Lição 11: Profecias da Consumação da História (Jovens)



O livro de Isaías, por sua amplitude, insere-se no quadro das peças fundamentais da literatura profética, oferecendo um valioso conteúdo histórico-teológico que nos permite fazer uma tríplice aplicação, ao mesmo tempo em que exige de nós um posicionamento a respeito da relação com Deus, com o próximo e com a natureza que nos circunda. Essa tríplice aplicação baseia-se no seguinte:

a) Apesar de não ser um livro histórico propriamente dito, permite-nos conhecer, de maneira simplificada, uma parte da história dos Israelitas com Deus e com outros povos. O texto fala resumidamente do contexto religioso, histórico, político e social. Nessa breve história, o livro nos possibilita enxergar a graça, a misericórdia, a justiça e a soberania de Deus, que se traduz no amor de Deus por Israel e/ou pela humanidade como um todo.
b) Apesar de nos remeter a um período muito antigo (do séc. VIII ao séc. IV a.C.), a voz de Isaías ecoa de modo significativo nos ouvidos da igreja de hoje. Ele direciona a nossa atenção para nossa história do dia a dia, chamando-nos a repensar nossa prática cristã não só dentro das igrejas ou comunidades a que pertencemos, mas também a irmos além, a entender que Deus nos chama para fora, para o mundo, para proclamar o Reino dentro de nossas teias sociais, para apontar que existe um Deus soberano em meio à pluralidade religiosa e proclamar justiça num mundo onde a injustiça é o que dita as normas.
c) Por ser também um livro de caráter apocalíptico, ao lê-lo, somos levados a viajar no tempo e perceber que tudo ao nosso redor é refém da finitude. Por mais magnífico e importante que seja, tudo algum dia deixará de existir, se tomará pó; tal como houve um começo, também haverá um fim. Sob esse olhar apocalíptico, alguns questionamentos sobre o fim nos são impostos. Nesse quesito e sob esse ponto de vista se desenvolve esse capítulo de Isaías, oferecendo-nos algumas respostas que veremos mais adiante.
Os capítulos 24 a 27 compõem uma parte do chamado “apocalipse de Isaías”. Tal como Daniel e Apocalipse, essa seção de Isaías não é fácil de ser compreendida por conta do gênero literário apocalíptico que a constitui. O gênero apocalíptico é “uma narrativa na qual uma visão reveladora é concedida a um ser humano, na maioria das vezes por meio da intervenção [...] sobrenatural ou acima da realidade humana”. Essa narrativa geralmente termina com o anúncio do julgamento divino ou com uma mensagem de esperança de um mundo melhor, no qual o mal não existe.
Os textos apocalípticos comumente são marcados por sofrimentos, perseguições, domínio de um povo sobre o outro, extrema decadência moral, um forte descaso religioso ou apostasia (abandono das ordenanças divinas que tem, como consequência, o sofrimento do povo). Geralmente, o profeta dirige-se “àqueles que vivem em tempos de perseguição e sofrimento desesperado que chega a ser visto como a corporificação do mal supremo”.
Às vezes, confunde-se o apocaliptismo ou apocalipcismo com a escatologia (tradicionalmente definida como o estudo das últimas coisas). Por serem tão próximos e, de certa forma, andarem entrelaçados, a razão dessa confusão é, de certa forma, coerente, porque o que as difere é extremamente tênue. Pode-se pensar que um (o apocalipse) está contido na outra (escatologia). Enquanto o gênero apocalíptico em meio aos sofrimentos do povo propõe-se a revelar a promessa de livramento por meio da intervenção divina, a escatologia se propõe a mostrar uma nova era após esse livramento. Por isso, vale voltar maior atenção ao apocalipcismo, que é o gênero literário que dá embasamento aos capítulos desta seção.
