a obra de Deus pela Sua graça. Temos esta consciência, amados irmãos? Estamos a fazer a obra de Deus conscientes de que Deus tudo conhece e que nossas obras são conhecidas por Ele e que nada poderemos fazer a não ser pela Sua graça?
- Esta é uma realidade de que não podemos escapar. Muitos estão a fazer a obra do Senhor relaxadamente (Jr.48:10 ARA), achando que ninguém o está percebendo. Outros, ainda, fazem a obra de Deus apenas como pretexto para seu próprio engrandecimento, para a sua própria vaidade. Esquecem-se estes, porém, que são “conhecidos” de Deus, que o Senhor tudo conhece e que nada se faz sem a graça do Senhor. Por isso, no tribunal de Cristo, a obra de cada se revelará e saberemos, perfeitamente, quem fez algo que tenha tido proveito (I Co.3:13). A Deus ninguém engana, amados irmãos!
Outra importante iniciativa de Neemias neste resgate de memória e conscientização foi o estabelecimento de uma prática. Com efeito, a inscrição dos filhos de Levi nestes livros foi mantida até os dias de Joanã, o filho de Eliasibe (Ne.12:23) e que, como tal, sucedeu a seu pai no sumo sacerdócio. Vemos, pois, que o resgate da memória não foi uma atitude episódica, mas uma prática que se estendeu até a geração seguinte. A conscientização não se deve limitar, pois, apenas à lembrança do passado, mas deve prosseguir em relação ao futuro. Que bom será se, quando chegamos ao centenário das Assembleias de Deus, possamos, como a geração do centenário, fazer com que a consciência do que significa servir a Deus prosseguir pelas gerações futuras se o Senhor demorar ainda para arrebatar a Sua Igreja!
- Mas, para que a geração seguinte tenha podido manter o resgate da memória e a consciência obtidas por Neemias, foi fundamental que se mantivesse a Palavra de Deus como regra para aquele povo que era conscientizado no presente. A Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25) e, por isso, para que o povo se mantenha nela, faz-se preciso o resgate do passado e o ensino no presente, para que se mantenha a fidelidade no futuro.
- O fato de se ter mantido nos dias de Joanã a busca da conscientização obtida nos dias de Neemias está na circunstância de que os chefes dos levitas (Hasabias, Serebias e Jesua, filho de Cadmiel), além de seus irmãos terem estudado detidamente as Escrituras e procurado segui-las integralmente, tanto que louvavam e davam graças segundo o mandado de Davi, o homem de Deus (Ne.12:24).
- Os chefes dos levitas nominalmente mencionados na relação que se acresceu a de Zorobabel honravam a tradição dos pais, tudo fazendo consoante havia sido estabelecido por Davi ainda antes da construção do templo, pois foi Davi quem organizou todo o serviço religioso do templo, como se vê nos capítulos 23 a 27 de I Crônicas. Eles eram entendidos na lei do Senhor (Ed.8:18,19; Ne.8:7), piedosos e adoradores do Senhor (Ne.9:4,5) e que, por isso mesmo, não permitiam que se criassem “inovações” ou “invenções” na adoração a Deus.
- Nos dias em que vivemos, precisamos de pessoas deste porte na casa do Senhor, pessoas que sejam entendidas nas Escrituras, que tenham uma vida espiritual sincera e de intimidade com Deus, sem o que não poderemos levar o povo a cultuar corretamente. Necessitamos de Hasabias, Serebias e Jesuas em nosso meio, que está cada vez mais infestado de “inventores de males” (Rm.1:30), que tanto prejuízo têm causado ao povo de Deus.
- Os nomes destes chefes de levitas que mantiveram a pureza do culto a Deus nos dias de Neemias também são elucidativos. “Hasabias” significa “Deus estimou”; “Serebias”, “Deus fez tremor” e “Jesua”, “Deus é salvação”, sendo este “Jesua”, filho de “Cadmiel”, que significa “Deus é desde o princípio”. Notamos, pelos nomes destes chefes dos levitas, que o culto a Deus deve ser tal que, por primeiro, seja “estimado por Deus”, ou seja, seja um culto que agrade ao Senhor, que suba como “cheiro suave” à presença de Deus, algo que nem sempre ocorre, como podemos verificar nas palavras do profeta Isaías, nos dias de Uzias (Is.1:11-15).
- Por segundo, vemos que o culto que agrada a Deus é um culto em que “Deus fez tremor”. Nos dias em que vivemos, em vez de sentirmos o tremor de Deus, a operação poderosa do Senhor no meio do Seu povo, o que temos constatado, com tristeza, é a manifestação da carne, do emocionalismo barato, que não traz qualquer edificação espiritual. Quando, porém, voltarmos à Bíblia Sagrada, quando nos portarmos segundo o modelo estabelecido por Deus em Sua Palavra, sem dúvida alguma, teremos, novamente, o “tremor divino” em nossas reuniões.
