Lição 10: O Exercício Ministerial na Casa do Senhor I


4º Trim. 2011 - Lição 10: O Exercício Ministerial na Casa do Senhor I
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
QUARTO TRIMESTRE DE 2011

TEMA – Neemias – integridade e coragem em tempos de crise

COMENTARISTA :  Elinaldo Renovato de Lima

ESBOÇO Nº 10

Os líderes precisam vigiar tanto quanto os liderados.
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo do livro de Neemias, estudaremos hoje os primeiros quatorze versículos do capítulo 13, quando Neemias, retornando para o segundo mandato, encontra uma série de abusos promovidos pelo sumo sacerdote Eliasibe.
- Os líderes, assim como os liderados, precisam vigiar para que a obra de Deus não sofra prejuízo, mas a falta de vigilância dos líderes gera um prejuízo maior que a dos liderados, em virtude de sua repercussão.
I – NEEMIAS TRABALHA DOZE ANOS PELA CONSOLIDAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DO POVO DE DEUS
- Na lição passada, vimos que, em menos de um ano de governo, Neemias bem executou todo o seu planejamento, revigorando Judá como o povo de Deus, tendo, em Jerusalém, uma cidade capaz de manter unido o povo judeu e, o que é mais importante, fazendo daquele povo uma nação dedicada ao culto a Deus, a “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”.
- O fato de ter instituído tudo quanto planejara em menos de um ano, apesar de ter pedido ao rei Artaxerxes um período de doze anos para governar Jerusalém (Ne.13:6), pode parecer, aos olhos apressados de alguém, que Neemias agira com excesso de zelo, que teria, mesmo, errado em seu planejamento. No entanto, vemos que o governador não tinha sido nem um pouco exagerado nesta sua previsão de doze anos para seu mandato.
- Com efeito, não se fazia necessário apenas reimplantar o serviço do Templo, o povoamento da cidade de Jerusalém e a própria infraestrutura governamental, mas era necessário fazer com que estas instituições tivessem um determinado tempo de vida, que tudo fosse posto em prática e que, passo a passo, as deficiências existentes fossem sanadas, para que se gerasse um hábito, um modo de vida consentâneo com a Palavra de Deus, de modo que as instituições se consolidassem e se tornassem permanentes.
- Neemias sabia que, apesar da vitória que lhe havia sido dada por Deus com o bom êxito de todos seus intentos em um tempo breve, a situação não estava pacificada totalmente. O governador sabia que, durante a reedificação dos muros, parte considerável dos nobres de Judá, ou seja, da elite, havia criado laços de amizade e cumplicidade com Tobias, a ponto de terem eles trocado cartas durante todo o tempo da reconstrução (Ne.6:17-19).
- Prudentemente, para não causar divisão no meio do povo, num momento em que era necessário o esforço de todos e a paz, Neemias não tomara qualquer providência com relação a estes que, de forma contrária à vontade de Deus, se tinham aliado com o inimigo, motivo por que, mais do que nunca, se fazia necessário que houvesse a consolidação das instituições, para que este perigo de nova contaminação com os povos gentios não viesse a trazer mais danos para o povo.
- Neemias, também, parece ter se baseado na experiência anterior de Esdras para fixar em doze anos o tempo de sua permanência. Esdras havia partido de Susã treze anos antes de Neemias e o relato que o copeiro do rei havia recebido de Hanani sobre a situação de miséria e grande desprezo que sofriam os judeus fê-lo pensar que precisaria, pelo menos, do mesmo tempo que Esdras para impedir que toda a sua reforma tivesse um retrocesso.
- Este comportamento de Neemias traz-nos importantes lições. A primeira é que tudo devemos fazer com planejamento. Neemias partiu de Susã já consciente de que precisaria de um tempo relativamente longo para empreender os seus projetos. É indispensável que o líder, dirigido pelo Espírito Santo, saiba, na obra de Deus, saber o que deve fazer e quanto tempo precisa para tanto.
- Um dos grandes problemas que temos sentido em termos de administração eclesiástica, em nossos dias, é a falta de planejamento por parte dos líderes nas igrejas locais. Em nome de uma suposta “espiritualidade”, há um total desprezo na utilização dos conhecimentos da ciência da administração e o resultado é que, em muitos lugares, não há qualquer crescimento da Igreja, seja em quantidade, seja em qualidade.
- Não estamos aqui a dizer que se deva deixar de lado a direção do Espírito Santo e se abraçar a métodos e estratégias puramente humanos, como, aliás, em um outro extremo, temos visto em alguns lugares, onde as igrejas locais passam a ser dirigidas como se empresas fossem e a ciência da administração já tomou o lugar do Espírito de Deus, como ocorre em muitos dos “métodos de crescimento de igrejas”, que têm contagiado inúmeras lideranças e denominações.
- Entretanto, o que se precisa é um equilíbrio. Se a obra de Deus não pode ser feita sem a direção de Jesus, que é a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), sem O qual nada pode ser feito (Jo.15:5 “in fine”), também não devemos deixar de levar em conta que, devidamente dirigido pelo Espírito de Deus quanto ao que fazer, são aos homens, a quem Deus entregou o ministério, que se espera que, usando dos conhecimentos que o próprio Senhor lhes deu, possam eficazmente administrar a obra do Senhor (Ef.4:8).
- Assim é que, embora tenha sido o Senhor que pôs no coração do povo de Israel que contribuísse para a construção do tabernáculo, coube a Moisés determinar ao povo que deixasse de contribuir quando verificou que o arrecadado era suficiente para a realização da obra, a fim de que não houvesse desperdício de recursos (Ex.36:5-7), verificação que foi feita pela ajuda de pessoas que a Bíblia diz serem sábias (Ex.36:4), ou seja, pessoas tementes a Deus e que, por isso mesmo, utilizaram-se de seus conhecimentos para que nada fosse feito de forma relaxada na casa de Deus.
- Ao lado da direção indispensável do Senhor Jesus, torna-se absolutamente necessário que o líder saiba precisamente o que está a fazer e como deve fazê-lo, usando do que é trivial em administração para que tenha bom êxito. Assim, torna-se necessário, como fez Neemias, planejar, organizar, executar e controlar, a fim de que, no tempo previamente fixado, possam ser obtidos os resultados queridos.
