Lição 07: A Chamada e Purificação do Profeta (Jovens)



A chamada do profeta tem uma conexão direta com os atributos divinos que são a santidade de Deus acompanhada de sua glória. São esses atributos que dão a essa passagem histórica na vida do profeta um destaque especial. Sem o impacto da revelação divina, não haveria a reação intensa do profeta. Ele tem um vislumbre da glória e santidade que lhe toca assombrosa e magnificamente alterando por completo o seu modo de pensar. Suas emoções e sua razão são afetadas positivamente pela visão, de tal forma que ele se entrega totalmente a partir desse evento.
Isaías não é mais o mesmo. Ele não tem mais medo de reis nem se preocupa com sua posição de destaque no reino; com o dedo em riste, porém educadamente, expõe as entranhas pecaminosas do povo de Deus e de seus governantes, não temendo o perigo (aliás, ele termina seu ministério serrado ao meio, conforme a tradição).
Essa passagem bíblica é uma das mais celebradas de seu livro. Certamente, todos já ouviram alguma pregação a respeito dela nas mais variadas formas de interpretação. O atrativo do texto se dá pela manifestação da glória e da santidade de Deus de uma maneira extraordinária, viva e transformadora para o profeta. Diante da experiência que ele tem com Deus, tudo se transforma em sua vida; ele não somente vê, sente, ouve e age dentro da visão, mas também tem uma nova perspectiva de vida a partir da visão; os seus valores, vontades, desejos e a consagração a Deus são renovados. Agora ele está totalmente entregue e absorto à vontade de Deus, independentemente dos resultados alcançados. É bem provável que ele tenha começado a profetizar a partir dessa experiência com Deus, situando-se os capítulos de 1 a 5 em data posterior a essa experiência, mas não há como confirmar essa hipótese, podendo também ser uma reconvocação da parte de Deus.
O que chama atenção do texto é a manifestação da glória do Senhor vista por Isaías, ao mesmo tempo visível e ocultada pela fumaça que enchia o templo. A glória denota o ser e a presença de Deus, que se torna manifesta em aviltante contraste com a situação do ser humano; por isso, ela causa tantas reações espirituais, psíquicas, emocionais e físicas, como no caso do profeta Isaías.
Só é possível ver a glória de Deus porque Este resolve se revelar, pois Ele deseja habitar entre os homens e quer que estes habitem com Ele; só que, para isso, é preciso que a revelação da glória modifique a santidade dos que se aproximam dEle e, em obediência e fé, se entreguem a Ele. Portanto, é iniciativa dEle querer ser experimentado pelos homens, mas a estes cabe se entregar ao desejo de Deus. A glória do Senhor tem a função de revelar-se ao seu povo no sentido de que Deus seja de alguma forma conhecido, embora nenhum ser humano tenha acesso completo a essa glória. Aos seres humanos, cabe a obrigação de retribuir a manifestação da glória com reverente adoração (Rm 4.20), e os que deliberadamente deixam de fazê-lo correm sério perigo (At 12.23).
No Antigo Testamento, essa glória é manifesta a Moisés na sarça ardente (Êx 3.2-4); na nuvem que os guiava no deserto e na coluna de fogo durante a noite (Êx 16.7,10); no monte Sinai, lugar onde Moisés viu a glória do Senhor face a face (Êx 24.15-18; 33.20; 34.5-8); no tabernáculo onde se manifestou a glória (Êx 40.34-35); nos sacrifícios (Lv 9.22-23); no templo (1 Rs 8.11; 2 Cr 7.1-3); e também é revelada aos profetas Isaías (Is 6) e Ezequiel (Ez 1.28) e descrita nos Salmos 18 e 29.
No Novo Testamento, ela é vista pelos pastores (Lc 2.9,14), pelos discípulos de Cristo (Jo 1.14); nos sinais e milagres de Cristo (Jo 2.11); na transfiguração (Mt 17.1-8); na demonstração de sua própria glória (Jo 7.39; Hb 1.3); e será revelada na sua vinda (Mc 8.38). Essa glória deve ser refletida pela Igreja (2 Co 4.3-6) enquanto proclama o evangelho de Cristo (1 Pe 4.14). “E vimos a sua glória, como a glória do Unigénito do Pai.” (Jo 1.14). Essa glória que a tudo preenche será plenamente revelada aos seres humanos quando estivermos na cidade celestial (Ap 15.8; 21.23).