- Por terceiro, o culto que agrada a Deus mostra-nos que “Deus é salvação e é desde o princípio”. Quando mantemos o modelo bíblico no culto ao Senhor, temos, como resultado, a salvação das almas, a libertação do pecado, a renovação espiritual, a santificação do povo e o Senhor mostra que não mudou, salvando, curando, libertando, batizando com o Espírito Santo e preparando um povo para levar ao céu. Quais tem sido as consequências de nossas reuniões? Tem havido transformação de vidas? Tem havido edificação espiritual? Tem havido cura divina? Tem havido sinais e maravilhas?
- Na relação dos sacerdotes e levitas, Neemias também não deixou de incluir os guardas e os porteiros, que faziam a segurança tanto das tesourarias quanto das portas (Matanias, Baquebuquias. Obadias, Mesulão, Talmom e Acube), pessoas que serviram tanto nos dias de Joiaquim, filho de Jesua, o filho de Jozadaque, como também nos dias de Neemias, o governador e do sacerdote Esdras, o escriba (Ne.12:26).
- Ao relacionar estes homens, Neemias fez questão de mostrar que aqueles homens, incumbidos da guarda e da segurança do templo, eram de confiança, tanto que, apesar de terem iniciado seu serviço diante do sumo sacerdote Joiaquim, o segundo sumo sacerdote depois do cativeiro, que foi o pai de Eliasibe, o sumo sacerdote dos dias de Neemias e de Esdras, foram mantidos em suas funções. O mérito deve ser o critério para a escolha dos auxiliares. É com tristeza que vemos um mau costume dos dirigentes na casa do Senhor de mudarem todas as pessoas que serviam ao antecessor, sem antes avaliar se se trata, ou não, de pessoas dignas de confiança. Lembremos que a obra é de Deus e não dos homens.
- Nesta menção aos porteiros e guardas, vemos que Neemias também tinha o cuidado de mostrar que o trabalho referente aos tesouros da casa de Deus tinha o mesmo caráter sagrado dos demais serviços. Nunca podemos nos esquecer que as finanças da casa do Senhor devem ser cuidadas com toda reverência, pois tais recursos, embora devam ser utilizados para as coisas desta vida, nem por isso deixam de ser sagrados. Nossa atitude para com os recursos financeiros da Igreja deve ser a mesma que teve o apóstolo Paulo, que nos dá preciosos ensinos de como devemos nos portar neste assunto nos capítulos 8 e 9 de II Coríntios.
OBS: Sobre o assunto, sugerimos a leitura do artigo “Paulo e a questão da contribuição financeira em Corinto” de nossa autoria no Portal Escola Dominical, disponível em: http://www.portalebd.org.br/principal/estudos-biblicos/item/478-paulo-e-a-questão-da-contribuição-financeira-em-corinto).
II – NEEMIAS FAZ A DEDICAÇÃO DOS MUROS DE JERUSALÉM
Depois de ter feito o resgate da memória e a conscientização de sacerdotes e levitas sobre o seu papel no povo de Judá, Neemias, então, organiza o serviço religioso, fazendo a dedicação dos muros de Jerusalém.
- Ao determinar a realização da dedicação dos muros de Jerusalém, Neemias faz como que uma consagração de Jerusalém a Deus. Não apenas o templo, que era a casa de Deus, devia ser consagrada ao Senhor, mas toda a cidade, pois ali Deus escolhera estar presente. Além do mais, os muros haviam sido reedificados por obra do próprio Deus (Ne.6:16), em virtude da prosperidade vinda diretamente de Deus (Ne.2:20) e, assim, nada mais justo do que se dedicarem os muros ao Senhor, de forma a se reconhecer a soberania divina e de ser grato ao Senhor por aquela grande vitória.
- Muitos dos que cristãos se dizem ser não procedem deste modo. Durante as dificuldades e adversidades, clamam a Deus, buscam ao Senhor intensamente, mas, quando a vitória chega, esquecem-se de ser gratos a Ele e de renderem toda glória Àquele que foi o responsável pelo êxito alcançado. A estes ingratos, lembremos que o Senhor está a ver tudo, e, assim como fez com os leprosos que não voltaram para agradecer-Lhe a bênção, está a perguntar onde estão (Lc.17:17). Tomemos cuidado, amados irmãos, e sigamos o conselho do apóstolo Paulo, sendo agradecidos a Deus por tudo (Cl.3:15).
