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A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
É com satisfação que damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, depois de termos celebrado o centenário das Assembleias de Deus no Brasil, vamos estudar um tema muito importante e que, por vezes, tem sido negligenciado, máxime no movimento pentecostal, a chamada “doutrina do reino de Deus”, também denominada por alguns de “basileilogia”.
Com efeito, como este tema foi alvo de reflexões por parte de teólogos liberais que, a partir do final do século XIX, começaram a questionar as grandes mazelas sociais existentes na Europa e nos Estados Unidos, que viviam a chamada Revolução Industrial, com suas consequências sociais nefastas, infelizmente, com o surgimento do movimento pentecostal, passou-se a confundir a discussão do papel social da Igreja com o liberalismo teológico e, por causa disto, deixou-se de lado, em meio ao avivamento proporcionado pelo Espírito Santo, a discussão a respeito do papel da Igreja na sociedade.
Com o aumento da injustiça social em meio a tanto progresso tecnológico, muitos passaram a questionar o significado da expressão “reino de Deus”. Jesus afirmou que a Sua presença na Terra era a demonstração de que “o reino de Deus estava entre nós” (Lc.17:21) e tal afirmação do Senhor fez com que muitos questionassem o que era este “reino de Deus” e em que medida este “reino de Deus” operaria neste mundo.
É esta discussão a respeito do que é esse “reino de Deus” e como ele opera neste mundo, mundo que está no maligno (I Jo.5:19) que discutiremos neste trimestre, num estudo que é fundamental para que, após cem anos, o movimento pentecostal, sem perder as raízes de fervor que o caracteriza, também deixe de lado preconceitos sem fundamento e mostre o reino de Deus para os que precisam se salvar.
Feliz, portanto, o título do estudo deste trimestre, que nos fala de “missão integral da Igreja”, dando-nos a ideia de que a missão da Igreja deve ser vista tanto sob o aspecto da eternidade, da necessária comunhão com Deus e da pregação da salvação, da cura divina, do batismo com o Espírito Santo e da volta de Cristo, quanto sob o aspecto terreno, quando deve mostrar, com atitudes concretas, o amor de Deus por intermédio do amor ao próximo e do testemunho de que pertencemos a um povo diferente, de que somos “novas criaturas” sobre a face da Terra.
As duas primeiras lições mostram o que é “o reino de Deus”. Na primeira lição, veremos qual é o projeto original do reino de Deus e, na lição 2, qual é a mensagem deste reino.
A partir da lição 3, veremos como este “reino de Deus” se manifesta entre os homens, seja através da vida do novo convertido (lição 3), da comissão cultural e da grande comissão (lição 4), da igreja (lição 5), do testemunho cristão (lição 6) e do serviço cristão (lição 7).
Na lição 8, veremos como a Igreja é um agente transformador da sociedade e, minudenciando esta transformação, estudaremos como a Igreja deve preservar a sua identidade (lição 9), como dever atuar socialmente (lição 10), influenciar na cultura (lição 11).
Por fim, as duas últimas lições nos farão refletir sobre a importância da integridade da doutrina cristã, como manutenção do reino de Deus no meio dos homens (lição 12) e como se terá a plenitude do reino de Deus após esta dispensação (lição 13).
A capa da revista do trimestre traz uma cruz de madeira e uma coroa de espinhos, evidentemente remetendo-nos ao Calvário, onde Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo Se ofereceu para a remissão dos pecados da humanidade, onde alcançamos a redenção de nossas almas, onde se consumou a obra que o Senhor Jesus tinha vindo fazer por ordem do Pai (Jo.17:4; 19:30).
A centralidade do Calvário é essencial na pregação do Evangelho. Como bem diz o poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão, “tema do bom pregador: o Calvário” (3ª estrofe do hino 192 da Harpa Cristã). Afinal de contas, “… com a morte de Jesus, ativou-se o contato da criatura com o Criador que fora quebrado no Éden e se tornou visível a ação de Deus na vida dos homens, de maneira que o céu, que parecia ser inatingível, tornou-se acessível aos homens por meio de Cristo Jesus, Valorizemos, então, o sacrifício de Jesus. Foi através dele que obtivemos a paz com Deus e, pelo Seu sangue derramado, fomos purificados de todo o pecado…” (FONSECA, Davi. Passando pelo Calvário, p.15).
No que respeita ao tema deste nosso trimestre, o Calvário tem muito a nos ensinar.
Como vemos na ilustração da capa da revista, estamos diante da cruz e da coroa de espinhos. Com esta coroa, os soldados romanos escarneceram de Jesus, que havia acusado de se intitular “o Rei dos Judeus” (Mt.27:27-31; Mc.15:16-20; Jo.19:1-4).
