O dom de cuidar

A recomendação bíblica de dedicação ao ensino envolve também o zelo pelos alunos

O dom de cuidar
Por Alberto Alves da Fonseca*

“Assim nós embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente membros uns dos outros. De sorte que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a mediada da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou se exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade, o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria...”, Romanos 12.5-8 – grifo nosso.

Dom de ensinar é uma capacitação divina para expor, ensinar, explicar, esclarecer, defender e proclamar as verdades referentes à Palavra e ao Reino de Deus: “...como não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinando-vos publicamente e de casa em casa”, At 20.20; “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”, 2Tm 2.2.

Dom de ensinar é um dos dons concedidos por Deus aos seus servos com o objetivo específico de manifestar sua graça, glória e poder na edificação do Corpo de Cristo, a igreja: “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da plenitude de Cristo”, Ef 4.12-13. Na lista dos dons espirituais no Novo Testamento temos o dom do ensino (Rm 12.-6-8; 1 Co 12.8-10, 12.28-29 e Ef 4.11-13).

O ensino faz parte da essência da fé cristã, é fundamental e significativo na missão que o Senhor Jesus Cristo entregou à sua Igreja: “Ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...”, Mt 28.19-20.

Estamos terminando esse último trimestre de 2010. Como professores da Escola Dominical jamais podemos perder a correta definição do termo ensinar. Paulo declara explicitamente sobre esse dom em Romanos 12.7b: “... se é ensinar, haja dedicação ao ensino”, Rm 12.7b, ou “... o que ensina, esmere-se no fazê-lo...”.

É importante observar que na língua grega a declaração aponta tão somente para: “...aquele que ensina, no seu ensino...”. Aparentemente parece até uma redundância, no entanto, a profundidade da ideia nos remete a “dedicação” ou “diligência” que todo professor deve estar atento para:

- esforçar-se em aprimorar os seus conhecimentos;
- esforçar-se em aprimorar a eficácia dos seus métodos de ensino;
- esforçar-se no interesse pessoal por aqueles que são seus alunos.
    
A parte mais importante


Assim, além da importância de uma formação continuada que todo professor de Escola Dominical deve ter, dedicando-se a oração, leitura da Bíblia, literatura bíblica, pedagógica, secular e contextualização, ele jamais deve perder o interesse pessoal por aqueles que são seus alunos: “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da plenitude de Cristo”, Ef 4.12-13.

O professor da Escola Dominical deve conhecer seus alunos, se preocupar com eles, compreender que os alunos são a parte mais importante da ED, sem eles não existe Escola Dominical. O professor deve compreender que o dom de ensinar sem amor, nada é (ler 1Coríntios 13).

Portanto, o alvo principal e inequívoco da ED são os alunos, e dedicação ao ensino, é dedicação aos alunos. Todo o preparo da aula, as condições da classe, a linguagem, as novas técnicas e ideias, tudo objetiva o crescimento do aluno.

Ao terminarmos esse trimestre, é fundamental que cada professor, pegue a sua lista de presença, e observe se houve ausência acima da média e tente se perguntar quais foram os motivos para que isso ocorresse. Não seria pertinente o professor visitar tal aluno ou ao menos contatar por telefone ou e-mail? Lembre-se da recomendação: “...haja dedicação...”.

Palestrantes ou professores?

Infelizmente, um dos grandes problemas da ED em todo o Brasil é a rotatividade dominical de professores. Em muitas escolas, a cada domingo, um professor diferente está ministrando à classe, ou seja, estes acabam sendo meros palestrantes dominicais. Isso embora possa resolver problemas da pseudo-oportunidade para todos, traz uma ruptura de compromisso professor-aluno.

Deve haver ligação e comunhão plena entre o professor e os alunos. O professor deve estar inserido no cotidiano do aluno da ED, caso contrário, a aprendizagem é prejudicada. Pois, como um professor que não está semanalmente em contato com os alunos perceberá se eles estão ausentes ou não? Como perceberá as necessidades pedagógicas dos mesmos? Ou seja, se o professor não conhece os seus alunos, como poderá ajudá-los?

