LIÇÃO Nº 2 – A MENSAGEM DO REINO DE DEUS

3º Trim. 2011 - A Missão integral da Igreja - Lição 2

                                               O reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.
INTRODUÇÃO
- Na continuidade da doutrina do reino de Deus, hoje estudaremos qual é a “mensagem do reino de Deus”, ou seja, qual o significado do reino de Deus para a humanidade.
O reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo(Rm.14:17).

I – A MENSAGEM DO REINO DE DEUS COMEÇOU COM O MINISTÉRIO PÚBLICO DE JESUS CRISTO
- Na primeira lição deste trimestre, vimos o que é o “reino de Deus”, algo importantíssimo para entendermos qual é a “missão integral da Igreja”, que é o tema deste nosso trimestre letivo.
- Vimos que “…o reino de Deus fala-nos, pois, do senhorio de Deus sobre a vida de cada um dos Seus servos, senhorio que nos faz pertencer a um povo, com leis e regras próprias, as estabelecidas pelo Rei. O reino de Deus é a realidade espiritual do pleno domínio que Deus exerce sobre cada um dos que aceitam a Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador.…”
- Deste modo, não há como falarmos em “reino de Deus” se não vier o Rei e é exatamente por isso que a pregação do “reino de Deus” se inicia apenas quando o Senhor Jesus inicia o Seu ministério público. Quem o diz é o próprio Jesus, ao afirmar que “a lei e os profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele” (Lc.16:16).
- “…A expressão ‘reino de Deus’ também é usada para designar a esfera da salvação na qual se entra apenas pelo novo nascimento (Jo.3:5-7), em contraste com o reino dos céus como esfera de profissão da fé cristã, profissão esta que pode ser tanto real como falsa(…) Assim como o reino dos céus, o reino de Deus se realiza no governo de Deus na era presente e também será cumprido no futuro reino do milênio…” (Bíblia de Estudo SCOFIELD, nota a Mt.6:33, p.859).
- O “reino de Deus”, portanto, passou a ser anunciado por Jesus e este anúncio fazia parte de Seu ministério, ministério este que prossegue com a Igreja, que é o Seu corpo. Jesus veio anunciar este reino, ou seja, a possibilidade de a humanidade ser redimida dos seus pecados pelo sangue de Cristo e, assim, aproximar-se novamente de Deus, passando a obedecer-Lhe, a desfrutar da bondade e da misericórdia do Senhor, de estar sob o Seu senhorio.
Jesus trazia o “reino de Deus” que era aguardado ansiosamente pelos judeus (Lc.17:20), reino que havia sido prometido a Davi e a seus descendentes e descrito pelos profetas (II Sm.7:8-17; Zc.12:8). Todavia, este reino foi rejeitado por Israel (Jo.1:11), rejeição esta que se deu gradativamente, enquanto transcorria o ministério de Jesus (Mt.11:16-20; 27:21-25).
Diante da rejeição do “reino de Deus” por Israel, este anúncio foi dado a uma nova nação (Mt.21:43), a Igreja, formada tanto por judeus quanto por gentios (Ef.2:11-22). Por isso, assim que se consolida a rejeição do “reino de Deus” por parte de Israel, ainda que não de forma definitiva (o que se daria apenas quando do julgamento de Jesus e sua condenação à morte), Jesus anuncia o “mistério” da Igreja (Mt.16:13-21; Ef.3:1-12).
- É interessante observar que, quando Jesus começou a falar aos discípulos a respeito do “reino de Deus”, eles nada compreenderam (Mc.9:32; Lc.18:34), precisamente porque não tinham, ainda, o Espírito Santo, algo que é indispensável para que alguém possa ver o “reino de Deus” (Jo.3:3), visto que ninguém vê o “reino de Deus” se, antes, não nascer de novo e o novo nascimento é um nascimento que se dá por intermédio de uma operação do Espírito Santo, que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:7-11). Não foi por outro motivo que, depois de ressuscitado, Jesus soprou sobre Seus discípulos para que recebessem o Espírito Santo (Jo.20:22) e, durante os quarenta dias em que ainda permaneceu com eles antes de ascender aos céus, falou-lhes a respeito do “reino de Deus” (At.1:3).