Apesar de esses capítulos serem conhecidos como uma parte do “apocalipse de Isaías”, eles não são compostos unicamente do gênero apocalíptico; eles reúnem “profecias, cânticos e orações. Cada um desses gêneros tem sua própria força e sua combinação que fazem do texto uma sinfonia querigmática” muito mais valiosa porque o profeta é usado por Deus para se referir ao julgamento de Deus para com Judá, mas também se refere ao fim dos tempos apocalípticos e escatológicos. Portanto, trata-se de uma profecia que vai muito além dos dias subsequentes a Isaías. É sob essa hermenêutica dupla que este capítulo se desenvolverá.

I - O JULGAMENTO E A SALVAÇÃO
Isaías faz anúncio da destruição de Tiro por causa do mal que os seus habitantes praticavam, por serem arrogantes e por se exaltarem em relações a outros povos (Is 23.8-9). O profeta anuncia que o mesmo sucederá com todos os povos da terra por causa da maldade que fizeram e “da desaprovação de Deus em relação a esse mal.” O capítulo 24 pode ser visto como o capítulo da proclamação dos castigos, dos anúncios da devastação e do preparo do povo para o sofrimento que vai assolar a terra; tal como em Génesis (Gn 6.11-13), onde Deus anuncia à Noé a destruição da terra com o Dilúvio por causa da maldade do ser humano que havia se multiplicado sobre a terra. A terra, nesse trecho, não é a terra como um todo. O texto faz menção de Israel que era o Reino do Norte e de Judá que era o Reino do Sul. Porém, num contexto futuro, aplica-se também a toda a terra.
1. Causas do julgamento divino
O povo que é conhecido como povo de Deus estava vivendo em grande desobediência. Num período em que os seus reis eram dados à idolatria, estabeleciam alianças com outros povos sem o consentimento de Deus e não davam ouvidos a orientações que Deus lhes dava por meio dos seus servos, os profetas, como nos mostra o capítulo 7 de Isaías. Viviam também um período de grande sincretismo por conta das alianças ou mistura com outros povos. Deus, sendo plenamente justo e zeloso nas suas ordenanças, dá a conhecer ao povo que, por conta de todas essas práticas, eles serão devastados e dispersados, serão levados a servir como escravos em outras terras, serão subjugados pelos assírios (Reino do Norte) e pelos babilónios (Reino do Sul).
O profeta Isaías ensina que a relação entre Deus e a humanidade não se estabelece pela via de favoritismos. Não existem os privilegiados de Deus, no que diz respeito ao juízo. Para Ele, existem apenas seres humanos que, de acordo com a tradição cristã, são divididos entre criaturas (toda a raça humana) e filhos (os que, além de serem criaturas, receberam Cristo como senhor e salvador conforme João 1.12). “As distinções sociais não fornecem nenhum escape do juízo divino”. Por isso, o profeta afirma: “E o que suceder ao povo sucederá ao sacerdote; ao servo, como ao seu senhor; à serva, como à sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao que empresta, como ao que toma emprestado [...]” (Is 24.2).
A corrupção havia se expandido por todas as camadas sociais. As distinções sociais diante de Deus tomam-se irrelevantes. Ninguém é melhor que o outro por conta da sua posição social ou cargo religioso. No juízo divino, as riquezas e o poder não fazem diferença, não tomam ninguém mais ou menos humano, não fazem de ninguém pessoas boas ou más. Por isso, Deus julga todos com a mesma medida, e cada um pagará conforme os seus atos.
Como cristãos, entendemos que as ordenanças e os juízos de Deus são verdadeiros e imutáveis. Em Deus, não há contradição, não há mudança nem sombra de variação (Tg 1.17). Por isso, Isaías (24.3) afirma claramente que a destruição da terra era iminente e certeira porque foi Deus quem falou. Ao dizer que a destruição seria verdadeira, ele queria chamar a atenção de um povo para o qual os desígnios não eram tão relevantes, um povo que praticamente havia escolhido viver uma vida longe da presença de Deus.
Interessante notar que, apesar do grande desinteresse pelas questões religiosas, num momento em que as orientações divinas não eram tomadas como relevantes (como neste caso), Isaías escolheu ir por um caminho diferente, falar o que o povo não gostaria de ouvir, pois, tal como nós, ninguém gostaria de receber um aviso de que haveria de ser destemido. Isaías, porém, em obediência a Deus, age assim.
