ESCOLA DOMINICAL CPAD JOVENS - Lição 12

O governo da Igreja local
23 de Junho de 2019




TEXTO DO DIA 
“Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1Pe 5.2,3). 

SÍNTESE 
A Igreja é o Corpo de Cristo e toda a autoridade e poder emanam dEle.

INTERAÇÃO 
Professor(a), no primeiro tópico da lição estudaremos a respeito do poder de julgamento da igreja local acerca das questões internas. Vale ressaltar que o apóstolo Paulo está se referindo às questões de ação judicial e não de processo criminal, de competência do tribunal romano (Rm 13.3-4). A prática do Império Romano era de descentralizar certas decisões internas de comunidades étnicas, inclusive em pequenas comunidades distritais de cidades do Império. Caso típico do direito judaico, em que um tribunal de júri composto por três juízes decidia questões internas do judaísmo. Se o texto for interpretado de outra forma, poderia ser utilizado indevidamente para alguém afirmar que a Igreja deve julgar ações criminais internas de seus membros.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA 
Para o primeiro tópico da lição, faça um debate a respeito dos possíveis conflitos e ocorrências que podem acontecer na Igreja e quais deles podem ser tratados internamente, pelo menos na etapa de conciliação, e quais deveriam ser submetidos à justiça secular. Utilize o quadro abaixo para dar início ao debate. Reserve um tempo razoável para que, após a explanação do primeiro tópico os alunos possam dar as suas sugestões de conflitos/ocorrências e a devida classificação.

TEXTO BÍBLICO 

1 Coríntios 6.4-10; 1 Pedro 5.1-4. 

1 Coríntios 6
4 — Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes na cadeira aos que são de menos estima na igreja?
5 — Para vos envergonhar o digo: Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?
6 — Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isso perante infiéis.
7 — Na verdade, é já realmente uma falta entre vós terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?
8 — Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano e isso aos irmãos.
9 — Não sabeis que os injustos não hão de herdar o Reino de Deus?
10 — Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus.

1 Pedro 5
1 — Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:
2 — apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
3 — nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.
4 — E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória.

COMENTÁRIO DA LIÇÃO 

INTRODUÇÃO 
Na lição desse domingo, veremos que os crentes de Corinto estavam deixando a antiga vida de promiscuidade e corrupção, que imperava na cidade, para uma nova vida com base no Evangelho de Cristo. Entretanto, ainda havia entre eles muitos conflitos e disputas banais. Então o apóstolo Paulo os orienta a resolverem as questões entre si e não na justiça secular. Como Igreja do Senhor, temos autoridade para julgar, segundo a Palavra de Deus, aquilo que é certo ou errado e os pastores têm autoridade para disciplinar, em amor, os que cometeram algum erro.

I. O PODER DE JULGAMENTO DA IGREJA LOCAL 

1. Paulo propõe um modelo de conciliação de conflitos para a igreja local (vv.1-6).
A Primeira Epístola aos Coríntios apresenta uma série de conflitos, como por exemplo, divisões, dissensões e imoralidade (1Co 1.10-17; 3.1-9; 5.1). Por isso, o apóstolo os exorta a viverem uma vida de santidade e a não levarem as questões internas aos magistrados, pois os irmãos possuíam sabedoria, discernimento em Deus para tomarem a atitude correta e disciplinar os que pecaram. Paulo entendia que muitos dos conflitos internos poderiam ser resolvidos dentro da comunidade cristã. Ele destaca que a igreja tem um papel de julgamento superior, pois julgará o mundo (Dn 7.22; Lc 22.28-30). O apóstolo afirma que o mais desprezível dos membros da igreja teria melhores condições de julgamento do que os poderosos juízes romanos, uma vez que, como cristão, teriam como base de julgamento os princípios cristãos. Ele questiona se não havia na comunidade pessoas sábias, o suficiente, para julgar as rixas internas (v.5), em vez de submeter conflitos internos ao julgamento perante infiéis (v.6).

2. O universo jurídico romano e a organização da igreja local.
Paulo deixa claro que, no universo jurídico romano, a prática da injustiça era comum. As decisões eram tomadas com objetivo de favorecer os patronos ricos, que ele os denominava como “poderosos”. Algumas contendas eram simplesmente pretextos para vingar ofensas e perseguir pessoas consideradas inimigas. Os julgamentos não eram exercidos com imparcialidade e a sociedade romana ficou conhecida por ser corrupta e ter por comum a prática do suborno.