Se a cruz representa a maldição da humanidade que caía sobre Jesus, pois maldito todo aquele que fosse pendurado no madeiro (Dt.21:23; Gl.3:13), a coroa de espinhos “simbolizava o pecado de todos os homens, que Jesus recebeu para cravar na Cruz, pecados cometidos desde o Éden até aquela atualidade. Não foi por acaso que os soldados fizeram para Jesus aquela coroa, pois era necessária a sua existência, uma vez que os espinhos têm um símbolo da implantação do pecado na Terra.…” (FONSECA, Davi. op.cit., p.56).
Embora Jesus tenha sido zombado por ser “o Rei dos Judeus”, recebendo a coroa de espinhos, embora tenha sido conduzido como um réu condenado à morte ao patíbulo da cruz, o fato é que, nesta mesma cruz, em hebraico, grego e latim, foi proclamado que Jesus era o Rei dos Judeus (Jo.19:19), algo que incomodou sobremaneira os principais sacerdotes dos judeus, a ponto de irem a Pilatos pedirem que a inscrição fosse removida, não tendo êxito porém (Jo.19:20,21).
Aqui vemos como os desígnios divinos não podem ser anulados pelo homem. Embora ali estivesse como réu, Jesus não deixou de ser reconhecido como Rei, porque Ele, efetivamente, é o Rei não só dos judeus mas de todo o mundo (Jo.18:37).
Ao terminar Sua obra redentora, o véu do templo se rasgou de alto a baixo, mostrando-nos que agora tínhamos livre acesso ao Pai, que o “reino de Deus” havia chegado definitivamente até nós (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45; Hb.10:19-22).
No entanto, este reino, apesar de expressa e oficialmente declarado em todas as línguas oficiais do Império de César, apresenta-se à humanidade, como “coroa de espinhos”, como uma renúncia, como um sacrifício, como uma cruz.
O “reino de Deus” não vem com aparência exterior (Lc.17:20), mas é real, vencedor, visto que consegue debelar o pecado e restabelecer a união entre Deus e o homem.
O “reino de Deus” vem com sacrifício, com rejeição do mundo, mas ninguém pode impedir a sua operação poderosa: a salvação do homem e o restabelecimento da amizade perdida no Éden entre Deus e o homem.
O “reino de Deus”, mesmo zombado pelos incrédulos e pelos que se acham no “poder”, supera a morte e o inferno, dando vida, e vida com abundância, a todos quantos creem no Rei, permitindo-lhes ingressar nele, como fez o Senhor Jesus com o ladrão arrependido (Lc.23:42,43).
O “reino de Deus” não só propiciou a salvação da humanidade, como também permitiu a solução de problemas desta vida. Maria, a mãe de Jesus, alcançou um lar para seus dias derradeiros, não ficando desamparada (Jo.19:26,27), a comprovar que, a partir da família, o “reino de Deus” estava pronto a dar melhjores condições de vida para a sociedade.
É este esplendor invisível do “reino de Deus”, que não deixa de lado a dura realidade da cruz e da “coroa de espinhos”, que devem ser assumidas por todos os que querem seguir a Cristo Jesus (Mt.16:24; Mc.8:34; L.9:23), que vamos estudar durante este trimestre.
O comentarista deste trimestre é o pastor Wagner Tadeu Gaby, que comenta sua segunda lição para a CPAD ( a primeira foi no *** trimestre de 20**, que tratou das “doenças do nosso século”) e que, recentemente, foi escolhido para ser o pastor presidente das Assembleias de Deus em Curitiba/PR, sucedendo ao saudoso pastor José Pimentel de Carvalho (1916-2011), num processo que foi exemplo de civilidade e seriedade para todas as Assembleias de Deus em nosso país.
B) LIÇÃO Nº 1 – O PROJETO ORIGINAL DO REINO DE DEUS
A doutrina do reino de Deus, prioritária nos ensinos de Jesus, não tem tido tanta relevância no meio da Igreja.
INTRODUÇÃO
- Certa feita, quando visitávamos o pastor Aldery Nelson Rocha, diretor do Seminário Hosanna Internacional, o mesmo nos informou que seus cursos teológicos continham uma disciplina de Teologia Sistemática que era completamente esquecida dos seminários, a saber, a que cuidava da “doutrina do reino de Deus” ou “basileilogia”. Naquela oportunidade, fomos despertados para o fato de que, embora seja este um ensino central na pregação do Evangelho por Cristo Jesus, tem sido relegado a um papel secundário no estudo da doutrina.
- Feliz, pois, a iniciativa deste trimestre de nos levar a estudar esta importante doutrina bíblica: a doutrina do reino de Deus.
I – REINO DE DEUS: O TEMA DA PREGAÇÃO DE JESUS
- A importância da doutrina do reino de Deus evidencia-se no ministério terreno de Jesus Cristo. Afirma-nos o evangelista Marcos que, quando o Senhor iniciou a Sua pregação, Suas palavras foram: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15). De igual maneira, o evangelista Mateus, quando nos dá conta do teor do sermão do monte, diz-nos que o Senhor foi taxativo ao afirmar como deveria ser a conduta dos Seus discípulos: “Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt.6:33).