- Hoje em dia, porém, não é difícil encontrar líderes que estão apenas “tocando o barco”, sem qualquer planejamento, sem qualquer organização, até porque, no mais das vezes, não tem a menor perspectiva do tempo que estarão a desempenhar aquela função na obra de Deus, atitudes que muito têm contribuído para o prejuízo vivido pela obra do Senhor, um fator a mais a complicar as coisas num tempo de apostasia e de aumento da iniquidade.
Neemias trabalhou com afinco nestes doze anos para que as instituições se consolidassem e o silêncio em suas memórias deste período é eloquente, mostra que tudo se desenvolveu de forma correta, dentro da normalidade, “sem novidades”, para usar do conhecido jargão nos meios militares.
- Terminado o período que havia acertado com o rei Artaxerxes, Neemias, como um verdadeiro homem de Deus, cujo falar é sim, sim; não, não (Mt.5:37), retornou para Susã, a fim de se apresentar ao rei. No entanto, Neemias já foi com o intento de pedir ao rei um novo mandato, pois sabia que a situação, embora não tivesse apresentado quaisquer anormalidades naqueles doze anos, não era pacífica, visto que o inimigo continuava a agir, ainda que sorrateiramente.
- Durante aqueles doze anos, os laços de amizade e parentesco existentes entre nobres de Judá e Tobias, o amonita, não haviam sido desfeitos. Teria Neemias sido negligente em desfazê-los durante todos aqueles anos? Entendemos que não. Senão vejamos.
- A questão relativa aos casamentos com gentios estava fora da alçada de Neemias. Tinha ele autorização tão somente para reedificar os muros e as portas de Jerusalém e organizar a vida administrativa de Judá. Era um governador civil e a matéria relativa a casamentos era religiosa, da alçada do sumo sacerdote.
- Além do mais, Esdras havia tratado da questão alguns anos antes e, apesar de um retrocesso na situação, a mesma estava paulatinamente retornando, tanto que Tobias era genro de Secanias, filho de Ará e o seu filho Joana tomara a filha de Mesulão, filho de Berequias (Ne.6:18), tendo Esdras silenciado a respeito, o que também impedia Neemias de tomar qualquer atitude.
- Estava-se, ainda, numa situação de acomodação, as instituições e o novo modo de vida dos judeus não estava consolidado e Neemias, prudentemente, não quis acirrar ânimos, a fim de impedir a divisão do povo e o seu enfraquecimento. Agiu como o Senhor Jesus diria, séculos depois, no Seu ensino sobre a parábola do joio e do trigo, quando afirmou que, diante do cochilo dos semeadores que permitiu ao inimigo semear joio no campo, deveriam aguardar o tempo da colheita, para que o retirar do joio também não atingisse o trigo (Mt.13:24-30).
- Neemias tinha plena consciência disto, tanto que, ao retornar para Susã, já foi com a intenção de pedir ao rei um novo mandato, quando, então, teria autorização para agir contra este perigoso estado de coisas.
II – NEEMIAS RETORNA PARA SUSÃ E ELIASIBE PROMOVE ABUSOS
Neemias retornou para Susã, ao término do seu mandato de doze anos, a fim de se apresentar a Artaxerxes, já com o objetivo de retornar para Judá, intento este que, diante da prudência do governador, entendemos que não foi anunciada a pessoa alguma.
Mal Neemias se retirou de Jerusalém, os inimigos, sentindo-se “livres, leves e soltos”, mostraram as suas faces. A primeira coisa que aconteceu foi que o próprio sumo sacerdote Eliasibe, que havia sido um exemplo na reedificação dos muros e das portas de Jerusalém, pessoalmente participando da edificação da porta das ovelhas (Ne.3:1), aparentou-se com Tobias, o amonita (Ne.13:4).
- Eliasibe, cujo nome significa “Deus restaura”, neste doze anos de governo de Neemias apresentou uma derrocada extrema. De principal cooperador do homem enviado pelo Senhor para a restauração do povo judeu como “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”, passou a ser o principal agente do inimigo dos judeus.
Renegando tanto a sua ascendência, pois era descendente não só de Arão, o primeiro sumo sacerdote, mas neto de Josué, o sumo sacerdote que, com Zorobabel, reconstruíra o templo, Eliasibe agora se aparentava com Tobias, o amonita, aquele que não queria o bem dos filhos de Israel. Que decadência espiritual!
- O texto sagrado é sucinto, não nos mostra o que levou Eliasibe a tomar esta deliberação, mas podemos deduzir que isto se deveu à influência que os “amigos de Tobias”, durante aqueles doze anos exerceram sobre o sumo sacerdote. Era nítido que a presença de Esdras e Neemias causavam um certo desprestígio ao sumo sacerdote que, naturalmente, seria a maior autoridade entre os judeus, já que não tinham mais os judeus independência política.
- Certamente, ao longo daqueles anos, os “amigos de Tobias” começaram a despertar em Eliasibe o desejo de que fosse ele “o maioral”, que ele deveria ser a maior autoridade, que não era justo que estivesse “desprestigiado”. Devemos sempre ter cuidado, amados irmãos, com aqueles que buscam inflar o nosso “eu”, que massageiam o nosso “ego”, pois tais mensagens sempre provêm do inimigo de nossas almas. Os servos de Deus devem, antes de mais nada, renunciar a si mesmos, abandonar o “eu”, sem o que jamais poderão servir a Jesus Cristo (Mt.16:24).
- Dentro deste intento, levaram-no a acreditar que, se aliando tanto a Tobias quanto a Sambalate, que tinham influência junto aos governadores dalém do rio (segundo Flávio Josefo, Sambalate era o próprio governador de Samaria), teria ele forças para se impor como principal autoridade judia junto ao rei da Pérsia. Tanto assim é que, além de se ter aparentado com Tobias, também nos é informado que um de seus netos, se tornou genro do próprio Sambalate (Ne.13:28).