- A partir de então, os discípulos estavam aptos para continuar a obra do Senhor Jesus e anunciar o “reino de Deus” (At.8:12; 19:8; 20:25; 28:23,31), não mais para Israel, mas para todo o mundo, onde passou a ser semeada a Palavra (Mt.13:3,19-23).
O “reino de Deus” é, portanto, o conteúdo do “Evangelho”, ou seja, o que se diz quando se proclamam as “boas novas” de salvação. O “Evangelho” é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê em Jesus Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador (Rm.1:16) e, como resultado da salvação em Jesus, passamos a “ver o reino de Deus” (Jo.3:3) e, no dia-a-dia, a marcharmos em sua direção, a fim de nele entrar (Jo.3:5; Rm.1:17), daí porque ter sido a Igreja chamada de “Caminho” (At.19:9;23; 22:4; 24:14). Não é por outro motivo que os que nascem de novo e dão fruto, por terem recebido a semente, que é a Palavra do reino, são o “trigo”, os “filhos do reino” (Mt.13:38).
II – A MENSAGEM DO REINO DE DEUS – O TEMPO ESTÁ CUMPRIDO
- Mas, qual é, afinal, a mensagem do “reino de Deus”? O evangelista Marcos, dentro de seu estilo breve, onde apresenta Jesus como o servo, apresenta-nos, claramente, a síntese do “evangelho do reino de Deus”: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc.1:15).
- A primeira parte da mensagem do “reino de Deus”, portanto, é “o tempo está cumprido”. Jesus anunciava que as promessas feitas a partir de Davi se cumpriam com a Sua vinda ao mundo. O Verbo Se fez carne e habitou entre os homens, por meio de quem vieram a graça e a verdade (Jo.1:14,17) , trazendo a salvação a todos os homens (Tt.2:11).
- Jesus, ao anunciar o “reino de Deus” como sendo o “cumprimento do tempo”, estava a indicar que a lei e os profetas estavam se encerrando, que Jesus tinha vindo para cumprir a lei e, desta maneira, satisfazer a justiça de Deus, oferecendo-Se como sacrifício para expiação dos pecados da humanidade. Chegara o momento de se dissiparem as trevas, o império do diabo, a morte, abrindo-se um novo tempo para os homens, que poderiam voltar a ter comunhão com Deus pelo sacrifício vicário de Cristo.
A primeira parte do “reino de Deus” fala-nos que é chegado o momento da salvação, que o Salvador veio ao mundo, que a promessa da redenção, existente desde o momento da queda, quando se disse que a semente da mulher restabeleceria a amizade entre Deus e o homem (Gn.3:15), concretizara-se na pessoa de Cristo Jesus.
- Dizer que o “tempo está cumprido” nada mais é que dizer que o Salvador já veio e que a salvação está à disposição de tantos quantos crerem em Jesus e, por esta fé, se tornarem “filhos de Deus”, “filhos do reino”. Dizer que o “tempo está cumprido” é mostrar que a salvação já chegou e que nada precisa ser feito pelo homem para adquiri-la senão entregar a sua vida a Cristo Jesus.

- Muitos hoje não mais pregam que “o tempo está cumprido”. Põem uma série de obstáculos para a salvação, achando que ela ainda está para vir. Não são apenas os judeus que, por terem rejeitado a Cristo, ainda aguardam o Messias, mas muitos que cristãos se dizem ser também estão a olvidar que “o tempo está cumprido”.
- Muitos não têm a convicção de Paulo que, escrevendo aos gálatas, foi claríssimo ao afirmar que já havia chegado a plenitude dos tempos, Deus enviara Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos e ter enviado a nossos corações o Espírito Santo, passando a ser herdeiros de Deus por Cristo (Gl.4:4-7).
- Por isso, apesar de se dizerem cristãos, defendem que nos mantenhamos debaixo da lei, como se Jesus não tivesse cumprido a lei (Mt.5:17) e Se oferecido como sacrifício que tirasse o pecado do mundo, algo que a lei jamais poderia fazer (Hb.10:1-9). São pessoas que não compreenderam, ainda, que “o tempo está cumprido”.
