INTRODUÇÃO
- Na continuidade do estudo a respeito da operação do Espírito Santo por intermédio dos dons espirituais, estudaremos os chamados “dons de ciência”.
- Os “dons de ciência” são a manifestação da onisciência divina no meio da Igreja, para a sua edificação, exortação e consolação.
I – A ONISCIÊNCIA DIVINA
- Vimos na lição anterior que os dons espirituais são uma necessidade para a Igreja e uma realidade para os nossos dias. Não é por outro motivo que, no “Cremos” das Assembleias de Deus no Brasil, temos o item 10, que ora reproduzimos:
CREMOS…
“ 10) Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a Sua soberana vontade ( 1 Co 12.1-12).”
OBS: A propósito, o(a) amado(a) irmão(ã) conhece o “Cremos” das Assembleias de Deus no Brasil, ou seja, o conjunto das crenças básicas de nossa denominação? O jornal Mensageiro da Paz o publica em todas as suas edições. Como podemos chegar aos cem anos sem que os irmãos nem sequer saibam no que creem as Assembleias de Deus no Brasil?
- Embora os dons espirituais sejam “adornos espirituais”, que embelezam a Igreja, tornando-a uma “esposa ataviada para o seu marido”, não podemos entender, com esta figura, que os dons espirituais sejam dispensáveis, mas são eles uma necessidade para a vida espiritual de cada salvo, visto que é através dos dons que podemos nos edificar espiritualmente e a edificação é absolutamente necessária para que vençamos o mal, máxime quando nos aproximamos do término de nossa dispensação. À medida que se multiplica a iniquidade (Mt.24:12), precisamos de mais e mais ajuda do Espírito Santo a fim de que não sejamos os “quase todos” que terão seu amor esfriado.
- Os dons espirituais são dádivas concedidas pelo Espírito Santo a alguns salvos para que sejam instrumentos de edificação da Igreja. Por intermédio dos dons espirituais, de forma sobrenatural, o Senhor Se manifesta no meio do Seu povo, atua de modo a que percebamos a Sua companhia para conosco e, desta forma, ao sentirmos a Sua companhia, o Seu consolo, o cumprimento de Sua promessa de que jamais nos deixaria (Mt.28:20), somos fortificados na graça que há em Cristo Jesus (II Tm.2:1) e retomamos o bom ânimo (Jo.16:33), indispensável para vencermos o mal e perseverarmos até o fim (Mt.24:13), alcançando a salvação, o objetivo de nossa fé (I Pe.1:9).
- Sem a busca e a manifestação dos dons espirituais (I Co.14:1), corremos sérios riscos de sermos impedidos de chegar até o final da jornada, porque precisamos, para tanto, obter o fortalecimento tanto no Senhor (que é a Palavra – Jo.1:1), como na força do Seu poder (que são as manifestações do Espírito Santo a partir do dom do Espírito Santo, concedido pelo batismo com o Espírito Santo e complementado pelos dons espirituais —At.1:8) (Ef.6:10).
- Por intermédio dos dons espirituais, o nosso Deus Se revela à Igreja em um de Seus atributos, de modo atual e concreto, deixando de agir de modo íntimo, como costuma ocorrer na nossa comunhão com o Senhor, para Se apresentar no meio do povo, fortalecendo a vida espiritual de cada salvo na igreja local onde congrega. Com a manifestação dos dons espirituais, há a demonstração inequívoca de que a realidade da salvação está presente em cada crente, algo que nem sempre podemos perceber dada a comunhão interior que desfrutamos com o Senhor.
- Por isso, os dons espirituais estão relacionados com os atributos divinos relacionados com a Sua criação.Como sabemos, existem atributos de Deus que são qualidades que o Senhor manifesta em relação à Sua criação. Como os dons espirituais são uma demonstração atual da presença do Senhor entre os salvos, não é difícil compreender que, nestes dons, Deus manifesta estes atributos que tem em relação à Sua criação, quais sejam, a onipresença, a onisciência e a onipotência.