- Isto continua ainda a ocorrer no meio do povo de Deus. Muitos líderes são contaminados por este mesmo “vírus da vaidade” e são convencidos pelo inimigo de nossas almas de que são “desprestigiados”, que são “subvalorizados” e que podem ter êxito se se aliarem a “pessoas de prestígio”, se se unirem a “poderosos”, ganhando, assim, a necessária “visibilidade para fazer a obra de Deus no patamar que merecem”. Por causa disso, acabam se comprometendo com pessoas e instituições que, entretanto, “não querem o bem dos filhos de Israel” e, deste modo, acabam se tornando em agentes do adversário e não mais, em homens ou mulheres de Deus.
- Quantos, na atualidade, não têm se comprometido com interesses escusos, com esquemas políticos, com instituições que nada têm que ver com a propagação do Evangelho e, com isso, somente estão a prejudicar o andamento da obra de Deus, renegando a própria chamada que receberam da parte do Senhor? Não nos tornemos novos Eliasibes, amados irmãos! Que Deus nos guarde!
O comprometimento de Eliasibe com Tobias foi tão grande que, não demorou muito, Eliasibe mandou construir uma câmara grande no templo, destruindo o espaço que antes era utilizado para se armazenarem as ofertas de manjares, o incenso, os vasos, os dízimos do grão, mosto e azeite destinados ao sustento dos levitas, cantores, porteiros e sacerdotes, a fim de que ali morasse Tobias (Ne.13:5).
- Notamos aqui como o inimigo é ardiloso e que, por isso, não podemos ignorar tais ardis nem dar lugar a ele em nossas vidas (II Co.2:11; Ef.4:27). Aparentando-se com Tobias, sob o influxo da “vaidade”, Eliasibe foi levado a crer pelo inimigo de que deveria “fazer valer a sua autoridade” e, assim, mostrando “que era o maioral do templo”, deveria construir uma “câmara grande”, onde Tobias pudesse morar, não só para mostrar a sua aliança com aquele que era o principal servo de Sambalate, mas para “demonstrar quem é que mandava ali”.
- Para Eliasibe, a construção da “câmara grande” era um “símbolo da sua autoridade”, era uma “prova de sua grandeza”. Quantos, na atualidade, não estão a agir exatamente conforme os vaidosos políticos que temos, querendo deixar “marcos” de suas grandezas para a posteridade, inclusive na construção de megatemplos, centros de convenções e tantas outras indicações de magalomania em detrimento do sustento da obra do Senhor?
- Entretanto, para o inimigo, tal construção era um importantíssimo golpe. Sutilmente, indicarão a Eliasibe que o melhor local para a construção da “câmara grande” deveria ser o local onde eram armazenados os víveres que sustentavam os levitas, os porteiros, os cantores e os sacerdotes. Eliasibe só estava pensando em “sua grandeza”, mas os inimigos estavam querendo destruir o serviço de adoração a Deus, que sabiam ser a principal fonte da manutenção da identidade do povo judeu.
- O inimigo não muda, ele simplesmente não quer o bem do povo de Deus. Eliasibe fora enganado em toda aquela adulação e não viu que, na sua vaidade, estava a destruir o próprio sustento dos levitas, sacerdotes, porteiros e cantores. Ao derrubar os armazéns dos víveres daquela gente para construir a câmara grande para Tobias, estava determinando o fim de todo o serviço do Templo, pois os servidores não teriam mais como sobreviver.
- A comunhão com o inimigo promovida por muitos de nossos líderes, na atualidade, tem o mesmo objetivo. Na sua vaidade, tais lideranças acabam asfixiando a obra de Deus, seja pela drenagem de recursos econômico-financeiros que inviabilizam a evangelização e a edificação espiritual dos crentes, seja pela própria destruição de todo o conjunto de servidores que, à míngua, são obrigados, como os levitas, porteiros, cantores e sacerdotes daqueles dias, a abandonarem o serviço da obra de Deus em busca da própria sobrevivência (Ne.13:10).
- Vivemos hoje em dia um tempo de paradoxos nas igrejas locais. Ao mesmo tempo em que mercenários da fé e outros parasitas eclesiásticos estão se enriquecendo às custas do povo de Deus, centenas e centenas de obreiros fiéis e zelosos estão sendo obrigados a prejudicar seu trabalho na obra a fim de conseguirem o absolutamente necessário para o seu sustento e de sua família, quando não “fogem para a sua terra”, deixando de cooperar, abrindo o caminho para que pessoas incapacitadas e desqualificadas venham a ocupar os seus lugares. Precisamos alterar este estado de coisas!
- Aproveitando da vaidade de Eliasibe, o inimigo conseguira o seu intento: impedir que o povo de Judá servisse a Deus, oferecesse seus sacrifícios no templo, pois, por falta de meios de sobrevivência, levitas, cantores, porteiros e sacerdotes deixaram Jerusalém e voltaram para as suas cidades e aldeias de origem, a fim de que pudessem sobreviver. Conseguia-se, assim, pelas mãos do próprio sumo sacerdote, o grande intento manifestado pelos inimigos ainda durante o início da reedificação dos muros: a indignação com a possibilidade de os judeus voltarem a ter comunhão com Deus (Ne.4:2).
- O inimigo não perdeu tempo. Assim que Neemias retornou para Susã, logo criou todo este estrago no meio do povo de Deus. O diabo não se cansa (Ap.12:10) e, por isso, não podemos permitir que se abra uma brecha para que ele atue, pois, se o fizer, fá-lo-á rapidamente e sem qualquer titubeio (Jr.39:2,3).
- Hoje não é diferente. Quando se permite que o inimigo penetre na obra de Deus, ele, de imediato, inviabiliza a possibilidade o povo oferecer ao Senhor o sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o nosso culto racional (Rm.12:1). Como faz isso? Fazendo com que o povo tome a forma do mundo e deixe de se transformar pela renovação do seu entendimento, a fim de que não consiga experimentar a vontade de Deus (Rm.12:2).
- Não é porventura o que temos visto, com grande tristeza, em nossas igrejas locais na atualidade? A doutrina é deixada de lado e as reuniões passam a ser meros espetáculos e instantes de confraternização e entretenimento. Não há mais momentos de oração, porque estamos tomados pela agitação cotidiana. Os bons costumes são abandonados e estamos a imitar a forma do mundo, seja nos trajes, seja na linguagem, seja na música, seja nas preocupações e objetivos que assumimos em nossas vidas, seja na liturgia, seja na mentalidade, seja na moralidade.