O modelo hierárquico do Império Romano influenciava na estrutura da igreja. No entanto, a pregação cristã da solidariedade certamente influenciou o pensamento das pessoas de menor poder aquisitivo e cultural, que vislumbravam a possibilidade de ascensão e mais liberdade dentro da nova comunidade. A mudança de comportamento e relacionamento proposto pelo evangelho contrastava muito com a cultura do Império. Mas uma cultura não se muda de um dia para o outro, a evolução é lenta. Em uma comunidade cristã nova como a de Corinto, os conflitos e a busca dos “direitos” institucionalizados por Roma seriam inevitáveis, mas o apóstolo não poderia desanimar diante deste desafio e lutou pela implantação dos valores do Evangelho. Ele insiste nos princípios do Reino e na mudança do estilo de vida.

3. O poder de julgamento da igreja estava condicionado à prática da justiça (v.7-11).
Se havia conflitos e disputas a serem levadas a julgamento era porque alguns membros continuavam tirando vantagens dos próprios irmãos da igreja. No entanto, Paulo afirma que tanto os que causavam danos como os que haviam sido lesados, estavam errados. Em 1 Coríntios 6.7 ele incentiva aqueles que foram lesados a sofrerem a injustiça sem buscar os recursos jurídicos, recorrendo assim aos ensinamentos de Cristo no Sermão da Montanha (Mt 5.39). Em muitas situações, o prejuízo será menor se assim proceder. Então, Paulo se volta para os defraudadores dos irmãos e os adverte a respeito do comprometimento da vida eterna devido às injustiças praticadas. Essa injustiça é incoerente com o novo relacionamento que o cristão deve ter com Deus e com o próximo. A reprimenda paulina é forte e iguala quem defrauda o irmão com os devassos, idólatras, adúlteros, efeminados, ladrões e roubadores, avarentos, bêbados e os maldizentes (vv.9,10). Portanto, todos estavam debaixo da mesma condenação.

Em 1 Coríntios 6.1, o termo injusto é empregado para se referir aos juízes dos tribunais romanos, mas no versículo 9, o mesmo termo é empregado aos próprios cristãos que cometem injustiça. Assim, quem procede de modo semelhante aos juízes injustos também não tem condições de julgar dentro da comunidade dos crentes.

Pense! 
Como você tem tratado os conflitos de relacionamentos na igreja?

Ponto Importante 
Embora haja questões que, por lei, têm de ser submetidas às autoridades legais, outras podem ser tratadas por líderes cristãos qualificados na igreja.

II. O PODER INSTITUCIONAL NA IGREJA LOCAL 

1. Quem eram os destinatários da Primeira Epístola de Pedro?
Eram os “estrangeiros dispersos” nas províncias romanas na Ásia Menor (v.1). Pessoas marginalizadas, a maioria era estrangeira, destituída dos direitos de cidadania. No capítulo dois, os versículos de treze a dezessete, há uma referência a escravos domésticos (oiketai). Não há menção de senhores, que pode sugerir que não havia pessoas ricas na comunidade. Portanto, uma situação de pobreza e marginalidade social.

Como se não bastasse a condição social da comunidade cristã nestas regiões, eles sofriam perseguições: dos romanos, que consideravam os cristãos como povo desprezível supersticioso e pervertor da moral e da ordem romana; dos judeus, que perseguiam os cristãos por motivos religiosos e políticos; da própria população local, quer por motivos sociais, quer pela diferença de práticas religiosas e políticas. Um grupo que vivia debaixo de grande opressão e sofrimento, cuja esperança estava em Deus e no Crucificado, cuja resignação ao sofrimento eles tinham por modelo. Tudo isso é tido pelo autor como motivo de alegria por estarem participando dos sofrimentos de Cristo (1Pe 4.13).

2. O sofrimento imposto pelo poder imperial como tema principal da epístola.
A Primeira Epístola de Pedro tem o propósito de encorajar a perseverança na fé mesmo diante das adversidades e perseguições, tendo como referência o sofrimento de Cristo. O apóstolo Pedro, coluna da Igreja Primitiva que, por ciúme e inveja de seus adversários, foi perseguido mas sustentou o seu combate pela fé até à morte, para alcançar o lugar da glória prometido por Jesus. Ele foi uma “testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada” (1Pe 5.1). Aqui o sofrimento é visto como uma virtude, uma demonstração de perseverança e fé cristã.

