Reavivamentos americanos: Como a fé incentivou a fundação dos Estados Unidos

Paul Strand
Um dos debates em curso sobre o início da nação americana é se os fundadores pretendiam estabelecer uma nação cristã. Esse debate fez com que muitos se perguntassem se os americanos estão se desligando de sua base cristã ou reinterpretando a lei para refletir melhor as intenções seculares dos fundadores dos EUA.
Alguns argumentam que os EUA não foram construídos sobre princípios cristãos e que até os fundadores tinham uma fé fraca. O que muitos não percebem é que um reavivamento enorme eclodiu em várias décadas de 1700 que deixou uma marca radical em quase todos os fundadores.
Os peregrinos já tinham estabelecido um alto padrão espiritual com sua aliança de 1620, o Pacto de Mayflower, de ser uma cidade reluzente em uma colina para o mundo.
“Eles estavam muito insatisfeitos com o estado do Cristianismo no Velho Mundo,” disse o reverendo Eddie Hyatt, que descreve como o Cristianismo moldou os EUA em seu livro America’s Revival Heritage (A Herança de Reavivamentos dos EUA).
“Eles fugiram da perseguição no Velho Mundo, mas também vieram para os EUA com uma visão de ver uma renovação e uma reforma do Cristianismo e vê-la implementada neste Novo Mundo,” disse ele.

Vivendo por aliança, não reis

Hyatt explicou que a escolha dos peregrinos de viver de acordo com a aliança também era sua maneira de declarar que nenhum rei ou religião estatal governaria sobre os americanos.
“O que isso significava era que eles não seriam governados por um monarca ou por um ditador,” disse Hyatt. “Eles seriam governados por leis sobre as quais todos concordavam.”
Décadas mais tarde, quando William Penn e os quakers se mudaram para a Pensilvânia, Hyatt explicou que eles vinham com uma visão intensa.
“Que as pessoas seriam autogovernadas por dentro pelo amor de Deus e por uma bússola moral interior guiada pelo Novo Testamento,” disse ele. “Quanto mais eles fossem governados de dentro, menos governo externo eles precisariam.”
Os quakers passaram a viver avidamente a crença de que os homens deveriam ser governados de dentro por Deus, não de fora pelo governo.
“Um oficial da Inglaterra veio tentando encontrar o governo da Filadélfia, e ele teve dificuldade em encontrá-lo,” disse Hyatt. “E quando ele encontrou, não havia ninguém lá porque o conselho governante só se encontrava uma ou duas vezes por ano conforme sentiam que havia necessidade.”
Aqui estava outra pedra fundamental da liberdade, que estava sendo estabelecida como alicerce: a visão dos homens morais que se governam em uma terra de governo secular extremamente limitado.
Mas um problema para as colônias era que, ao se mudarem para o século XVIII, seu fervor espiritual estava morrendo rapidamente. Crentes ficaram tão desesperados que começaram a orar por avivamento.
Hyatt disse que as igrejas e os governos se uniram nesse esforço. Ele apontou para os escritos de um pastor puritano naquela época, William Cooper.
“Ele disse que de sábado a sábado eles estavam orando especificamente por um derramamento do Espírito Santo e que Deus iria reviver sua obra,” explicou Hyatt. “A maioria das igrejas separou dias para buscar o Senhor pela oração e pelo jejum. Até mesmo os governos civis estavam preocupados e nomearam dias de jejum e oração.”

O primeiro grande despertamento

As orações foram respondidas e esse reavivamento, conhecido como o Primeiro Grande Despertamento, ocorreu entre 1720 e 1760.
O Rev. Jonathan Edwards, conhecido principalmente hoje por seu ardente sermão, “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado,” estava bem no meio desse avivamento.
Edwards era uma criança prodígio, iniciando seus estudos na Universidade de Yale aos 13 anos e se formando no topo de sua classe aos 17 anos de idade. Ele era conhecido por orar e estudar sua Bíblia 13 horas por dia.
Esse pastor colonial viu pessoalmente o avivamento tomar conta de sua cidade natal no Oeste de Massachusetts.
“A maneira como ele descreve: um dia, Deus invadiu a cidade de Northampton,” disse Hyatt. “A cidade parecia estar cheia da presença de Deus.”
Os bares se esvaziaram e a casa de Edwards, assim como os lares de outros cristãos, se encheram de pessoas ansiosas para serem salvas e conhecerem a Deus.
Os visitantes da cidade falavam espantados sobre a atmosfera sagrada que vivenciaram cobrindo a cidade.
“Se você encontrasse alguém que parecesse espiritualmente indiferente, seria algo estranho,” citou Edwards.
Outras cidades e regiões também vivenciaram essa explosão espiritual, mas o poderoso pregador inglês George Whitefield trouxe seus sermões inflamados para os EUA.
Desprezado pela igreja socialmente reconhecida, ele pregou a salvação para grandes multidões ao ar livre. Multidões de 10.000 até 30.000 apareceram.
“Durante esse período, parecia que cidades inteiras se arrependiam e se voltavam para Deus,” disse Hyatt. “Foi um movimento incrível para o Cristianismo.”

