O reconhecimento da Palestina como Estado observador não membro da ONU - entendendo um pouco o conflito árabe-israelense


O reconhecimento da Palestina como Estado observador não membro da ONU - entendendo um pouco o conflito árabe-israelense
                                                Recentemente, um querido pastor foi porta-voz de um pedido de alguns irmãos no sentido de que produzíssemos um artigo de esclarecimento sobre o conflito árebe-israelense.
                                               Poucos dias depois deste pedido, vemos a aprovação, pela Assembleia Geral da ONU, do pedido da Autoridade Nacional Palestina para que fosse considerada um Estado observador não membro daquela organização, mais um passo para que a comunidade internacional reconheça a Palestina como Estado e isto exatos 65 anos depois que a mesma Assembleia Geral da ONU, em sessão presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, aprovou a partilha da Palestina em dois Estados, um árabe e outro judeu, o que deu nascimento ao Estado de Israel em 1948.
                                               Para bem entendermos este conflito entre árabes e judeus na Palestina, devemos nos lembrar que a Palestina ou Terra de Canaã foi conquistada pelos israelitas sob o comando de Josué, após quarenta anos de peregrinação no deserto após a libertação de Israel no Egito.
                                               Deus cumpria, assim, a Sua promessa feita quatrocentos e setenta anos antes a Abraão de que daria aquela terra a seus descendentes (Gn.15:13; Ex.12:41; Dt.2:7), uma nação que faria com que todas as nações fossem benditas por conta da posteridade de Abraão (Gn.12:1-3,7; 15:18-21), que o apóstolo Paulo identifica como sendo Cristo Jesus (Gl.3:16).
                                               Embora Deus tivesse dado a Terra de Canaã aos israelitas, havia uma condição para a sua manutenção, qual seja, a observância da lei de Moisés. Se o povo não seguisse a lei, sofreria diversas maldições e a última delas seria a perda da Terra Prometida (Dt.28:64-68).
                                               Diante da idolatria que os israelitas adotaram de forma crescente e intensa a partir do reinado de Salomão, o que, inclusive, levou à divisão do reino de Israel em dois países (I Rs.11:4-13; 12:16-19), Deus cumpriu a Sua Palavra, de modo que o reino do norte, chamado reino de Israel, que abrangia dez das doze tribos, foi completamente destruído e sua gente espalhada (II Rs.17), passando o seu território a ser ocupado por estrangeiros, que, misturados a alguns israelitas, deu origem aos samaritanos.
                                               Já o reino do sul, chamado reino de Judá, não foi destruído, mas foi levado cativo para a Babilônia, onde ficou por setenta anos (II Cr.36:11-23), período em que seu território foi mantido inabitado pelo Senhor. O reino de Judá não foi destruído, apesar de sua idolatria, por causa da promessa de Deus de que da casa de Davi viria o Messias, o Salvador do mundo, a posteridade de Abraão (II Sm.7).
                                               Passados os setenta anos, os judeus retornaram para a Terra de Canaã, ainda que não todos os judeus, pois boa parte dos judeus continuou a morar nas cidades para onde haviam sido levados durante o cativeiro da Babilônia, até porque o Império Persa, que substituiu o Império Babilônico, sempre fora favorável aos judeus.
                                               Os judeus mantiveram-se na Terra Prometida durante o período dos Impérios Persa, Grego e Romano, tendo, ademais, constituído grandes colônias em todas as principais cidades daquela época, como Alexandria, que foi construída por Alexandre, o Grande, no Egito.
                                               Tendo vindo Jesus ao mundo, entretanto, os judeus não O receberam (Jo.1:12), rejeitaram-n’O como o Messias, a ponto, inclusive, de declararem que queriam que Seu sangue caísse sobre eles e sobre seus filhos (Mt.27:25).
                                               Com a morte de Cristo, a lei foi cumprida e, portanto, não mais vigorou (Jo.1:17; Gl.3:19,24,25) e uma das consequências disto é que não havia mais a necessidade da permanência de Israel na Terra Prometida.
                                               Com efeito, profeta Daniel já havia profetizado que, depois do Messias, haveria a destruição de Jerusalém e do templo (Dn.9:26), o que foi repetido pelo Senhor Jesus (Mt.24:1,2).
                                               No ano 70, o general Tito, que viria depois a ser imperador romano, invadiu Jerusalém e destruiu o templo. Em 135, depois de nova rebelião dos judeus contra os romanos, o imperador Adriano expulsou os judeus de Canaã, que passou a ser, inclusive, chamada de Palestina.
                                               A região, que já era habitada por samaritanos e outras etnias, pois já havia um bom número de cidades construídas tanto por gregos quanto por romanos com costumes pagãos, passou a ser habitada, também, ao longo dos séculos, por tribos árabes, muitas delas nômades.
                                               Estas tribos árabes, porém, passaram a ocupar permanentemente a região a partir do século VII, com a unificação dos árabes sob o comando de Maomé, que criou a religião muçulmana, já que Jerusalém passou a ser o terceiro principal centro de adoração do Islamismo, ante a crença muçulmana que foi dali que Maomé fez sua “viagem aos céus”, local onde, inclusive, foi construída a “Mesquita de Omar”, exatamente no lugar onde, antigamente estava o templo de Jerusalém.
