Não vamos tratar aqui de regras de interpretação da Bíblia; isso é domínio de Hermenêutica. Trataremos de regras de estudo da Bíblia. Elas nos permitem tirar o máximo proveito espiritual da leitura e estudo das Santas Escrituras. São ora apresentadas, considerando os leitores como crentes salvos e desejosos de aprenderem a verdade contida na revelação divina. Quanto aos descrentes, impertinentes, indiferentes e escarnecedores, só temos a considerar 1Coríntios 2.14 e 2Coríntios 3.16.
Os títulos das regras que vamos dar, se considerarmos isoladamente, não oferecem muito sentido, porém, se considerados após a explanação da matéria que se lhes seguem, ver-se-á que eles ficam bem, resumidos como estão, facilitando, assim, o trabalho da memória.
Qualquer crente no Senhor Jesus Cristo pode estudar a Bíblia, uma vez que satisfaça certas regras de estudo, seja qual for o método utilizado pelo estudante. O estudo bíblico não é reservado a uns poucos favorecidos. Também, para tal, não há qualquer iniciação secreta. Deus nunca tencionou tornar difícil ou inacessível o estudo de sua Palavra, posto que o mesmo nos leva a conhecê-lo cada vez mais. Considere, pois, amado leitor, coisa de capital importância, o estudo sério, sistemático e diuturno das Santas Escrituras. É sumamente compensador em todos os sentidos.
Apresentaremos oito regras ao todo. Umas são criadas por nós, outras não. Tendo sido experimentadas estas regras, podemos garantir que elas funcionam eficazmente onde quer que forem observadas, como vai aqui descrito. Passemos, pois a considerá-las.
Sugestões para um maior aproveitamento na leitura da Palavra
1) A regra do autor
A primeira regra para o êxito no estudo da Bíblia é conhecer o seu autor. O autor é Deus. Você o conhece? Conhecer, no sentido estrito da palavra, não é apenas ter contato, ser apresentado ou cumprimentado por alguém; é ter intimidade, andar ou conviver, enfim, comungar com este alguém. Perguntamos mais uma vez: você conhece o autor da Bíblia? É Ele o seu Salvador, Senhor e Mestre? Se não conhecemos o autor da Bíblia, estaremos desqualificados para o estudo e compreensão da revelação divina. Sem conhecer o autor tudo é difícil na Bíblia. De fato, a real compreensão da Palavra depende do nosso crescimento espiritual diante do Senhor (Mc 4.33; Jo 16.12 e Hb 5.13-14). Textos sobre a regra do autor: Lc 24.27,45 e At 16.14.
2) A regra da leitura sistemática
Queremos dizer com isso: leitura seguida e total da Bíblia. Se o irmão não vem lendo a Bíblia de modo seguido e total, não se queixe de não compreendê-la. Como o leitor pensa compreender um livro que nem sequer o leu todo ainda? Não estamos falando, aqui, da leitura bíblica devocional, esta que se faz em nossos momentos a sós com Deus, dedicados exclusivamente à devoção e comunhão especial com Ele. Em se tratando de leitura da Bíblia como tal, dois métodos de estudo bíblico lhe estão afetos: o sintético e o analítico. O método sintético considera cada livro ou a Bíblia inteira como um todo. É por meio de tal método que se vê as divisões naturais de cada livro, bem como o seu desígnio especifico. O estudante da Bíblia deve ler cada livro várias vezes, sem interrupção, afim de se assenhorar de sua síntese. O método sintético não é tão laborioso, porque os livros da Bíblia são todos pequenos; mesmo os maiores podem ser lidos em poucas horas. No método sintético não se faz pausa para estudos prolongados. Faz-se esboços somente. O estudo bíblico, segundo este método, abrange a Bíblia como um todo, e de igual modo cada livro dela, e cada capítulo dentro de cada livro. Tenha você uma hora certa para leitura sistemática da Bíblia. A meditação diária nela é o segredo da vitória (Js 1.8).
O outro método fundamental para o estudo bíblico é o analítico. É o inverso do anterior. Você não irá longe no estudo analítico, se não cuidar antes no método sintético. Na forma analítica dividimos o estudo em partes para uma análise minuciosa, que pode ser de temas variados, inclusive doutrinas, personagens, tipos etc. Não há quem esgote a Bíblia, pois ela é infinita. Quanto mais a estudamos mais nos humilhamos, vendo a nossa pequenez e incapacidade ante a imponência, grandiosidade, profundeza e as riquezas da revelação divina em todos os seus múltiplos aspectos. Este é o nosso testemunho.
A regra de leitura sistemática pode parecer simples, mas é produtiva e surge efeitos maravilhosos. Jamais será vã. Já que estamos tratando da leitura bíblica, é confortante saber que a Bíblia é o único livro cujo autor está sempre presente, quando se o lê. Sim, o autor da Bíblia é onipresente. Textos sobre regra da leitura sistemática: Dt 17.19; Sl 119.130; 1Tm 4.13 e Is 34.16.
3) A regra da oração
Você não irá muito longe no estudo da Bíblia enquanto não começar aprender a orar. Pedras preciosas podem ser encontradas na superfície da terra. Porém, geralmente, é preciso cavar. A oração evidencia a nossa dependência do Pai Celestial, nossa vontade, fome, amor à verdade e humildade. Orar é falar com Deus, sendo assim um diálogo, não um monólogo. Na oração e meditação diante de Deus, Ele revela as suas grandezas. Temos exemplos na Bíblia. Bastam estas palavras sobre oração, porque a melhor maneira de aprendermos a orar é praticando. Textos sobre a regra da oração: Tg 1.5; Pv 2.3-5; Sl 119.18 e Ef 1.16-17.