Podemos tentar imaginar o estado de ânimo do povo. A maioria, talvez, por desconsiderar as palavras que estavam sendo proferidas, continuava vivendo as suas vidas sem preocupação nenhuma. Outros, por entenderem que essas palavras eram verdadeiras, possivelmente estavam afoitos e desanimados. Talvez olhassem um para o outro e perguntassem: “O que faremos?”, “O que será de nós?”, “O que será de nossos bens?”, “O que faremos com nossas fazendas, nossos carros, nossos animais, nossos plantios?”. Outros, talvez, que houvessem acumulado tantas riquezas, perguntassem: “E agora? De que me servirá tudo isso se o fim é iminente?”. A Bíblia afirma que a terra estava murcha, sem forças (Is 24.4).
Aqueles que eram príncipes e nobres, que se autopromoviam, achando-se melhores que outros eram acometidos de tristeza e chegavam a adoecer as suas almas, porque percebiam que não tinham como fugir das mãos do Altíssimo. Podemos perceber que a descrição ultrapassa qualquer coisa que jamais aconteceu. Fazendo uma similaridade com o livro de Apocalipse, somos levados a apontar para o temível futuro do mundo, uma previsão do que sucederá antes do Reino de Deus ser plenamente estabelecido.
Deus, sendo um justo juiz, ao estabelecer o seu juízo, mostra as razões pelas quais somos e seremos julgados, pois Ele não é um Deus sádico, não castiga a humanidade por prazer. Ele o faz pedagogicamente. Por isso, o texto faz menção de que o povo será castigado por transgressão aos estatutos, por violação das leis e por quebra das alianças perpétuas. Esse castigo pode ser comparado a um retomo ao caos, onde desvanece a alegria; assim, o vinho, símbolo da alegria, está em falta, as vinhas murcharam, não há sons de alegria, o povo não tem mais razões para festejar, o prazer já não se faz presente na cidade. Tudo o que havia de bom, que servia de estímulos para a vida, que gerava esperança foi desolado, conforme a profecia predisse.
2. Como será o julgamento
A desolação da terra, segundo o profeta, tomar-se-á dramática e completamente assustadora. O terror assolaria os moradores da terra e não haveria como escapar, pois quem tentar escapar do terror cairá na cova, e quem tentar escapar da cova cairá no laço (Is 24.18). Não há quem fuja do castigo de Deus. Ninguém consegue se esconder da sua face. Sua onisciência se sobrepõe a toda e qualquer artimanha do ser humano. Todo esforço empreendido para escapar das mãos de Deus, por mais engenhoso que seja, é completamente falho e insignificante e será reduzido a nada. Até os fundamentos da terra tremem. Fendas e rachaduras transformam a terra em pedaços. A Lua e o Sol também são sujeitos à destruição por causa da tamanha corrupção do povo. Isso mais uma vez toma evidente que nada está isento da desolação.
Diante das palavras tão vivas do profeta Isaías, o povo vê-se completamente entregue à destruição. Vê também que não há como justificar-se diante de Deus, pois seu juízo é reto. Em tal caso, restou ao povo a possibilidade de tomar consciência de seus maus atos, assumir a responsabilidade e buscar o caminho da esperança, encontrar um escape em meio ao caos que se havia instaurado, tentar achar o caminho do perdão, porque, apesar de Deus ser justo, também é perdoador, e o salmista diz: “[...] a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (SI 51.17b). É isso que também se destaca no texto, um cântico de louvor como expressão de clamor por misericórdia.
A palavra julgamento no grego (krinein) quer dizer separar (Mt 13.24-30), ou seja, será a separação do bem e do mal daquilo que é verdadeiro do que é falso. Será o ato final de Deus, tanto na história de Israel quanto nos dias futuros, onde se preservará apenas aquilo que não foi contaminado pela maldade e pelo pecado. Esse período de julgamento se refere ao Juízo Final, na consumação de todas as coisas, quando todos os povos e nações comparecerão diante do trono de Deus para serem julgados por seus atos (Mt 25.31-33). O início do Juízo Final acontecerá logo após o Milénio, os mil anos de paz do governo mundial em que Cristo será o Rei e Satanás ficará preso. Porém, Satanás será solto logo após o fim do Milénio até ser julgado. Assim, o Juízo Final servirá para destruir a personificação do mal (Mt 25.41), conforme escrito no Apocalipse: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10).