- O evangelista Lucas, por sua vez, dá-nos conta de que Jesus “…andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do Reino de Deus; e os doze iam com ele” (Lc.8:1). No Seu famoso diálogo com Nicodemos, Jesus foi claro ao dizer que o novo nascimento significa tanto “ver” quanto “entrar” no reino de Deus (Jo.3:3,5).
- Ao dissertar a respeito das últimas coisas, o Senhor disse que um sinal da Sua vinda seria a pregação do evangelho do reino em testemunho a todas as nações e só então que viria o fim (Mt.24:14). Por fim, depois de ressuscitado, Lucas nos revela que, durante os quarenta dias que mediaram entre a ressurreição e a ascensão, Jesus teve apenas um tema a tratar: as coisas que diziam respeito ao reino de Deus (At.1:3).
- Ante tais afirmativas, não vemos como deixar de reconhecer que o tema do reino de Deus é fundamental, central mesmo, na mensagem do Senhor.
- Ora, se este tema é central na mensagem de Cristo e a Sua mensagem é o Evangelho que estamos a pregar, tem-se como consequência inevitável que o tema do reino de Deus deve, também, ser um assunto a ser anunciado e ensinado pela Igreja, que continua a obra do Senhor, sendo como é o Seu corpo. No entanto, para tristeza nossa, vemos que não é este um assunto presente nos ensinos e pregações da Igreja, tanto que nem sequer tem sido elencada e considerada como uma doutrina bíblica fundamental.
- A primeira observação que devemos fazer a respeito deste ensino bíblico é de que a expressão “reino de Deus” não surge nas Escrituras a não ser através da pregação do Senhor Jesus. O próprio Senhor nos ensina que tal anúncio só se deu depois de João (Lc.16:16).
- A primeira vez que a expressão ocorre é em Mt.6:33, sendo certo que o evangelista Mateus é parcimonioso no uso desta expressão, sendo muito mais abundante em seu livro a expressão “reino dos céus”, que é mais apropriada a um judeu como ele. Aliás, uma das principais controvérsias a respeito desta doutrina é se a expressão “reino de Deus” e “reino dos céus” significam a mesma coisa, ou não, como adiante veremos.
- A Bíblia afirma-nos que a mensagem de Cristo para o Seu povo, para quem viera (Jo.1:11), era o “Evangelho do reino de Deus” (Mc.1:14). Tratava-se de uma mensagem simples, “curta e grossa”, que dizia:
a) o tempo está cumprido – Jesus anunciava aos judeus que chegara o tempo determinado pela lei e pelos profetas para o surgimento do Messias. Jesus tinha vindo cumprir tudo quanto havia sido escrito a Seu respeito. Como nos ensina o apóstolo Paulo, havia chegado “a plenitude dos tempos” (Gl.4:4).
b) o reino de Deus está próximo – Aqui Jesus anuncia a novidade. O que havia sido prometido estava se cumprindo, mas, como Emanuel, ou seja, Deus conosco, Jesus vinha trazer ao Seu povo a proximidade do reino de Deus. O reino não havia chegado, mas estava próximo, ou seja, ele não se imporia sobre o povo de Israel, mas, a exemplo da lei, estava sendo oferecido, era tornado acessível a todos quantos o aceitassem.
c) Arrependei-vos – Jesus apresenta o mistério para que o reino de Deus, que estava próximo, se tornasse uma realidade na vida de cada um: o arrependimento dos pecados. O reino de Deus não era uma estrutura política, social ou econômica que seria imposta aos judeus, mas, pelo contrário, seria o estabelecimento de uma comunhão entre Deus e cada um dos israelitas. Para tanto, necessário se faria a remoção dos pecados. Jesus vinha para demonstrar a iniciativa divina neste empreendimento, mas para que o reino de Deus se instalasse, necessário era o arrependimento.
d) e crede no Evangelho – Havendo um arrependimento, o reino de Deus se instalaria se houvesse fé na mensagem. As duas coisas que deveriam ser feitas pelo povo judeu, portanto, seria o arrependimento de seus pecados e a fé na mensagem trazida pelo Senhor. O reino de Deus, porém, não se instalou na nação judaica, porque ela não recebeu o Senhor, não creu n’Ele nem em Sua mensagem.
- Ante a rejeição de Israel, a pregação do reino de Deus se estendeu também aos gentios (Mt.21:43; At.11:18; Rm.11:11), gentios estes que fazem de suas vidas uma busca incessante pelo comer, pelo beber e pelo vestir (Mt.6:31,32). Mas, a mensagem do evangelho é a de que o homem, embora necessite comer, beber e vestir, não busque estas coisas com prioridade, mas, antes, busque o reino de Deus e a sua justiça. O reino de Deus, portanto, além de ser algo que se instala quando do arrependimento dos pecados e a fé no Evangelho, ou seja, em Jesus, também é algo que deve ser buscado prioritariamente por aqueles que se dispõem a servir ao Senhor (Lc.12:31).