I - A VISÃO SANTA
1. A Crise do profeta
Isaías provavelmente era um parente próximo do rei Uzias (sobrinho); assim, ele desfrutava de privilégios junto ao palácio real, era cronista oficial do rei, o que escrevia a história real. Portanto, a história deveria ser escrita seguindo o desejo real, ou seja, ele deveria ser conivente com os acertos e com as injustiças do reino. Isaías não poderia falar mal do rei nem confrontá-lo. Caso contrário, ele perderia seu “emprego”. Ele pertencia aos oficiais remunerados, com estabilidade, segurança e demais benefícios do favor real. Por isso, sua psique é afetada com a morte do rei.
Como se não bastasse a instabilidade no palácio real, que arranca sua segurança, ele percebe que algo não está bem entre ele e seu Deus. Algumas contas tinham que ser ajustadas, confissões tinham de ser feitas. O confronto com a visão da glória e a sinfonia angelical cantando sua santidade expunham sua situação num contraste inigualável e incomparável. Nenhum ser humano suporta essa visão sem que seu interior perceba sua real situação; tudo isso fazia brotar arrependimento sincero de seu coração. Suas intenções mais secretas foram expostas diante da santidade do Senhor que tudo vê, suas conversas tolas e maldizentes vieram à tona, seu estado calamitoso lhe foi exposto vergonhosamente. Afinal, ele andava com os poderosos, alinhava-se e era conivente com suas práticas, e isso era intolerável para o Senhor diante da grandeza do ministério que Ele queria lhe dar. Isaías não poderia continuar com suas velhas práticas se quisesse ser o grande profeta do Antigo Testamento. Ele entendeu o desígnio do Senhor como poucos em sua época eram capazes. A santidade da glória o impactou, o santificou e o purificou de seus pecados. Agora, sim, ele estava pronto para ser quem o Senhor queria que ele fosse. Uma conversão genuína ao Santo se operou nele. Ele teria que ser separado (qãdhôsh em hebraico) para o chamado. Não seria mais cooptado pela mentira real, pela idolatria do povo, pelas injustiças dos poderosos. Ele se tomaria uma voz profética a confrontar todos os tipos de pecados, ainda que seus autores fossem pessoas de alta posição social e religiosa. A vida do profeta é um exemplo para “muitos que recusam o seu ensino ético e, consequentemente, se inclinam a seguir a trilha da comodidade e de favorecerem a si próprios; e os poucos que aceitam a verdade em busca da segurança eterna, acima de tudo, sem se importar com o preço.”
2. O Assombro e o terror majestoso
Os símbolos de sua santidade são majestade e glória, como vistos por Isaías. O que o profeta vê lhe causa terror e assombro, diante da grandeza da majestade que se revela a ele. Isaías vê o trono de glória (do hebraico kabod: carga, energia), de onde todas as coisas materiais e espirituais tomam vida, fôlego e forças, e vê também a fumaça que esconde, envolve e permite descobrir em partes o todo majestoso. Ele tem a visão dos serafins (do hebraico “incandescente”), seres que assistem e adoram diante do Trono de Deus, e ouve a suprema adoração desses seres: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).
A revelação de Deus para nós, embora completa em Cristo, ainda permanece cercada de mistérios e inacessível (1 Tm 6.16). Nesse sentido, Deus não pode se tomar objeto de nosso conhecimento. Deus é Santo não somente na qualidade moral, mas principalmente no fato de ser inacessível. Isaías se espanta pelo fato de o Senhor se tomar acessível a um pecador como ele, demonstrando que é possível Deus se esvaziar (Fp 2.7) parcialmente de sua glória para se revelar ao homem mortal e transformar a sua realidade.