- Os servos do Senhor, os que cristãos se dizem ser, começam a correr de um lado para outro, porque não têm mais mantimento espiritual, porque a Palavra de Deus não lhes é mais ensinada, explicada ou pregada. Há preocupação apenas em “construir a câmara grande” e em agradar “Tobias”, com um discurso politicamente correto, com um discurso de autoajuda e de massagem do “ego” dos ouvintes. Vivemos os dias profetizados por Amós (Am.8:11) e as pessoas, espiritualmente desnutridas, começam a procurar Cristo ali e acolá (Mt.24:23-26). Tomemos muito cuidado, amados irmãos!
Um dos armazéns que foi destruído foi o que guardava o incenso, que simboliza a oração (Ap.8:3,4). Uma das grandes armas do inimigo neste comprometimento que tem conseguido aprisionar muitas lideranças é a retirada da oração. Os líderes começam a cair quando deixam de orar, esquecendo que, sem oração, não têm como cumprir o seu ministério.
- Muitos homens de Deus projetam-se no cenário da igreja por causa da vida de oração que têm e que é um dos principais fatores que os fazem ser instrumentos poderosos nas mãos do Senhor. Quando, entretanto, são infectados pelo “vírus da vaidade”, deixam de orar e o resultado é funesto. De igual maneira, os liderados também são levados a deixar de orar. O “armazém do incenso” é destruído e, como consequência, temos um povo que é facilmente dominado pelo inimigo e se torna irrelevante. Como diz provérbio dos cristãos chineses: “Igreja com muita oração, igreja com muito poder. Igreja com pouca oração, igreja com pouco poder. Igreja sem oração, igreja sem poder”. Qual é a nossa situação?

- Levado pela sua vaidade, Eliasibe deu início à própria destruição do serviço do Templo que, no limite, importava na sua própria destruição, pois de que adiantava ser sumo sacerdote de um culto que estava inviabilizado? Eis aqui uma grande realidade espiritual: a cegueira dos líderes que se mancomunam com o mundo e com as suas potestades. O homem de Deus que se alia ao inimigo, aos “poderosos” está a decretar o seu próprio fim, pois não há lugar para um homem de Deus, para um ministro do Evangelho onde o Evangelho não tem qualquer papel a cumprir. Lembremos disto, senhores ministros!
Tobias mudou-se para a “câmara grande”. Embora fosse amonita e servo principal de Sambalate em Samaria, não perdeu a oportunidade que teve de se instalar em Jerusalém, bem no templo. O objetivo do inimigo é sempre este: conseguir entrar no meio do povo de Deus, no meio da obra de Deus e, uma vez entrando, não sairá. Por isso, nunca deixemos o maligno se instalar, pois, quando o fizer, jamais sairá ali de livre e espontânea vontade.
- Nós, que somos templo do Espírito Santo (I Co.6:19), não podemos jamais permitir que o inimigo venha a instalar uma câmara grande, destruindo a nossa adoração a Deus, a nossa vida de oração, a nossa alimentação espiritual com a Palavra de Deus, a nossa santificação. Muitos, na atualidade, em nome de um suposto “prestígio”, em resposta a uma adulação satânica, têm permitido que a sua vida espiritual seja completamente prejudicada e sejam construídas “câmaras grandes para Tobias” em seu coração. Não permitamos que isto ocorra, pois, neste caso, o inimigo se instalará e causará um estado espiritual pior do estado em que estávamos antes de recebermos a Cristo Jesus como nosso Salvador.
- O Senhor Jesus fala-nos desta verdade espiritual, ao nos contar de que, quando o espírito maligno retorna para o lugar de onde havia sido expulso, não retorna só, mas com mais sete espíritos piores do que ele, se notar que a casa está desocupada (Mt.12:43-45), lição que é repetida pelo apóstolo Pedro, que diz que o último estado daquele que, tendo conhecido a Jesus, outra vez se envolver com a corrupção do mundo, é pior do que o primeiro estado pecaminoso (II Pe.2:20-22). Por isso, não podemos permitir, de modo algum, que sejamos levados a instalar Tobias na câmara grande de nossa casa, isto é, de nós mesmos (Hb.3:6).
III – NEEMIAS RETORNA PARA JERUSALÉM E REMOVE OS ABUSOS DE ELIASIBE
- A Bíblia não registra quanto tempo Neemias ficou ausente de Jerusalém. Apenas diz que, após “ao cabo de alguns dias”, o copeiro tornou a alcançar a licença do rei e pôde retornar para um novo mandato de governador (Ne.13:6).
- A expressão de Neemias, “ao cabo de alguns dias”, mostra que o tempo em que Neemias ficou em Susã foi curto, mas, mesmo sendo breve, foi o suficiente para o grande estrago causado pelos inimigos em Jerusalém.
- Não podemos, pois, negligenciar a eficácia do adversário. Seu papel é roubar, matar e destruir (Jo.10:10) e ele não perde tempo quando tem a oportunidade de realizar o seu deletério serviço. Vemos isto quando teve permissão divina para atacar Jó: num só dia destruiu tudo quanto estava autorizado a fazê-lo (Jó 1:13-21). Por isso, o escritor aos hebreus diz que o tempo do servo de Deus é “hoje”, pois jamais podemos permitir que o inimigo atue (Hb.3:7).
Assim que Neemias chegou, não teve como deixar de perceber a presença de Tobias na “câmara grande do templo”. Mas, certamente agora com ordens do rei sobre a questão do indevido aparentar com os amonitas, teve, como primeira providência, chamar o povo para a leitura da lei de Moisés (Ne.13:1).
- Chegando a Jerusalém, Neemias, ao contrário de Eliasibe, que não consultara pessoa alguma para a construção da “câmara grande”, tudo fazendo com base em “sua grandeza e autoridade”, Neemias convocou, uma vez mais, o povo, com o nítido objetivo de obter o consentimento da população para o que deveria fazer. Tinha a orientação divina e a permissão do rei da Pérsia, mas sabia que sem o consenso do povo de Deus, nada poderia ser feito.
