O que é o Tribunal de Cristo?



Em Mateus 16.27 está escrito: “o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras”. E, em Apocalipse 22.12, também lemos: “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra”. Logo após o momento mais esperado pela Igreja de Cristo, o seu Arrebatamento, os salvos em Cristo serão julgados, ainda nos ares. A despeito de a Bíblia asseverar que nenhuma condenação há para quem está em Cristo Jesus (Rm 8.1), os salvos serão julgados, não para efeito de salvação ou condenação, mas para receber ou não a premiação pelo trabalho desempenhado para o Senhor. Neste artigo apresento sete pormenores desse importante evento escatológico.

1. O Tribunal de Cristo não é o Juízo Final. Como já vimos, neste blog, no artigo escatológico anterior a este, o Tribunal de Cristo não deve ser confundido com o julgamento dos ímpios, que também serão julgados segundo as suas obras, no Juízo Final — o do Trono Branco —, mas para efeito de condenação eterna (Ap 20.11-15). Todos os salvos arrebatados serão julgados pelas suas obras apenas para receber ou não galardão (2 Co 5.9,10; Rm 14:10-12). Embora tenhamos sido salvos exclusivamente pela graça de Deus, por meio da fé (Ef 2.8,9), também somos “feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (v. 10). Esse julgamento não se refere à posição que temos em Cristo, e sim à nossa condição como servos do Senhor.

2. O Tribunal de Cristo ocorrerá entre o Arrebatamento da Igreja e as Bodas do Cordeiro. Se o Senhor Jesus trará consigo o nosso galardão, em sua volta, podemos afirmar que o Tribunal de Cristo se dará logo após o Arrebatamento da Igreja, ainda nos ares, por ocasião da nossa reunião com Ele (1 Ts 4.16,17; 2 Ts 2.1). Cada salvo, de todas as épocas, participará dessa gloriosa reunião, pois Jesus afirmou que haverá recompensa na ressurreição dos justos (Lc 14.14). Os heróis do Antigo Testamento, que, tendo o testemunho pela fé, morreram sem alcançar a promessa (Hb 11.39), ressuscitarão incorruptíveis (1 Co 15.51,52) para receber do Sumo Pastor a coroa da justiça, “a incorruptível coroa de glória” (1 Pe 5.4). Assim como Paulo, eles combateram o bom combate, acabaram a carreira e guardaram a fé (2 Tm 4.7,8).

No Tribunal de Cristo já estaremos glorificados. No momento em que cremos em Jesus Cristo e o confessamos como Senhor, obtivemos a certeza da vida eterna (Jo 5.24; Rm 10.9,10). No entanto, a salvação — no sentido de glorificação — só ocorrerá no momento do Arrebatamento da Igreja. À luz da Bíblia, a nossa preciosa salvação possui três tempos e um tríplice aspecto. No passado, ela é posicional. Passamos a estar em Cristo! No presente, é progressiva. Estamos nos aperfeiçoando, a cada dia (Hb 6.9; Ef 4.11-15). No futuro, ela será perfectiva. É a nossa glorificação (Rm 13:11; Hb 9.28), que ocorrerá por ocasião do Rapto da Igreja (1 Co 15.50,51; Fp 3.20,21).

3. No Tribunal de Cristo receberemos a sentença em relação a tudo o que tivermos feito a partir da nossa conversão. A parábola das minas ou moedas de ouro revela que cada crente redimido tem a responsabilidade de empregar fielmente aquilo que de Deus recebeu: “Negociai até que eu venha” (Lc 19.13). Naquele grande Dia, o Justo Juiz pedirá o nosso “relatório” (Lc 16.2). Mas Ele não pedirá conta apenas da administração do nosso trabalho. Tudo o que nos foi outorgado será levado em consideração: a vida — espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23) —, que é um dom de Deus (Ec 9.9); a maneira como nos conduzimos em relação à nossa gloriosa salvação (Fp 2.12); os talentos (1 Per 4.10); o livre-arbítrio (1 Co 6.12); o uso do tempo (Ef 5.16); os bens (Lc 12.16-20) etc.