- O reino de Deus surge, portanto, como uma realidade presente, advinda do arrependimento dos pecados e da fé no Senhor, como também como um alvo, algo a ser buscado com prioridade. Como realidade presente, o reino de Deus, porém, não seria apenas uma realidade interna, imperceptível aos olhos humanos. Certa feita, Jesus afirmou que se Ele expulsava os demônios pelo Espírito de Deus, esta era uma prova de que o reino de Deus havia chegado até nós (Mt.12:28; Lc.11:20). Temos, portanto, uma demonstração exterior do reino de Deus quando há a sujeição dos espíritos malignos pelo nome de Jesus.
- Tanto é uma realidade presente o reino de Deus que, desde já, o podemos ver (Jo.3:3), como, também nele entrar (Mt.19:24; 21:31;Mc.9:47; 10:15;10:23-25; Lc.16:16; Jo.3:5; At.14:22), algo que está entre nós, ainda que não com aparência exterior (Lc.17:20,21)
- Mas o reino de Deus também é apresentado como uma realidade futura, pois Jesus disse que não tornaria a beber do fruto da vide a não ser quando estivesse com os Seus discípulos no reino de Deus (Mc.14:25;Lc.22:18), seria algo que contemplaríamos assim como os patriarcas e todos os profetas, após o julgamento final (Lc.13:28,29). Nesta mesma linha, o apóstolo Paulo diz que o reino de Deus que é uma herança (I Co.15:50; Gl.5:21).
II – O QUE É O REINO DE DEUS
- Mas, afinal de contas, o que é o reino de Deus? Trata-se, sem dúvida, de uma pergunta difícil e cuja dificuldade talvez seja o principal motivo por que se tenha deixado à margem dos ensinamentos, ainda que seja o próprio tema central do Evangelho, algo, aliás, que não foi negligenciado pelos apóstolos e evangelistas da igreja primitiva, que sempre pregaram e ensinaram o reino de Deus (At.8:12; 19:8; 20:25; 28:23,31).
- Quando vamos à Wikipédia, a mais completa enciclopédia da rede mundial de computadores (a internet), verificamos a dificuldade para a resposta a esta questão. Segundo a Wikipédia, há divergência sobre o significado da expressão “reino de Deus”, havendo, basicamente, três correntes de pensamento entre os estudiosos da Bíblia, a saber:
a) reino de Deus é um governo real estabelecido no céu
b) reino de Deus é uma condição mental existente nos verdadeiros cristãos
c) reino de Deus é a Igreja cristã
- Como temos visto no item anterior, o reino de Deus sempre nos é apresentado pelo Senhor Jesus como uma dupla realidade, ou seja, como algo presente e algo futuro. De pronto, portanto, podemos entender que o reino de Deus não é algo passado, algo que pudesse ter ocorrido antes da manifestação do Verbo Divino. Assim, cabimento não tem o pensamento de que o reino de Deus significa a soberania divina sobre todas as coisas criadas. Deus é Senhor de todas as coisas desde antes que elas existissem, pois Ele é eterno. Portanto, o reino de Deus não se confunde com a soberania de Deus, pois é uma realidade que surgiu com a encarnação do Senhor Jesus.- Tal circunstância faz-nos, pois, descartar a primeira hipótese trazida pela Wikipédia. O governo de Deus sobre todas as coisas, que se acha estabelecido no céu, não se confunde com o reino de Deus, que é uma realidade que surgiu, na Terra, com a encarnação do Filho.
- Jesus anunciou que o reino de Deus estava próximo, após o cumprimento do tempo, ou seja, após a chegada do instante de Sua humanização. Portanto, embora o reino de Deus se estenda, naturalmente, ao céu, porquanto Jesus, ao fazer a Sua obra, foi recebido no céu (Mc.16:19), onde, indubitavelmente está o reino de Deus, pois é lá que o Senhor beberá novamente do fruto da vide e se assentará à mesa com os remidos, não se tem porque achar que o reino de Deus seja tão somente um governo real estabelecido no céu, até porque o Senhor disse que estava entre nós, ainda que sem aparência exterior (Lc.17:20,21).
- Considerar o reino de Deus como uma “condição mental existente entre os verdadeiros cristãos” também não nos parece uma boa definição. O reino de Deus não é uma “condição mental”, pois, como o próprio Senhor nos ensinou, embora o reino não venha com uma aparência exterior, os seus resultados são palpáveis, perceptíveis, objetivos, como, por exemplo, na sujeição de espíritos malignos e na virtude (I Co.4:20) e nas boas obras produzidas pelo fruto do Espírito (Mt.5:3-12; Gl.5:19-23). Não se tem condição mental, mas um novo modo de vida, que se traduz em ações, valores e concepções novas, que trazem bem a todos quantos nos cercam.