- Contra o “estrelismo vaidoso” que atacam muitos líderes da atualidade, que se desencaminham como Eliasibe, Neemias apresenta-nos o modelo da “humildade consciente”, que é o modelo que deve ser seguido por quem está a imitar Jesus Cristo (I Co.11:1). O líder, consciente da sua chamada, de que está no lugar certo na hora certa, deve ir ao encontro do povo, como uma “parábola” de Cristo Jesus, para que o povo possa com ele aprender de que deve aprender de Cristo, que é manso e humilde de coração (Mt.11:29). Devemos nos humilhar debaixo da potente mão de Deus para que, a Seu tempo, Ele nos exalte (I Pe.5:6).
- Em meio a tantos descalabros que vivemos hoje nas igrejas locais, torna-se, antes de mais nada, reunir o povo, não para fazer levantes, não para criar dissensões ou revoltas, mas, sim, para que, todos reunidos, saibam quais são os propósitos de Deus para a comunidade e como devemos nos esforçar para que venhamos a experimentar a vontade do Senhor para as nossas vidas.
- Neemias, prudentemente, convocou o povo, embora, certamente, estivesse indignado em ver aquele homem que tanto mal fizera ao povo judeu, instalado numa “câmara grande” no templo de Jerusalém. Neemias, porém, não se precipitou, nem fez uso da autoridade que tinha da parte do rei. Preferiu, antes, chamar o povo para uma reunião.
- E o que Neemias mandou fazer nesta reunião? Iniciou com um discurso veeemente e contundente contra Tobias ou contra o sumo sacerdote Eliasibe? Procurou estimular o povo à revolta ou à indignação? Chamou os levitas, cantores, porteiros e sacerdotes para uma rebelião? Não, não e não! Mandou, simplesmente, que fosse lida a Palavra de Deus!
- Não há como dirigirmos o povo de Deus a não ser por intermédio das Escrituras, a nossa única regra de fé e prática. O povo precisa conhecer a Palavra de Deus, pois é este conhecimento que o impede de ser destruído (Os.4:6). Temos de ouvir, em momentos de crise, em momentos de perigo de sobrevivência enquanto povo de Deus, a palavra de nosso comandante, que já é vencedor. E como podemos ouvir o Senhor Jesus? Pela Sua Palavra (Jo.5:39)!
- Quando o povo de Deus está com a sua sobrevivência em risco, somente a Palavra de Deus pode lhe dar vida, pois só Jesus tem palavras de vida eterna, não temos, pois, para onde ir a não ser ao Verbo de Deus (Jo.6:68).
OBS:  Oportunas são as palavras do chefe da Igreja Romana a respeito: “…De fato, a Igreja funda-se sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela. Ao longo de todos os séculos da sua história, o Povo de Deus encontrou sempre nela a sua força, e também hoje a comunidade eclesial cresce na escuta, na celebração e no estudo da Palavra de Deus.…” (BENTO XVI. Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, n.3. Disponível em:http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-xvi_exh_20100930_verbum-domini_po.html Acesso em 30 set. 2011).
Neemias reuniu o povo judeu e, antes mesmo de dizer de seus propósitos e objetivos e encontrar o consenso do povo para que pudesse novamente restaurar a identidade de Judá, ordenou que fosse lida a lei de Moisés. Não há outro modo pelo qual restauremos o povo de Deus a não ser pela leitura, meditação e prática das Escrituras. Eis um importante papel da Escola Bíblica Dominical na restauração da Igreja instantes antes de seu arrebatamento por Jesus.
- Neemias, sabedor do seu intento e da necessidade diante do estado caótico existente com o fato de Tobias estar instalado na “câmara grande”, fez com que se lesse para o povo o que constava na lei de Moisés, ou seja, de que os amonitas e moabitas não entrassem jamais na congregação de Deus, porquanto não tinham saído ao encontro dos filhos de Israel com pão e água, antes assalariaram contra eles Balaão, para os amaldiçoar, ainda que Deus houvesse convertido a maldição em bênção (Dt.23:3,4; Ne.13:2).
- Ao determinar a leitura da lei precisamente na parte em que se proibia que amonitas e moabitas entrassem na congregação de Deus, Neemias dá mais uma demonstração de que era um conhecedor das Escrituras. Não há como liderar o povo de Deus sem que se tenha conhecimento da Palavra de Deus. É indispensável que aquele que está à frente do povo conheça a Bíblia Sagrada, sem o que não tem condições mínimas para ocupar tal posição. Por isso, um dos requisitos para ser separado para o ministério é o de ter aptidão para ensinar, ou seja, ter antes aprendido a sã doutrina (I Tm.3:2; II Tm.3:14,15; Tt.1:9).

- Nos dias em que vivemos, lamentavelmente, não são poucos os que são galgados ao ministério sem que tenham cumprido este requisito. Não aprenderam as sagradas letras, não conhecem as Escrituras e, mesmo assim, são postos à frente do povo. O resultado é que pomos cegos guiando a outros cegos e, como resultado disto, temos apenas fracassos espirituais. Torna-se absolutamente necessário que os líderes sejam escolhidos dentre pessoas que conheçam as Escrituras, que tenham conhecimento bíblico.
OBS: Não somos contra a teologia, pelo contrário, temos uma vida de luta pela aceitação do ensino teológico em nossa denominação, mas, temos de reconhecer que a falta de parâmetros claros e objetivos fez com que, hoje em dia, com tantos supostos cursos de teologia, o índice de analfabetismo bíblico é muito maior do que no tempo em que se proibia o estudo teológico, visto que, em vez de termos ensino de teologia o que se tem, hoje, é a mesma mediocridade e fingimento que caracteriza o péssimo sistema educacional secular brasileiro. Em vez de conhecimento, os candidatos ao ministério estão atrás de diplomas e de anéis, obtidos, no mais das vezes, no mais puro e deslavado comércio. Que vergonha!
- Amonitas e moabitas nem sequer podiam entrar na congregação de Deus porque sempre foram inimigos do povo de Deus, querendo não só o seu desfalecimento como até mesmo a sua maldição. Haviam assalariado Balaão para os amaldiçoar e, agora, o próprio sumo sacerdote era quem construíra uma “câmara grande” no templo para morada do inimigo. Que decadência espiritual!