- Na lição anterior, já estudamos os chamados “dons de fala ou de eloquência”, pelos quais Deus Se mostra presente no meio da Igreja, comunicando-se diretamente com o Seu povo, seja através de línguas estranhas (comunicação feita entre Deus e cada salvo em particular), seja através da interpretação das línguas estranhas ou da profecia (quando a comunicação se dá com a Igreja em geral). Tais dons, como já tivemos ocasião de observar, mostram a onipresença divina, ou seja, dão a certeza de que Deus está presente em todos os lugares, inclusive entre os salvos de uma determinada igreja local.
- Já os chamados “dons de ciência”, que são o objeto de nosso estudo nesta oportunidade, mostram um outro atributo divino: a onisciência. Deus conhece e sabe todas as coisas (Sl.139:1-6; I Jo.3:20), nada se Lhe pode ocultar (Sl.38:9; 139:15,23,24; Mt.6:6). Porque Deus sabe todas as coisas, é ele a fonte de toda a ciência, conhecimento e sabedoria, razão pela qual jamais as manifestações do conhecimento humano, quando verdadeiras, se chocarão com a Palavra de Deus, pois Deus é o próprio autor do conhecimento, da ciência e da sabedoria.
- A onisciência de Deus, aliada à Sua eternidade, faz-nos conceber a presciência de Deus, ou seja, Deus já sabe, de antemão, o que irá acontecer, porque, para Deus, não há tempo, sempre é presente, um eterno presente. Assim, Deus conhece o futuro, pois, para Ele, passado, presente e futuro são uma só coisa. Por isso, pode nos revelar, como nos revelou, as coisas que ainda iriam acontecer, na dimensão dos homens.
- A onisciência de Deus traz-nos a necessidade de termos um comportamento distinto dos homens que não conhecem a Deus. Como Deus sabe todas as coisas e conhece tanto o passado, quanto o presente e o futuro, algo que não temos sequer condição de saber, pois nem sempre avaliamos bem o passado (e a memória pode trair-nos, fazendo-nos esquecer aspectos importantes e relevantes deste passado), muitas vezes ficamos atônitos com relação ao presente, sem saber o que fazer e o futuro a nós escapa totalmente, precisamos confiar n’Ele e, nas adversidades e momentos difíceis da vida, lembrar que Deus, e só Ele, sabe todas as coisas. Se bem avaliarmos a onisciência divina, certamente que poderemos marchar na dura caminhada pelo deserto desta vida certos de que, onde quer que as circunstâncias nos levem, a direção e orientação parte de quem sabe todas as coisas e que prometeu que somente nos daria o melhor (Rm.8:27-30).
- Por isso, é importante que Deus manifeste a Sua onisciência por intermédio dos “dons espirituais de ciência”, porquanto, através desta forma sobrenatural de nos fazer conhecer algo, o Senhor nos ajuda a compreender que Ele é onisciente e que podemos confiar em Sua Palavra e em Suas direções e orientações, não só aumentando a nossa fé, mas nos conduzindo de forma a que perseveremos até o fim na obediência e na esperança do Senhor.
- Os dons de ciência (também chamados “dons de revelação”) são três e, por meio deles, o Senhor manifesta a Sua onisciência no meio da Igreja, para que jamais venhamos a nos esquecer de que Deus sabe todas as coisas e, assim, pode sempre nos orientar na nossa jornada, devendo ser sempre o nosso referencial. São eles: palavra da sabedoria, palavra da ciência e discernimento dos espíritos (I Co.12:8,10).
II – O DOM DA PALAVRA DA SABEDORIA
- Antes de analisarmos o que é o dom da palavra da sabedoria, é indispensável que entendamos o que é a sabedoria. Como ensina o pastor João da Cruz Parente, articulista do Portal Escola Dominical, sabedoria é a “capacidade de tomar decisões corretas”. Este mesmo pastor transcreveu o que diz a respeito a Bíblia de Aplicação Pessoal, que ora transcrevemos: “Sabedoria significa ‘discernimento prático’. Começa com o respeito a Deus, conduz a um viver correto, e resulta em habilidade aumentada para dizer o que é certo ou errado. Deus está disposto a nos dar esta sabedoria, mas seremos incapazes de recebê-la se os nossos propósitos forem egocêntricos e não estiverem centrados em Deus. Para conhecermos qual é a vontade de Deus, precisamos ler a sua Palavra e pedir que Ele nos mostre como obedecê-la. Então devemos fazer aquilo que Ele nos diz.” (Disponível em: http://www.evangelica.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=164&sg=84&form_search=&pg=2&id=1527Acesso em 23 mar. 2011).
