A MARCHA PARA JESUS E O RETRATO DO EVANGELICALISMO BRASILEIRO



Lá vem o trio elétrico. Nas laterais os nomes 

“Tremendão”, no centro os balões amarelos delineando a palavra “Jesus”. A multidão diz “palavras de ordem”, cantarola refrãos de canções gospel e com alegria demonstra suas coreografias. Não é um bloco de carnaval. É o bloco de Jesus! Eles não caminham para o martírio. Calma! Não os confunda com aquela multidão que sofreram ou sofrerão por causa do testemunho de Jesus e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos, como narra João em Apocalipse 20. Eles só são os fieis que compõem a Marcha pra Jesus.

Informações dão conta de que esta marcha realizada em São Paulo, chegou a mais de 3 milhões de fiéis, superando os 340 mil de 2015. No entanto, esta explosão de gente ilustra muito bem o retrato do evangelicalismo brasileiro.

1) As denominações se multiplicaram, a grande maioria destas influenciada pelo movimento Neopentecostal. Este movimento tem enchido as igrejas ao oferecer aos fieis um Evangelho voltado para bênçãos materiais, milagres e prosperidades.

2) As grandes igrejas investiram em programas de TV e se utilizaram deste meio de comunicação para difundir suas programações e campanhas, atraindo mais fieis e ampliando seus campos de implantação.

3) Os cantores do gospel galgaram espaço na mídia televisiva e através de seus show business passaram a disputar os fãs e o palco com artistas do meio secular, reforçando, por assim dizer esta engrenagem que faz crescer o público nominal evangélico.

4) Alguns pastores evangélicos tem ganhado notoriedade ao defender questões relacionadas a questões morais, principalmente relacionada a família e em resistência as pautas LGBT.

5) O surgimento de um mercado gospel tem encontrado guarida diante desta crescente de fieis que ao consumirem produtos “cristãos” sentem-se partícipes de uma cultura divinizada que passa a fazer todo o sentido quando vista a partir do ponto de vista de sua fé.

Organizada pela Igreja Renascer em Cristo, a marcha ilustra uma igreja que não cresceu em qualidade, apenas inchou. A marcha depõe contra o próprio crescimento da igreja brasileira, que apesar da imensa multiplicação de igrejas nas ruas de nossas cidades não tem tido força para impactar a realidade social desta nação. A marcha mostra que a grande maioria dos evangélicos do país entendem que o mercado gospel e seus cantores são ícones relevantes para o cultivo da fé. A marcha pra Jesus mostra que a igreja pode até não saber ser sal e luz, mas sabe pelo menos marchar.

É grande importância ressaltar que tal evento não representa a totalidade dos evangélicos do Brasil. A grande maioria das denominações tradicionais e de origem reformada entende que antes de qualquer marcha, o que os evangélicos mais precisam é retornar as bases da fé protestante. Ao invés de marchar na rua como bloco de festa sob o pretexto de que aquilo é um ato profético em prol da nação, o que esta multidão mais precisa é retornar Escrituras Sagradas, orar pela nação e cumprir seu papel social como um verdadeiro cristão.

Particularmente, eu ficaria bem mais feliz ao ver a Globo, ao invés de anunciar “Fiéis se emocionam em shows de música gospel na Marcha para Jesus”, estampar em suas manchetes a notícia: “Evangélicos desistem de Marcha pra Jesus, retornam as Escrituras Sagradas e impactam a sociedade com suas vidas”.


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Antognoni Misael é colunista do Púlpito Cristão.http://blogdoantoniomoreno.blogspot.com.br/2016/05/a-marcha-para-jesus-e-o-retrato-do.html