                                               Toda a região, portanto, passou a ser habitada permanentemente pelos árabes, mesmo depois da perda da independência política e o domínio dos turcos sobre a Palestina, primeiramente pelos seldjúcidas e, depois, pelos otomanos, que controlaram o país até 1917, quando o Império Otomano, que havia ficado na Primeira Guerra Mundial do lado da Alemanha, perdeu o controle desses territórios para os Países Aliados, tendo Canaã passado a ser administrada pela Grã-Bretanha.
                                               Os judeus viveram durante todo este tempo espalhados por todo o mundo, sofrendo cruéis perseguições em vários países, em diversas épocas, pois, como era um povo que não aceitava se misturar com os demais, naturalmente sofria a rejeição das demais nações, ainda mais quando, ao longo da história, passaram, por força das circunstâncias históricas, a ser um povo consideravelmente próspero em termos econômico-financeiros.
                                               Tais perseguições estavam também previstas na profecia de Daniel (“estão determinadas assolações” – Dn.9:26 “in fine”).
                                               Após diversas perseguições ao longo da história, no final do século XIX, um grupo de judeus passou a defender a tese de que os judeus deveriam voltar para a Palestina, a Terra Prometida, a chamada “Sião”, pois só assim apressariam a vinda do Messias. Surge, então, o movimento sionista, liderado por Theodor Herzl (1860-1904), criado em 1897.
                                               A partir de então, paulatinamente, o movimento sionista começou a defender o retorno dos judeus à Terra Prometida , passando a financiar a imigração de judeus para a Palestina.
                                               A imigração de judeus começou a crescer e, a partir da década de 1920, depois do final da Primeira Guerra Mundial, começaram os primeiros conflitos entre árabes e judeus em Canaã.
                                               Com a Segunda Guerra Mundial, a situação dos judeus piorou enormemente por causa dos nazistas. Com o final da Guerra, os judeus que haviam escapado dos horrores da guerra começaram a imigrar para a Terra Prometida e os conflitos aumentaram grandemente.
                                               O fato é que, como resultado dos horrores da Segunda Guerra Mundial, criou-se um clima favorável à criação de um Estado judeu na Palestina na comunidade internacional, como uma espécie de “compensação” por todo o sofrimento dos judeus.
                                               Os árabes não aceitaram esta situação e procuraram, de todos os modos, que não se aprovasse a criação de um Estado judeu, mas a ONU, que havia sido recentemente criada, em 1947, aprovou a criação de dois Estados na Palestina, um árabe e outro judeu.
                                               Em 1948, no dia seguinte ao final do período em que a Grã-Bretanha tinha para administrar a região, os judeus proclamaram o Estado de Israel, enquanto que os árabes, não aceitando a declaração, iniciaram uma guerra contra Israel, a fim de “lançar Israel ao mar”, ou seja, destruir o Estado judeu, pois defendiam que toda a Palestina deveria ser árabe.
                                               Os judeus venceram a guerra, mas os árabes prosseguiram se recusando a reconhecer o novo Estado judeu. A luta entre os diversos países árabes (Egito, Síria, Iraque, Líbano, Arábia Saudita e Jordânia) foi um fator que impediu que os árabes fossem vitoriosos, pois cada país árabe achava que o território da Palestina deveria lhe pertencer.
                                               Os árabes que moravam na Palestina não receberam apoio para constituírem seu novo Estado. Os outros países disputavam a posse deste território, não aceitavam que os “palestinos” (ou seja, os árabes que moravam na Palestina) tivessem um Estado próprio, como determinado pela ONU. Afinal de contas, estava em jogo o controle de Jerusalém, que deveria ser partilhada em duas cidades pelo plano das Nações Unidas.
                                               Em 1956, houve nova guerra entre árabes e israelenses, com nova vitória de Israel, a chamada guerra de Suez.
                                               Em 1966, a chamada Guerra dos Seis Dias, quando novamente Israel foi vitorioso e ainda tomou os territórios ocupados pelos árabes da Palestina como a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, a Península do Sinai, que pertencia ao Egito e as Colinas de Gola, que pertencia à Síria, assim como toda a cidade de Jerusalém.
                                               Logo após esta guerra, a Jordânia, que entendia ter direitos sobre a região habitada pelos árabes da Palestina, expulsou os palestinos que, com a guerra, tinham ido morar em seu território, obrigando os palestinos a se refugiarem em diversos países, principalmente o Líbano.
                                               Em 1973, a chamada Guerra do Yom Kippur, houve nova tentativa dos árabes de destruir Israel, com nova vitória dos israelenses.
                                               Nesse meio tempo, os “palestinos”, verificando que nenhum país árabe queria, na verdade, a sua defesa, passaram a se organizar para defender a criação de um Estado palestino, independente dos demais países árabes. Das várias organizações surgidas, algumas delas se uniram e deram origem à Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964 e que veio a ser reconhecida como a única e legítima representante do povo palestino desde 1974.