- Russell Norman Champlin diz que a sabedoria é “…a habilidade mais elevada de raciocínio, prudência, inteligência (Dt.4:6; 34:9; Pv.10:1) (Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.7). A palavra hebraica empregada para sabedoria é “chochmah” ou “chokmah” (חכמה) , “a chave do bem supremo”, que, para os hebreus, “…era a prática desinteressada da justiça e do ‘amor-bondade’ para com os seus semelhantes. Por meio do conhecimento, pela aplicação da razão, e pelas conclusões da compreensão, aquele que buscava a verdade podia alcançar um estado de graça interna pelo portal mais esplêndido de todos: a sabedoria de ser bom e de praticar o bem. O Sábio Talmúdico Rava deu uma definição em forma sucinta: ‘O objetivo da sabedoria é o arrependimento e a realização de boas ações’…” (AUSUBEL, Nathan. Chochmah. In: A JUDAICA, v.5, pp.164-5).
- A primeira vez que as Escrituras falam em sabedoria é no livro do Êxodo, quando o Senhor está a entregar a Moisés o modelo do tabernáculo no monte. O Senhor disse a Moisés que ele deveria falar aos “sábios de coração”, a quem o Senhor havia “enchido do espírito de sabedoria” para fazer as vestes para Arão para santificá-lo, a fim de que pudesse administrar o ofício sacerdotal (Ex.28:3).
- De pronto, vemos que, ao surgir no texto sagrado, a sabedoria já é apresentada como um “dom de Deus”,como a vinda do “Espírito de sabedoria” que, como já estudamos, é um dos nomes que se dá ao Espírito Santo na Bíblia Sagrada.
- Esta mesma ideia encontramos na sequência do livro do Êxodo, em que a sabedoria é vinculada à destreza e habilidade com que o Senhor dotou algumas pessoas para elaborarem as peças e vestimentas do tabernáculo, tais como Bezaleel e Aoliabe, mas não só eles, como também outros homens e mulheres (Ex.31:3,6; 35:26, 31, 35; 36:1,2).
- Em todos estes textos, fica bem claro que a sabedoria veio da parte de Deus, daí porque Tiago dizer que a sabedoria vem de Deus (Tg.1:5), vem do alto (Tg.3:15). A genuína e autêntica sabedoria tem como fonte o próprio Deus, de forma que não é algo que se possa adquirir por meios humanos.
- Outro ponto que vemos desenvolvido logo na introdução da ideia de sabedoria no texto sagrado é o fato de que a sabedoria está vinculada ao “coração” e não à “mente”. “Coração”, bem sabemos, é uma forma de as Escrituras se referirem ao “homem interior”, à alma e ao espírito do homem. Vemos, pois, que a sabedoria se distingue da erudição ou, mesmo, da inteligência, que são capacidades que se adquirem pelo esforço mental (erudição) ou que revelam uma predisposição mental (inteligência), mas é algo que está inserido no âmago do homem, na sua estrutura imaterial.
- Nota-se, também, que a concessão de sabedoria da parte de Deus àqueles israelitas tinha o propósito de permitir que se realizasse todo o modelo dado pelo Senhor a Moisés, a fim de que fosse possível a adoração. Destarte, concede-se sabedoria para que se possa, de forma correta, adorar a Deus, servi-l’O na beleza da Sua santidade. A sabedoria, pois, tem como finalidade dar condições plenas para que o homem, ser imperfeito e falho, possa se dirigir corretamente ao seu Criador.
- Tanto assim é que a sabedoria seria manifestada por Israel quando eles guardassem os estatutos e juízos mandados pelo Senhor (Dt.4:5,6). Da observância e da obediência aos mandamentos, Israel extrairia das demais nações a afirmação de que eram gente sábia e inteligente. Daí porque o salmista ter afirmado que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.111:10).
- Nem poderia deixar de ser diferente. Se a sabedoria é, como afirma a Bíblia On-Line da Sociedade Bíblica do Brasil, “…qualidade que inclui bom senso e atitudes e ações corretas (Pv 4.7; Tg 1.5; 3.17)”, como podemos fazer o que é certo senão observando aquilo que Deus nos revelou em Sua Palavra, que é a verdade (Jo.17:17)?