- Neemias, por primeiro, mandou buscar todos os levitas de todos os lugares para que participassem da festa da dedicação dos muros (Ne.12:27), tendo vindo os filhos dos cantores tanto da campina dos arredores de Jerusalém, como das aldeias dos netofatitas, local situado perto de Belém de Judá (I Cr.9:16; Ed.2:22), como também da casa de Gilgal, dos campos de Geba e Azmavete (Ne.12:29). Mais uma vez, Neemias dá mostra de ser um grande líder, querendo o envolvimento de todos os levitas naquela festividade, tanto os que haviam ido morar em Jerusalém, quanto os que haviam ido morar em outras cidades (Ne.11:36).
- Neemias mostra-nos, também, que o culto a Deus deve envolver todo o povo, indistintamente. O que temos observado, atualmente, é que, cada vez mais, as reuniões das igrejas locais está perdendo esta característica, que é a de que o culto é feito por todos, não por alguns apenas. Os cultos estão se tornando “espetáculos”, onde há dois grupos de pessoas: os “participantes”, que, muitas vezes, realizam seus “shows”, “exibições” e “apresentações”, e os “assistentes”, aqueles que apenas acompanham, assistem às referidas apresentações. Nada menos bíblico! O culto deve ser feito por todos os presentes. Não vamos a uma reunião para vermos outros cultuarem a Deus, mas para apresentarmos o nosso culto ao Senhor. Neemias tinha esta consciência e, por isso, mandou buscar todos os levitas de todos os seus lugares para fazerem a dedicação com alegria, e com louvores, e com canto, saltérios, alaúdes e com harpas.
Todos os levitas vieram a Jerusalém para fazerem a dedicação dos muros. A dedicação deveria ser feita, em primeiro lugar, “com alegria”. Não é possível cultuarmos a Deus sem alegria. Davi, no primeiro cântico dos degraus de sua autoria, é bem claro ao nos indicar quando deve começar nossa alegria, a saber: quando nos disserem que devemos ir à casa do Senhor (Sl.122:1).
- Temos de ter alegria já no instante mesmo em que vamos para a reunião de adoração ao Senhor. Temos de expressar a nossa gratidão pela graça e misericórdia do Senhor que nos libertou do pecado e nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3). Chegando ao local da reunião, ali devemos também expressar nossa alegria, por podermos ali estar e ter condições de apresentar a Deus o nosso culto racional, que é o sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1).
- Preocupa-nos contemplar, na atualidade, muitos que cristãos se dizem ser demonstrar enfado e automatismo nas reuniões de adoração. Estão ali como que cumprindo apenas uma obrigação, não deixando de olhar seguidamente para o relógio, querendo dali sair o mais rápido possível, embora não tenham tido pressa para ali chegar (hoje em dia, aliás, temos verificado que há verdadeiros “turnos” na chegada aos cultos: nenhuma pressa para chegar e pressa para que o culto acabe). Isto é uma demonstração de falta de comunhão com Deus, de falta de alegria em servir ao Senhor. Será que não temos o mesmo prazer manifestado por Davi no Salmo 122? Não devemos nos apressar para sair da presença de Deus (Ec.8:3).
Além de alegria, os levitas deveriam fazer a dedicação dos muros com louvores, e com canto, saltérios, alaúdes e com harpas. A música faz parte do louvor, mas o louvor não se resume à música. Vemos aqui, claramente, esta realidade, pois os levitas deveriam louvar, além de cantar e tocar instrumentos. O louvor é uma atitude de reconhecimento da soberania divina, que pode se expressar através da música.
- Observemos que os louvores, o canto e os instrumentos deveriam seguir o “mandado de Davi, homem de Deus” (Ne.12:24), repetindo-se aqui o que já se observara na rededicação do primeiro templo nos dias de Ezequias, quando os levitas na casa do Senhor foram postos “com címbalos, com alaúdes e com harpas, conforme o mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mando veio do Senhor, por mão de seus profetas” (II Cr.29:25), escrito, aliás, que a tradição judaica diz ter sido feito por Esdras. Os cantores foram instruídos para fazerem como havia sido determinado nos dias de Davi e de Salomão (Ne.12:45).
- O verdadeiro louvor, canto e técnica instrumental na Igreja devem seguir o que se encontra na Bíblia Sagrada, deve ser fruto de uma verdadeira direção do Espírito Santo, algo que provenha de Deus e não dos homens. Séculos depois da organização do serviço musical no primeiro templo, o povo de Judá mantinha as mesmas diretrizes e princípios estabelecidos pelo Senhor nos dias de Davi, sem “inovações” ou “novidades”, visto que a Palavra de Deus permanece para sempre, é imutável, atemporal.