O exemplo de Pedro é fortalecido por um exemplo superior, o de Jesus. Inspirado no texto de Isaías 53, conhecido como o cântico do “servo sofredor” e relido no Novo Testamento como referência ao sofrimento de Cristo. Pedro mostra que é preciso ser fiel ao Senhor mesmo na adversidade e em meio ao sofrimento injusto imposto pelo poder imperial e seus aliados.

O apóstolo afirma que o sofrimento por causa da justiça (3.14) é a vontade e o projeto de Deus para os cristãos (3.17,19), como consequência de se fazer o bem e praticar a justiça de Deus (2.15), a exemplo de Jesus (2.24).

Os cristãos que eram oprimidos pelo poder dominante da época viam na comunidade cristã um lugar em que podiam viver em família e amparados mutuamente (1.14,17,23). Todavia, a segunda epístola o apóstolo apresenta um ambiente bem diferente, onde havia disputa por poder. A comunidade passa a ser vítima de falsos mestres, avarentos e propagadores de fábulas complicadas, heresias e do ceticismo quanto à volta de Jesus (2Pe 2.1-3).

Pedro adverte os líderes a apascentar o rebanho de Deus com cuidado e amor, sem autoritarismo e nem por avareza, para alcançar a glória que se há de revelar aos salvos (1Pe 5.1-5). O rebanho sofrido não deveria ser explorado e nem oprimido por ninguém, pois as ovelhas necessitavam de amparo e proteção, pois eram, e são, de Cristo.

Pense! 
Como você tem se comportado quando tem oportunidade de exercer liderança?

Ponto Importante 
A comunidade cristã sempre passou por perseguições interna e externa. Mas a igreja segue triunfante até a volta de Jesus Cristo.

CONCLUSÃO 
Na lição de hoje aprendemos que a igreja local tem poder para tratar questões internas entre seus membros. Aprendemos também que a liderança da igreja local deve estar alerta contra os pseudolíderes e sobre a grande responsabilidade que é cuidar do rebanho do Senhor.

ESTANTE DO PROFESSOR 
RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse, capítulo por capítulo. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2012.

HORA DA REVISÃO 

1. Quais os conflitos enfrentados pela igreja em Corinto? 
A Primeira Epístola aos Coríntios apresenta uma série de conflitos, como por exemplo, divisões, dissensões e imoralidade.

2. O poder de julgamento da igreja, de acordo com a lição, está condicionado a quê? 
O poder de julgamento da igreja estava condicionado à prática da justiça.

3. Quem eram os destinatários da Primeira Epístola de Pedro? 
Os “estrangeiros dispersos” nas províncias romanas na Ásia Menor.

4. Os crentes dispersos para quem Pedro escreveu sofriam quais perseguições? 
Como se não bastasse à condição social da comunidade cristã nestas regiões, eles sofriam perseguições dos romanos, que consideravam os cristãos como povo desprezível, supersticioso e pervertor da moral e da ordem romana; dos judeus, que perseguiam os cristãos por motivos religiosos e políticos e da própria população local, quer por motivos sociais ou pela diferença de práticas religiosas e políticas.

5. Com suas palavras, diga como devemos nos comportar em relação à liderança da igreja? 
Devemos nos comportar com respeito e em obediência.

SUBSÍDIO 
“A liderança eclesiástica (5.1-4)

Os líderes […] devem seguir o exemplo de Cristo e agirem como servos na comunidade cristã (Mt 20.25-28; cf. 23.11). Sua responsabilidade mais ampla está definida em Efésios 4.12 e nesta passagem. Os líderes como membros do corpo, devem preparar os santos para o desempenho do seu serviço (1Co 3.1-9; 2Co 10.8). Os líderes também devem pastorear (guardar e dirigir) a comunidade local de fé (Hb 13.17). Devem ser pessoas equipadas para essas tarefas, em parte pelo dom mas essencialmente, pelo caráter (1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9). Com efeito, os líderes devem pastorear à luz de ambas as perspectivas: ensino (Tt 2) e modelo, ou servindo como exemplo (1Tm 4.11-16; Tt 3.10,14). O ministério pastoral não significa que os líderes devem exercer controle sobre o comportamento do crente, mas precisam estar concentrados em nutrir, encorajar a maturidade para que o desempenho do serviço dos crentes seja uma expressão do desejo e da capacitação motivados pelo Espírito Santo. Quando os líderes pastoreiam de fato, e o fazem movidos pelo desejo de servir, e não por razões de ordem financeira ou de prestígio social, os cristãos alcançarão a maturidade” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.883).  https://marcosandreclubdateologia.blogspot.com/