- Por isso, quando Moisés impôs as mãos sobre Josué, quando este foi escolhido para sucedê-lo, o Senhor encheu o novo líder com “o espírito de sabedoria” e, foi por ter demonstrado sabedoria, que o povo passou a acatar as suas ordens e a reconhecê-lo como líder (Dt.34:9). Talvez seja sido este episódio que fez com que Salomão, ao suceder Davi, pedisse a Deus, quando se lhe deu oportunidade, sabedoria para dirigir o povo de Israel, no que foi prontamente atendido pelo Senhor (I Rs.3:9-12; 4:29,30,34; II Cr.1:10-12), pois Deus é um Deus que tem prazer em dar sabedoria ao Seus servos, fazendo-o liberalmente e não o lança em rosto (Tg.1:5), pois Ele é o Deus da sabedoria (I Sm.2:3).
- Sabedoria é temer a Deus, diz o patriarca Jó (Jó 28:28), de sorte que não se tem como ter verdadeira sabedoria se não se submeter à lei do Senhor (Sl.19:7). Por isso, já vemos claramente que só o Espírito Santo pode dar sabedoria ao homem, só Ele pode encher o homem de sabedoria.
- A sabedoria, vinda da parte de Deus, na Pessoa Divina do Espírito Santo, habita em todo salvo, pois, por isso, a boca do justo fala da sabedoria, a sua língua fala o que é reto (Sl.37:30), afinal de contas o Senhor é quem dá a sabedoria, da Sua boca vem o conhecimento e o entendimento, reserva a verdadeira sabedoria para os retos (Pv.2:6,7).
- Esta realidade se apresenta de forma mais clara quando verificamos que a Sabedoria é personificada e essa Pessoa é, precisamente, o Senhor Jesus. O capítulo 8 de Provérbios apresenta a Sabedoria como uma Pessoa e sabemos que esta Pessoa é o Verbo, Aquele que clama aos homens e se dirige aos filhos dos homens (Pv.8:4). Jesus é “a sabedoria de Deus” (I Co.1:24), foi feito para nós por Deus sabedoria (I Co.1:30). N’Ele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria (Cl.2:3).
- Por isso, podemos dizer que todo salvo recebe sabedoria da parte de Deus, visto que o Espírito Santo é “Espírito de sabedoria”, e sem a sabedoria não temos como fazer o que é certo, não temos condição de ser retos de coração, que é a própria manifestação da sabedoria. A sabedoria divina é inalcançável pelo homem, pois se constitui em um mistério oculto pelo próprio Deus (I Co.2:7) e que, portanto, só o Espírito de Deus pode revelar pois se trata de comparação de coisas espirituais com as espirituais, inatingíveis ao espírito humano (I Co.2:13).
- A sabedoria divina permite-nos agir de maneira que sejamos puros, depois, pacíficos, moderados, tratáveis, cheios de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia (Tg.3:17). Ora, se o agir com pureza é a primeira consequência da sabedoria, tem claramente que isto não pode vir do próprio homem, mas é algo dado pelo Senhor, visto que isto é dependente da nossa justificação pela fé em Cristo Jesus, Jesus que, como Sabedoria, o que primeiro faz é abominar a impiedade (Pv.8:6).
- Odom da palavra da sabedoria, porém, é algo diverso desta sabedoria que vem ao salvo por causa da sua conversão, da sua santificação. Se todos os salvos têm de ter sabedoria (e se não a têm devem pedi-la a Deus, como ensina Tiago), pois se trata de uma manifestação sobrenatural em que o Espírito Santo age de modo tópico, casuístico, ante a necessidade da Igreja.
- O dom da palavra da sabedoria é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que deem, em ocasiões especiais e de forma sobrenatural, palavras orientadoras e que nos fazem sair de situações difíceis, trazendo uma decisão correta que deve ser tomada pela Igreja.