- Em nossos dias, infelizmente, esta pureza não mais se encontra em nossos louvores, canto e técnica instrumental em nossas reuniões. Temos permitido o ingresso de ritmos, instrumentos e cantos que não são sacros, que não foram criados para louvar e bendizer o nome do Senhor, mas, pelo contrário, foram criados para a música profana, a música que mexe com o corpo, que estimula a sensualidade, quando não provoca a perturbação nervosa e mental das pessoas. O resultado é a perda da espiritualidade em nossas reuniões, muitas das quais não podem sequer ser chamadas de cultos, pois não passam de ajuntamentos, de “shows”, de “bailes”, enfim, de abominações aos olhos do Senhor. Fujamos disto enquanto é tempo!
- Assim que chamados, estes levitas cantores demonstraram que eram dedicados ao trabalho do Senhor, pois se deslocaram de suas cidades e aldeias de origens e vieram a Jerusalém, onde edificaram para si aldeias em redor da cidade (Ne.12:29). Por que o fizeram? Porque, devidamente conscientizados de seu papel, decidiram ficar à inteira disposição para participar da festividade. Temos tido este mesmo espírito nos que se dedicam à música na casa do Senhor? Têm eles reservado parte de seu tempo no seu dia-a-dia para se aprimorarem na técnica musical? Têm eles participado de ensaios para as apresentações nas reuniões? Têm eles dedicado tempo para a vida devocional para realmente louvarem a Deus e não somente se apresentarem?
- Além de se porem à disposição dos organizadores do evento, edificando para si aldeias ao redor de Jerusalém, os levitas cantores, juntamente com os demais levitas (pois levita não é apenas cantor, como se diz equivocadamente nos dias hodiernos) e os sacerdotes, antes da festividade, purificaram-se e purificaram o povo (Ne.12:30).
Não podemos cultuar a Deus se não estivermos devidamente purificados, o que não significa participarmos de cerimônias de lavagem ritual física de nossos corpos, como faziam os fariseus nos dias de Jesus e fazem até hoje os muçulmanos. A purificação que se exige de cada servo de Deus para apresentar seu culto a Deus é a purificação espiritual, pois o Pai está à procura de adoradores que O adorem em espírito e em verdade, como ensinou Jesus à mulher samaritana (Jo.4:23).
- Um dos grandes males da atualidade é a falta de consideração da necessidade de que, para cultuar a Deus, precisamos ofertar a Ele um sacrifício vivo, santo e agradável ao Senhor. O culto racional exige que ofertemos a Deus algo vivo, santo e agradável, ou seja, devemos, antes de mais nada, estarmos limpos dos nossos pecados, sermos devidamente purificados pelo sangue de Jesus (I Jo.1:7).
- Para que isto ocorra, porém, faz-se preciso que “andemos na luz como Ele na luz está”. Sem que tenhamos uma vida de separação do pecado, uma vida de imitação de Cristo (I Co.11:1; I Pe.2:21), jamais poderemos cultuar a Deus corretamente. Faz-se preciso que nos purifiquemos antes de nos apresentarmos diante do Senhor e muito do que se verifica nos dias difíceis em que vivemos é a falta de purificação do povo de Deus, motivo pelo qual seus ajuntamentos, em vez de produzirem agrado de Deus, são causa de abominação, como ocorria, como já dissemos, nos dias de Isaías.
Nosso culto a Deus começa com a nossa santificação, com a nossa separação do pecado, com o nosso “andar na luz”. Este “andar na luz” produz a “comunhão recíproca entre os irmãos” e o resultado disto é que somos purificados pelo sangue de Cristo e, assim, temos condição de oferecer um sacrifício vivo (pois não temos mais pecado, cujo salário é a morte – Rm.6:23), santo (pois estaremos separados do pecado) e agradável a Deus (pois, assim, Deus Se agradará de nós).
- Não apenas os levitas e sacerdotes se purificaram, como também purificaram o povo, como também as portas e o muro (Ne.12:30). Verdade que estamos diante de um evento ocorrido durante a lei, quando havia uma distinção entre sacerdotes e o restante do povo, o que não ocorre na graça, onde todos são sacerdotes. No entanto, temos os ministros, aqueles que devem servir o povo, que também precisam de purificação e, como estão à frente do povo, devem levar o povo a também se purificar. Lamentavelmente, os púlpitos, muitas vezes, são o primeiro local em que há abominação, numa verdadeira “abominação da desolação” mencionada pelo profeta Daniel. Tomemos cuidados, amados irmãos!
