Sim, nascemos para perder. Mas calma, calma... Eu explico! Antes, porém, observe como esta sequência de frases é antropocêntrica e prioriza a autoajuda:
"Você é escolhido e a tua história não acaba aqui. Você pode estar chorando agora, mas amanhã você irá sorrir. Deus vai te levantar das cinzas e do pó. Deus vai cumprir tudo que tem te prometido. Você vai ver a mão de Deus te exaltar. Quem te vê há de falar: Ele é mesmo escolhido. Quem sabe no teu pensamento você vai dizer: Meu Deus como vale a pena a gente ser fiel..."
Sinceramente, me incomodam as composições "evangélicas" que massageiam o ego dos crentes. A sua ênfase é sempre: "Você, você e você", e não: "Ele, Ele e Ele". É como se a história de um "escolhido" fosse mais importante que a gloriosa história do Escolhido (Cristo) e sua Eleita (Igreja)!
Esse tipo de mensagem motivadora tem a sua relativa importância. Mas, ao mesmo tempo, injeta na alma do crente — que deveria depender inteiramente do Senhor, humilhando-se debaixo de sua potente mão (1 Pe 5.6) —, sem que perceba, um sentimento de que tudo gira em torno dele, de que ele é o centro de tudo...
Aproxima sequência de frases combina antropocentrismo, autoajuda e triunfalismo, cobertos com uma linda roupagem evangélica:
"Vão dizer que você nasceu pra vencer, que já sabiam, porque você tinha mesmo cara de vencedor. E que se Deus quer agir ninguém pode impedir. Então você verá cumprir cada palavra que o Senhor falou. Quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na bênção vão se arrepender. Vai estar entre a plateia e você no palco, vai olhar e ver Jesus brilhando em você".
É claro que, se isolarmos frases como "se Deus quer agir ninguém pode impedir" ou "vai olhar e ver Jesus brilhando em você", a nossa visão sobre a canção mudará, mas elas estão inseridas num contexto. Ainda que se mencionem a ação de Deus, que ninguém de fato consegue impedir (Is 43.13), e o brilho de Jesus ria vida do cristão (Mt 5.14-16), outras frases depõem contra a Palavra de Deus, como "Vão dizer que você nasceu pra vencer" e "você linha mesmo cara de vencedor".
Quem disse que nascemos para vencer? Na verdade, como viemos ao mundo em pecado (SI 51.5; Rm 3.23), nascemos para perder! Toda a humanidade é pecadora e já nasce derrotada, debaixo da desobediência (Rm 5.12; 11.32).
A Palavra de Deus diz: "E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar [...] e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também" (Ef 2.1-3). Ou seja, em Cristo, e não porque nascemos para vencer, somos mais que vencedores (Rm 8.37)!
O problema da autoajuda "evangélica" é que ela não dá o devido valor à graça e à misericórdia, além de supervalorizar o lado motivacional. Biblicamente, somos vasos de barro. O que nos torna diferentes é o conteúdo do vaso! "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós" (2 Co 4.7).
Em resumo, nascemos para perder, e o Senhor, pelas suas misericórdias — que são a causa de não continuarmos derrotados (Lm 3.22,23) — e pela sua graça (Ef 2.8,9), nos torna mais que vencedores.
Trecho do recomendável livro “Erros que os Adoradores Devem Evitar”, do pastor Ciro Zibordi (aniversariante do dia, a quem parabenizamos por mais um ano de vida)
fonte ASSEM-BEREIA DE DEUS