- A sabedoria, aqui, é a habilidade de agir ou falar em conformidade com a razão e a moral, com prudência e experiência de vida, com sensatez e equilíbrio. Trata-se não só de uma pessoa que tenha conhecimento (o que é “erudição”), nem tampouco da pessoa que demonstra criatividade e, diante dos recursos existentes, consegue construir algo que lhe dá o máximo de aproveitamento da oportunidade surgida (o que é “inteligência”), mas, sobretudo, a capacidade de associar os recursos, o ambiente, a situação para dela se obter o máximo proveito, não só para si, mas, principalmente, para a glória do nome do Senhor. A sabedoria, como as Escrituras informam, é algo que está além da razão humana, vem diretamente de Deus e tem no temor ao Senhor o seu princípio (Sl.111:10a). Como, nestes dias de desequilíbrio e de incontinência (II Tm.3:3), tem faltado sabedoria, mesmo no meio do povo do Senhor!
- Diante de uma circunstância específica, o Espírito Santo usa de um salvo para que, por meio da palavra de sabedoria, de modo sobrenatural, faça alguém tomar a decisão correta, a direção que a fará sair da dificuldade, da armadilha, da encruzilhada em que se encontra sem saber como agir. O mesmo Espírito Santo que dá sabedoria aos salvos, nestes instantes de absoluta necessidade de intervenção sobrenatural, vem e traz uma palavra que indica o correto procedimento a se tomar, livrando-nos de todo mal e nos mostrando a onisciência divina.
- Naturalmente, a sabedoria divina nos levará à retidão e não ao amealhar de conhecimentos, nem tampouco a obtenção de uma posição ou de vantagens que levem a dominar os outros. Nisto devemos distinguir entre a sabedoria divina e outras duas espécies de sabedoria: a humana e a diabólica.
- A sabedoria humana foi bem caracterizada pela cultura greco-romana, a chamada Antiguidade Clássica. “…Os gregos (…) atribuíam à sabedoria uma finalidade intelectual.(…) Alimentado [judaísmo rabínico, observação oficial], em parte, pelo espírito da cultura greco-romana contemporânea, foi humanista até o ponto de não ser considerado uma violação do escrúpulo religioso dizer com os mestres rabínicos: ‘Procurem a hora entre o dia e a noite em que possam aprender a sabedoria dos gregos’…” (AUSUBEL, Nathan. op.cit., pp.165-6).
- A sabedoria humana está, portanto, vinculada o “intelecto”, ao conhecimento no sentido grego do termo, ou seja, o domínio mental, intelectual de um determinado fato. Neste sentido, aliás, é que o apóstolo Paulo dizia que os gregos buscavam sabedoria (I Co.1:21), como também disse que não viera aos coríntios com sabedoria humana, mas, sim, com demonstração de Espírito e de poder (I Co.2:1,4,5). “…As bibliotecas em geral contêm sabedoria e ciência mas estas geralmente trazem enfado e tristeza, como disse Salomão: ‘De fazer muitos livros não há fim, e o muito estudar é enfado na carne’, Ec.1:18 e 12:12.(…) Quando o mundo, pela sua sabedoria, não conheceu a Deus na sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os homens usando um meio que aos sábios parece loucura; é por isso que tornou ineficaz a inteligência e o raciocínio humanos. Essas qualidades do homem, assim como muitas outras, foram postas de lado, dando lugar à palavra da cruz, caminho único para conhecermos e agradarmos a Deus: ‘Cristo crucificado, para salvar os que creem.…” ( NYSTRÖM, Samuel. Jesus Cristo, nossa glória, pp.34-5).
- A sabedoria humana não tem condições de compreender os mistérios divinos, sendo certo que todo conhecimento intelectual do homem precisa partir de pressupostos que são inverificáveis (como os axiomas na geometria). A sabedoria humana, portanto, não leva à salvação do homem nem ao perfeito e correto conhecimento de Deus, de sorte que é incapaz de fazer o homem acertar, fazer as coisas certas.
- Como afirmou o próprio apóstolo Paulo, quando estamos no campo da sabedoria humana, somos facilmente envolvidos por palavras persuasivas, somos facilmente convencidos pelos que têm o domínio da retórica, da neurolinguística (como ocorre, atualmente, nos manipuladores da “opinião pública”) e, em matéria de convencimento em termos humanos, de utilização de argumentos que levam todo homem ao erro, não há ninguém mais ágil e astuto do que o inimigo de nossas almas, que bem conhece as coisas relativas aos homens, embora nada entenda das coisas relativas a Deus (Mt.16:23).