- Nos dias hodiernos não é diferente. Muitos estão a seguir o “caminho de Balaão” (II Pe.2:15), o “prêmio de Balaão” (Jd.11) e a “doutrina de Balaão” (Ap.2:14), e, em troca do vil metal ou de uma posição social enganosa, não pensam duas vezes para amaldiçoar o povo de Deus, em entregar a obra de Deus nas mãos do inimigo, em construir “câmaras grandes”, que asfixiam a sobrevivência dos sinceros e leais servos do Senhor.
- “O caminho de Balaão” é a ida em direção do amor do prêmio da injustiça. Quando lhe foi feita a oferta de Balaque, da parte de príncipes honrados de Moabe, Balaão mal se conteve para ir até o rei dos moabitas, tanto que, assim que recebeu a autorização divina, ele próprio albardou sua jumenta e saiu, com pressa e ganância, ao encontro de Balaque, tanto que nem percebeu o anjo que lhe queria matar no caminho (Nm.22:15-35).
- O amor ao dinheiro, que é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10), tem feito muitos se desviarem dos caminhos do Senhor, passando a seguir o “caminho de Balaão”, trazendo para tais pessoas muitas dores. Assim como Balaão, tais pessoas passam a ser espiritualmente cegas, nada enxergando senão o almejado “prêmio da injustiça”. Era o que tinha acontecido com Eliasibe e, se não vigiarmos, pode acontecer com qualquer de nós, nestes tempos de materialismo e consumismo desenfreados. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- A cegueira de Balaão foi tanta que, mesmo após ter sido advertido pelo anjo e abençoado o povo em vez de amaldiçoá-lo, o profeta não desistiu de tentar o “prêmio da injustiça”. Aceitou, ainda por duas vezes, tentar amaldiçoar o povo, mancomunando-se com Balaque para ver se, de alguma maneira, poderia fazer a maldição e, deste modo, angariar a recompensa pretendida (Nm.23:13; 24:1).
- Este é “o engano do prêmio da injustiça”, que faz com que se resista à vontade de Deus, que se rebele contra o próprio Deus. Balaão, na terceira tentativa de maldição, não foi sequer ao encontro dos encantamentos, achando que, assim, não se encontrando com Deus, poderia fazer como Balaque desejava, mas o fato é o que o Espírito de Deus veio sobre ele e, mais uma vez, o intento de maldição foi frustrado. Como é triste quando o homem de Deus, totalmente dominado pela ganância, encontra-se em total estado de engano pelo pecado, com o seu coração endurecido (Hb.3:13)!
- A situação chega, porém, a um estado tão lamentável que o enganado e perverso, que antes fora um homem de Deus, passa a ser ele próprio um agente do desencaminhar de outros. É o estágio da “doutrina de Balaão”.
- A “doutrina de Balaão” é o ensino de lançar tropeços ao povo de Deus, a fim de que eles participem dos sacrifícios da idolatria e se prostituam (Ap.2:14). Foi Balaão que, diante da impossibilidade de maldizer o povo, deu conselhos a Balaque para que levasse o povo a se prostituir com as moabitas, o que deu ocasião ao grande problema de Baal-Peor, onde milhares foram mortos pela infidelidade (Nm.25; 31:16).
- Em nossos dias, não faltam “Balaãos” que estão a ensinar o povo a conviver com o pecado, que “não faz mal” fazer o que o mundo também faz, que não tem problema algum participar das coisas mundanas ao mesmo tempo em que se serve a Deus. São pessoas que “prometem liberdade”, mas que estão a levar os crentes a um último estado pior do que o primitivo estado de incredulidade (II Pe.2:19). Tomemos cuidado com o balaamismo!
- Eliasibe já estava nesta situação, porquanto a “mistura” já começara a se fazer no meio de todo o povo, tanto que, assim que ouviram a lei, o povo apartou de si “toda a mistura” (Nm.13:3).
- Tanto líderes quanto liderados precisam vigiar e seguir a Palavra de Deus. No entanto, os líderes têm uma responsabilidade maior, pois, por estarem à frente do povo, seus erros e deslizes têm maior repercussão, porque atingem além da própria vida, a vida dos próprios liderados. Por isso, na lei, os principais do povo, quando pecavam, tinham de apresentar ofertas maiores do que os homens comuns do povo (sacerdotes – Lv.4:1-12; príncipes – Lv.4:22-26; qualquer do povo – Lv.4:27-35).
OBS:  No Talmude (segundo livro sagrado do judaísmo), temos bem esta lição, “in verbis”: “ Todo aquele que torna uma multidão meritória, nenhum pecado virá através dele, mas aquele que faz uma multidão pecar, a este não serão dados os meios de obter o arrependimento. Moisés alcançou a virtude e conduziu a multidão à virtude; portanto, o mérito da multidão lhe pertence, pois está escrito: ele efetuou a justiça do Eterno e Seus juízos para com Israel (Dt.33:21). Jeroboão, filho de Nevat, pecou e levou a multidão a pecar; portanto, a iniquidade é devida a ele, pois está escrito: “pelos pecados de Jeroboão, que ele cometeu, e fez Israel cometer” (I Rs.15:30).” (Pirke Avot 5:21)
- Como Eliasibe havia se aparentado com Tobias e construído a “câmara grande” em plena área do templo, em pleno pátio da casa de Deus (Ne.13:7), o povo começou a se misturar com amonitas e moabitas, em total afronta ao que estava prescrito na lei. Entretanto, Neemias, durante os doze anos de seu primeiro mandato, havia consolidado as instituições, de modo que bastou a simples leitura da lei para que o povo se arrependesse e se apartasse de toda a mistura.
- Nos dias difíceis em que estamos a viver, não temos outro proceder senão o de Neemias, qual seja, o de levar o povo a se debruçar sobre as Escrituras. O Senhor Jesus já intercedeu por nós ao Pai para que sejamos santificados na verdade, que é a Sua Palavra (Jo.17:17). É a Palavra de Deus que nos limpa (Jo.15:3). Por isso, para que consigamos tirar toda a mistura que está infestando nossas igrejas locais só existe uma forma: fazer o povo ouvir, ler e meditar nas sagradas letras. Eis o seu importante papel neste processo, professor e aluno da Escola Bíblica Dominical!