Salmo em todas as ruas

Whitefield ficava hospedado na casa de Benjamin Franklin enquanto pregava na Filadélfia. Franklin escreveu sobre o impacto do avivamento.
“De ser irrefletido ou indiferente sobre o Cristianismo, parecia que todo o mundo estava se tornando cristão, de modo que não se podia andar pela cidade em uma noite sem ouvir salmos sendo cantados em diferentes famílias de todas as ruas,” escreveu Franklin.
Whitefield estava fazendo uma oração especial neste momento pelas colônias que fariam uma enorme diferença em sua Revolução e futuro juntos.
Hyatt disse que Whitefield estava orando para que “eles não vivessem como 13 colônias dispersas, mas como uma nação sob Deus.”
E, de fato, o Grande Despertamento tornou-se o primeiro evento nacional que as colônias dispersas experimentaram em união. Unificou-os diferente de qualquer outra época logo antes para enfrentar o poderoso império britânico na guerra.
O reavivamento também moldou a visão central dos fundadores para os EUA: que Deus liberta os homens, é seu direito natural ter liberdade e cada um foi feito para governar com Cristo.
A influência desse reavivamento está em toda a Declaração de Independência, na Constituição dos EUA e na Declaração de Direitos.
Ao estudar os fundadores, Hyatt encontrou exemplo após o exemplo de quão profundamente esse Despertamento influenciou a eles e seus valores cristãos. Tome Thomas Jefferson por exemplo.
“Ele assinava todos os documentos presidenciais ‘no ano de nosso Senhor Cristo,’” explicou Hyatt.
Jefferson autorizou o envio de missionários cristãos para uma tribo indígena e deu a essa tribo verbas federais para construir uma igreja. Ele também participou de cultos de domingo que se reuniam bem dentro na Câmara dos Deputados dos EUA.
Hyatt apontou que esses exemplos dificilmente são os atos de um homem querendo colocar uma enorme parede de separação entre Cristianismo e governo, como muitos retratam Jefferson hoje.

Washington de joelhos — orando

Hoje alguns estudiosos escrevem em dúvida sobre a fé do primeiro presidente dos EUA. Mas um quaker chamado Isaac Potts, que morava perto de Valley Forge, viu de perto a fé de George Washington durante aquele inverno cruel que quase congelou o exército colonial do general até a morte durante a Revolução.
“Amarrei meu cavalo a uma árvore e entrei silenciosamente na floresta, e para meu espanto vi o grande George Washington de joelhos sozinho,” escreveu Potts. “Ele estava em oração para o Deus dos exércitos do céu, implorando a Ele para intervir com o Seu auxílio divino, e para a causa do país e da humanidade, e para o mundo inteiro.”
“Tal oração eu nunca ouvi dos lábios de homens… Nós nunca pensamos que um homem poderia ser um soldado e um cristão, mas se há um no mundo, é Washington,” Potts, que era anti-guerra como a maioria dos quakers continuou.
Na Convenção Constitucional em 1787, os delegados lutaram e brigaram tão amargamente que a convenção quase se desfez.
Mas então Benjamin Franklin se levantou e começou a pregar.
“Quanto mais eu vivo, mais provas convincentes eu vejo dessa verdade: que Deus governa nos assuntos dos homens,” teria dito o velho pai fundador. “E se um pardal não pode cair no chão sem que Ele note, é provável que um império possa se erguer sem a ajuda dEle?”
Então Franklin implorou que orassem juntos no início de cada dia. Depois disso, uma atmosfera de paz e reconciliação veio sobre os fundadores.
“E eles foram capazes de prosseguir,” disse Hyatt. “E para terminar o seu trabalho de modelar a Constituição Americana e Declaração de Direitos — e em um contexto de oração.”
“Eu diria que praticamente todos os fundadores diretamente, indiretamente em um grau ou outro, foram afetados, foram impactados pelo Grande Despertamento,” disse ele.

Um despertamento espiritual nacional

Quando os EUA se mudaram para o século XIX, seu fervor espiritual começou a esfriar novamente e, como antes, homens desesperados oravam por um avivamento.
Veio, começando na Universidade de Yale, onde um terço dos estudantes foram salvos antes de irromper em outras universidades. Então se espalhou por todo o país em crescimento, até mesmo na fronteira.
Hyatt disse à CBN News o que um ciclista metodista escreveu sobre o que viu: “Ele disse: ‘Parecia que o país inteiro estava vindo para Deus.’”
Hyatt sugere em seu livro sobre avivamentos no início dos EUA que este Segundo Grande Despertamento salvou os EUA da influência da sangrenta Revolução Francesa, do deísmo — a crença de que Deus existe, mas é uma entidade distante e despreocupada — e da loucura selvagem e obscena do Velho Oeste.
Ainda outro reavivamento ocorreu no final da década de 1850, bem a tempo de amortecer o golpe da poderosa Guerra Civil que quase destruiu a nação.
“Houve Despertamento em diferentes momentos. Deus veio em momentos cruciais,” declarou Hyatt. “E estou orando para que Deus use meu livro para ajudar a inflamar um novo desejo, paixão e visão nos cristãos de que os Estados Unidos possam ver outro Despertamento espiritual nacional.”
Traduzido por Julio Severo do original em inglês da Rede de Televisão Cristã dos EUA:American Revivals: How Faith Fueled America's Founding