O sentimento de criatura e nulidade é um efeito colateral do sentimento de receio e assombro que leva a uma dependência total de Deus, que se revela na teofania e “pressupõe uma sensação de ‘superioridade (e inacessibilidade) absoluta’” de Deus (Hb 12.21). Portanto, o ser humano como um todo, composto de emoções, sentimentos, desejos, volição, raciocínio, intelecto e corpo são tomados pela presença do Todo-Poderoso nessa experiência. O ser humano sente-se como que um profano ante a augusta presença. Esses sentimentos podem estar presentes cada vez que o sujeito se abre a essa experiência com Deus, seja na conversão, no batismo no Espírito Santo ou em momentos de comunhão. Quem é atingido pelo milagre ou prodígio da presença de Deus fica boquiaberto, estupefato e assombrado (no sentido de espanto) diante da estranheza absoluta, do totalmente outro, daquEle que foge ao entendimento.
Apesar disso, o assombro produz também a constatação da beleza do Eterno, que traz admiração e é algo atraente, cativante, arrebatador, encantador e fascinante pelo perfeito caráter divino, demonstrados através do amor, da misericórdia, da compaixão e do consolo. Ninguém que tenha um encontro verdadeiro com Deus sai dessa presença brincando ou indiferente. Sempre que alguém disse ter tido um encontro desses, esse alguém é tomado de um santo temor, por uma mistura de inadequação, não merecimento e pequenez, ao mesmo tempo em que é tomado por uma admiração, um desejo de adoração, uma vontade de entregar-se. Enfim, fascinação e assombro ao mesmo tempo, uma mistura de sentimentos que ao final produzem novas estruturas de compreensão mentais e emocionais, mas que também constroem um novo sujeito.
Este novo sujeito fica livre do medo de Deus, mas também sabe que não pode viver levianamente diante do santo. Um santo temor se instala, pois “o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que tem medo não é aperfeiçoado no amor.” (1 Jo 4.18 - ARA). Assim, a compreensão do amor de Deus, presente em sua glória, produz nele um alívio pela culpa do pecado, a certeza do livramento da condenação etema, uma libertação de neuroses religiosas, além de trazer esperanças concretas de um cuidado paterno que só Deus pode dar. Esse amor produz também a grande responsabilidade da luta pela pureza e pela integridade, pois, diante do Santo, nenhuma leviandade, lassidão ou flerte com o pecado são desculpáveis. Assim sendo, o santo temor daquEle que é Santo se instala na alma do sujeito, levando-o a ser como Cristo. “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho.” (Rm 8.29).
3. A Constatação assustadora
Diante da santidade de Deus que se revela ao profeta, com a fumaça enchendo o templo, as portas com seus umbrais e batentes rangendo e estralando (Is 6.4) e os querubins cantando, todos os sentidos do profeta experimentam sensações intensas, não havendo outra coisa a fazer senão ficar assombrado, pois fica muito claro o contraste entre o Santo e o pecador; entretanto, Ele não se revela para condenar, mas para perdoar. A visão lhe dá a constatação mais difícil para qualquer ser humano, a sua pecaminosidade e miséria, levando-o a uma confissão que sai do profundo do coração: “ai de mim, que vou perecendo!” (Is 6.5).
Entretanto, a constatação da necessidade de santidade que Deus dá leva em conta a humanidade com a qual Deus criou os seres humanos. Caso contrário, sua presença aniquilaria o pecador. Dessa forma, a santidade que Deus espera de qualquer cristão é humanizada na humanidade tentada e sofredora de Cristo, ou seja, ninguém é chamado a ser um super-herói cristão; antes, essa santidade é aprimorada pelas tentações, sofrimentos, quedas e tropeços comuns a qualquer ser humano. É uma grande manifestação da graça de Deus.

II - A PURIFICAÇÃO DO PROFETA
1. A Misericórdia que leva ao arrependimento
Uma profunda tristeza tomou conta do profeta diante da constatação de pecador. Ele permanece perto do Santo por um tempo suficiente para constatar a impureza. Depois, recebe dEle a brasa viva purificadora. Se o profeta não tivesse passado tempo com Deus, teria vivido em trágica ignorância de quem Deus era e de seus caminhos para ele e para o povo. Somente a presença do Santo pode detectar em nós aquilo que ainda precisa ser purificado. Por conta e vontade própria, esse processo será superficial e incapaz de produzir transformações verdadeiras e duradouras. É o entrar no Santo dos Santos, que nos foi possibilitado pelo sacrifício de Cristo (Hb 10.20), que nos permite constatar quem realmente somos e o que Deus espera de nós.