- Neemias, assim que chegou a Jerusalém, havia percebido o mal que Eliasibe fizera em beneficiar Tobias com a “câmara grande”. Este mal não era o acintoso ato do sumo sacerdote em si, mas as funestas consequências que isto havia representado não só para o serviço do templo, mas, principalmente, para a própria identidade do povo judeu que, diante do exemplo dado por Eliasibe, começou a se misturar com os gentios, esquecendo-se de que eles não tinham parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém (Ne.2:20 “in fine”).
- Diante da reação popular de se apartar da mistura, ante a inércia de Eliasibe, que nada fez para alterar a situação que ele próprio criara, não houve outra alternativa para Neemias senão fazer valer a sua autoridade civil (agora ampliada no segundo mandato) e, ante o profundo desagrado de que fora tomado, efetuou um verdadeiro despejo de Tobias, lançando fora os móveis da casa de Tobias fora da câmara(Ne.13:8).
- Uma primeira constatação que temos é de que, assim que Neemias chegou, Tobias ausentou-se de Jerusalém, visto que Neemias tão somente lançou os móveis da casa dele fora da câmara, prova de que não mais ali se encontrava. A presença de um homem de Deus verdadeiro, com autoridade, faz com que o inimigo saia de onde se encontra. Por isso, é sinal que segue os que creem em Jesus a expulsão de demônios (Mc.16:17). Ainda temos este sinal?
- Uma segunda constatação que temos é de que Neemias se desagradou com aquela situação. O verdadeiro e genuíno servo de Deus não fica contente quando vê algo que é contrário à vontade de Deus, não busca “levar vantagem” com situações que estão em desacordo com a sã doutrina. Quem tem o amor de Deus não folga com a injustiça, mas folga com a verdade (I Co.13:6).
- Nestes dias finais do tempo da Igreja sobre a face da Terra, não são pouco os “indignados” que, entretanto, não estão desagradados com a ofensa às Escrituras, mas, sim, porque a situação de injustiça não lhes beneficia. Tanto assim é que, se a sua posição for alterada, mas não a situação de injustiça, deixam de reclamar e se calam. Isto não é, absolutamente, servir a Deus. Tenhamos discernimento, amados irmãos!
- Assim que fez o despejo de Tobias, Neemias mandou que se purificassem as câmaras e que se tornassem a trazer ali os vasos da casa de Deus, com as ofertas de manjares e o incenso (Ne.13:9).
- Não basta tomarmos medidas enérgicas para pôr fim ao predomínio do inimigo no meio da casa de Deus. Não basta que desfaçamos as obras do diabo. É preciso, também, que levemos o povo à purificação, à santificação, que construamos uma vida espiritual sadia em meio ao desmantelo causado pelo adversário.
- Muitos são ágeis e hábeis na destruição, na remoção dos abusos que encontram entre aqueles que estão a liderar. Lançam fora o inimigo, despejam aqueles que estão a tornar a casa de Deus num covil de ladrões. No entanto, quando se trata de elevar a espiritualidade dos crentes, de fazê-los fervorosos servos do Senhor, fracassam completamente. Só sabem demolir o que está errado, mas não têm capacidade para construir o certo.
Neemias não parou no despejo de Tobias. Determinou que se purificassem as câmaras, prova de que não demoliu a “câmara grande” construída por Eliasibe. Seu intuito não era destruidor, mas, sim, restaurador. Assim devemos agir, também, pois somos imitadores de Cristo e o Senhor disse que não tinha vindo para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele (Jo.12:47). Qual tem sido o nosso procedimento, amados irmãos?
- Neemias não só se preocupou com a purificação das câmaras, mas que também elas voltassem a ser ocupadas pelos vasos da casa de Deus, com as ofertas de manjares e o incenso. Têm os líderes se ocupado de tornar a trazer para a casa do Senhor aqueles que uma vez serviram a Deus e foram indevidamente lançados fora, desprezados por causa da ação destruidora dos amantes do vil metal, dos vaidosos e presunçosos? Têm os líderes se ocupado de fazer com que os servos de Deus tenham uma vida de oração e de adoração genuína e autêntica ao Senhor, depois de terem lançado fora as “novidades deletérias”, os “móveis da casa de Tobias”?
Neemias, também, entendendo que as medidas de Eliasibe tinham comprometido a sobrevivência de levitas, cantores, porteiros e sacerdotes,tomou a iniciativa de voltar a pedir ao povo de Judá que retornasse a sua contribuição para o sustento da obra de Deus, não antes de chamar à responsabilidade os magistrados, ou seja, aqueles que ele havia posto, no seu primeiro mandato, para que cuidassem deste serviço (Ne.13:11).
- Neemias dá uma outra demonstração de que era um exímio administrador. Não deixou de chamar à responsabilidade aqueles que, por negligência, haviam deixado que Eliasibe fizesse o que fizera e comprometesse, assim, o sustento dos que serviam ao Senhor. Não o fez no meio do povo, pois não era seu interesse humilhar quem quer que seja, mas não deixou de chamá-los à atenção diante da desídia.
- Vivemos dias de extremos quanto a isto. Existem aqueles que, de forma desarrazoada e irresponsável, chamam à responsabilidade os seus auxiliares na frente de todo o povo, sem qualquer consideração pela posição que seus cooperadores exercem no meio do povo de Deus. Estes devem se lembrar que os que detêm função no meio do povo, os oficiais, não podem ser humilhados e vilipendiados sem o menor cuidado (I Tm.5:17-19).
- Existem, porém, aqueles que, para angariar simpatia e popularidade (o que tem sido cada vez mais frequente ante o progresso de uma “política eclesiástica” que depende mais e mais de votos em convenções), simplesmente não chamam pessoa alguma à responsabilidade, são absolutamente tolerantes e lenientes com toda a sorte de abusos, esquecidos que, uma vez comprovado o pecado, devem tais pessoas, que são eminentes na casa de Deus, serem devidamente repreendidas, para que todos entendam que não há privilégios diante do Senhor (I Tm.5:20).
Neemias não humilhou pessoa alguma, nem desconsiderou os magistrados, mas não deixou de chamá-los à responsabilidade e de, pessoalmente, tomar as providências para que o serviço do templo fosse restaurado, recolocando as pessoas em seus postos, trazendo-nos de volta para trabalhar na casa de Deus (Ne.13:11).