- Há aqueles que, embora não mandem que se siga a lei de Moisés, criam para si “mandamentos de homens” para complementar o mandamento deixado por Jesus (Jo.15:12), esquecendo-se que “como o tempo está cumprido”, não mais restam outros mandamentos senão o mandamento deixado pelo Senhor. Não têm a mesma consciência do apóstolo João que não escrevia aos salvos um mandamento novo, “mas o mandamento antigo que desde o princípio tivestes” (I Jo.2:7). Quem assim procede não agrada a Deus (Is.29:13; Mc.7:7; Tt.1:14).
- Mas há, também, aqueles que condicionam a obra perfeita da salvação em Cristo Jesus a “remendos”, tais como “quebras de maldições”, “maldições hereditárias” e outras invencionices, como se o sacrifício de Jesus tivesse sido insuficiente para salvar a humanidade. “O tempo está cumprido” e, portanto, nada mais resta para ser feito para remir o homem de seus pecados.
- O homem é liberto tão só pela fé em Cristo Jesus, pela fé na verdade, pois a verdade, que é a Palavra (Jo.17:17), o próprio Verbo de Deus (Jo.1:1; 14:6; Ap.19:13), é suficiente para nos libertar (Jo.8:32,36). O conhecimento da verdade é que nos liberta e, por isso, devemos, uma vez cientes da mensagem do “reino de Deus”, passar a conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os.6:3).
Dizer que “o tempo está cumprido” é ter consciência de que sabemos em que tempo está a viver, é identificar “os sinais dos tempos” (Mt.16:3). Como afirma a Constituição pastoral “Gaudium et spes”, um dos principais documentos católicos romanos do Concílio Vaticano II (1962-1965) :”…a Igreja, a todo momento, tem o dever de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de tal modo que possa responder, de maneira adaptada a cada geração, às interrogações eternas sobre o significado da vida presente e futura e de suas relações mútuas…” (Gaudium et spes, nº 4).
- A incompreensão dos “sinais dos tempos” faz com que não se esteja no “reino de Deus”. Israel, por ter rejeitado o “reino de Deus”, não soube compreender que estava a perder o “tempo da visitação do Rei”, o que provocou o choro do Senhor sobre Jerusalém (Lc.19:41-44).
- Os discípulos, após a ascensão do Senhor e a partir do dia de Pentecostes, demonstraram ter consciência de que tempo estavam a viver: o tempo de pregação do Evangelho e do “reino de Deus” até que o Senhor viesse a voltar para estabelecer o Seu reino milenial (At.3:18-21). Esta consciência de que tempo estamos a viver é, também, renovada na participação da ceia do Senhor (I Co.11:26).
Quando temos noção de que “o tempo está próximo”, passamos a remir o tempo, sabendo que os dias são maus (Ef.5:16). “Remir o tempo” é aproveitá-lo para fazer a obra de Deus, dar prioridade às “coisas de cima” (Cl.3:1,2), sabendo que não é aqui o nosso descanso (Mq.2:10), de que temos de fazer a obra do Senhor enquanto é dia, porque a noite vem quando ninguém mais pode trabalhar (Jo.9:4).
- Lamentavelmente, muitos, nos dias hodiernos, por não terem a noção de que “o tempo está cumprido”, estão a desperdiçar o seu tempo com coisas que para nada aproveitam, inclusive nas igrejas locais. Na atualidade, são poucos os que cristãos se dizem ser que estão a realizar a obra do Senhor, transformando as igrejas locais em verdadeiros “clubes sociais”, onde só há folguedos, confraternizações, exibições artísticas, mas onde não mais se evangeliza, não mais se procura remir o tempo ganhando almas para o Senhor Jesus, nem tampouco fazendo coisas que edifiquem a nossa vida espiritual, tais como a busca da presença de Deus em orações, jejuns e consagrações, a busca das bênçãos espirituais (batismo com o Espírito Santo, dons espirituais). Acordemos, amados irmãos!