- É neste ponto, aliás, que exsurge a “sabedoria diabólica”, que Tiago diz “animal e terrena” (Tg.3:15). O irmão do Senhor faz questão de identificar esta sabedoria como sendo proveniente da amarga inveja e do sentimento faccioso no coração, pois “onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa” (Tg.3:16).
- Qualquer demonstração de erudição, conhecimento, inteligência que tenha como raiz a inveja e o sentimento faccioso (ou seja, o “espírito de divisão”), em que se procure a exaltação egoísta, a destruição do outro, não é senão a demonstração da “sabedoria diabólica”, onde não há, em absoluto, o propósito de adoração a Deus, mas, sim, a maquinação de pensamentos para fazer o mal.
- O dom da palavra da sabedoria, portanto, apresenta-se como uma necessidade na vida da Igreja, a fim de que se tomem as decisões corretas, segundo a vontade do Senhor, impedindo que manifestações de sabedoria humana ou de sabedoria diabólica venham a perturbar os salvos e os impeçam de chegar até o final de sua carreira espiritual.
II – O DOM DA PALAVRA DA CIÊNCIA
- Por diversas vezes, o texto sagrado, ao falar da sabedoria, principalmente nos ditos textos em que há o “paralelismo hebraico”, que é a repetição de uma mesma ideia com outras palavras, prática muito encontrada nos livros poéticos das Escrituras, a “sabedoria” é vinculada à “ciência”.
- A Bíblia On-Line da Sociedade Bíblica do Brasil considera que “ciência”, na Bíblia, significa “ a soma de conhecimentos práticos da vida; sabedoria (Dn 1.4; Jó 21.22; At 7.22; 1Co 8.1; 13.8).…”, praticamente tornando ambas as expressões sinônimas, o que, em se tratando dos textos de “paralelismo hebraico”, não é algo desarrazoado.
- No entanto, principalmente quando estamos a analisar a questão dos dons espirituais, temos uma nítida distinção entre “sabedoria” e “ciência”, até porque o texto em que se verifica tal distinção é um texto escrito em grego e para gregos (a epístola de Paulo aos coríntios), onde não se tem o mencionado “paralelismo”.
- Na maior parte das vezes, a palavra hebraica traduzida por “ciência” é “da’at” (דעת), cujo significado é o de conhecimento intelectual, percepção, conhecimento a respeito de um fato. No misticismo judaico, costuma-se dizer que “… a Sabedoria é considerada como a Mente pura e indiferenciada. É pensamento puro que ainda não foi quebrado em ideias diferenciadas. A Sabedoria é o nível acima de toda divisão, onde tudo é uma unidade simples.(…). A antítese da Sabedoria é o Entendimento (…) o nível imediatamente abaixo da Sabedoria. É no nível do Entendimento que as ideias existem separadamente, podendo ser pesquisas e compreendidas.(…). O Conhecimento (…) [é] o ponto de confluência entre a Sabedoria e o Entendimento.…” (KAPLAN, Arieh. Sêfer Ietsirá: o livro da Criação, teoria e prática. Trad. de Erwin Von-Rommel Vianna Pamplona, pp.41,52). Esta distinção feita entre sabedoria, ciência e entendimento é baseada em Pv.3:19,20 e 24:3,4.
- Vemos, pois, dentro da cultura hebraica, que a sabedoria, algo proveniente exclusivamente de Deus, mantém uma interface com o entendimento, que é a capacidade intelectual do homem, criado um ser inteligente e racional pelo Senhor, por meio do conhecimento, da ciência, que é a obtenção de um saber específico, determinado, relativo a algo em especial, que o Senhor revela ao homem.
- Assim, enquanto a sabedoria vem diretamente do Senhor para que tomemos decisões corretas, sem que, para tanto, se tenha de se especificar um fato ou um determinado acontecimento, tem-se, claramente, que a “ciência” é revelação de um fato específico, de uma ocorrência, de um acontecimento.
- O dom da palavra da ciência é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que tenham conhecimento sobrenatural de coisas. Sem que haja qualquer comunicação natural a respeito de um fato, o Senhor permite ao servo portador deste dom que tenha acesso a fatos e as ocorrências que estavam ocultas, com o propósito único e exclusivo de edificar, exortar e promover o crescimento espiritual de alguém.