- Também por estar no tempo da lei, efetuou-se a purificação das portas e dos muros, seguindo-se todos os rituais de limpeza existentes naquela época. Hoje em dia, não falamos mais de purificação física, mas é inegável que tudo quanto utilizarmos para servir a Deus deve ser devidamente dedicado e mantido para que façamos o melhor para Deus. Não há a menor possibilidade de usarmos utensílios, instrumentos e demais objetos para servir a Deus se eles são dedicados a tarefas que não agradam a Deus. Tudo o que nos pertence deve servir à adoração ao Senhor. Por isso, não podemos, de modo algum, nos utilizar de coisas que não agradam a Deus para Lhe prestar culto, como, infelizmente, muitos estão a fazer, como, v.g., usando de instrumentos musicais criados para cultos demoníacos e satânicos. Os instrumentos utilizados na dedicação dos muros eram os “instrumentos músicos de Davi, homem de Deus” (Ne.12:36). Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Tomadas as devidas cautelas e precauções para que se fizesse a dedicação dos muros, Neemias, como sempre, mandou que os príncipes de Judá estivessem à frente das procissões, tendo Neemias mandado que se formassem dois grupos, que deveriam dar a volta na cidade, em sentidos opostos, reunindo-se diante do Templo para a realização do culto. Um dos grupos era liderado pelo próprio Neemias (Ne.12:40) e o outro, por Esdras (Ne.12:36).
Neemias foi o primeiro a se dispor a participar das procissões, ficando à frente de um dos grupos, enquanto que Esdras, o encarregado do ensino da lei para o povo, ficava à frente do outro. Os líderes devem ser os primeiros a demonstrar alegria e satisfação na adoração a Deus, bem como envolvimento na obra do Senhor. A exemplo de Jesus, devem começar não só a fazer mas a ensinar (At.1:1).
- Um dos grupos começou a procissão à mão direita da porta do monturo, ou seja, iniciou seu curso a partir da porta do lixo, ou seja, dando as costas ao lixo, numa bela figura do que devemos fazer para cultuar a Deus, ou seja, dar as costas ao embaraço e ao pecado que tão de perto nos rodeia neste mundo (Hb.12:1). Temos abandonado o pecado para servir a Deus?
- Após os príncipes, deste grupo liderado por Esdras, ia Hosaías, cujo nome significa “Deus ajuda, ou libertado pelo Senhor”. Somente podemos dar as costas ao pecado, quando somos ajudados e libertados por Deus. Não temos condição de, por nós mesmos, de nos salvarmos a nós mesmos, mas quando o Filho nos liberta, verdadeiramente somos livres (Jo.8:36). Não há como iniciarmos nossa jornada de adoração a Deus se não formos libertados do pecado. Pensemos nisto!
- O grupo liderado por Esdras, partindo da porta do monturo, que simboliza a santificação, foram para a porta da fonte, que é a porta que simboliza as bênçãos decorrentes da salvação, inclusive a plenitude do Espírito Santo, subiram as escadas da cidade de Davi pela subida do muro, como a nos indicar que, tendo uma vida de santificação e de plenitude do Espírito, podemos subir a “escada” que é a vida espiritual, sempre aumentando nossa intimidade para com Deus, chegaram então à porta das águas, a nos revelar que não há como subirmos espiritualmente a não ser por intermédio da água que é a Palavra de Deus (Ne.12:37).
- Já o grupo liderado por Neemias partiu da torre dos fornos até a muralha larga (Ne.12:38), dando-nos um outro aspecto da vida espiritual, qual seja, o de que temos de partir nossa jornada nos alimentando da Palavra de Deus, pois a torre dos fornos era o local onde eram feitos os pães que abasteciam a cidade. Como disse Jesus, a sobrevivência espiritual está vinculada à nossa alimentação pela Palavra (Mt.4:4). Dali foram até a “muralha larga”, a nos demonstrar que o abastecimento espiritual pela Palavra nos dá fortaleza espiritual.
- Em seguida, passaram pela porta de Efraim ou porta velha (Ne.12:39), que simboliza o acúmulo de conhecimentos de Deus ao longo dos anos, que simboliza a vida lastreada na doutrina, que deve gotejar continuamente em nossa vida (Dt.32:2), até a porta do peixe, que simboliza o serviço que devemos ter na casa de Deus, em especial, a proclamação do Evangelho, já que somos “pescadores de homens”. Sem que estejamos firmados na doutrina, sem que conheçamos ao Senhor, não temos condição alguma de transmitirmos a Palavra aos outros, de anunciarmos Cristo aos que precisam da salvação.