3. O Destino dos maus
Para o Juízo Final, acontecerá a ressurreição dos maus de todos os tempos (Ap 20.5); os salvos já terão ressuscitado para estarem no Milénio com Cristo (Is 26.19; Ap 20.4). Ninguém escapará da desolação e do julgamento que sobrevirá, sejam ricos, pobres, sacerdotes, leigos (Is 24.2) e reis (Is 24.21). A terra, outrora abençoada, agora é maldita por causa da injustiça (Is 24.5) e será abalada, provavelmente num grande terremoto (Is 24.18-20), e o Sol e a Lua deixarão de brilhar (Is 24.23; Lc 21.25). Deus destruirá todo o mal, bem como todos os grandes poderes e impérios mundiais representados pelo leviatã, pela serpente sinuosa e pelo dragão (Is 27.1). Aqueles que forem julgados como maus serão separados definitivamente de Deus, a fonte da vida. Serão, juntamente com o Diabo e seus anjos, lançados no lago de fogo que arderá eternamente. Jesus disse que ali haverá choro e ranger de dentes (Mt 13.50), ou seja, um sofrimento intermitente, ilimitado e eterno.
4. O Destino dos bons
Aqueles que forem julgados como bons e forem justificados pelo sacrifício de Cristo serão levados para o Reino eterno, conforme Jesus mesmo afirmou:
“Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me” (Mt 25.34-36).
O Reino de Deus será um eterno desfrutar de alegrias, delícias e bem--estar, na presença de todos os salvos de todos os tempos. Todavia, o mais importante é que para sempre estaremos com nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja presença encherá a terra com sua glória e majestade, conforme a visão de João: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23).

II - CRISTO, O CENTRO DA HISTÓRIA
A Bíblia afirma que “nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16). Portanto, toda a história da humanidade tem Cristo como seu precursor (Jo 1.1; Ap 13.8b), seu executor (Mt 28.18; Cl 1.17) e o seu fim (Fp 3.21). A criação, a redenção da raça humana e o futuro estão nas mãos dEle. Assim, Cristo é o centro da história humana, e qualquer ser humano somente se realiza plenamente nEle, pois Ele é o centro da história da salvação como seu executor, proclamador e mediador, permitindo a reconciliação com Deus através de sua morte na cruz.
1. O Início da história humana
Cristo esteve presente no início da criação de todas as coisas, nos tempos eternos com o Pai. Assim, a história da humanidade pode ser tematizada em: criação, queda, redenção em Cristo e final dos tempos com Cristo. Isso porque Ele é o que permeia a história humana com sua presença. Ele é o centro da história porque o povo escolhido entre a humanidade, Israel, não foi fiel à aliança feita com Deus e, com isso, um remanescente (a semente, o tronco) restante, que se concentra em Cristo na sua morte e ressurreição, tomou-se precursor de um grande povo composto por todas as tribos e nações, que confessam a Cristo como salvador.
2. A Redenção da história humana
O profeta Isaías, além de prever destruição, traz paradoxalmente um olhar de esperança, prevendo que o povo encontraria novo sentido de vida e renasceria, e aqueles que não tinham ânimo nenhum encontrariam possibilidades de experimentar o outro lado da face de Deus, sua face bondosa e misericordiosa.
As pessoas que verdadeiramente creem que Deus vai agir e realizar os seus propósitos na história, como o profeta nesse caso, podem, de modo antecipado, celebrar os feitos de Deus em suas vidas pelos olhos da fé, pois o inimigo do povo de Deus já foi arruinado e derrotado. No texto, o inimigo do povo são os assírios, pois estes oprimiam o povo de Deus e os subjugavam à escravidão. Por isso, aqui eles são descritos como pobres e necessitados; e os opressores são descritos como os estrangeiros. O povo, na voz de Isaías, expressa cânticos de louvor e adoração a Deus, na esperança de que este cativeiro não é eterno, pois Deus lhes enviaria um Libertador.
