Violentos protestos atingem a Nigéria devido a vitória eleitoral de presidente oriundo do sul cristão
Várias igrejas foram incendiadas e há relatos de muitas mortes
Protestos violentos explodiram nesta segunda-feira (18) em vários pontos do norte da Nigéria, de maioria muçulmana, quando jovens enfurecidos com a vitória eleitoral do presidente Goodluck Jonathan (oriundo do sul cristão) incendiaram igrejas e casas e montaram barricadas em chamas.
A Cruz Vermelha disse que muitos foram mortos, mas não deu um número preciso. "Muitas pessoas foram mortas, mas relatos iniciais continuam chegando", disse a autoridade da Cruz Vermelha Umar Mairiga.
A contagem dos votos indicou que Jonathan, da região petrolífera do Delta do Níger, no sul do país, venceu Muhammadu Buhari, ex-governante militar do norte do país, no primeiro turno da eleição.
Observadores descreveram o pleito como mais justo em décadas na Nigéria, o país mais populoso da África, mas os partidários de Buhari acusam o partido governista de fraude. Os resultados revelam a forte polarização política do país, com Buhari vencendo no norte muçulmano e Jonathan no sul, de maioria cristã.
Autoridades do Estado de Kaduna, no norte, decretaram toque de recolher por 24 horas após manifestantes terem ateado fogo à residência do vice-presidente Namadi Sambo na cidade de Zaria e invadido a prisão central, libertando detentos.
Uma testemunha contou que o corpo de um menino pequeno atingido no peito por uma bala perdida foi levado a uma delegacia de polícia.
"Eles destruíram nossos carros e casas. Tive que fugir para não morrer e agora estou abrigada na casa dos meus vizinhos", disse Dora Ogbebor, residente de Zaria vinda do sul do país.
Nuvens de fumaça se erguiam no céu em partes da capital estadual, enquanto os manifestantes ateavam fogo a barricadas feitas de pneus. Forças de segurança atiraram no ar e usaram gás lacrimogêneo para dispersar grupos de jovens que gritavam "Queremos Buhari, queremos Buhari."
Um porta-voz de Buhari disse que este ainda não tinha dado nenhuma declaração sobre os distúrbios.
Soldados usaram chicotes para dispersar pessoas nas ruas de Kano, a cidade mais populosa do norte do país. Manifestantes atiravam pedras nas ruas menores. Várias igrejas foram incendiadas, e as autoridades impuseram toque de recolher.
Um centro comercial foi incendiado e comércios e escolas foram fechados. Um correspondente da agência de notícias France Presse disse que a multidão atacou ainda dois cristãos e que paravam os veículos para forçar os motoristas a declarar apoio a Buhari.
Em Potiskum, no Estado de Yobe (noroeste), testemunhas explicaram que a multidão tentou imolar uma cristã, colocando um pneu ao redor de seu corpo. Ela foi salva por alguns presentes e membros do serviço médico.
A Nigéria tem um histórico de eleições fraudulentas e violentas, mas o pleito do sábado foi considerado por muitos nigerianos e por observadores estrangeiros como um avanço enorme em relação ao passado, com o processo eleitoral ordeiro e poucos distúrbios no dia.
O observador eleitoral chefe da União Europeia, Alojz Peterle, disse que "o processo eleitoral foi de modo geral pacífico e ordeiro no dia da eleição". Observadores da UE consideraram as eleições de 2007 não dignas de crédito.
Uma contagem dos resultados feita pela Reuters atribuiu quase 23 milhões de votos a Jonathan, contra pouco mais de 12 milhões para Buhari. A Comissão Eleitoral Independente Nacional deveria anunciar os resultados nesta segunda-feira (18) e declarar Jonathan formalmente como vencedor.
Fonte: AFP / Reuters