- Após passarem pela porta do peixe, o grupo liderado por Neemias foi até a torre de Hananel, a “torre da graça”, a nos mostrar que somente podemos fazer eficazmente o serviço do Senhor se formos fortificados na graça que há em Cristo Jesus (II Tm.2:1), como também passaram pela torre de Meá, a “torre dos cem”, que nos mostra tanto que não devemos nos distanciar de Jesus Cristo, pois este nome da terra poderia indicar que ela estava a apenas cem côvados da porta das ovelhas, quanto que temos de estar totalmente separados do pecado, pois este nome também poderia indicar que a torre era alta, tinha cem côvados de altura, a fim de que se tivesse ampla visão do que estava do lado de fora dos muros, indicando a necessidade de termos constante vigilância em nossa vida espiritual (Mc.13:37).
- Em seguida, o grupo liderado por Neemias passou pela porta do gado ou porta das ovelhas, onde os animais eram levados para ser sacrificados e se deteve à porta da prisão, ou seja, não propriamente uma porta da cidade, mas a entrada de onde se ia até o pátio da prisão, que ficava junto à fortaleza da cidade de Davi.
O ponto de encontro dos dois grupos foi na casa de Deus (Ne.12:40), a mostrar que deve haver um lugar de encontro para que o povo de Deus possa adorar ao Senhor. Embora estejamos no tempo da lei, onde havia um lugar específico para a oferta de sacrifícios ao Senhor, que era o Templo, o que inocorre nos dias da graça, não podemos negligenciar que deve, sempre, haver um local em que a igreja local deva se reunir. A ideia de que a construção de templos é uma influência pagã na história da Igreja, defendida hoje por alguns movimentos, não tem respaldo bíblico, vez que se deve sempre ter um lugar em que o povo possa se reunir para adorar a Deus.
- Os sacerdotes e levitas que acompanhavam os dois grupos, chegando a casa de Deus, continuaram a louvar ao Senhor, como o fizeram durante a procissão, tendo, também, louvado ao Senhor com trombetas diante do Templo. Ofereceram, também, sacrifícios, que Neemias diz que foram “grandes sacrifícios”, tudo fazendo com alegria.
- A alegria era a nota característica daquela reunião. Não só os sacerdotes se alegraram na oferta dos sacrifícios, como também todos os que ali estavam, inclusive as mulheres e crianças, “de modo que a alegria de Jerusalém se ouviu até de longe” (Ne.12:43). Quais têm sido os sentimentos que externamos em nossos cultos em nossas igrejas locais? O que os nossos vizinhos e os que passam diante de nossos cultos enquanto estão eles se realizados têm visto? Somos apenas perturbadores de barulho e do sossego de nossos vizinhos, ou temos revelado a eles uma “alegria que se ouve até de longe”? Pensemos nisto!
Esta alegria tão marcante não dispensava a reverência que se tinha na realização daquela festividade. Todos se apresentaram diante de Deus com decência, após a devida purificação, tendo seguido uma ordem tanto na procissão, quanto no momento em que se fizeram os sacrifícios e se entoaram louvores no templo.
- A reverência é uma atitude que sempre deve estar presente no culto a Deus. Não é possível que cultuemos a Deus sem reconhecer a Sua soberania, o Seu senhorio e, portanto, de nos portarmos diante d’Ele com todo respeito, consideração e obediência.
- Nos louvores, já durante a procissão, é mencionado por Neemias que os instrumentos músicos eram de Davi, homem de Deus, a demonstrar que se estava seguindo tudo quanto havia sido revelado não só a Davi, mas a Gade e Natã, profetas que receberam juntamente com Davi as instruções para o serviço do templo.
- Os louvores foram entoados durante a procissão, mas ninguém ofereceu sacrifícios fora do templo, pois era esta a orientação dada por Deus (Dt.12:14). O culto que fazemos a Deus deve seguir a ordem determinada pelo Senhor, constante de Sua Palavra, e não a vontade dos homens, como, lamentavelmente, tem sido a tônica em diversas ocasiões.
- Estamos na graça, não mais na lei e, por causa disso, não devemos seguir o ritual estabelecido pela lei, até porque não mais necessitamos fazer sacrifícios pelo pecado, pois Jesus já fez o sacrifício definitivo na cruz do Calvário (Hb.9:11-14; 10:12). Entretanto, não é pelo fato de estarmos na graça que não devemos ter ordem em nossos cultos.
- O apóstolo Paulo mostra-nos, claramente, que o culto a Deus em nossa dispensação deve ter uma ordenação, pois todos devemos, quando nos ajuntamos, ter salmo, doutrina, revelação, língua e edificação, tudo fazendo para edificação (I Co.14:26). Isto exige de nós que cheguemos às nossas reuniões já devidamente preparados, em reverência ao Senhor e em plena comunhão com Ele para que possamos ser portadores da mensagem divina, como também de louvor ao nome do Senhor. Temos feito isto, ou estamos na ilusão de que vamos à presença de Deus tão somente para “receber”?