- Por fim, considerar que o reino de Deus é a Igreja cristã, também nos parece ser algo que também não tem respaldo bíblico, pois Jesus falou tanto da Igreja (Mt.16:18), quanto do reino de Deus, não dizendo serem a mesma coisa. De igual maneira, os apóstolos pregavam o reino de Deus, mas também ensinavam a respeito da Igreja, de forma que não se trata da mesma coisa. Além do mais, no reino de Deus, Jesus nos diz que estarão os patriarcas e todos os profetas, que, evidentemente, não pertencem à Igreja. Reino de Deus parece ser mais amplo que a Igreja.
- Como se percebe, pois, temos que as três definições trazidas pela Wikipédia não conseguem bem esclarecer que seja o reino de Deus. Que é, então, o reino de Deus?
- Para responder a esta questão, Anísio Renato de Andrade, em artigo publicado no site da Igreja Batista Lagoinha, assim se manifesta: “…O que é um reino? Basicamente, trata-se de um território governado por um rei. Nesse território existe um povo. O governo de um rei é o cumprimento da sua vontade expressa através das leis e decretos reais.…” (ANDRADE, Anísio R. de. O Reino de Deus. Disponível em:http://www.lagoinha.com/igreja/materias.asp?codMateria=252Acesso em 03 nov. 2006).
- Nesta simplicidade, o articulista mostra-nos que o reino de Deus só pode ser um povo cujo rei é Deus, que, além de governar este povo, obtém dele o cumprimento de Sua vontade, que é expressa através de regras. Diante desta realidade, vemos que o reino de Deus é o conjunto de pessoas que cumpre a vontade do Senhor, expressa nas Escrituras Sagradas, povo este formado por pessoas de todas as nações da face da Terra, vez que o território deste reino não é físico, pois este reino não é deste mundo (Jo.18:36a).
- Quando se diz que a Igreja prega o reino de Deus, ela está a anunciar que é possível ao homem pertencer a um povo que faça a vontade do Senhor, que cumpra os Seus decretos e leis, constantes da Bíblia Sagrada e que, por isso, terá a vida eterna. Para entrar neste reino, porém, é necessário que nasçamos de novo, ou seja, nos arrependamos dos nossos pecados, reconheçamos que há um Deus soberano, a quem temos sido rebeldes, e que temos de nos submeter a Ele. Assim fazendo, vemos o reino de Deus, pois abrimos os olhos espirituais, já que o reino de Deus não tem aparência exterior e não pode ser fisicamente visto. Abrindo os olhos espirituais, vendo o reino de Deus, podemos crer em Jesus, pela Palavra de Deus, podemos nos deixar convencer pelo Espírito Santo do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8) e, desta maneira, nascemos da água e do Espírito (Jo.3:5), tornamo-nos uma nova criatura (II Co.5:17; Gl.6:15) e, em razão disto, entramos no reino de Deus.
- Há, como se percebe, dois estágios. O primeiro é ver o reino de Deus, perceber a sua realidade, o que ocorre quando passamos a ouvir a Palavra de Deus, damos lugar à pregação do Evangelho em nossas vidas. Mas somente quando cremos nesta Palavra, somente quando nos deixamos convencer pelo Espírito Santo é que nascemos da água e do Espírito e, assim, entramos no reino de Deus, entrada que não é ainda permanente, pois depende de perseverarmos até o fim (Mt.24:13).
- É por isso que Jesus sempre pregava e mandava Seus discípulos pregarem que o reino de Deus já havia chegado aos homens, que estava perto dos homens (Lc.10:9,11; 21:31), bem como disse, certa feita, a alguém que não estava longe do reino de Deus, num sinal de que nele ainda não havia entrado (Mc.12:34).
- O reino de Deus fala-nos, pois, do senhorio de Deus sobre a vida de cada um dos Seus servos, senhorio que nos faz pertencer a um povo, com leis e regras próprias, as estabelecidas pelo Rei. O reino de Deus é a realidade espiritual do pleno domínio que Deus exerce sobre cada um dos que aceitam a Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador.
- Não se trata, portanto, de uma condição “mental”, mas de um estado espiritual, de um estado de voluntária submissão a Deus como rei. O filósofo político francês Etienne de la Boétie (1503-1536), ao escrever o seu famoso “Discurso sobre a servidão voluntária”, chegou à conclusão de que o poder político somente existia porque os governados aceitavam se submeter a uma só pessoa, porque, assim fazendo, tinham a ilusão de receber parte do “poder de mando” do governante, como também parte das riquezas que o governante, por ser governante, sempre amealhava em seu favor. Tal pensamento ajuda-nos a entender o que se passa no “reino de Deus”: os homens aceitam se submeter a Deus, voluntariamente decidem servi-l’O, mas, ao contrário do que ocorre entre os homens, não porque sejam escravos de um “desejo de mando” ou de um “desejo de riquezas”, mas, precisamente, porque compreendem que só renunciando a si mesmos e fazendo a vontade do Soberano do Universo, livrar-se-ão da natureza pecaminosa que possuem e que os fazem servir a outros homens por causa desta concupiscência.
