“Esses vizinhos eram da opinião de que não poderiam se recusar a dar evidências, depois de ser pressionados pelos religiosos, dizendo que, ao saírem da mesquita após a oração, Babar Masih usava de linguagem abusiva contra o profeta Maomé”, Amjad Masih disse. “Eles me disseram: ‘É um assunto tão delicado, que não pudemos nos recusar a fazer.’”. Ele disse que Babar Masih vem sofrendo de doença mental pelos últimos seis ou sete anos, caracterizada por ataques de raiva sem motivo. Ele disse que a perda do equilíbrio mental do irmão se manifesta em linguagem inapropriada e falta de senso para se alimentar e vestir. Amjad Masih disse à Compass que ouvira testemunhas dizerem que seu irmão andava pelo canal da mesquita, olhando para cima e chamando por nomes, enquanto o líder da mesquita teria saído e ouvido Babar usando linguagem ofensiva conta Maomé. Ele disse não saber sobre o incidente, até que voltou de uma área de bazar. “Quando cheguei, vi muitos muçulmanos religiosos que se juntaram do lado de fora de nossa casa”, ele disse. “Creio que devem ter vindo de outras cidades, porque não consegui identificá-los e eles não eram de nossa área”. Quando ele perguntou por que estavam reunidos ali, os religiosos lhe disseram que Babar Masih insultara Maomé, o que pode ser punido com a morte, no Paquistão. Seu irmão mais velho, James Masih, trancou o acusado em um quarto. Ele confirmou que os vizinhos acreditavam que, se a polícia não fosse chamada, Babar seria morto. A polícia não estava disponível para comentar o assunto até o momento. Representantes da organização dos direitos humanos se encontraram com Babar Masih na cadeia central de Sahiwal, onde está desde o dia 3 de maio. As leis Masih foi acusado nos termos do artigo 298 do estatuto de blasfêmia do Paquistão, por “articular palavras... com intenção deliberada de ferir a religião” e também do artigo 298-A, por “uso de comentários depreciativos... em relação a pessoas sagradas”. Attorney Khurram Shehzad Maan, do escritório do Centro Europeu de Lei e Justiça no Paquistão, disse que o queixoso no caso não eram os religiosos que alegaram ver Masih falando de forma desrespeitosa acerca de Maomé e outras figuras islâmicas, mas um fazendeiro chamado Zeeshan Arain, cuja propriedade fica na mesma rua de Babar Masih. Ele disse que a polícia deveria ter averiguado se Babar tinha, de fato, problemas mentais, como a família informou. Maan disse que o Artigo 84 do código penal dos estados do Paquistão diz: “Nada é ofensivo se é feito por uma pessoa que, no período em que estiver agindo, por razões de debilidade mental, é incapaz de saber a natureza de seu ato, ou se o que está fazendo é errado ou contra a lei”. Entretanto, segundo ele, a polícia tinha a opção de mandá-lo a um hospital psiquiátrico, ao invés de fazer primeiro o Registro de um Relatório de Informação (FIR, sigla em inglês). “Nesse FIR, Arain claramente comprova que Babar Masih falava das estrelas, e não contra o profeta e figuras sagradas do islã, como se supõe”, disse Maan. “Isso quer dizer que a polícia sabia desde o início que Babar Masih não era uma pessoa normal, que falava das estrelas, e também que Babar nunca teve a intenção de ferir o islamismo”, Maan disse. Amjad Masih disse que os poucos vizinhos que não estavam de acordo com o motim para matar Babar disseram a ele para não voltar à sua casa, pois, assim como a polícia, os religiosos rondavam a região para ver se haviam voltado à casa. “Eu quero voltar para casa”, ele disse. “Nós temos negócios lá e não queremos deixar o lugar, mas tememos que as pessoas nos ataquem. Não temos ideia do que fazer nesta situação”. Com altas tensões naquela área, no dia 5 de maio houve uma reunião conhecida como panchayat, onde líderes islâmicos das principais mesquitas de toda a região se reuniram com representantes cristãos. Os cristãos argumentaram que Babar tinha problemas mentais, que de forma alguma as famílias cristãs eram responsáveis por qualquer coisa que ele tivesse feito e que elas deveriam poder voltar para suas casas. Os muçulmanos presentes na reunião, entretanto, estavam relutantes em permitir a volta das famílias, dizendo que eles precisavam de três dias para considerar esse assunto. Fontes informaram que a situação ainda era tensa e que o governo deveria ficar atento a outros possíveis ataques aos cristãos. A lei de blasfêmia no Paquistão tem atraído a condenação de muitos ao redor do mundo e dois oficiais mais antigos do governo – o governador de Punjab, Salman Taseer, muçulmano liberal, e o ministro federal de minorias, Shahbaz Bhatti, cristão – foram assassinados este ano por exigir a revisão da legislação. Tradução: Lucas Gregório fonte PORTAS ABERTAS
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