Quem tem a noção de que “o tempo está cumprido”, além da dimensão do serviço cristão, de que falamos, também passa a andar com sabedoria para com os que estão de fora, ou seja, passa a dar um bom testemunho ante os incrédulos (Cl.4:5). Somente quem sabe em que tempo está a viver cuida para que sua vida seja uma prova de que está a caminhar para o “reino de Deus”, zela para que seja uma efetiva e sincera testemunha de Cristo Jesus. A noção de que “o tempo está cumprido” leva-nos à dimensão do testemunho cristão. Temos sido testemunhas do Senhor (At.1:8)? Somente com bom testemunho, poderemos pregar eficazmente o “reino de Deus” (At.28:23).
- Mas nem todos estão conscientes de que “o tempo está cumprido” e que o Senhor Jesus pode voltar a qualquer momento para arrebatar a Sua Igreja, apesar dos “sinais dos tempos” que mostram o cabal cumprimento de tudo quanto o Senhor Jesus deixou assinalado como sinais de Sua vinda (Mt.24:4-14). Muitos, notadamente nestes dias em que vivemos, dias da iminência do arrebatamento da Igreja, estão a descuidar da análise dos “sinais dos tempos”, começando a duvidar da volta de Cristo e, exatamente por não entenderem em que tempo estamos, andam após as suas próprias concupiscências (II Pe.3:3,4). Por isso, não deixemos de atender ao conselho de Nosso Senhor: “…quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas” (Mt.24:34).

III – A MENSAGEM DO REINO DE DEUS – “O REINO ESTÁ PRÓXIMO”
- Mas Jesus não Se limitou a pregar que “o tempo estava cumprido”, mas, também, que “o reino de Deus estava próximo” (Mc.1:15). “…A expressão bíblica ‘é chegado’ ou ‘está próximo’ (Mc.1:15) não é uma afirmação categórica de que uma pessoa ou coisa que chegou aparecerá imediatamente, mas apenas que essa pessoa ou coisa é iminente. Quando Cristo apareceu ao povo judeu, o próximo evento que deveria ocorrer na ordem da revelação, de acordo com a forma com o que o povo a entendia, era o estabelecimento do reino davídico. Mas Deus havia estabelecido que, antes disso, ocorreria a rejeição e a crucificação do Rei (Sl.22; Is.53). O longo período da forma secreta do reino (Mt.13:11) — a pregação da cruz por todo o mundo e o chamado da Igreja para sair do mundo — ainda se achava oculto nos conselhos secretos de Deus (Mt.13:11,17; Ef.3:3-12).…” (Bíblia de Estudo SCOFIELD, nota a Mt.4:17, p.854).
- Jesus anunciava aos judeus que “o reino de Deus estava próximo” ou que “o reino de Deus havia chegado”. Foi o que mandou Seus discípulos pregarem às ovelhas perdidas da casa de Israel quando comissionados, de dois em dois, a percorrer todas as aldeias judaicas (Lc.9:2,60; 10:9,11).
 - A pregação de Nosso Senhor tinha o propósito de fazer o Seu povo crer que Ele era o Messias e que, através da fé n’Ele, poderiam ser salvos e passar a “ver o reino de Deus” por intermédio do novo nascimento, como afirmou para o príncipe Nicodemos (Jo.3:3).
- Os judeus aguardavam um reino visível, um reino material poderoso, um novo tempo de conquistas militares e de pujança política como fora o reinado de Davi, mas o Senhor foi bem claro ao ensinar-lhes que o “reino de Deus” não viria com aparência exterior e que já se encontrava no meio do povo de Israel, ainda que imperceptível aos olhos humanos (Lc.17:20,21). Para Pilatos, o Senhor fez questão de dizer que Seu reino não era deste mundo (Jo.18:36), reino que é formado por todos aqueles que creem no testemunho da verdade dado por Cristo (Jo.18:37; II Jo.4).
- Por isso, ao falar dos “mistérios do reino dos céus” (Mt.13:11) ou “mistérios do reino de Deus” (Mc.4:11; Lc.8:10), o Senhor Jesus descreve o “reino de Deus” como o “grão de mostarda”, a “menor de todas as sementes” que, crescendo, se torna a “maior das plantas” (Mt.13:32; Mc.4:31,32; Lc.13:19), como o “tesouro escondido” que é adquirido pelo Senhor Jesus (Mt.13:44), como “a pérola de grande valor”, igualmente adquirida pelo Salvador (Mt.13:45,46).