- É por isso que o conteúdo do Evangelho é o “reino de Deus”, pois a boa-nova da salvação é a de que, apesar de termos nos rebelado contra Deus e pecado, o Senhor aceita que nos submetamos a Ele, mediante a aceitação do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário, que pagou o preço pela nossa rebelião. Podemos retornar ao reino de Deus, podemos, novamente, sem qualquer penalidade, ser concidadãos dos santos e da família de Deus (Ef.2:19). Podemos sair da potestade das trevas e ser transportados para o reino do Filho do Seu amor (Cl.1:13).
- O “reino de Deus” é o pleno senhorio de Deus na vida de cada ser humano que aceita submeter-se a Ele. Não é algo que tenha aparência exterior, pois a submissão é uma decisão interior de cada ser humano. Por isso, o “reino de Deus” não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17).
- O “reino de Deus” não é algo que seja forjado pelo homem, mas é resultado da ação do Espírito Santo na vida de cada um que se arrepende, mas é uma realidade que ultrapassa a “mente” do crente, pois é uma realidade perceptível a todos os homens, que passam a ver as ações distintas, os valores diferentes, as atitudes reveladoras desta transformação. Por isso, o “reino de Deus” é percebido por todos, assim como se percebe a diferença entre o joio e o trigo, a massa no fermento, os peixes bons e ruins da pesca, o crescimento da mostarda. Seus súditos são vistos como luz do mundo e sal da terra e, inevitavelmente, há melhoria das condições de vida dos que os cercam.
- Mas, visto assim o que é o “reino de Deus”, não se confundiria ele com a Igreja? A resposta é negativa. A igreja é uma realidade presente, é uma nação santa, mas está a buscar o reino de Deus (Mt.6:33). Se a Igreja busca o reino de Deus é porque com ele não se confunde. Os patriarcas, os profetas, o ladrão arrependido da cruz pertencem ao reino de Deus, mas nunca pertenceram à Igreja. No reino, estarão tanto a esposa quanto os amigos do esposo (Jo.3:29).
- Mas, além desta distinção que podemos denominar de “quantitativa”, temos, também, uma distinção “qualitativa”. O “reino de Deus” mostra-nos o propósito de Deus para o homem (daí porque devemos buscá-lo), que é o de termos uma comunhão plena, um domínio pleno, onde nada poderá nos separar da presença e da glória do Senhor, visto que, hoje em dia, isto ainda se dá apenas em parte (I Co.13:12; I Jo.3:2). Temos, portanto, que a Igreja, embora já seja existente, é ainda apenas a noiva, mas “na plenitude do reino de Deus”, será a esposa. Enquanto o “reino de Deus” é o propósito, a Igreja é um instrumento, é o meio pelo qual o Senhor proclama e anuncia o “reino de Deus”. A “Igreja” é o odre, enquanto que o “reino de Deus” é o vinho (Lc.5:38).
- A Igreja, portanto, apresenta-se como a “imagem” do “reino de Deus”, que, enquanto realidade futura, ainda não se manifestou em toda a sua plenitude. O “reino de Deus” está progressivamente se revelando. Começou a fazê-lo com a revelação da Divindade em Cristo Jesus, com a manifestação do Seu mistério, que é a Igreja, mas ainda o fará por intermédio do reino milenial de Cristo e, por fim, após o Juízo do Trono Branco, com a retirada dos atuais céus e terra, se manifestará em toda a sua plenitude, pois, como o reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo, sua manifestação plena somente se poderá dar em “novos céus e nova terra onde habitam a justiça” (II Pe.3:13).
- A Igreja manifesta a autoridade do reino de Deus, tanto que, por meio dela, sinais e maravilhas confirmam o poder de Deus que nela existe. Entretanto, quando se manifestar plenamente o reino de Deus, ter-se-á não apenas a autoridade, mas também o pleno domínio, a soberania divina. Hoje, a Igreja sujeita os demônios no nome de Jesus; posteriormente, o diabo ficará preso por mil anos e, depois de solto, será, juntamente com seus anjos, definitivamente executado, lançado no lago de fogo e enxofre, preparado para eles mesmos (Mt.25:41).
- Assim, temos que o “reino de Deus” não se resume à Igreja, embora a envolva. Por isso, tem de ser entendido como uma realidade presente e, simultaneamente, uma realidade futura. É por isso que o discípulo de Cristo, enquanto já seja um cidadão deste reino, como o mostram as qualidades constantes do sermão das bem-aventuranças, é apresentado como alguém que se alegra porque sabe que tem um galardão nos céus (Mt.5:12).
- Por isso, concordamos com o pastor presbiteriano brasileiro Brian Gordon Lutalo Kibuuka, quando afirma que, a um só tempo, o reino de Deus é certeza e esperança dos discípulos, uma realidade estabelecida por Deus e o fundamento das ações dos discípulos (KIBUUKA, Brian G.L. A doutrina do reino de Deus. Disponível em: http://www.ejesus.com.br/exibir.php?arquivo=4330Acesso em 03 nov. 2006).
OBS: Hélio de Menezes Silva bem diferencia entre “reino de Deus” e igreja em explicação que vale a pena transcrever: “…O Reino de Deus é aquela esfera ou terreno em que Deus é recebido como Rei e a sua vontade é obedecida. Inclui os santos anjos, e os homens redimidos em todas as dispensações. Como os verdadeiros salvos entre os membros de todas as igrejas locais comporão a "igreja local totalizada futura", a qual será o conjunto de todos os homens redimidos na atual dispensação, então esta "igreja local totalizada futura" será uma das partes do Reino de Deus, e este inclui, também, aqueles homens e mulheres que foram salvos nas outras dispensações (Inocência, Consciência, Governo Humano, Promessa, Reino), bem como os que foram salvos nas transições entre tais dispensações (salvos durante a 70a. Semana de Daniel, etc.). O Reino de Deus também inclui os santos anjos de Deus.…” (“O Reino de Deus” e o “Reino dos Céus”. Disponível em: http://solascriptura-tt.org/EscatologiaEDispensacoes/ReinoDosCeusEReinoDeDeus-Helio.htmAcesso em 03 nov. 2006).
- Mas, não estaríamos, pois, a considerar que o “reino de Deus” é, então, a soberania divina, o domínio eterno de Deus sobre o universo, o que se rechaçou no início deste estudo? Não, não estamos a confundir o reino de Deus com a soberania divina. A soberania divina sempre houve e jamais sofreu qualquer diminuição ou restrição ao longo da história da humanidade ou da existência do universo. Dizer que o reino de Deus é o domínio eterno de Deus é dar um novo significado à expressão “reino de Deus” que não o encontrado nos evangelhos. Quando Jesus pregou sobre o reino de Deus, estava a dizer sobre a possibilidade de, voluntariamente, nos submetermos ao Senhor e fazermos parte deste povo que passará a eternidade com Deus. Este reino se aproximou dos homens por meio de Cristo e era apenas uma promessa até então. Ora, o domínio eterno de Deus jamais foi apenas uma promessa. Assim, o reino de Deus, certamente, confundir-se-á com o Seu domínio quando Cristo congregar tudo em todos e Se sujeitar ao Seu Pai (I Co.15:28), mas, até lá, são duas coisas distintas. Podemos, logicamente, nomear de “reino de Deus” este domínio eterno, mas seria conferir equivocidade a esta expressão.
OBS: É o que faz, por exemplo, a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, que ora transcrevemos: “VII - REINO DE DEUS- O reino de Deus é o domínio soberano e universal de Deus e é eterno (Dn.2:37-44; Is.9:6,7). É também o domínio de Deus no coração dos homens que, voluntariamente, a ele se submetem pela fé, aceitando-o como Senhor e Rei. É, assim, o reino invisível nos corações regenerados, que opera no mundo e se manifesta pelo testemunho dos seus súditos (Mt.4:17; Lc.17:20; 4:43; Jo.18:36; 3:3-5; Mt.6:33; I Pe.2:9,10). A consumação do reino ocorrerá com a volta de Jesus Cristo, em data que só Deus conhece, quando o mal será completamente vencido e surgido o novo céu e a nova terra para a eterna habitação dos remidos com Deus (Mt.25:31-46; I Co.15:24; Ap. 11:15) (DECLARAÇÃO Doutrinária Convenção Batista Brasileira. Disponível em: http://www.luz.eti.br/declaracaodoutrinaria06.htmlAcesso em 03 nov. 2006).
III – REINO DE DEUS E REINO DOS CÉUS SÃO A MESMA COISA?
- Entendida esta dupla realidade do reino de Deus, bem como a distinção entre “reino de Deus” e “soberania divina” bem como “reino de Deus” e Igreja, cumpre-nos falarmos a respeito da controvérsia sobre a existência, ou não, de uma diferença entre as expressões “reino de Deus” e “reino dos céus”.
- Alguns, como R.N. Champlin, não veem qualquer diferença entre ambas as expressões. A expressão “reino dos céus” somente aparece no evangelho segundo Mateus, onde só se encontra a expressão “reino de Deus” cinco vezes (Mt.6:33; 12:28; 19:24; 21:31,43). Segundo estes estudiosos, isto é o suficiente para mostrar que não há qualquer diferença entre uma e outra expressão, já que, como Mateus foi escrito tendo como alvo os judeus, explicar-se-ia a prevenção do uso do nome de “Deus”, preferindo-se, então, a expressão “reino dos céus” em vez de “reino de Deus”. Além do mais, dizem estes estudiosos, o que é dito a respeito do “reino dos céus” em Mateus (o termo aparece 31 vezes na Versão Almeida Revista e Corrigida), é repetido nos demais evangelhos sinóticos com relação ao “reino de Deus”, o que mostra que as expressões seriam equivalentes.