4) A regra do Mestre
O mestre que nos ensina a Palavra de Deus é o Espírito Santo. Não há outro. Se não tivermos o Mestre conosco, nada aprenderemos. Ele é o Santo Espírito revelador (Ef 1.17). Só Ele conhece as coisas profundas de Deus (Rm 8.27). Deixe o Espírito Santo fluir livremente em sua vida e terá o Mestre consigo, para guiá-lo “em toda a verdade” (Jo 16.13). Textos para regra do Mestre: 1Co 2.10-12 e Jo 10.25.
5) A regra da obediência
Deus não revela a sua verdade aos que são apenas curiosos, sem qualquer propósito de lhe obedecerem, mas aos humildes que se quedam aos seus pés e lhe obedecem por gratidão e amor. A humildade e piedade são virtudes essenciais no estudo das Escrituras (Lc 12.47-48). O espírito da desobediência paira nestes dias por toda a parte: nos meios domésticos, eclesiásticos, estudantis, etc. A obediência à verdade divina, revelada nas Escrituras, é um fato de progresso para o seu conhecimento. A desobediência contumaz à Deus, à sua vontade, suas leis, fecha a porta às suas bênçãos. Textos sobre a regra da obediência: Ed 7.10; Jo 7.17-18 e Sl 25.14.
6) A regra da fé
A Bíblia é aceita primeiro pela fé e depois pela razão. Noutras palavras: a revelação divina transcende os limites intelectuais do homem. Por exemplo: o fato de a criação do universo (confronte Gn 1.1 com Hb 11.3). Se o leitor não aceitar, pela fé, a autoridade das Santas Escrituras neste e em inúmeros outros passos bíblicos semelhantes, está desqualificado para compreender a verdade divina. É preciso que o leitor tenha a Bíblia como a autoridade final, infalível e perfeita nos assuntos por ela tratados.
Deus declara um fato e você cuida em crer nisso, porque Ele não se inclinará, para satisfazer a sua curiosidade, ou por outra, para revelar coisas que você não pode comportar, ou para as quais você e eu não estamos preparados. Textos sobre a regra da fé: Lc 24.25; 2Pd 1.21 e 2Tm 3.16-17.
7) A regra do crescimento espiritual
Nunca pare de crescer no sentido espiritual. O conhecimento das coisas de Deus vem de acordo com a nossa capacidade de recebê-lo, contê-lo, e assimilá-lo. O crescimento espiritual vem, em parte, pela obediência a verdade revelada. Privilégios implicam responsabilidade. Somos responsáveis pela verdade a nós revelada. Paulo não pôde ensinar verdades bíblicas mais profundas aos crentes de Corinto, porque os mesmos não queriam deixar de ser “crianças” (1Co 3.1).
Em Marcos 4.33, Jesus ensinou aos seus, conforme a capacidade dos mesmos em receberem o seu ensino. É o que vemos também em Hebreus 5.13-14; a falta do crescimento espiritual é um entrave no conhecimento das coisas divinas. Os textos sobre a regra do crescimento espiritual são os mesmos da regra anterior.
8) A regra dos meios auxiliares
Esses meios auxiliares são três, os quais provêem material de estudo, consulta e referência. O texto de 2Timóteo 4.13 nos leva para o campo das fontes de consulta. Aí, se fala de livros. Por certo, os da Bíblia e outros que o apóstolo possuía.
A) Livros Há livros bons (2Tm 4.13). Há muito mais livros maus, perniciosos, venenosos como os de Atos 19.19. Resista também à tentação de levar mais tempo com os livros do que com a Bíblia. Quem fica todo o tempo só com os livros, torna-se um teórico e autêntico refletor de seus autores.
Aqui está uma sugestão de alguns livros que o estudante da Bíblia deve possuir:
•Uma boa e atualizada versão da Bíblia;
• Demais versões em vernáculo, para estudo comparativo; Uma boa Concordância e um Atlas Bíblico;
• Um Manual de Síntese Bíblica ou Chave Bíblica;
• Um Dicionário Bíblico de confiança;
• Um bom dicionário da língua portuguesa;
• Um Manual de Doutrinas Fundamentais (Teologia Sistemática);
• Um ou mais comentários gerais sobre a Bíblia (busque conselho do seu pastor quanto à indicação destes).
B)Apontamentos individuais. Esses podem ser de três maneiras:
• Apontamentos de estudos individuais;
• Apontamentos de estudos ouvidos;
• Apontamentos de estudos lidos; A memória falha com o tempo. O melhor é tomar notas. Isso não significa perder a confiança na operação do Espírito Santo. Se fosse assim, não seria preciso Deus ter-nos provido a Bíblia em forma escrita. Habitue-se a tomar notas de seus estudos individuais, distribuindo-os por assuntos previamente escolhidos. Se você tem livros, organize um índice analítico de assuntos, o qual poderá prestar bons serviços na elaboração de seus estudos. Apontamentos enriquecem o cabedal de conhecimentos do estudante da Bíblia. A “memória” do apontamento feito nunca falha, se feita e conservada de modo organizado.
cpad Escola Dominical