- Vemos, pois, que nada há, neste dom, que o nivele a um mero exercício de adivinhação, como, lamentavelmente, se tem disseminado em muitos lugares. A adivinhação não passa de uma imitação fajuta e irrazoável deste dom, no mais das vezes sendo pura operação maligna (At.16:16), vez que tal prática é abominável aos olhos do Senhor (Lv.20:27; Ez.12:24).
- O dom da palavra da ciência, como dom espiritual, é concedido para edificação da Igreja e, portanto, não se trata de mero exercício de curiosidade, nem tampouco de uma “fofoca santa”, onde se revelam coisas ocultas com o propósito de desnudar a intimidade das pessoas. Seu exercício tem por finalidade única e tão somente a edificação da Igreja, como aconteceu no episódio de Ananias e Safira, quando o apóstolo Pedro foi usado com este dom para trazer temor à Igreja (At.5:1-11).
- Para Deus, nada é oculto, tudo está patente diante de Seus olhos (Hb.4:13). Quando Ele nos revela algo, nos faz ter conhecimento, ciência de algum fato, de modo sobrenatural, Seu intento será sempre o de promover a edificação espiritual da Igreja. Por isso, não se trata de promover a humilhação ou a morte de alguém, mas, sim, de mostrar a onisciência divina e, deste modo, dar condições para que os salvos cresçam espiritualmente.
III – O DOM DE DISCERNIMENTO DE ESPÍRITOS
- A palavra “discernir”, no texto sagrado, traduz, em hebraico, no mais das vezes, o termo “yada’” (ידע), que o Dicionário Vine diz ter como significado “…(1) saber por observação e reflexão e (2) saber por experiência” (VINE, W.E. Diccionario expositivo de palabras del Antiguo y del Nuevo Testamento exhaustivo. Nashville: Caribe. Disponível em: www.semeadoresdapalavra.net, p.83) (tradução nossa de texto em espanhol). Em ambos os significados, notamos que se trata de um saber que exige uma prévia reflexão, um prévio julgamento por parte daquele que vem a saber algo. O “discernimento” é, precisamente, um saber que vem de uma distinção, de uma análise, de um julgamento.
- Os termos gregos correspondentes, a saber, “anakrino” (ανακρίνω) (I Co.12:10) e “diakrino” (διακρίνω) (I Co.11:29), também revelam que o “discernimento” consiste numa distinção, num julgamento, numa reflexão, numa análise, visto que são palavras derivadas de “krino”, de onde vem a palavra “crítica”, que outra coisa não é senão julgamento.
- O “discernimento”, portanto, é a capacidade de distinguir, de discriminar, de separar uma coisa da outra. O Senhor repreendeu duramente os sacerdotes por intermédio do profeta Ezequiel precisamente porque eles não faziam mais diferença, não distinguiam entre o santo e o profano (Ez.22:20) e prometeu que haveria tempo em que isto voltaria a ocorrer (Ez.44:23).
- Bem se vê, pois, que é fundamental para que alguém exerça seu ofício sacerdotal que saiba distinguir entre o santo e o profano e como a Igreja é o sacerdócio real, a nação santa (I Pe.2:9), torna-se indispensável que tenhamos o devido discernimento espiritual, não confundindo as coisas que são de Deus com as que não são.
- O discernimento espiritual é algo indispensável para todos os salvos. O apóstolo Paulo diz que o salvo tem de ser um homem espiritual, que tudo discerne e de ninguém é discernido (I Co.2:12-16). O salvo tem a mente de Cristo e, por isso, pode muito bem saber quando algo provém da parte de Deus e quando não.
- Todo salvo tem de ter o discernimento espiritual, pois é templo do Espírito Santo e é o Espírito Santo quem faz a devida comparação entre as coisas espirituais e as espirituais (I Co.2:10,11). Não é possível que alguém que esteja em comunhão com o Senhor não tenha o discernimento espiritual.
- No entanto, quando estamos a falar do dom de discernimento de espíritos, não estamos a dizer deste discernimento espiritual que possui tantos quantos são salvos, que têm o Espírito Santo em seus corações. Estamos a falar de uma manifestação esporádica, episódica em que o Espírito Santo, ante a necessidade, faz reconhecer a atuação Sua ou de um espírito maligno numa determinada situação.
- O dom do discernimento dos espíritos é o dom concedido pelo Espírito Santo a alguns crentes para que identifiquem operações espirituais em acontecimentos e fatos do cotidiano. Por intermédio deste dom, percebemos o aspecto espiritual envolvido nas mais diversas e simples ocorrências do dia-a-dia, não nos deixando cair nos laços do adversário, bem como nos precavendo até aquele grande dia, cuja proximidade também é resultado do nosso discernimento espiritual.
- É importante observar que o dom do discernimento é uma identificação súbita e momentânea, numa determinada situação, da operação espiritual, não se confundindo com o discernimento corriqueiro que todo cristão deve ter, por estar em comunhão com o Senhor e ter em si o Espírito Santo que o orienta a cada dia.
- Vemos a manifestação deste dom de discernir os espíritos no ministério do apóstolo Paulo, quando, depois de muitos dias, pôde observar que aquela jovem que fazia “marketing” de seu ministério em Filipos era um espírito maligno e, ante tal constatação, vinda do fato de que ele o perturbava, de pronto, o apóstolo expulsou aquele demônio, libertando aquela pobre escrava filipense (At.16:16-18).
- Não se deve, também, entender o dom de discernimento de espíritos como uma ‘habilidade para identificação dos demônios”, como muitos incautos afirmam por aí. Seria a capacidade de saber a “identidade” do demônio e, assim, saber em que área está havendo esta ou aquela perturbação. O discernimento aqui é a capacidade sobrenatural dada pelo Espírito Santo para sabermos se uma determinada situação é proveniente de Deus, ou não. Nada mais do que isto, pois é isto que edifica a Igreja e não se o demônio envolvido na situação é deste ou daquele nome, atua nesta ou naquela situação.
- A falta do dom do discernimento de espíritos, na atualidade, tem causado enormes danos para a Igreja, pois, com a intensificação da atividade demoníaca neste tempo de princípio de dores, quando está a terminar a dispensação da graça e “o mistério da injustiça” avança, não são poucas as manifestações sobrenaturais advindas das hostes espirituais da maldade que estão a impressionar e a enganar muitos dos que cristãos se dizem ser.
- Não são poucos os que falam em línguas estranhas na atualidade que estão a fazê-lo não pelo Espírito Santo, mas que o fazem por ação de espíritos malignos; não são poucos os que têm “revelações”, mas que o fazem por ação de demônios; não são poucos os que fazem “maravilhas” que, no entanto, têm como origem o poder das trevas. Devemos ter o devido discernimento espiritual e, nestes dias tão difíceis, o dom de discernir espíritos é um dos dons de que a Igreja mais precisa, pois, ante o avanço do maligno, temos de buscar, com zelo, o poder do Espírito Santo. Acordemos enquanto é tempo, amados irmãos!
OBS: Há alguns anos, em visita a uma igreja, ao término da reunião, quando um amado e querido irmão que conosco estava orava pelos enfermos, uma irmã começou a se movimentar de forma estranha, como se estivesse sob o domínio do Espírito Santo. Por possuir este dom espiritual, o amado irmão, de imediato, expulsou o demônio e a igreja ficou surpreendida, pois achara que, durante os últimos cinco dias, em que a igreja tivera uma festividade, aquela irmã tinha sido “muito usada pelo Espírito Santo”. Peçamos o dom do discernimento de espíritos!
- O inimigo de nossas almas procura imitar tudo quanto provém de Deus, para nos enganar e confundir. Por isso, ante a difícil fase por que passamos na história da Igreja, precisamos ter toda a cautela para não sermos enganados por Satanás e, para tanto, o dom de discernimento de espíritos é um instrumento extremamente útil para não deixar que a Igreja seja enganada e ingresse na multidão dos que apostatarão da fé.
- A falta do dom de discernir espíritos tem levado multidões à apostasia espiritual, pois se deixam envolver por manifestações sobrenaturais que nada têm de Deus e este envolvimento gera muitas vezes enorme prejuízo espiritual. É o que temos visto com as manifestações das nunca explicadas “novas unções” que estão a perturbar a vida espiritual de muitos, como a “risada santa”, as “unções de animais”, o “vômito santo”, o “cai-cai” e tantas outras invencionices que somente têm lugar porque não há o dom do discernimento de espíritos. Tomemos cuidado, amados irmãos!
Caramuru Afonso Francisco