- O povo de Judá, então, vendo que Neemias repusera as coisas nos seus devidos termos, tocados que haviam sido pela leitura da lei, retomaram as suas contribuições, uma vez mais trazendo o necessário para o sustento da obra de Deus (Ne.13:12).
- Não nos deixemos enganar. Quando o povo de Deus, em quem o Espírito Santo habita, percebe a sinceridade de propósitos da liderança e vê que não há outro objetivo senão o de servir a Deus com fidelidade, contribui com alegria. O aumento dos recursos econômico-financeiros para a sustentação da obra do Senhor não vem com técnicas de marketing, com técnicas de neurolinguística, nem tampouco com ameaças e opressões, mas com uma vida sincera e digna diante de Deus, com transparência e honestidade. Afinal de contas, se a liderança for fiel a Deus, agir conforme a direção do Espírito Santo, os liderados, em quem está o mesmo Espírito, reconhecerão isto e contribuirão para o sustento e crescimento da obra de Deus.
O Neemias do segundo mandato era idêntico ao do primeiro. Buscando ter a mesma transparência e clareza que o haviam caracterizado no primeiro governo, Neemias tratou, imediatamente, de constituir homens fiéis para cuidar da tesouraria dos celeiros que, agora purificados, passaram a receber a contribuição do povo. Tratou de nomear a Selemias, o sacerdote; a Zadoque, o escrivão e a Pedaías, dentre os levitas, tendo posto junto a eles Hanã, filho de Zacur, o filho de Matanias (Ne.13:13).
- Precisamos, em termos de administração dos recursos econômico-financeiros do povo de Deus, fazer como Neemias, pondo homens que sejam reconhecidamente fiéis, que despertem a confiança do povo. Foi o que fez Paulo quando cuidou de indicar pessoas para levar a oferta dos coríntios à Judeia, oportunidade em que indicou “aquele irmão cujo louvor  no evangelho está espalhado em todas as igrejas” (II Co.8:18), um irmão cujo nome nem é mencionado, mas cujo testemunho era suficiente para que pudesse ser responsável pelos recursos sem que houvesse qualquer murmuração, e isto numa igreja tumultuada como era Corinto. Tudo porque Paulo fazia questão de dizer que “…zelamos o que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens” (II Co.8:21).
- Como se faz necessário, em nossos dias, que as lideranças assim tratem os recursos econômico-financeiros das igrejas locais. Que sejam escolhidos para as funções de guarda destes recursos, homens fiéis, dignos da confiança de todos, que ajam com absoluta transparência junto ao povo e, certamente, com tais providências, além de o povo contribuir com maior quantidade, também o próprio Senhor fará multiplicar a fazenda, pois tudo será feito de forma agradável a Deus, bem diferente das verdadeiras “caixas pretas” que hoje existem entre nós…
- “Selemias”, o sacerdote, o primeiro indicado para cuidar da tesouraria dos celeiros (a antiga “câmara grande de Tobias”), tem um nome muito elucidativo. Seu nome quer dizer “Deus recompensou”. A recompensa de Deus exige a fidelidade e honestidade daqueles que fazem a obra de Deus, inclusive na administração dos recursos econômico-financeiros. Quando há transparência e honestidade, o Senhor recompensa esta fidelidade com a multiplicação quantitativa e qualitativa dos recursos.
- “Zadoque”, o escrivão colocado ao lado de Selemias tem outro nome esclarecedor. Seu nome significa “reto”. É preciso que haja retidão, ou seja, justiça, honestidade na administração dos recursos que são destinados para a obra de Deus.
- O terceiro tesoureiro era “Pedaías”, cujo nome significa “Deus remiu”. Para cuidar dos recursos econômico-financeiros do povo de Deus somente são capazes aqueles que foram “remidos”, ou seja, que realmente alcançaram a salvação em Cristo Jesus. Lamentavelmente, nos dias hodiernos, muitos têm deixado a administração de tais recursos para consultores financeiros, para grandes executivos, que, sem compromisso com Deus, somente podem tornar as igrejas locais em grandes empresas e nada mais que isso. Não devemos desprezar estes conhecimentos na administração dos recursos, mas jamais podemos nos ater somente a estes aspectos materiais.
- O quarto tesoureiro era “Hanã”, cujo significado é “gracioso”. Para que possa alguém cuidar dos recursos econômico-financeiros da casa de Deus é preciso que tenha a “graça de Deus”. Se a pessoa não tiver a graça de Deus, se se deixar envolver pelas coisas deste mundo, será mais um Judas Iscariotes que trocará a confiança que recebeu do Senhor em uma ocasião para um indevido locupletamento. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Além da fidelidade que estes homens possuíam, e que foi o requisito levado em conta por Neemias para que fossem constituídos como tesoureiros dos celeiros, tinham eles de ter capacidade para fazer a distribuição dos recursos para seus irmãos (Ne.13:13).
- Hoje em dia, há muitos que se preocupam em encontrar homens fiéis para cuidar destes assuntos, mas, simultaneamente, buscam ter homens duros, incapazes de fazer qualquer distribuição de recursos. Quase sempre se tem a ideia dos encarregados das finanças das igrejas locais como excelentes arrecadadores, mas pessoas que não se preocupam em distribuir quaisquer recursos.
- Os recursos amealhados para a obra de Deus não são para ser entesourados, para constituir grandes fortunas, são para ser distribuídos, para que a obra de Deus se faça, tanto na evangelização, quanto na edificação espiritual dos crentes, bem como na ação social. Igrejas não são bancos nem impérios empresariais, que visam tão somente a acumulação, mas instrumentos para que a obra de Deus seja feita sobre a face da Terra.
- Evidentemente que não se está aqui a defender o desperdício, o perdularismo na administração dos recursos econômico-financeiros. Os tesoureiros eram tesoureiros dos celeiros, ou seja, de armazéns, prova de que deveria haver sempre mantimento à disposição para ser distribuído. Entretanto, o fato de que se deva guardar em absoluto quer dizer que não se deva distribuir, como costuma ocorrer em alguns lugares. Tenhamos cuidado, amados irmãos!
- Neemias, porém, teria ainda mais trabalho neste seu segundo mandato, porquanto a “câmara grande de Tobias” não era o único abuso promovido por causa de sua ausência. É o que veremos nas duas próximas lições.
 Colaboração para o Portal Escola Dominical - Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco