Questões judaicas: um esclarecimento aos cristãos sobre sua percepção dos judeus

Degolações, crucificações, Inquisição, Cruzadas, pogroms, cuspes e socialismo

Julio Severo
De vez em quando, recebo cobranças de cristãos, que me dizem que destaco a perseguição dos muçulmanos aos cristãos no Oriente Médio, mas nunca menciono como os judeus também perseguem os cristãos.
É verdade, nunca publiquei um único texto sobre judeus em Israel degolando e crucificando cristãos. Por outro lado, já publiquei muitos artigos sobre muçulmanos cometendo essas atrocidades.
A razão disso não é omissão nem alguma tentativa de esconder supostas degolações e crucificações que judeus estariam cometendo contra os cristãos.
A razão é simples: essas atrocidades contra os cristãos nunca são perpetradas por judeus — a não ser que você queira comparar uma cusparada com degolações e crucificações.
Sim, os judeus ortodoxos — uma minoria em Israel que realmente pratica o judaísmo — tem desprezo pelos cristãos, e manifestam esse desprezo cuspindo. É um ato desagradável, mas muito longe de degolações e crucificações.
A sociedade israelense não é dominada pelos judeus ortodoxos. Além disso, assim como ocorre na Cristandade, o judaísmo tem várias correntes: liberal, moderada, ortodoxa, ultra-ortodoxa. Mesmo assim, não há degoladores nem crucificadores entre eles. Há os cuspadores…
Qual a razão dos cuspes e desprezos? Muitos deles se ressentem da Inquisição e das Cruzadas, que trucidaram muitos judeus. Mas eles não distinguem entre os cristãos, achando que todos os cristãos são responsáveis pela Inquisição e pelas Cruzadas, quando na realidade quem começou e terminou tudo isso foi só a Igreja Católica.
Na mente deles, os atos da Igreja Católica contra os judeus são atos de todas as igrejas cristãs. É uma percepção errada. Mesmo com essa percepção errada, eles não degolam nem crucificam cristãos em retaliação à Inquisição e às Cruzadas.
Entretanto, não é só os judeus que têm uma percepção errada. Os cristãos que amam Israel às vezes exageram no seu amor adorando tudo o que se faz em Israel. Num culto numa grande igreja em Brasília ouvi um pastor pregando sobre as (supostas) maravilhas dos kibutzes — fazendas coletivas onde todos comem em refeitório comunitário e as crianças são criadas em creches comunais. Os kibutzes não têm origem na Bíblia. Sua origem são judeus europeus socialistas que se estabeleceram em Israel no começo do século XX.
Sim, há socialismo em Israel. O único país do Oriente Médio que tem aborto legalizado e paradas gays é Israel.
O alistamento militar israelense é obrigatório para homens e mulheres. Enquanto nos EUA os conservadores lutavam há anos para impedir suas forças armadas de alistarem mulheres para combates, Israel segue esse modelo socialista há anos.
O amor israelense pelo socialismo também é desprezado pelos judeus ortodoxos. Aliás, esse amor israelense pelo socialismo é muitas vezes usado pelos seus inimigos para pintar os judeus como maus.
No Brasil, os judeus, excetuando os ortodoxos, são apoiadores tradicionais da esquerda, inclusive do PT. Nos Estados Unidos, a vasta maioria dos judeus apoia o partido de Obama — um partido que está sempre na contramão dos interesses de Israel e dos verdadeiros cristãos.
Como se explica o amor dos judeus pelo socialismo? Por Karl Marx ter sido judeu?
Uma das explicações pode estar na Rússia dos tempos dos czares. Na segunda metade do século XIX e começo do século XX, o czar sancionou leis contra os judeus, estabelecendo os infames pogroms — ataques violentos aos judeus e suas propriedades.
Esses ataques tinham o apoio de líderes ligados à Igreja Ortodoxa, que não estava agindo diferente da Inquisição e Cruzadas de sua irmã, a Igreja Católica.
Diante da perseguição extrema do governo czarista, os judeus russos só tinham duas opções: 1. Fugir para os EUA (que era a maior nação protestante do mundo). Fugir para uma Europa sob influência católica não estava nos planos deles. 2. Resistir e lutar.
Para os que não fugiram para os EUA, a resistência escolhida foi apoiar os movimentos marxistas, que deram origem à União Soviética. Os inimigos dos judeus usam esse episódio para tentar retratar os judeus como criadores desse império do mal, mas esse não foi o caso. Por uma questão de pura sobrevivência e para acabar com os pogroms, os judeus russos deram todo apoio à revolução comunista e à criação da União Soviética.
Se lhes fosse possível, eles também teriam apoiado alguma forma de resistência para escapar da Inquisição e das Cruzadas.
Os pogroms foram uma perseguição tão terrível que os judeus russos fizeram tudo ao seu alcance para dar um fim ao império do czar, até conseguindo ajuda de banqueiros americanos para financiar o nascimento da União Soviética. Mas a solução judaica, embora tenha começado com a intenção de salvar vidas, acabou demonstrando ser pior do que o problema. Criou um problema maior.
Fenômeno semelhante aconteceu na Alemanha do início da década de 1930. Com o comunismo ameaçando vencer nas eleições, até os pastores luteranos instruíram suas congregações a votar em Adolf Hitler como a única ‘salvação’ contra o comunismo. Mas a solução acabou ficando pior do que o problema, especialmente para os judeus, que sofreram o Holocausto. O desespero empurra os povos para ‘soluções’ mortais.
Verdade seja dita, na União Soviética os judeus puderam alcançar elevados postos no governo e no exército — algo que jamais aconteceria na Rússia ortodoxa ou na Europa católica. Mas o preço foi muito alto.
Os inimigos dos judeus têm prazer em destacar a participação dos judeus no nascimento da União Soviética, mas convenientemente escondem as matanças que os judeus sofriam na Rússia ortodoxa. Esses inimigos são capazes de louvar a Inquisição e as Cruzadas sem mencionar o sofrimento e os massacres que os judeus sofriam.
O tradicional amor dos judeus pelo socialismo tem base então nesses fatores históricos e em sua luta de apoiar movimentos que os livrassem de intensas perseguições de regimes políticos ligados à Igreja Ortodoxa e à Igreja Católica.
Os judeus ortodoxos têm suas razões históricas para cuspir nos cristãos. Mas eles não percebem que suas questões são apenas com católicos e ortodoxos.
Por causa dessas questões históricas, Israel é hoje o único Estado no Oriente Médio onde socialismo e capitalismo estão perfeitamente casados.
Os que detestam os judeus por causa do socialismo não deveriam ignorar que eles apoiaram esse sistema por desespero e para sobreviver a perseguições atrozes de ‘cristãos’ que amavam mais a Inquisição, as Cruzadas e os pogroms do que Jesus Cristo.
Os que amam os judeus não deveriam apoiar os kibutzes nem o amor de muitos deles pelo socialismo.
Um dia os judeus ainda descobrirão que sua única salvação da Inquisição, das Cruzadas, dos pogroms, do antissemitismo e do ódio islâmico é o maior Judeu de todos os tempos — Jesus Cristo.
Diferente da ‘salvação’ socialista, a salvação de Jesus não tem efeitos colaterais mortais generalizados.
Os que conhecem a salvação desse Judeu precisam orar para que os judeus no mundo inteiro sejam libertos de suas ilusões com relação a uma ‘salvação’ socialista e ‘messias’ socialistas.