O cristão e o voto nulo


O cristão e o voto nulo
                                                Muito se discute, na atualidade, sobre a viabilidade de o servo de Cristo Jesus, diante do estado generalizado de corrupção que existe na política, não votar nas eleições, como uma demonstração não só de protesto ao sistema político do país, mas, também, como uma forma de se portar como “cidadão dos céus”, não se envolvendo com “as coisas desta vida”.
                                               Não é de hoje que se tem, entre os que cristãos se dizem ser, uma postura de aversão à política, um discurso que nada mais é que levar ao campo da política, que é a face da vida em sociedade vinculada ao poder e às decisões, da tese da saída do mundo secular para que se tenha uma real santificação.
                                               Este discurso é enganoso e sem respaldo bíblico, pois santificação é um processo contínuo de separação do pecado, não dos pecadores. Jesus ensina-nos que não somos do mundo, mas que, nem por isso, deixamos de estar no mundo (Jo.17:11,14-16) mundo estamos precisamente para melhorá-lo, para levá-lo a conhecer a salvação em Cristo (Mc.16:15; Mt.28:18-20), já que somos “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt.5:13-16).
                                               Logo se vê, portanto, que não faz parte da vida cristã querida pelo Senhor Jesus que o cristão, por causa de sua fé, ausente-se da participação política, dos processos de tomada de decisões, mas, bem ao contrário, que, como servos de Cristo, devemos tudo fazer para influenciar as pessoas a tomarem decisões e exercerem o poder de mando na sociedade de forma agradável a Deus, em obediência à Sua Palavra.
                                               Ora, num Estado Democrático de Direito, como é o Brasil, em que o povo exerce o poder, precipuamente, a partir de representantes eleitos periodicamente, tem-se que é fundamental que o servo de Jesus, por ocasião das eleições, participe ativamente da escolha dos representantes do povo, influenciando a sociedade nas escolhas a serem feitas, como também participando desta escolha, o que somente se faz, diante da legislação vigente em nosso país, através do voto em algum dos candidatos registrados pelos partidos políticos.
                                               Em nossa ordem jurídica, os votos nulos, os votos em branco e a ausência na votação não produzem efeito algum no resultado do pleito. Os eleitos são conhecidos a partir do total de votos dados aos candidatos registrados. Assim, quem anula seu voto, vota em branco ou não comparece à urna simplesmente se aliena de todo o processo de escolha dos governantes, não influenciando coisa alguma no resultado final.
                                               Trata-se, pois, de uma atitude de separação da sociedade, de retirada da sociedade, ainda que só no instante do voto, o que se constitui, como vimos, em comportamento absolutamente contrário ao que se espera de alguém que se diga “sal da terra” e “luz do mundo”.
                                               Dirão alguns que se estaria diante de um “legítimo protesto” contra “tudo isto que está aí”, mas, na verdade, o que se tem é o consentimento com “tudo isto que está aí”, pois a atitude de retirada da sociedade no momento da decisão é simplesmente permitir que os inimigos da Palavra de Deus tomem suas posições, sabendo que os seguidores do Evangelho simplesmente se negam a tomar posição. É deixar o campo completamente livre para todos quantos são contrários às Escrituras.
                                               É isto uma atitude correta do ponto-de-vista espiritual? Efetivamente que não, pois a Bíblia manda à Igreja lutar contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:11,12), resistir ao diabo (Tg.4:3), não se omitir, pois a omissão é uma forma de consentimento e o consentimento deliberado com o triunfo do pecado nada mais é que pecado (Rm.1:32; Tg.4:17).
                                               Sabemos que a salvação do homem não está na política, e, sim, em Cristo Jesus, mas não podemos, nos momentos em que formos chamados a promover a escolha dos governantes, mostrar aos candidatos que tanto faz como tanto fez seguir ou não a vontade de Deus, já que os servos do Senhor se omitem e, desta maneira, nada representam no universo eleitoral em termos de definição dos eleitos.
                                               Os políticos são movidos a voto e, por isso, tenderão a tomar esta ou aquela decisão conforme a avaliação do que lhes poderá acontecer em eleições e, se os servos de Deus sempre forem relevantes na determinação do universo eleitoral, que é o dos votos nos candidatos registrados, será sempre um fator a ser considerado nas políticas a serem desenvolvidas a conformidade, ou não, com a sã doutrina.
                                               O “candidato menos pior” não é o ideal, mas o fato de se tomarem decisões que não contrariam o cerne da sã doutrina exatamente porque se sabe que, sem esta postura, se perdem eleições, é um fator decisivo para retardar o apodrecimento célere de uma sociedade sem Deus e sem salvação, até porque a Igreja é o “sal da terra”, que impedirá o total apodrecimento da sociedade enquanto estiver no meio dela ativamente.
                                               Sem dúvida que devemos orar a Deus em prol das autoridades constituídas, pois este é nosso dever (I Tm.I Tm.2:1-3), mas não basta apenas interceder, mas, nos momentos em que formos convocados a escolher dentre os candidatos aqueles que devem nos governar, devemos também fazê-lo de modo relevante, a fim de que sejamos, como Abraão, uma bênção para todos os nossos concidadãos e compatriotas.
                                               Anular o voto é tomar uma atitude de alheamento da vida em sociedade, o que contraria a Bíblia Sagrada, e, portanto, cometer pecado, pois estaremos a desprezar o outro e a permitir, deliberadamente, que o inimigo tenha ainda mais campo para agir no lugar onde Deus nos pôs nesta terra para servi-lo (Pv.14:21).
COLABORAÇÃO PARA O PORTAL ESCOLA DOMINICAL - CARAMURU AFONSO FRANCISCO