- Somente podemos oferecer um culto a Deus se não nos conformarmos com este mundo e nos transformarmos pela renovação do nosso entendimento, a fim de que possamos experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:2). Como podemos dizer que estamos a cultuar a Deus se não nos apresentamos perante Ele com a mente de Cristo, como homens espirituais (I Co.2:12-16), se não abandonamos a vida pecaminosa?
III – NEEMIAS REORGANIZA O SERVIÇO DO TEMPLO
- Depois da oferta dos sacrifícios e dos louvores ao Senhor, Neemias aproveitou a ocasião para, no mesmo dia, nomear homens sobre as câmaras, para os tesouros, para as ofertas alçadas, para as primícias e para os dízimos, para ajuntarem nelas, das terras das cidades, as porções designadas pela lei para os sacerdotes e para os levitas (Ne.12:44).
- O que se verifica, pois, é que, após ter sido feito o culto a Deus, que tinha a devida prioridade, Neemias tratou de organizar a parte administrativa do templo, a fim de que as contribuições, com o que os judeus haviam se comprometido, fossem bem cuidadas e servissem ao propósito para que haveriam de ser recolhidas, ou seja, para a manutenção do sustento dos envolvidos no serviço do Templo e para o cuidado do necessitado, como prescrevia a lei de Moisés.
Um outro importante processo na administração é a organização. “Em sentido geral organização é o modo em que se organiza um sistema, segundo a conhecida sigla usada em administração, POCCC, atribuída a Fayol [um dos teóricos clássicos da ciência da administração, francês, 1841-1925 – observação nossa]  é do Planejamento (o "P" da sigla), que se atinge à Organização (o "O", da sigla) e a desenvolve pelas diversas categorias de "Com - mando" e/ou "mando - com", segundo Fayol, facilitando, dessa forma, pela consecução dos diversos objetivos dessa organização, o alcance final de um objetivo fim, que é o cerne da organização. É a forma escolhida para arranjar, dispor ou classificar os diversos objetos, documentos e informações, bem como sua necessária contabilidade, através do CONTROLE…” (Organização. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o Acesso em 18 out. 2011).
- Neemias havia planejado a restauração do serviço do templo, pois o templo, embora já estivesse edificado desde os tempos de Zorobabel, funcionava precariamente e fora dos parâmetros estabelecidos pela lei de Moisés. Por isso, não bastava apenas ter planejado, bem como feito esta festividade da dedicação dos muros, mas, agora que o templo estava protegido, era indispensável que funcionasse conforme o parâmetro estabelecido por Deus e isto demandava a organização.
- Cumpre observar que a organização é uma tarefa que compete aos servos do Senhor realizar. Muitos acham que Deus é quem deve organizar a Sua obra, o que não é correto. Tudo deve estar sob a direção de Deus, mas a organização é tarefa que o Senhor deixa ao homem. Neemias seguiu tudo quanto se encontrava na lei, mas era ele quem tinha de organizar aquele serviço de acordo com o modelo estatuído por Deus.
- Neemias mandou que as câmaras, que eram quartos, aposentos construídos junto ao templo, fossem devidamente ocupadas com cada uma das contribuições que viriam da parte do povo, ou seja, as primícias, os dízimos, os tesouros, as ofertas alçadas, para que fossem ali armazenadas e, depois, distribuídas as porções para os sacerdotes, levitas e necessitados.
- Neemias mostrou todo o seu zelo com a obra de Deus, a fim de que, com a devida centralização dos recursos, pudesse ser feita uma equitativa distribuição, impedindo-se que o serviço do Templo sofresse solução de continuidade.
- Este mesmo zelo devemos ter, na atualidade, com a obra de Deus. Tudo deve ser organizado, de modo a que o trabalho atinja os seus objetivos. É com tristeza que vemos o improviso, a falta de organização ser uma característica de muitos aspectos na obra de Deus, o que revela não só uma irreverência diante do Senhor, como também um desleixo inadmissível para quem serve ao Deus que é ordenado (I Co.14:40).
- Espanta-nos a falta de organização em nossas reuniões. Muitos confundem ordem com formalismo ou frieza espiritual, esquecidos de que nosso Deus não é Deus de confusão e que, portanto, não pode Ele operar onde há baderna, onde há bagunça, onde há desorganização. Temos de oferecer o melhor para Deus e, por isso, é imperioso que, em nossos cultos, tenhamos ordem e decência, pois é na ordem que o Senhor vai operar. Organização não é formalismo, organização é consideração e respeito para com o nosso Deus. Lembremos disto!
- A forma como Neemias organizou a recepção e a distribuição dos recursos para o sustento da obra do Senhor também nos revela que devemos ser extremamente cuidadosos e zelosos com os recursos econômico-financeiros de nossas igrejas locais, máxime diante da sociedade. Torna-se absolutamente necessário que cuidemos do patrimônio das igrejas, tudo registrando, tudo documentando, para que não venhamos a ter problemas com as autoridades. É um dever primeiramente diante de Deus tudo fazer com clareza e transparência, mas também diante dos homens. Neemias mostra-nos que tudo devemos ter de forma organizada e pronta a ser fiscalizada, pois não temos que temer, se realmente servirmos a Deus com sinceridade.
- Neemias resolveu organizar o serviço de recepção e distribuição dos recursos do templo porque Judá estava alegre por causa dos sacerdotes e dos levitas que moravam ali (Ne.12:44).

- Vemos que a origem para que tenhamos uma boa contribuição na casa do Senhor e para que a obra se mantenha financeiramente é a alegria do povo, a satisfação com o trabalho responsável, transparente e dedicado dos ministros e oficiais. Não é com ameaças ou com promessas de barganha que se fará com que o povo sustente a obra de Deus, mas com a alegria e o exemplo dado pelos ministros e oficiais. Que bom seria que todos entendessem isso como Neemias…
- A propósito, a organização foi motivada pela alegria. A organização deve sempre acompanhar a motivação do povo, para que não se tenha uma desmotivação e a perda de tudo quanto se conquistou. A falta de organização leva ao desestímulo do povo e à sua falta de envolvimento, o que não é de se admirar, pois se Deus não Se agrada da falta de organização, porque haveria o Seu povo, que tem o Seu Espírito, reagir de forma diferente?
- Nos dias de Zorobabel, diz o texto sagrado, o povo também contribuía com alegria para as porções dos envolvidos na obra de Deus, mas a falta de organização do serviço, bem como a falta de ânimo para a reedificação de Jerusalém havia feito com que aquela situação que era de abundância se tivesse tornado um estado de “grande miséria e desprezo”, como havia anunciado Hanani e alguns de Judá a Neemias quando este começou a buscar a Deus.
- Nos dias de hoje, muitos também se encontram em estado de “grande miséria e desprezo”, porque a falta de organização fez com que a alegria inicial se tornasse em desânimo e em desestímulo, gerando uma situação que não agrada a pessoa alguma, a não ser ao inimigo. Neemias sabia que estava a lidar com um povo voluntário, com um povo que não precisava passar por situações de adversidade, mas um povo que não tinha consciência do que era. Por isso, assim que fez com que o povo se voltasse a Deus e tornasse a ter alegria, sem que criasse novos recursos econômico-financeiros, pôde estabelecer, de novo, a situação de suficiência e de abundância que permitia fazer funcionar convenientemente o culto ao Senhor.
- Neemias, aliás, ao retratar isto, não agiu como muitos que se acham “iluminados” e os “únicos responsáveis” pela situação benéfica vivida no momento em que estão à testa do povo. Sofrem da mesma síndrome que caracteriza conhecido político brasileiro que insiste em dizer que “nunca antes neste país” se fez isto ou aquilo, esquecido de que não se trata do Criador, o único que pode dizer que do nada fez alguma coisa.
- Nós, seres humanos, meras criaturas, sabemos que tudo que fazemos devemos ao que foi feito antes de nós. Neemias fez questão de deixar registrado que os que faziam a guarda do seu Deus e a guarda da purificação, como também os cantores e porteiros, nada faziam de si mesmos, mas seguiam as instruções existentes desde os dias de Davi e de Salomão, faziam aquilo que estava sendo feito “desde a antiguidade”. Da mesma maneira, as porções dos cantores e dos porteiros e a devida santificação se fazia como se havia feito desde os dias de Zorobabel (Ne.12:45-47). Nenhum estrelismo, nenhum desejo de arrogar para si glória e reconhecimento além do real e veradeiro. Assim deve ser o líder: alguém que sabe que está sob a direção de Deus, que faz o que é certo, mas que é humilde não só para dar toda glória a Deus como reconhecer a contribuição de seus antecessores.
- Neemias cumpria, assim, o que havia planejado para o seu mandato e, isto, num tempo recorde, com menos de um ano de governo. Mesmo assim, como era preciso estabilizar tudo quanto havia realizado, ficou por doze anos, conforme havia prometido ao rei Artaxerxes (Ne.13:6).
- Terminado o período, Neemias, obedientemente, sem se prender ao que havia feito em Jerusalém, retornou para ser o copeiro de Artaxerxes, mal sabendo que, quando de seu retorno, muita coisa haveria de desandar em Judá, mas isto passaremos a estudar na próxima lição.
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco