Betel Adultos – 1º Trimestre de 2019 – 10-02-2019 – Lição 6: Enfrentando os traumas da vida



Esse post é assinado por Cláudio Roberto de Souza

TEXTO ÁUREO

Salmos 118:5
5 Invoquei o SENHOR na angústia; o SENHOR me ouviu e me pôs em um lugar largo. (ARC)

TEXTO DE REFERÊNCIA

Salmos 22:1,5,11,20-22
​1 Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas das palavras do meu bramido e não me auxilias?
5 A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram e não foram confundidos.
11 Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude.
20 Livra a minha alma da espada e a minha predileta, da força do cão.
21 Salva-me da boca do leão; sim, ouve-me desde as pontas dos unicórnios.
22 Então, declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação.

OBJETIVOS DA LIÇÃO

  • Ensinar como ocorre o TEPT;
  • Mostrar a seriedade desta enfermidade;
  • Revelar que nem todo o trauma causa o estresse pós-traumático.

INTRODUÇÃO

Paz seja convosco nobres ensinadores(as)!
No sexto capítulo do nosso estudo sobre as enfermidades da alma, apresentaremos aquela que é denominada como Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).
Para uma melhor compreensão deste transtorno que traz em si mesmo a expressão “Pós-Traumático”, penso ser de grande importância, conceituarmos primeiramente o que seria um trauma.
Entendemos por trauma a toda aquela ferida ou lamentação, lesão que se provoca sobre o organismo ou sobre o psicológico de uma pessoa, causando alterações do funcionamento normal de certos elementos.
Um trauma pode variar seguramente em termos de gravidade, embora na maioria dos casos a noção de trauma está vinculada a uma ferida ou lesão que deixa algum tipo de sequela, seja ela, física, moral, emotiva ou mental.
Normalmente, a área da medicina se diferencia entre o trauma físico e o trauma psicológico. Embora ambos os tipos sejam gerados por uma alteração do curso normal da saúde física ou mental de um indivíduo, as causas, situações ou elementos responsáveis de uma alteração, assim como as consequências podem variar de grande maneira.
Quando falamos de trauma físico, referimos a um tipo de lesão ou ferida que afeta diretamente ao organismo a nível somático. O trauma físico pode ser causado tanto por golpes como por feridas agudas, no entanto, o nosso estudo se reserva a tratar os traumas em seu aspecto psicológico e estes acontecem a nível da psiquê humana; estes também, em muitos casos, podem envolver uma gravidade mais profunda que o trauma físico.
Em geral, o trauma psicológico é produzido a partir da vivência de uma experiência dolorosa, angustiante e crítica, como por exemplo, presenciar a morte de um ser querido (em muitos casos, até de uma pessoa desconhecida), sofrer algum tipo de abuso, alguma situação próxima da morte, etc.
Os traumas psicológicos podem ser muito mais difíceis de curar que os traumas físicos, pois se existem procedimentos de terapia para serem tratados, estes podem não ser sempre iguais dos efetivos. Além disso, um trauma psicológico pode mudar completamente a personalidade de um indivíduo e transformar sua vida em uma experiência totalmente diferente.
Para os psiquiatras Ivan Figueira e Mauro Medlowicz, em todas as ocasiões nas quais o espectro da guerra passa a rondar a humanidade, a existência da síndrome do estresse pós-traumático (TEPT) é trazida para o primeiro plano. Foi assim na Guerra Civil Americana (síndrome do coração irritável), na Primeira Guerra Mundial (choque da granada), na Segunda Guerra Mundial (síndrome de esforço, neurose de guerra), na guerra do Vietnam, na guerra do golfo e, mais recentemente, nos atentados do dia 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono. Esse ataque, por exemplo, fez com que o prestigioso New England Journal of Medicine publicasse, em 2002, um editorial e uma revisão chamando a atenção para a relevância do TEPT.
Embora os sintomas presentes no transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) já tenham sido descritos há cerca de 100 anos, embora ainda não apresentasse essa denominação nessa época, foi somente após a Guerra do Vietnã que foi dada maior atenção a esse transtorno.
Ao regressarem aos Estados Unidos após servirem nessa guerra, os soldados passaram a manifestar sintomas de trauma psicológico pronunciado, com significativo prejuízo de sua vida pessoal, e os médicos passaram a se interessar por esta condição.
Em 1980, o transtorno passou a compor, oficialmente, o quadro dos subtipos de transtornos de ansiedade apresentados pela terceira edição do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). A partir daí muitos estudos psicológicos, farmacológicos e neurológicos foram sendo desenvolvidos em ordem de se conhecer melhor o TEPT.

1 – VIVENDO COM TEPT

O psiquiatra Pérsio Ribeiro Gomes de Deus afirma que o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) pode ser definido como um distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais. Esse quadro ocorre devido à pessoa ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Quando ele se recorda do fato, revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor e sofrimento vivido na primeira vez. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais.
Perceba que este transtorno é diferente da Síndrome do Pânico estudada anteriormente, Enquanto aquela, o indivíduo é acometido de um medo abrupto, porém passageiro (cerca de 10 a 45 minutos duram as crises), neste, o indivíduo é envolvido e absorvido pelo pavor por um tempo maior, sufocando-o a ponto de tornar a vida insuportável.

1.1 – Como vive o portador do TEPT

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Nos Estados Unidos, os primeiros estudos sobre o tema estão relacionados às vítimas de guerras. Mais recentemente, estudiosos americanos constataram o impacto da violência urbana para o desenvolvimento do transtorno.
Para compreendermos a vida de alguém que convive com este transtorno, vamos utilizar o exemplo real de um ex fuzileiro naval do EUA que combateu na guerra do Iraque, cabo James Blake Miller. Ele tinha o sonho de ser pastor evangélico e após estudar para tal, se viu convocado para o serviço militar e especificamente deslocado para o oriente médio
O cabo James Blake Miller, tentava se proteger e manter os insurgentes o mais longe possível dele e de seus companheiros. No agito do tiroteio, seus companheiros quase atingiram Luis Sinco, fotógrafo do Los Angeles Times que acompanhava a unidade e que, findo o combate, tirou um retrato de Miller.
No dia seguinte, centenas de jornais traziam a imagem de Miller, cigarro pendurado nos lábios, o rosto coberto de sangue e sujeira. Ainda que a contragosto, virou celebridade, com direito a carta do presidente e dispensa honrosa – ninguém queria que o Marlboro Marine, como ficou conhecido, se machucasse. Mas o estrago já havia sido feito.
Figura 1 – Foto original de James Blake Miller
Feliz por estar de volta, o marine não se preocupou quando a esposa disse que ele estava apertando o pescoço dela durante a noite. Achou que era passageiro, assim como seus pesadelos sobre o Iraque. Só depois de olhar pela janela e ver o corpo de um iraquiano na calçada (alucinações são sintomas deste transtorno), Miller resolveu buscar ajuda profissional de um psiquiatra militar. Diagnóstico: o herói estava com trauma de guerra (TEPT). Como tantos treinados para a guerra, ele não conseguia achar a paz.
Dentre os sintomas do TEPT, e ainda olhando para o caso do cabo Miller, pode-se incluir os flashbacks do combate, paranóia constante e a incapacidade de funcionar no ambiente familiar, social e profissional.
Este transtorno, apesar de se desenvolver potencialmente em militares que retornam de algum conflito (estatísticas apontam que 5% da população desenvolve algum nível de estresse pós-traumático, enquanto ao menos 10% dos combatentes desenvolvem o problema plenamente), o TEPT pode atacar qualquer vítima ou testemunha de desastres naturais, incidentes terroristas, maus tratos, abusos sexuais, procedimentos cirúrgicos graves, acidentes sérios ou ataques violentos – qualquer evento aterrorizante em que a morte ou ferimentos graves são possíveis.
Psicólogos afirmam: “quando se fala de ameaça à vida, há várias dimensões da vida que podem ser ameaçadas: dimensão física, dimensão psíquica (ameaças como assédio, humilhações e outras violências psíquicas), dimensão social (micro e macro social) e ainda a dimensão espiritual. Em todas estas dimensões podem haver situações de extrema violência ou ameaça e de certa forma, produzirem um quadro de estresse pós-traumático.”
Eu sempre costumo dizer que a vida é dramática, e a jornalista Elizabeth Costa em seu artigo sobre o assunto no site Huffpost, afirma que as estatísticas comprovam que 50% das mulheres e 60% dos homens em algum momento de suas vidas, atravessarão por situações perturbadoras de profunda comoção e impacto emocional.
Voltemos ao Mariner americano… Quatro anos depois da foto que o deixou famoso, James Blake Miller estava divorciado do seu amor de colégio e morando em um trailer nos fundos da casa do seu pai, em uma cidadezinha do Kentucky. Após a volta para casa, decidiu que seria policial, sonho que o diagnóstico de TEPT tornou impossível. Aceitou um emprego em uma oficina mecânica de motos e, por conta disso, acabou entrando para uma gangue local de motoqueiros arruaceiros que vive arranjando confusão com a polícia.
O TEPT acabou por destruir um homem em suas emoções e caráter, desconstituiu a sua família, tirou os seus sonhos de primeiro ser pastor e depois policial, e por último, o tornou um delinquente e indesejado social!

1.2 – O perigo do suicídio

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Um dos efeitos colaterais assustadores de qualquer doença mental é o risco de pensamentos nocivos ou suicidas. Acredita-se que os militares, tanto os que prestaram serviço numa guerra quanto os que não o fizeram, apresentam risco mais alto de suicídio que a população americana em geral.
O pastor Israel Maia nos traz duas classificações quanto ao tipo de manifestação do TEPT:
  • Agudo: Quando o transtorno aflige o indivíduo por um período de tempo curto;
  • Crônico: Quando a aflição dura por períodos longos, anos até.
Os sintomas do transtorno do estresse pós-traumático se dividem nas categorias principais:
  • Reexperiência traumática: pesadelos e lembranças espontâneas, involuntárias e recorrentes (flashbacks) do evento traumático- revivescência;
  • Fuga e esquiva: afastar-se de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo das lembranças traumáticas, como situações, contatos ou atividades que possam se ligar às lembranças traumáticas;
  • Distanciamento emocional: diminuição do interesse afetivo por atividades, pessoas, que anteriormente eram prazerosas, diminuição de afetividade;
  • Hiperexcitabilidade psíquica: reações de fuga exagerados, episódios de pânico (coração acelerado, transpiração, calor, medo de morrer…), distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade, hipervigilância (estado de alerta);
  • Sentimentos negativos: sentimento de impotência e incapacidade em se proteger do perigo, perda de esperança em relação ao futuro, sensação de vazio.
Para pesquisadores e estudiosos do assunto, entre os transtornos mentais associados ao suicídio, está o TEPT.
“Quem tem TEPT também apresenta depressão, ansiedade, abuso de substâncias, entre outros agravos. Também se observa nessa população alta prevalência de comportamento suicida, ou seja, a ideação suicida, o planejamento suicida ou a tentativa de suicídio”, explicou a pesquisadora Aline Cristina de Oliveira Costa.
Em sua pesquisa sobre “Transtorno de estresse pós-traumático” e comportamento suicida, Aline apresentou resultados em que indivíduos com TEPT, em comparação com pessoas sem este transtorno, uma maior prevalência de ideação suicida, planejamento suicida e tentativas de suicídio!
Lembrando que este transtorno é causado por eventos traumáticos, o advogado Frederico Eugênio Fernandes Filho, que atua no ramo de direito trabalhista, apresenta um caso bastante interessante, onde o pesquisador alemão Heinz Leymann, doutor em psicologia e PhD em psiquiatria pela universidade de Estocolmo e Umeia, respectivamente, iniciou uma pesquisa na década de 80 com a finalidade de se descobrir o motivo que levava as enfermeiras do sistema de saúde sueco cometerem suicídio. À época, essa era a categoria profissional que apresentava o maior índice de mortalidade devido ao suicídio.
O professor Leymann uniu-se à socióloga Annelie Gustafsson, sua colega na Universidade de Umea, e ambos analisaram os casos de vinte e uma enfermeiras que se suicidaram ou que tentaram cometer suicídio. O projeto tinha dois objetivos: o de estabelecer se as condições no local de trabalho causariam algum risco de suicídio (e em qual extensão), e o de sugerir estratégias para a prevenção desse risco.