4. Haverá surpresas no Tribunal de Cristo. Quando partirmos deste mundo, as nossas obras nos seguirão (Ap 14.13). Tudo o que temos feito está registrado. E, no Arrebatamento, Jesus — que conhece todas as nossas obras (Ap 2.2,9,13,19; 3.8,15) — trará consigo o resultado, a avaliação de nosso trabalho, a fim de nos galardoar. Coisas encobertas, positivas ou negativas, virão à tona. Em 1 Coríntios 4.5 está escrito: “nada julgueis antes do tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá de Deus o louvor”. Daí ser prioritária a aprovação do Senhor (2 Co 10.17,18), e não a dos homens (Pv 25.27; 27.2).

5. Não há muitos detalhes na Bíblia sobre a natureza do galardão. As obras que ninguém vê na terra serão expostas pelo Senhor, naquele Dia, para que todos tomem conhecimento (Hb 4.13). Muitos pensam que os galardões serão, literalmente, coroas de ouro, com pedras preciosas. “Quanto maior a fidelidade, maior a coroa”, dizem. Alguns gostam até de mencionar os tipos de coroa que serão entregues aos servos do Senhor. Na verdade, há muitas coisas relacionadas com o futuro glorioso da Igreja que só serão revelados na glória (Rm 8.18; 1 Pe 5.1). Se os galardões são, literalmente, vários tipos de coroa, então elas serão postas uma sobre a outra? Qual seria posta primeiro, a da vida, a da justiça ou a de glória? E, no caso das coroas grandes ou pequenas, de acordo com o tamanho da fidelidade, não teria o galardoado de possuir uma cabeça no tamanho compatível com as coroas recebidas?

A coroa dada no Tribunal de Cristo simboliza a nossa posição no Reino de Deus. O termo “coroa” alude, figuradamente, a posição, domínio, poder. Na parábola das minas, um senhor — que representa o nosso Senhor Jesus — disse aos seus servos fiéis: “Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade” (Lc 19.17). O Senhor também prometeu: “Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro” (Ap 2.26,27, ARA).

6. A base para o julgamento, no Tribunal de Cristo, serão as obras, e não os títulos. A passagem de 1 Coríntios 3.10-15 mostra que as obras aprovadas por Deus são as realizadas em Cristo, o fundamento da Igreja. Os elementos ouro, prata e pedras preciosas representam, figuradamente, o trabalho feito com humildade e temor, para a glória do Senhor (1 Co 10.31). Já os materiais madeira, feno e palha — facilmente consumíveis pelo fogo — aludem às obras feitas por vaidade e orgulho, para receber glória dos homens (Mt 6.2,5). Somente serão galardoados os servos cujas obras resistirem ao fogo da presença do Senhor (Hb 12.29). Sofrer detrimento pelo fogo (1 Co 3.15) denota perda de galardão, em contraste com o que está escrito no versículo 14: “receberá galardão”. São os materiais que se queimam, isto é, as obras. Não há nessa passagem qualquer margem para o falso ensinamento do purgatório, visto que, após a morte, segue-se o juízo (Hb 9.27).

7. No Tribunal de Cristo seremos julgados como servos, e não como filhos. Para o filho de Deus não há adjetivos negativos no Novo Testamento. Quanto ao servo do Senhor, vemos na parábola dos talentos — narrada por Jesus em Mateus 25.14-30 — que ele pode ser útil ou inútil, previdente ou negligente, bom ou mau e fiel ou infiel. Mencionam-se nas páginas neotestamentárias dons, ministérios e operações que o Senhor concede à sua Igreja (Rm 12.6-8; 1 Co 12.4-6; Ef 4.11). Cada salvo, além de chamado para proclamar as virtudes do Senhor (1 Pe 2.9; Mc 16.15), recebeu pelo menos uma incumbência específica no Corpo de Cristo (1 Co 3.6-9). Todos os servos do Senhor, de todas as épocas, hão de prestar contas de sua administração.

Ao sermos salvos, recebemos Jesus como Senhor e Salvador (Fp 3.20; 2 Pe 3.18). Relacionamo-nos com o Salvador como filhos (Jo 1.11,12). Mas, como Ele é Senhor, nosso comportamento perante Ele deve ser, também, de servos fiéis até o fim (Ap 2.10; 3.11), para que tenhamos confiança no Dia do Juízo (1 Jo 4.17) e recebamos a coroa incorruptível (1 Co 9.25). Jesus não galardoará apóstolos, bispos, missionários, reverendos, escritores, teólogos, conferencistas internacionais, cantores... O prêmio da soberana vocação (Fp 3.14) será dado aos “servos bons e fiéis” (Mt 25.21,23)!


Ciro Sanches Zibordi