O ataque ocorreu após dois anos de violência, desencadeada por um decreto que proíbe o culto público a Ahmadiyah, cujos adoradores creem que seu fundador, Mirza Ghulam Ahmad, foi o último profeta do islã, ao invés de Maomé. No dia 8 de fevereiro, uma multidão se reuniu do lado de fora do tribunal em Temanggung, em Java Central, gritando “Mata, mata!”, após os juízes terem condenado Antonius Richmond Bawengan, um católico romano, à pena máxima de cinco anos por blasfêmia. Ao cair da noite, umas mil pessoas executaram atos de violência na cidade, incendiando veículos, duas igrejas e uma escola administrada por uma igreja, e ferindo nove pessoas. Três dias mais tarde, em Jacarta, promotores sentenciaram Murhali Barda, líder regional da organização radical Front Pembela Islam (FPI), Frente dos Defensores Islâmicos, a apenas cinco meses e meio de prisão, além de uma multa equivalente a 10 centavos americanos, por orquestrar um ataque a uma igreja protestante em que dois cristãos foram gravemente feridos. Esses eventos, ocorridos em apenas uma semana, ilustram o quadro de crescente fanatismo que tem manchado seriamente a reputação da Indonésia como uma nação islâmica moderada. “A verdadeira raiz da intolerância religiosa no país está na Lei da Blasfêmia de 1965”, escreveu Armando Siahaan em um relato recente do Jakarta Globe. Muitos observadores concordam que essa lei, unida à falta de vontade política de inibir os grupos radicais, é culpada pela escalada abrupta da violência religiosa. Em 2010, o FPI lançou uma campanha contra a “cristianização” de Java Ocidental, acusando as igrejas locais de tentar converter muçulmanos ‘agressivamente’. O FPI tem usado esse termo em vários protestos contra igrejas não registradas. Em resposta, o governo revisou o decreto em 2006, regulando locais de culto, tornando virtualmente impossível a obtenção de licença de culto para as congregações e deixando-as vulneráveis a ataques. Neste clima de impunidade, ataques às igrejas e seitas religiosas aumentaram dramaticamente nos últimos três anos. Um cristão que pediu anonimato disse à Compass Direct News: “Isto é a Indonésia. A justiça depende de quem está processando quem e de quem eles conhecem. E, em casos religiosos, os radicais pressionam os juízes e os fazem saber quando não estão felizes com o veredito. Na prática, a Lei da Blasfêmia somente funciona em benefício dos muçulmanos”. Tradução: Getúlio Cidade PORTAS ABERTAS
|