- Não é, entretanto, o que pensam outros estudiosos da Bíblia que, sob a nítida influência do pensamento dispensacionalista, iniciado pelo irlandês John Nelson Darby (1800-1882) e difundido pelo norte-americano Cyrus Ingerson Scofield (1843-1921), entendem haver distinção entre uma e outra expressão. Darby dizia que “…o ‘reino de Deus’ é o termo genérico; ‘o reino dos céus’ é o reino de Deus, mas o reino de Deus tomando particularmente o caráter de governo celeste.…” (DARBY, John Nelson. Estudos sobre a Palavra de Deus: Mateus-Marcos. Trad. de Martins do Vale, nota 1, p.34). O fato de a maior parte das parábolas a respeito do “reino dos céus” estar apenas em Mateus seria a prova de que a expressão “reino dos céus” diz respeito tão somente a Israel, o reino messiânico, davídico e judaico, que será estabelecido no milênio.
OBS: Como afirma Scofield: “… A frase reino do céu (lit. dos céus) é peculiar a Mateus e significa o governo terreno de Jesus Cristo, o Filho de Davi. Ele é chamado o reino dos céus sobre a terra (Mt.6:10). A frase é derivada de Daniel, onde ele é definido; Dn. 2:34-36,44; Dn.7:23-27 como o reino que o Deus dos céus estabelecerá depois da destruição da “pedra cortada sem mãos” do sistema mundial gentílico. Ele é o reino pactuado para a descendência de Davi II Sm.7:7-10 descrito nos profetas e confirmado para Jesus, o Cristo, o filho de Maria, através do anjo Gabriel Lc.1:32,33…” (BÍBLIA de Referência Scofield. Nota a Mt.3:2. Disponível em: http://bible.crosswalk.com/Commentaries/ScofieldReferenceNotes/srn.cgi?book=mt&chapter=003Acesso em 03 nov. 2006) (tradução nossa de texto em inglês).
- Lewis Sperry Chafer, que também defende a distinção entre as duas expressões, entende que há mais diferenças do que semelhanças entre “reino dos céus” e “reino de Deus”. Para ele, “o reino dos céus” é expressão que “ …abrange qualquer espécie de império que Deus pode ter na terra num determinado tempo. O reino do céu aparece, então, em vários aspectos através dos séculos…” (Teologia sistemática, v.7, p.228), enquanto que o “reino de Deus” “…inclui todas as inteligências no céu ou sobre a terra que são voluntariamente sujeitas a Deus…” (op.cit., p.227).
- Para Chafer e Scofield, as diferenças principais entre um e outro são as seguintes:
a) a entrada no reino de Deus é pelo nascimento do alto (Jo.3:3), enquanto que para o judeu, no dia de Cristo e na predição de Seu reino terrestre, a entrada no reino está baseada na justiça (Mt.5:20).
b) os “filhos do reino dos céus” podem ser lançados fora (Mt.8:12; 24:50,51; 25:28-30), já “os filhos do reino de Deus”, não (Jo.3:18).
c) “o reino de Deus” não tem aparência exterior, é voltado para o interior das pessoas e para o aspecto espiritual (Lc.17:20; Rm.14:17), enquanto que o “reino dos céus” é orgânico (i.e., mostrado através de organismos) e será mostrado na Terra em glória (Zc.12:8; Mt.17:2; Lc.1:31-33; I Co.15:24)
d) o “reino de Deus” é universal, mas “o reino dos céus” é a esfera terrestre do “reino de Deus” (Lc.13:28,29; Hb.12:22,23).
e) “o reino dos céus” será absorvido pelo “reino de Deus” quando todas as coisas congregadas por Cristo em Si forem sujeitas ao Pai (I Co.15:24-28).
- Em que pese esta diferenciação, que é aceita ou não pelos estudiosos da Bíblia, o importante é verificarmos que, seja “o reino de Deus”, seja “o reino dos céus”, tanto um quanto o outro, mesmo para os defensores da distinção, têm muitas coisas em comum, pois se “o reino dos céus” é a “esfera terrestre” do “reino de Deus”, temos, em ambos os casos, a necessidade da submissão nossa a Deus, de fazermos a Sua vontade. Por isso até, o Senhor, na oração que nos ensinou, tenha falado em “venha o Teu reino”, sem especificar se se tratava do “reino de Deus” ou o “reino dos céus”.
- O importante, nesta doutrina tão esquecida, é lembrarmos que o nosso Deus é o Rei, é o Soberano e que jamais com Ele conviveremos se não aceitarmos ser submissos a Ele, se não admitirmos o Seu senhorio, se não nos “naturalizarmos” e nos tornarmos cidadãos do “reino de Deus”. Temos tido esta disposição? Tem sido este o nosso objetivo?
Caramuru Afonso Francisco