Deus estende a ele sua grande misericórdia, manifestada primeiramente na capacidade de se arrepender. O Senhor não deixa o profeta abandonado quando este se arrepende, pois Ele não tolera o pecado, mas vem ao encontro de um coração contrito. O próprio profeta revela isso mais adiante em seu livro, como que numa explicação da experiência que teve com Deus. “Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: ‘Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito.’” (Is 57.15 - versão NVI).
2. A Brasa purificadora
A manifestação da glória e da santidade de Deus produz um contraste absoluto entre criatura e criador. A teofania mostra a transcendência de Deus, infinitamente acima da criação, impossível de ser comparada ou assimilada; porém, o Senhor faz as coisas se tomarem mais fáceis ao, juntamente com sua glória e santidade, mostrar também sua misericórdia, graça e amor incondicionais. Somente por esses atributos é que a comunicação se estabelece, o entendimento vem com clareza e a compreensão da situação pecadora do profeta não destrói sua estrutura humana. Deus lhe estende a mão através da tenaz do anjo e da brasa tirada do altar. Mas o fato de o Senhor descer ao encontro do ser humano não tira a majestade dEle, muito menos o diminui; antes, salienta seu caráter majestoso de amor. Entretanto, ao se aproximar do ser humano, Deus o traz para perto dEle, expande as virtudes do ser humano, tomando-o santo como Ele é santo (Hb 12.10).
Deus não deixa o profeta em desespero. Se Deus não interviesse com a brasa, o profeta seria destruído. Mais uma vez, a misericórdia e a graça de Deus se manifestam, pois, diante da culpa e incapacidade humana de alcançar êxito no esforço de santificação, Ele mesmo intervém bondosa e amorosamente, produzindo aquilo que para o profeta seria impossível de alcançar, ou seja, a possibilidade de ele ser santo diante de sua própria pecaminosidade e propensão a pecar, bem como o fato de ele viver no meio de pessoas pecadoras e que lhe servem de tropeço e incentivo ao mal.
3. Culpa removida e pecado perdoado
Um alívio toma conta do profeta pecador quando este ouve a voz proclamando que está tudo perdoado. E o grito que ecoa do Calvário anunciando: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Ao aceitarmos e crermos que Jesus tem poder para perdoar nossos pecados e aliviar nossa culpa, somos imediatamente aceitos como filhos, e todo peso é retirado, o fardo se toma leve e suave (Mt 11.30).
Santificação (ou perfeição) não significa ausência absoluta de pecados, pois isso somente será possível no céu; antes, significa desenvolver maturidade na consciência, na liberdade, nos relacionamentos e na transcendência, de tal forma que, entre escolher um prazer momentâneo ilícito ou a felicidade e alegria constante do Espírito, optar-se-á por este último, pois é este que traz descanso e paz à alma humana.
Assim sendo, o encontro com o Santo produz o equilíbrio necessário entre um ascetismo religioso empobrecedor que o leva a viver ansiosamente e o impossibilita de fazer escolhas sábias, bem como da liberdade desintegrado-ra que o leva a lançar-se em situações confusas que conduzem a caminhos de morte. O evangelho nos conclama a viver o equilíbrio da liberdade interior onde tudo é lícito, inversamente ao compromisso de viver sem que nada fira a consciência ou entristeça o Espírito Santo (Ef 4.30). Essa liberdade é fruto da vontade do ser unificada pelo Espírito Santo, onde a luta interior entre bem e mal é apaziguada e direcionada à vontade de Cristo.
III - A CHAMADA DO PROFETA
1. Uma mudança radical
A santidade de Deus incutida no profeta não é limitada a uma experiência emocional ou devocional para se sentir espiritual. Ela traz junto uma voz de comando, uma ordem a ser obedecida, que ele fará com prazer. A santidade é um convite para trabalhar com Deus do jeito dele para impactar o mundo. O chamado do profeta não lhe é imposto. Deus lhe faz uma pergunta e lhe convida a uma resposta. A pessoa tem liberdade de dizer sim ou não; porém, diante da grandeza e da santidade de Deus, sua vontade é se sujeitar inteiramente. O chamado de Deus nunca é imposto. É, antes de mais nada, um convite a ser respondido em amor diante da grandeza do amor que nos constrange (2 Co 5.14).