Da mesma forma que Deus providenciaria um escape para Israel, toda a história da salvação está virtualmente contida num único evento: no fato de que todo o passado da história da salvação tende para essa intervenção de Cristo na história através da cruz. Dela brota todo o presente e representa a garantia de todo o futuro da redenção. Entre a cruz de Cristo e a consumação final da história, dá-se a tensão e a hostilidade entre a instalação de seu Reino na terra “já-agora” e no “ainda não” do Reino que está por vir. A batalha decisiva e vitoriosa já foi travada na cruz do Calvário. Nesse momento, vive-se em hostilidade com o adversário, Satanás, que quer tentar destruir a obra redentora em nós, embora já tenha sido vencido. Estamos apenas aguardando o dia da vitória final em que se dará o arrebatamento da Igreja, que desencadeará o final da história humana.
3. Ele é para todo o sempre
Ele é antes do início, foi crucificado ontem, reina agora de forma invisível e voltará no fim dos séculos para estabelecer seu Reino eterno, onde a justiça e a paz reinarão perpetuamente. Algumas vezes, o fim dos tempos é entendido como um tempo caótico e terrível. Para alguns, poderá ser mesmo. Já para os que forem do Senhor, será um tempo em que as qualidades humanas serão potencializadas e nossa fidelidade ao Senhor não sofrerá mais os percalços que temos hoje, pois Ele mesmo vai destruir toda infidelidade (Is 5.1-6), numa revelação completa da bondade e da grandeza de Deus, tirando a cegueira que nos impedia de enxergá-lo (Is 25.7).

III - O FIM DA HISTÓRIA
O Fim da História, em termos seculares, foi iniciada por Friedrich Hegel (1770-1831) que ensinava que, quando a humanidade alcançasse um ponto de equilíbrio com a ascensão do liberalismo e da igualdade, a história chegaria ao fim. Essa ideia foi retomada em tempos modernos por Francis Fukuyama, o qual defendia que, com o avanço do Capitalismo e o fim de regimes fascistas e do Comunismo, anunciava-se o Fim da História. A evolução económica, a democracia e a igualdade de oportunidades levariam todos a atingirem seus objetivos de vida, e a sociedade supriria todas as necessidades humanas. Portanto, não seria o fim cronológico da história, mas o fim de governos e regimes que não conseguem suprir as necessidades humanas ou que estão em desacordo com os valores ocidentais. E óbvio que a humanidade está longe desse ideal, porque tal ideal somente será atingível no governo ou no Reino de Cristo.
Quando se fala em consumação da história, fala-se do fim dela; e fim significa término e também alvo, ou seja, os filhos de Deus se esforçam (Mt 11.12) para atualmente estabelecerem seu Reino na terra (alvo). Porém, esse esforço só terá fim quando os céus e a terra passarem (2 Pe 3.10). Entretanto, o seu Reino será concretizado em plenitude somente no fim dos tempos, no término da história humana.
1. O Fim do sofrimento para o povo israelita
E interessante notar o paralelismo que há entre Is 25.8 e Ap 21.4. Após um período de grande sofrimento, de dor profunda e de grande desespero, Jerusalém, simbolizada pelo “monte Sião” em Isaías, entra em cena. Em Jerusalém, de acordo com Isaías, será feito um grande banquete com uma grande quantidade de comida e de vinhos magníficos. Porém, a similaridade toma-se mais evidente quando o profeta anuncia que Deus enxugará as lágrimas de todos os rostos e aniquilará a morte do meio do seu povo. A derrota final da morte simboliza salvação definitiva do povo de Deus. Esse paralelismo entre os dois textos corrobora a ideia de que essa seção faz parte dos textos que constituem o “apocalipse de Isaías”. Em sua profecia, Isaías tem em mente o cativeiro babilónico, pelo qual Judá haveria de ser subjugada. Num primeiro momento, Isaías é usado por Deus sob uma perspectiva pastoral, no sentido de oferecer consolo ao povo. Nos capítulos anteriores, o trabalho do profeta está mais voltado para anunciar o juízo divino ou a destruição do povo. Agora, em meio às dores do cativeiro, o profeta preocupa-se em restaurar a confiança do povo na proteção divina. “Em nenhum outro lugar, as Escrituras apresentam um exemplo melhor de consolo para dias difíceis” do que nesta profecia de Isaías.