Para se perceber a proximidade do “reino de Deus” se faz preciso, portanto, crer em Jesus. Semesta fé, o máximo que o homem faz é tatear, tentar apalpá-lo na escuridão, nas trevas, na cegueira espiritual em que se encontra por obra do deus deste século (At.17:27; II Co.4:3,4). Mesmo o entendimento das Escrituras hebraicas, o aprofundamento no estudo da lei somente fazia com que o homem se tornasse próximo do “reino de Deus”, sem que, no entanto, fosse suficiente para que ele pudesse vê-lo (Mc.12:28-34).
- Por isso, o Senhor Jesus disse que o “reino de Deus” tem de ser recebido como uma criança (Mc.10:15; Lc.18:17),  pois a criança é crédula, em virtude de sua inocência crê em tudo que se lhe diz, sem que apresente qualquer dúvida ou vacilação. Ao pregar que “o reino de Deus havia chegado” ou “estava próximo”, o Senhor suscitava o Seu povo a crer n’Ele como o Messias, sem o que não poderia “ver o reino de Deus” nem tampouco n’Ele entrar. O apóstolo Paulo, anos depois, faria o mesmo com os judeus sediados em Roma (At.28:23).
- A rejeição de Jesus por Israel está vinculada, precisamente, a esta incredulidade. Quando houve, por parte dos fariseus e dos saduceus, o pedido de um sinal do céu, Jesus denunciou a sua hipocrisia e falta de discernimento dos “sinais dos tempos” (Mt.16:1-4; Mc.8:11-12). Por isso mesmo, disse-lhes que os publicanos e as meretrizes entrariam no “reino de Deus” adiante deles, apesar de toda a religiosidade que apresentavam (Mt.21:31,32).
- Assim como a geração do êxodo não entrou na Terra Prometida por causa de sua incredulidade, perecendo no deserto (Hb.3:19), também muitos não entrarão no “reino de Deus”, apesar de ele já ter chegado, de ele estar próximo, porque não crerão em Cristo Jesus. Só recebe o “reino de Deus” aquele que crer em Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador (Jo.1:14).
Um dos grandes obstáculos que se apresenta para alguém conseguir entrar no “reino de Deus” é a confiança nas riquezas (Mt.19:24; Mc.10:23-25; Lc.18:24,25). Quem confia nas riquezas, nas coisas desta vida não consegue ver o “reino de Deus” e cria grande, imensa dificuldade para nele entrar, pois o cuidado com as coisas deste mundo e a sedução das riquezas matam aqueles que haviam recebido a semente da Palavra (Mt..13:22).
 - Aqui devemos não só entender as riquezas do ponto-de-vista material, mas também do ponto-de-vista espiritual. No sentido espiritual, “confiar nas riquezas” é confiar em si próprio, é achar-se autossuficiente, ou seja, entender que não se precisa de Deus, é crer na mentira satânica de que se pode ser igual a Deus (Gn.3:5). Quem se acha rico, neste sentido, está perdido (Ap.3:15-17). Por isso, o Senhor disse que aos pobres pertence o “reino de Deus” (Lc.6:22), ou seja, como muito bem explica o Catecismo da Igreja Romana, “o Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde…” (§ 544 CIC), aqueles que, como Davi, reconhecem-se como pobres e necessitados de Deus (Sl.40:17).
- Muito pelo contrário, o Senhor Jesus, no sermão do monte, foi claríssimo ao dizer que devemos “buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça” (Mt.6:33), o que se repetiu no chamado “sermão da planície” (Lc.12:31), separando a “busca do reino de Deus” da “busca da satisfação das necessidades terrenas”, tratadas como “coisas que seriam “acrescentadas” (Mt.6:31,32).