Só consegue obedecer com toda a sinceridade quem é completamente livre. Mas a verdadeira liberdade só é possível quando se cultiva a liberdade interior, que brota do núcleo do ser, do interior mais invisível, pois é ali que Deus habita; só se é livre quando se atinge esse lugar mais íntimo, onde não existem apenas aparências, hipocrisias ou faz de conta, mas é também onde Deus tudo vê e discerne. Esse é o lugar onde ninguém consegue nos manter presos a nada, nem à religiosidade, nem a normas ou dogmas religiosos. Embora em Cristo estejamos sujeitos a todos, em Cristo estamos também livres de tudo e de todos. Portanto, é no coração que se resolve esta paradoxal situação: ser completamente livre para obedecer. E nesse lugar onde cultivamos a sensibilidade pela vida e pelo belo e nos abrimos totalmente a desfrutar e viver essa realidade livre de amarras alienadoras, onde, de fato, nos tomamos humanos e, sendo humanos, realizamos plenamente a vontade de Deus para a qual Ele nos criou.
Entretanto, a liberdade tem um preço. As consequências da liberdade são reféns das escolhas. Se forem escolhas sábias e prudentes, elas nos levarão a lugares de sensatez e honra; agora, se forem escolhas estúpidas, elas nos levarão a lugares de amarga derrota e consequências fugazes. Como disse o poeta Pablo Neruda: “Você é livre para fazer escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. E no coração que se fazem as melhores escolhas. Elas podem matá-lo ou fazê-lo viver, mediocrizá-lo ou fazê-lo voar alto, fazê-lo pecar ou embelezá-lo de santidade. Escolhas podem ser discutidas e afirmadas com a boca, mas é apenas no coração que elas são decididas.
Essas duas escolhas geralmente têm a ver com a luta consigo mesmo, com vencer a si próprio. Foi por isso que Jesus disse: “tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lc 9.23). Portanto, é uma luta e escolha diária vencer o egoísmo de querer se satisfazer e dar lugar aos desejos próprios, aos pensamentos de orgulho, à justiça própria, aos pecados de que gostamos, ao nosso planejamento de vida e a nossa vontade. Jesus nos convida à voluntária e total liberdade de sujeitarmos tudo a Ele. São escolhas de vida ou de morte. Cada um é livre, mas as consequências estão claras, assim como elas foram claramente explicadas ao povo ao qual o profeta Isaías foi enviado.
2. Pronto para o envio
Isaías vê o Santo, ouve a adoração ao Santo, seu pecado é confrontado, é purificado pelo Santo e se vê chamado a um trabalho santo. Diante da majestade do que se revelou, sua livre escolha é obedecer. Isaías diz por que sua convicção interior não lhe permite fugir da nobre tarefa que lhe é confiada. Ele é convencido de que aquEle que diz: “quem há de ir por nós?” está lhe dando uma tarefa muito nobre, irrecusável: advertir seu povo para que se arrependa. Uma paixão sacerdotal toma conta do profeta, e este se coloca a disposição ao ouvir a voz do Senhor, a voz irrecusável.
Ele é informado de que não terá bons resultados - será um pregador fracassado. Terá muita autoridade e santidade, mas não será ouvido (Is 6.9-10). O resultado será mais rebeldia e desobediência e, como consequência, o país seria destruído e devastado (Is 6.11). O povo já está com o coração duro, mas a mensagem de Isaías o endurecerá ainda mais, como num claro gesto de recusa, pois, sem a palavra do profeta, a recusa poderia parecer superficial e a consciência ficaria tranquila, mas assim as máscaras caem e aparece a verdade da falsa religiosidade e da rebeldia que precisa ser rechaçada por palavras que cairão no vazio de ouvidos moucos.
3. A Santa semente
Deus lhe avisa para que não fique frustrado. Até que tudo ficasse desolado e desabitado, sua mensagem não seria ouvida, mas depois ela produziria resultados, e suas profecias se cumpririam. Essa advertência da parte do Senhor é a motivação para que o profeta não desista, pois foram 40 anos de grandes mensagens rejeitadas até que, finalmente, o tronco começaria a brotar na volta do exílio (Is 6.13). Paradoxalmente, a frutificação a partir de troncos feios e queimados é um contraste humilhante diante da grandeza e da glória do Deus que se revelou a Isaías. Assim, a fumaça da glória é um contraste com a fumaça das florestas queimadas; a beleza dos seres angelicais é um contraste com a feiura dos troncos chamuscados; a completude da santidade que a tudo envolve é um contraste com a pequenez dos troncos decepados.