O povo, outrora desprezado e oprimido, é chamado a confiar em Deus, pois Ele é quem humilha os altivos, referindo-se aos inimigos. Ao responderem a esse chamado, eles desfrutariam da perfeita paz, que é a dádiva dEle de bem-estar e completude, pois, em meio à situação em que o povo se encontraria, receber o anúncio de uma vida de paz é muito mais satisfatório do que qualquer outra coisa. Esse chamado a uma confiança perpétua tem sua lógica fundamentada na fidelidade de Deus, pois Ele nunca abandonou o seu povo. A ida deles ao cativeiro foi por conta da permissão de Deus, como um bom Pai que cria meios ou possibilidades de redirecionar o seu povo para a proposta de vida que Ele oferece.
Depois de o povo ter experimentado o juízo divino, o lado de Deus que nenhum ser humano gostaria de experimentar, chegaria o momento em que a ira de Deus contra os israelitas abrandaria. A ira de Deus não estaria mais contra os israelitas, que são simbolizados pela “vinha frutífera” ou “vinha aprazível”. Ou seja, Deus estaria mostrando seu agrado para com eles; porém, se o seu povo voltar a quebrar os estatutos e quebrar a aliança perpétua, que são simbolizados no texto pela erva daninha e por espinhos, então Deus os pisoteará e os destruirá por completo.
2. A História humana terá fim, a de Deus não
Deus está acima da história. Ele é um ser a-histórico, pois é eterno, porém seu Reino se estabelece na história humana. Por isso, tem início, mas nunca terá fim. No tempo determinado por Deus, a história humana e a vida na terra deixarão de existir e serão tomados pelos novos céus e pela nova terra (2 Pe 3.10-13). Entretanto, esse não será o fim da história daqueles que forem salvos, mas será a entrada destes na eternidade, a transição daquilo que é temporal para o que é eterno, a qual Jesus chamou de “vida eterna” (Jo 5.24). Na consumação da história, aquilo que é temporal terá o seu fim, será sugado pela eternidade como desnecessário; inclusive a Lei e a moralidade não precisarão mais existir. Viver-se-á o amor perfeito, que é o cumprimento da Lei, pois o amor cumpre a Lei antes que ela o exija, apontando para o caráter temporal e necessário da Lei enquanto estivermos na terra.
No Apocalipse de João, está escrito que não haverá templo na Jerusalém celestial, porque Deus habita nela; isso aponta para o fim da religião, pois esta nada mais é que a tentativa de se chegar (religare) a Deus, sendo totalmente desnecessária no estado perfeito da Vida Eterna em que Deus é tudo em todos.
3. A Nova Jerusalém é o início da nova história humana
O exílio ou cativeiro não está distante de nós. Ele pode ser traduzido em coisas simples que nos aprisionam e nos impedem de viver uma vida em que a dignidade humana é respeitada, uma vida onde há relações saudáveis com Deus, com o próximo e com a natureza, pois esse é o plano de Deus para o mundo. Assim sendo, é necessário que aconteça a consumação da história e que o Reino de Deus se estabeleça definitivamente. Esse Reino aponta para a nova Jerusalém, o lugar que Deus preparou para os salvos em Cristo, para passarem com Ele por toda a eternidade, na casa do Pai (Jo 14.1-4), desfrutando eternamente de seu amor. Ela será de uma beleza, de uma majestade e de uma glória indescritível (Ap 21.9-15). Mas a melhor coisa não é a magnífica cidade, e sim quem estará nela: nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ansiemos por esse tempo.

Autor: Claiton Ivan Pommerening