                                               Em 1977, o Egito foi o primeiro país a fazer um tratado de paz com Israel, recebendo de volta a Península do Sinai, que foi desocupada pelos israelenses.
                                               Logo após este acordo de paz, o Likud, partido que estivera na oposição desde a independência de Israel, venceu as eleições, defendendo a tese do “Grande Israel”, juntamente com outros “partidos religiosos”,  ou seja, que Israel deve ter exatamente as fronteiras que Deus disse a Abraão, o que significava a inexistência de um Estado árabe em Canaã.
                                               Dentro desta linha de pensamento, começaram a ser construídos assentamentos judeus em territórios ocupados a partir de 1967, ou seja, tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza.
                                               Em 1990, a Jordânia também fez um tratado de paz com Israel, passando a administrar os santuários muçulmanos de Jerusalém.
                                               Em 1993, Israel e a OLP fizeram um acordo, segundo o qual a OLP desistiu de sua intenção de “lançar Israel ao mar”, ao mesmo tempo em que Israel concordou com a criação da Autoridade Nacional Palestina, um governo semi-independente, que passou a administrar os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que foram parcialmente desocupados por Israel (em 2005, os israelenses desocuparam toda a Faixa de Gaza).
                                               Na Autoridade Nacional Palestina, porém, o Fatah, o principal grupo da OLP, passou a perder terreno para o grupo Hamas, criado em 1987, formado com inspiração na Irmandade Muçulmana, organização formada no Egito e que não aceita a existência de Israel.
                                               Após ter vencido eleições parlamentares, o Hamas acabou tomando o poder na Faixa de Gaza em 2007, onde formou um governo, enquanto que o Fatah controla a região da Cisjordânia desde então, estando à frente da Autoridade Nacional Palestina.
                                               Percebe-se, portanto, que o reconhecimento da Palestina como Estado observador não membro pela ONU é mais um passo para que se crie o Estado árabe previsto na partilha de 1947, mas se está muito longe de uma solução pacífica, pois o Hamas não aceita a existência de Israel e Israel, enquanto não tiver garantida a sua existência, não aceita que se crie um Estado árabe na região.
                                               O Fatah, embora aceite a existência de Israel, tem controle apenas da Cisjordânia e tem endurecido a sua posição com a finalidade de conseguir retomar o controle da Faixa de Gaza e voltar a ter a simpatia da maior parte da população palestina, o que o distancia de Israel, tanto que foi sua a iniciativa para que a ONU reconhecesse a Palestina como Estado observador não membro.
                                               Para piorar o quadro, a chamada “Primavera Árabe” que, desde 2011, tem gerado diversas mudanças de governo nos países árabes, tem levado ao poder segmentos políticos que são contrários à existência de Israel, de forma que nem mesmo no Egito e na Jordânia há, hoje, certeza de respeito à existência do Estado judeu.
                                               A Irmandade Muçulmana, por exemplo, controla hoje o governo egípcio e, certamente, o Egito tende a se distanciar consideravelmente de Israel e até mesmo voltar a tornar-se seu inimigo.
                                               A Turquia, país muçulmano que reconheceu Israel desde o nascimento do Estado judeu, hoje tem um governo que também é hostil aos judeus, fazendo com que, atualmente, Israel esteja a sofrer o maior isolamento político de toda a sua história, até porque os Estados Unidos, seu tradicional aliado, já não tem a mesma linha de atuação em favor de Israel desde a posse de Barack Obama como presidente.
                                               No entanto, sabemos, pelas Escrituras, que o mesmo Deus que deu e disse que tiraria de Canaã o povo de Israel, é o mesmo Senhor que também prometeu que, depois de espalhar os israelitas por todas as nações, congregaria os judeus novamente na Terra Prometida, para que ali Israel cumpra a sua missão de reino sacerdotal e povo santo (Ex.19:6; Dt.30:1-10), quando se fizer um novo concerto entre o Senhor e Seu povo (Jr.32:37-44), o que se dará, porém, quando o remanescente de Israel for salvo, reconhecendo a Jesus como o Messias (Rm.11:25-32).
                                               Vemos, pois, que este conflito somente acabará quando Israel crer em Jesus Cristo e, para que isto aconteça, sabemos todos, Israel sofrerá grandemente, estará a ponto da destruição, pois quase todas as nações lhe serão contrárias (Jl.3:1-21) e isto apenas sete anos depois do arrebatamento da Igreja, ao término da septuagésima semana de Daniel (Dn.9:24-27).
                                               Oremos pela paz de Jerusalém, como nos mandam as Escrituras (Sl.122:6), jamais nos coloquemos contra a nação de Israel, que é a propriedade peculiar de Deus entre os povos (Ex.19:5), mas não nos iludamos de que tudo quanto os judeus estão a passar é resultado de sua rejeição a Cristo Jesus.
                                               Ao mesmo tempo, diante destes fatos, que nos mostram quão próximo está o arrebatamento da Igreja, santifiquemo-nos e estejamos preparados para este evento, pois assim nos ensinou o Senhor Jesus: “Ora, quando essas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai a vossa cabeça, porque a vossa redenção está próxima” (Lc.21:28).
fonte portal ebd