Folha Online
Morte de terrorista desencadeia medo de uma série de atentados pelo mundo
A embaixada norte-americana no Paquistão e os consulados dos Estados Unidos em Lahore, Karachi e Peshawar foram fechados ao público "até nova ordem", informou um comunicado no site da embaixada dos EUA em Islamabad, um dia após a morte do líder terrorista Osama bin Laden por um comando norte-americano.
A relação entre o Paquistão e os EUA estava estremecida desde a operação. O governo de Islamabad só foi informado da presença de helicópteros e forças de elite da Marinha norte-americana após o término da operação - numa clara violação da soberania do Estado paquistanês - informou nesta segunda-feira em entrevista coletiva John Brennan, assessor de segurança nacional do presidente Barack Obama.
Brennan lançou acusações indiretas ao dizer que é "inconcebível" que Bin Laden tenha permanecido por tanto tempo no país sem ter tido um sistema amplo de ajuda. Na noite desta segunda-feira, o embaixador do Paquistão nos EUA anunciou que seu país lançará uma "investigação completa" sobre as falhas dos serviços de inteligência para encontrar Bin Laden na casa distante menos de 100km da capital e também próxima a uma academia militar. "Obviamente Bin Laden teve um sistema de apoio, a questão é se este suporte foi dado pelo governo e Estado do Paquistão ou pela sociedade do Paquistão?", destacou o embaixador Hussain Haqqani à emissora CNN.
Haqqani afirmou que mais pessoas compartilham do mesmo sistema de crenças de Bin Laden e que, assim, a hipótese de uma rede de ajuda no país é muito provável. "Faremos uma investigação completa para descobrir porque nossos serviços de inteligência não conseguiram rastreá-lo antes". Durante a segunda-feira centenas foram às ruas do Afeganistão e Paquistão contra os EUA e em apoio ao Taleban e à Al Qaeda.
A CASA EM ABBOTTABAD
A casa onde Bin Laden viveu durante os últimos três anos era cercada por muros que variavam entre 3 e 5 metros de altura, e tinha um esquema de segurança que faziam com que o local se destacasse entre as outras residências da região, muito mais simples. Os vizinhos ainda custam a crer que o homem mais procurado do mundo morava próximo e contam, com medo, os detalhes da operação americana. Um alfaiate local, Ejaz Mahmud, conta o susto de ver "uma grande bola de fogo cair do céu" no começo do ataque, por volta de meia-noite.
A surpresa foi ainda maior quando os habitantes da pequena cidade viram pela televisão o presidente americano, Barack Obama, anunciar que Bin Laden foi morto na casa em que morava, em Abbottabad. "Nós ficamos tristes. Estamos preocupados com a nossa cidade que de repente se tornou o foco do mundo", afirma Mahmud.
"AVANÇO CRUCIAL"
Em reunião nesta segunda-feira, o Conselho de Segurança da ONU classificou a morte do chefe da Al Qaeda, Osama bin Laden, como um "avanço crucial" no combate ao terrorismo internacional. No entanto, a operação americana que matou o até então "criminoso mais procurado" do mundo deve aumentar as tensões entre os EUA e o Paquistão, onde o saudita se escondeu nos últimos três anos.
"O Conselho de Segurança recebe com satisfação a notícia de que Osama bin Laden nunca mais poderá cometer atos de terrorismo e reafirma que o terrorismo não pode nem deve ser associado a nenhuma religião, nacionalidade ou grupo", disse o embaixador francês, Gérard Araud, presidente de turno do Conselho, ao ler a declaração aprovada de forma unânime.
"Não se poderá vencer o terrorismo apenas mediante a força militar, medidas judiciais ou operações de inteligência, mas mediante uma aproximação contínua e exaustiva que contemple a participação ativa dos Estados, das organizações internacionais e regionais e da sociedade civil", indicou o documento.
Mais cedo, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, já tinha se posicionado sobre o assunto. "A morte de Osama bin Laden anunciada pelo presidente [Barack] Obama é um marco na luta contra o terrorismo", afirmou, acrescentando que "a ONU seguirá adiante nesse trabalho e vai continuar liderando a campanha [contra o terrorismo] junto dos líderes mundiais".
O FIM DA CAÇADA
A morte de Bin Laden foi anunciada por Obama na noite deste domingo. O Paquistão afirmou horas mais tarde que não havia participado, "em acordo com a política dos Estados Unidos" de luta contra o terrorismo. Um comando transportado por helicópteros das Seals, forças de elite da Marinha americana matou Bin Laden em uma casa cercada por um esquema de alta segurança em Abbottabad, cidade 70 km ao noroeste da capital Islamabad. A ação teria durado cerca de 40 minutos, começando 22h30 do horário local.
Os EUA indicaram que o corpo do terrorista foi lançado ao mar seguindo tradições islâmicas. Após anunciar a morte do terrorista, Obama disse que a justiça foi feita. Centenas de pessoas comemoram em frente à Casa Branca e muitos foram ao Marco Zero, em Nova York, palco dos atentados de 11 de setembro de 2001. O próprio Obama deve visitar o local nesta quinta-feira, disse um assessor da Presidência.
PAÍSES EM ALERTA
Após saudarem a morte de Osama bin Laden, chefe da rede terrorista Al Qaeda, líderes de todo o mundo manifestaram preocupação com o risco de retaliação aos países ocidentais e avisos avisos sobre a necessidade de vigilância redobrada contra ataques. A morte de Bin Laden, que alcançou status quase mítico por sua habilidade em evitar ser capturado nos esforços feitos por três presidentes dos EUA, encerra um capítulo amargo na luta contra a Al Qaeda, mas não elimina a ameaça de ataques futuros.
Muitos analistas veem a morte de Bin Laden como tendo importância em grande medida simbólica, já que não se acreditava que ele ainda estivesse dando ordens operacionais às muitas organizações autônomas filiadas à Al Qaeda em todo o mundo. Temendo ataques motivados por vingança, os EUA rapidamente lançaram avisos de segurança a norte-americanos em todo o mundo.
O diretor da CIA, Leon Panetta, disse que é "quase certo" que a Al Qaeda procure vingar-se da morte de Bin Laden. "Embora Bin Laden esteja morto, a Al Qaeda não está. É quase certo que os terroristas tentarão vingá-lo. Devemos e vamos nos manter vigilantes e resolutos," disse Panetta. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, saudou a morte de Bin Laden como avanço na luta contra o terrorismo, mas também avisou que ela não assinala o fim da Al Qaeda. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, avisou que o Ocidente precisará se manter "especialmente atento" nas próximas semanas.