Fernando Haddad reconhece que o maior responsável pela sua derrota nas urnas foi o “fenômeno evangélico”

Julio Severo
Em entrevista à Folha de S. Paulo nesta semana, o ex-candidato presidencial Fernando Haddad, do PT, reconheceu que o maior responsável pela sua derrota nas urnas foi o “fenômeno evangélico.”
Ele disse: “Há estudos mostrando, se eu tivesse no mundo evangélico o mesmo percentual de votos que tive no mundo não evangélico, eu teria ganho a eleição,” acrescentando: “Há um fenômeno evangélico sobre o qual temos que nos debruçar.”
Ele culpou de forma especial o neopentecostalismo pela sua derrota.
“O Brasil, estruturalmente, é um híbrido entre casta e meritocracia. Se admite que o indivíduo ascenda, mas sozinho. Desde que a distância entre as classes permaneça. O neopentecostalismo e a teologia da prosperidade são compatíveis com isso,” afirmou Haddad.
Enquanto igrejas protestantes históricas afetadas esmagadoramente pela Teologia da Missão Integral culpam a Teologia da Prosperidade por todos os problemas na Igreja Evangélica do Brasil, Haddad culpou diretamente o neopentecostalismo e a Teologia da Prosperidade por sua derrota!
Ele acertou em cheio. Quando a iniciativa do kit gay do governo do PT para as escolas começou a avançar em 2011 durante o mandato de Haddad como ministro da Educação, a oposição maior não veio da CNBB nem de igrejas protestantes históricas como a Igreja Presbiteriana do Brasil. Veio de líderes neopentecostais, que acabaram pressionando a Frente Parlamentar Evangélica, que por sua vez pressionou a presidente esquerdista Dilma Rousseff a vetá-lo.
Haddad não é o primeiro líder esquerdista a identificar o neopentecostalismo como um obstáculo ao esquerdismo. Em 2016 a filósofa marxista Marilena Chaui disse que a principal ameaça ao esquerdismo brasileiro é a Teologia da Prosperidade das igrejas neopentecostais.
Essa modalidade teológica, que nasceu nos Estados Unidos, tem grande afinidade com o capitalismo americano e aversão ao sistema socialista. O crescimento do neopentecostalismo gera atrito natural com o socialismo. Quanto mais neopentecostalismo, menos socialismo. A Venezuela, que está sendo devastada pelo socialismo, é um exemplo. Há pouquíssimas igrejas neopentecostais na Venezuela, cuja população é 96 por cento católica.
Embora Haddad tenha atribuído sua derrota ao neopentecostalismo e embora a imprensa dos EUA e de Israel tenha noticiado que a maior força conservadora de Bolsonaro foram os evangélicos, Bolsonaro até agora tem dado prioridade de cargos para indicações de Olavo de Carvalho, cujos adeptos acreditam que sem ele Bolsonaro não seria presidente.
Ainda que o nome de Silas Malafaia tenha aparecido diversas vezes na grande imprensa americana como influência proeminente que conduziu os evangélicos a votar em Bolsonaro, o novo presidente, ao receber indicação do nome de Guilherme Schelb vinda de Malafaia para ministro da Educação, preferiu acolher a indicação do anti-Trump Ricardo Vélez, vinda de Carvalho, apesar de que o nome de Carvalho não foi mencionado uma única vez na grande imprensa americana como tendo tido alguma influência na eleição de Bolsonaro.
Bolsonaro também nomeou como ministro da Relações Exteriores Ernesto Araújo, nome indicado por Carvalho. Araújo tem um artigo numa revista diplomática do Itamaraty exaltando o ocultista Islâmico René Guénon, que durante muitos anos foi divulgado por Carvalho no Brasil.
Enquanto Haddad expressou reconhecimento explícito de que sua derrota se deveu aos evangélicos, especificamente aos neopentecostais, de Bolsonaro ainda não partiu nenhum reconhecimento de que sua vitória se deveu a eles. Pelo contrário, no dia de sua vitória Bolsonaro agradeceu aos brasileiros em geral e a Olavo de Carvalho em particular.
Entretanto, da parte de Carvalho, que tem sido abundantemente recomendado por Bolsonaro e seus filhos em mensagens extremamente elogiosas de Twitter e Facebook, veio um bizarro reconhecimento sugerindo que as igrejas evangélicas precisam ser combatidas mais do que o socialismo tem sido combatido. Carvalho disse: “As igrejas evangélicas fizeram mais mal ao Brasil do que a esquerda inteira.”
Portanto, tanto Haddad quanto Carvalho veem as igrejas evangélicas como grandes obstáculos, ameaças e males.
Mas quem tem sido influência, com sua assessoria, na política de Bolsonaro não é Haddad. É o próprio Carvalho, que se tornou na vida dele um Rasputin.
Com informações do GospelPrime.