Ao investigarem os casos de suicídios, os pesquisadores identificaram algumas semelhanças entre eles. A principal era que as enfermeiras haviam sido vítimas de comportamentos hostis no ambiente de trabalho, praticados por seus colegas de forma repetitiva e prolongada, o que resultava em transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
O resultado dessa extensa pesquisa foi publicado no livro Självmordsfabriken (Editora Norstedts Juridik), palavra que em tradução livre significa “Fábrica de suicídios”. O assédio moral no trabalho experimentado por aquelas enfermeiras fez desenvolver o TEPT, que culminou no pior desfecho desta enfermidade – o suicídio!
A relação do TEPT com o suicídio é real e comprovada cientificamente. Os comportamentos hostis sofridos pelas enfermeiras suecas eram muito semelhantes ao bullying praticado no ambiente escolar, em que um ou mais estudantes perseguem, humilham e agridem alguns de seus colegas, que acabam isolados do grupo.
Outros traumas podem produzir no individuo com TEPT, a desesperança total da vida, pois não conseguem enxergar uma saída para os enfrentamentos que parecem sempre maiores do que as suas forças ou expectativas de mudança, levando-os a ceifarem a própria vida como meio de escapar do perigo ou daquilo que os afligem.
Sabemos que o suicídio não deve ser considerado uma opção saudável para quem quer que seja, mas uma pessoa doente, tem poucas perspectivas e está absorvida pelos sintomas da enfermidade, logo, urge que ao menor sinal desta enfermidade em nosso círculo de relacionamento (mesmo na igreja), orientemos a procurar ajuda, além do que, o conselho de um pastor preparado para abordar a questão é fundamental, pois a ideia e o plano de suicídio já permeia a mente e o coração da alma doente.
Mesmo o cristão, não está isento dos traumas da vida, e neste caso pode desenvolver o TEPT e produzir em sua mente ideias suicidas. Nisto, devemos nos valer da Palavra de Deus que nos garante subsídios suficientes para se crer na habilidade divina em nos fazer desvencilhar de todo e qualquer perturbação que possa afligir a nossa alma (Sl 22.4).
Em minha modesta opinião, o suicídio é um ato final que defini o cúmulo da incredulidade do indivíduo. O suicida está expressando em sua última atitude que ele não crê que Deus pode livrá-lo daquela situação incômoda, porém, por outro lado, devemos considerar que o suicida (neste caso, vítima da enfermidade da alma – TEPT ou outra qualquer) está doente, sua mente está doente, suas ponderações e decisões estão comprometidas pela enfermidade, logo, é difícil considerar qualquer juízo final sobre o tema, quando o indivíduo por este motivo específico tira a sua própria vida.
O melhor a se fazer é ajudar aqueles cuja mente está entorpecida pelas ideias suicidas, sejam elas causadas por uma enfermidade ou outros motivos quaisquer.

1.3 – TEPT, uma realidade comum

Por Cláudio Roberto de Souza
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