Trump, Classes Bíblicas nas Escolas e a Separação da Igreja e Estado

Michael Brown
Em resposta ao tuíte do Presidente Trump elogiando as escolas que estavam introduzindo aulas de alfabetização bíblica, o comediante e ator John Fugelsang respondeu com zombaria máxima: “A única razão pela qual você é presidente é que 62 milhões de pessoa que se descrevem como cristãs são completamente analfabetas sobre os ensinamentos de Jesus. Toda vez que Trump menciona a Bíblia, os anjos tossem até não aguentar mais.”
Vamos deixar de lado a zombaria de Fugelsang para com os cristãos que votaram em Trump. E vamos ignorar seu ataque ao presidente.
Em vez disso, vamos fazer esta pergunta simples: Trump foi culpado de elogiar uma flagrante violação da separação entre igreja e Estado? Ele escreveu: “Vários estados introduzindo aulas de alfabetização bíblica, dando aos alunos a opção de estudar a Bíblia. Começando a voltar ao que era antes? Ótimo!”
Respondendo ao tuíte do presidente, Ryan Hill simplesmente citou a Primeira Emenda da Constituição dos EUA: “O Congresso não fará nenhuma lei a respeito do estabelecimento de uma religião, ou proibindo o livre exercício dela; ou reduzindo a liberdade de expressão, ou de imprensa; ou o direito de as pessoas pacificamente se reunirem e solicitar ao governo uma reparação de queixas.”
Mas o que uma aula bíblica voluntária em uma escola pública tem a ver com a Primeira Emenda?
Absolutamente nada.
Não há a menor conexão, seja imaginada ou real.
Aliás, só em 1963, na decisão Distrito Escolar de Abington versus Schempp, o Supremo Tribunal dos EUA decidiu que a leitura obrigatória da Bíblia nas escolas públicas era uma violação da Primeira Emenda. No entanto, por mais radical que essa decisão tenha sido à luz da história americana, a lógica desses juízes não afetaria de maneira alguma uma aula voluntária sobre alfabetização bíblica.
Mas não acredite na minha palavra. Vamos voltar aos primeiros 125 anos dos Estados Unidos e rever o que acontecia nas escolas de nossos filhos. Você vai ficar surpreso. (Faço referência ao seguinte material em detalhes, com muitos exemplos adicionais, no meu livro Saving a Sick America, dos quais alguns desses parágrafos foram adaptados.)
Em 1690, a primeira cartilha didática dos EUA, a New England Primer, foi publicada. O alfabeto era ensinado usando versículos da Bíblia para cada letra, e a cartilha continha perguntas sobre os ensinamentos morais da Bíblia, orações das crianças, a oração do Pai Nosso, os Dez Mandamentos, o Catecismo Menor e perguntas sobre a Bíblia feitas pelo Sr. Cotton.
A Primer continuou a ser amplamente utilizada nas escolas americanas de todos os tipos — públicas, privadas, domésticas ou cristãs — pelos próximos 200 anos.
Com o tempo, essa cartilha foi substituída pela Blue Black Speller, de Noah Webster, publicada pela primeira vez em 1783, “com sua sentença inicial declarando: ‘Nenhum homem pode evadir-se da lei de Deus.’ Essa cartilha [foi] amplamente utilizada nas escolas americanas e [era] recheada de versículos bíblicos. Versões posteriores declararam: ‘Noah Webster, que ensinou milhões a ler, mas não ensinou ninguém a pecar.’”
Gerações de crianças americanas aprenderam a ler e escrever com esse livro, apontando para a alta estima com que a Bíblia era mantida na cultura americana, mesmo por muitos não-crentes.
Comprei exemplares de diferentes edições desses dois livros para mim e fiquei chocado com o conteúdo. Era muito mais cristão e baseado na Bíblia do que os currículos em muitas escolas cristãs de hoje. Aliás, o material era muito mais cristão e baseado na Bíblia do que o que é ensinado hoje em muitas igrejas cristãs contemporâneas nos Estados Unidos.
À luz de livros didáticos como esse, não é de surpreender que um relatório de fevereiro de 1813 sobre uma escola pública em Washington tenha dito: “55 aprenderam a ler no Antigo e no Novo Testamento e todos conseguem soletrar palavras de três, quatro e cinco sílabas… Dos 59 de matriculados que não sabiam uma única letra, 20 agora conseguem ler a Bíblia e soletrar palavras de três, quatro e cinco sílabas.”
Em 1836, a primeira cartilha de McGuffey foi “publicada que [ensinava] o ABC junto com versículos da Bíblia. Essa cartilha [era] vista como uma ‘cartilha eclética’ que combina [d] axiomas e provérbios instrutivos, fundamentos da gramática e seleções da melhor literatura inglesa.”
Infelizmente, no final do século XIX, o lugar central da Bíblia na educação americana havia sofrido muita erosão, como pode ser visto lendo as edições subsequentes da cartilha McGuffey, que removeu muito do conteúdo bíblico.
Apesar disso, a Bíblia tinha sido tão central na educação americana por tantos anos que, em 1892, o Sindicato dos Professores do Kansas fez esta declaração:
As escolas públicas livres dos Estados Unidos são consequências das escolas cristãs ou pastorais da Nova Inglaterra puritana, que foram estabelecidas por nossos antepassados para preparar seus filhos para se tornarem membros úteis da sociedade e da igreja…
Se isso foi sábio ou não, não é nosso propósito discutir, além de observar que, se o estudo da Bíblia deve ser excluído de todas as escolas do Estado, se a inculcação dos princípios do Cristianismo é não ter lugar no plano diário, se a adoração de Deus não fizer parte dos exercícios gerais dessas escolas públicas elementares, então o bem do Estado seria melhor alcançado restaurando todas as escolas ao controle da igreja.
Essa é uma afirmação e tanto!
Obviamente, nunca ocorreu aos Fundadores dos EUA, nem às gerações subsequentes de líderes americanos, que esse papel proeminente dado à Bíblia em nossas escolas era uma violação da Primeira Emenda. Nem se tornou uma questão legal importante até 1962, quase dois séculos depois da fundação dos EUA.
Compare isso com a hostilidade extrema à Bíblia hoje e, num instante, você tem uma ideia de até onde os EUA caíram como nação.
Então, o presidente estava certo em celebrar esse retorno voluntário às aulas de alfabetização bíblica em algumas de nossas escolas?
Absolutamente certo.
Foi hipócrita da parte dele, considerando que ele não tem se mostrado alfabetizado na Bíblia?
Absolutamente não.
Mesmo que não haja um fio de cabelo cristão no corpo dele (somente Deus sabe de qualquer forma), ele ainda pode reconhecer que o conhecimento bíblico é bom para as nossas famílias, assim como alguém que come alimentos que não são saudáveis pode saber que é bom para os outros comerem bem.
Então, obrigado, senhor presidente, por chamar a atenção para essa tendência.
Que essa tendência cresça e aumente em nossos dias. E que aqueles de nós que afirmam ser crentes na Bíblia se tornem verdadeiramente alfabetizados na Bíblia (e, com a mesma importância, vivam a Bíblia).
Traduzido por Julio Severo do original em inglês da revista Charisma: Trump, Bible Classes in Schools and the Separation of Church and State