Há professor que é ausente em todo o trimestre, e que aparece somente na ED quando se trata do dia dele ministrar a aula. Isso é uma aberração pedagógica, já que, nesse caso, não é o aluno o mais importante, mas o professor. Veja a inversão da Palavra!

Seria pedagogicamente mais adequado que a ED tivesse, minimamente, um professor responsável por trimestre, obviamente com seu substituto para qualquer eventualidade. Pelo menos durante aquele trimestre, o professor responsável criaria laços e conheceria o cotidiano de sua classe para apresentar melhorias educacionais de aprendizado e acompanhamento de sua classe satisfatoriamente.

A rotatividade de professores, se necessário, poderia ser trimestral e nunca dominical, pois essa troca semanal tem criado uma Escola Dominical frágil, onde todos, professores e alunos, estão de certa maneira descompromissados, não criando vínculos profundos e nem responsabilidade.

Neste contexto, a ED deixa de ser escola, sendo apenas e simplesmente palestras dominicais, onde a cada domingo aparece um professor novo que dá sua palestra ou “aula”, conta as suas experiências, sem compromisso algum com o corpo docente e discente, com o estado da sala de aula, com as faltas, presença de visitantes, etc. Ele cumpre seu papel específico: dar aula naquele domingo e ponto final. Talvez haja exceção, mas não podemos trabalhar em cima dela. 

As responsabilidades do dom
    
É salutar revermos várias questões, entre elas, convidarmos os professores para uma reflexão responsável, estudarmos a Palavra de Deus em Romanos 12.5-8, compreendermos integralmente o dom de ensinar, e as responsabilidades inerentes ao mesmo.

Não basta o professor dá uma palestra dominical, ou infelizmente, como muitos, ir a ED e ler a lição para os alunos. Isso o aluno poderá fazer em sua própria casa e, muitas vezes, com maior conforto. A ED deve ser um local onde o professor é o primeiro a chegar e estar atento às necessidades básicas da sala de aula; está sempre pronto a receber seus alunos, notando a ausência dos mesmos, e sabendo elogiar a presença deles. E, por fim, onde ele procura diversificar seu método de ensino com novidades pedagógicas que despertem no aluno o desejo de frequentar as aulas. 

Outro fator importantíssimo pelo qual o professor deve conhecer seu aluno é que ele deve orar e interceder por suas necessidades, ter uma linguagem apropriada, compreender a homogeneidade da classe, além de trazer grande crescimento espiritual para os alunos, levando estes e outros ao encontro de Cristo.

Você, que ministrou neste último trimestre, e dedicou-se à causa do Senhor, receba em seu coração esta Palavra: “Meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”, 1Co 15.58.

Aos professores da ED que iniciarão e vivenciarão esse novo momento, a Palavra está diante de todos vós: “...se é ensinar, haja dedicação ao ensino”, Rm 12.7b, ou “...o que ensina, esmere-se no fazê-lo...”. Pense em sua classe, em seus alunos, nos métodos que pretende utilizar; conheça seus alunos, sua construção cultural, suas necessidades, faixa etária; incentive-os a trazer novos alunos, visitantes; incentive-os a orar; desafie-os a ler a Bíblia, a participar de outras atividades na igreja; seja um dínamo de bênção para sua classe.

Seja amigo de seus alunos, fomente o relacionamento pessoal, o interesse em ensinar, isto é, um relacionamento comprometido, sincero e dedicado na forma de comunicação entre professor e aluno. Isso resulta em aprendizado para ambos.

Parabenizo você, professor, por seu abençoado trabalho neste último trimestre e desejo que tenha a vivência e experiência plena de Romanos 12.7. Termino essa pequena reflexão citando o escritor Augusto Cury: “Bons professores são mestres temporários; professores fascinantes são mestres inesquecíveis”. Seja um professor fascinante, cheio do Espírito Santo de Deus e ministrador do dom que há em ti.

*Alberto Alves da Fonseca é pastor na Assembleia de Deus em Campinas (SP), formado em Teologia, História e Direito, escritor e professor do Curso de Capacitação para os Professores da Escola Dominical da AD em Campinas (SP).

fonte  Ensinador Cristão,