Sobraria uma floresta de troncos decepados, uma nação de troncos; mas desses troncos, brotaria uma semente que faria toda a diferença, Cristo, que purificaria e salvaria não somente o povo de Israel, mas também todo o mundo (Jo 3.16). O resultado do ministério do profeta mostra que o ativismo e a busca desenfreada por sucesso em tudo que se faz nem sempre é o desejo de Deus. Histórias deslumbrantes e testemunhos arrebatadores nem sempre estão de acordo com a santidade de Deus. São as tentações do mundo, da carne e do Diabo (1 Jo 2.16), com promessas de gratificação, muitas vezes imediatas, que nos levam a ter desejos de uma vida melhor que não levam em conta aquilo que o Santo pensa e quer, pois é do tronco feio e queimado que brotará a vida abundante, pois o Santo não é negociável. Os frutos do trabalho podem demorar séculos, como no caso de Isaías. A tentação do imediatismo ministerial tem sido um grande mal para a Igreja, pois tem feito muitos trocarem os métodos de Deus, algumas vezes demorados, por métodos humanos fáceis e rápidos, mas que não correspondem com a santidade daquEle que chamou nem produzem frutos duradouros.
O tronco que brotará indica que, em qualquer trabalho no Reino de Deus, o esforço humano nem sempre é recompensado a curto ou médio prazo, como na vida do profeta. Diligência e compromisso nem sempre garantem a frutificação imediata, mas onde existe a vida de Deus, aí existem condições plenas de brotar a semente. O próprio profeta disse: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tomam, mas regam a terra e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia; antes, fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a enviei” (Is 55.10-11). Cedo ou tarde, a Palavra produzirá o que é necessário, pois é Ele quem dá o crescimento. A nós basta plantar e regar, mas nenhum esforço para fazer crescer dará resultados. (1 Co 3.6).
O inverso também pode ser verdadeiro. A diligência e o compromisso em querer fazer brotar aquilo que é falso, ou ainda a presença de milagres extraordinários nem sempre é sinal de que a vida de Deus está ali. Jesus advertiu contra os falsos profetas, que reivindicavam estarem fazendo a vontade plena de Deus quando, na verdade, estavam enganando a si mesmos e todos os que os seguiam, pois seus métodos e intenções eram torpes, embora eles aparentassem ser possuidores da verdade. Falsos profetas não aceitam ser chamados de falsos, nem dizem isso de si mesmos; muito pelo contrário, eles apregoam a verdade, porém poluída pela mentira de suas intenções. São praticantes de iniquidade. Eles são conhecidos pela fama que querem ter, pelo dinheiro que pedem ou pelo poder que constroem de forma torpe, gananciosa - tudo isso à custa de pessoas manipuláveis. Eles podem ser medidos pelo caráter, pelo ensino e pelo resultado, embora nem sempre isso esteja claro. Jesus disse a respeito destes, numa versão parafraseada: “Tudo que fizeram foi me usar para virar celebridade. Vocês não me impressionam nem um pouco, fora daqui!” (Mt 7.23).
Jesus sempre acolheu pecadores, comia com eles e tratava-os com dignidade. Porém, quem Ele mais criticou em seu ministério eram os falsos profetas, falsos líderes, falsos professores e falsos pastores (Mt 23.1-7), pois se travestiam de santos, mas por dentro eram totalmente falsos, “sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia” (Mt 23.27). “Nunca vos conheci” (Mt 7.23).
Dessa forma, convém que, diante do chamado pessoal de cada um, estejamos submissos e obedientes àquilo que o Santo quer de cada um, com um coração livre para atender ao seu ide, pois ver o Senhor implica em olhar para cima, olhar para si mesmo e olhar para os outros com compaixão.

http://www.ensinadorcristao.com.br/2016/08/licao-07-chamada-e-purificacao-do.htmlAutor: Claiton Ivan Pommerening