- Por isso, uma das grandes armas que o inimigo de nossas almas tem se valido, nestes nossos dias, é, precisamente, a chamada “teologia da prosperidade”, que tem apresentado para os incautos um “reino de Deus” visível, palpável, financeiramente agradável. As pessoas têm, então, perseguido e buscado um “reino de Deus” com aparência exterior, que seja crido pelos olhos humanos, pelos olhos carnais e não pela fé. Tais pessoas, por confiarem nas riquezas e não em Cristo Jesus, estão caminhando celeremente para as trevas exteriores, terão o mesmo destino daqueles que buscavam “sinal do céu” e que foram chamados pelo Senhor de “hipócritas”. Tomemos cuidado, amados irmãos! Qual é o nosso “reino de Deus”? Como é triste vermos que muitos púlpitos têm substituído a “mensagem do reino de Deus” por esta mensagem das coisas terrenas!
- Infelizmente, nos dias difíceis em que vivemos, muitos são os que, a exemplo até dos discípulos (Lc.19:11), esperam a manifestação do “reino de Deus” com aparência exterior, com pompa e circunstância, com grandiosidade material e visível, sem qualquer esforço. No entanto, o Senhor Jesus foi claro ao mostrar que “o reino de Deus” não só se mostraria sem aparência exterior, como demandaria, para o seu crescimento, o esforço dos Seus discípulos (Lc.16:16 “in fine”). Para impedir que os discípulos achassem que “o reino de Deus” viria quando o Senhor chegasse a Jerusalém, o Senhor lhes contou a parábola das dez minas, a mostrar que o Senhor faria “uma longa viagem” e que, durante este tempo, deveriam Seus discípulos negociar até que Ele voltasse (Lc.19:12,13).
Jesus disse que deveríamos buscar o “reino de Deus” e a sua justiça. Assim, não basta recebermos o “reino de Deus” pela fé, mas esta fé tem de ser viva, a ponto de nos fazer justos, de termos justiça que exceda a dos escribas e fariseus, sem o que não entraremos no “reino de Deus” (Mt.5:20).
- Não podemos nos esquecer que os injustos não herdarão o “reino de Deus” (I Co.6:9), nem aqueles que praticam o pecado, que fazem do pecado uma maneira de viver (I Co.6:10). Por isso, temos que aumentar nossa justiça e nossa santidade a cada instante, a cada momento (Ap.22:11). É a fé que nos faz receber o “reino de Deus”, mas quem vive pela fé é, necessariamente, um justo (Rm.1:17).
- A fé é indispensável para que se veja e se entre no reino de Deus, mas a entrada nele demanda esforço, uma contínua luta contra a carne, o mundo e o diabo. A vitória que vence todos estes obstáculos que se nos colocam a cada instante de nossa jornada para o céu é a nossa fé (I Jo.5:4). Por isso, Paulo e Barnabé exortavam os crentes a permanecerem na fé, pois, havendo tal fé permanente, não se deixariam abalar pelas muitas tribulações que virão, certamente, em nossa jornada rumo ao “reino de Deus” (At.14:22).
- Para alimentar e incentivar a nossa fé, o “reino de Deus”, embora não tenha aparência exterior, é apresentado aos homens através da “cooperação do Senhor” com os Seus servos, por intermédio de sinais e maravilhas (Mc.16:20). Jesus disse que um dos sinais de que “o reino de Deus” havia chegado era, precisamente, o fato de haver expulsão de demônios e cura de enfermidades (Mt.12:28; Lc.9:2,11; 10:9; 11:20).
- O apóstolo Paulo foi enfático ao afirmar que o “reino de Deus” não consiste em palavras, mas em virtude (I Co.4:20). Como, então, anunciar o “reino de Deus” sem que haja tais sinais? Felipe anunciou aos samaritanos o “reino de Deus”, mas demonstrou a sua presença pelos sinais e maravilhas que ali se realizaram (At.8:6-13).
- Não devemos pregar sinais nem maravilhas. Nossa pregação é o “reino de Deus”, é Cristo Jesus, mas, sem sinais ou maravilhas, como podemos demonstrar aos homens que “o reino de Deus é chegado”, que “o reino de Deus está próximo”? Busquemos o “reino de Deus” e a sua justiça e, certamente, receberemos a cooperação do Senhor para confirmar que o “reino de Deus” está entre nós!
IV – A MENSAGEM DO REINO DE DEUS – ARREPENDEI-VOS
- Mas a pregação de Jesus não parava na proclamação do cumprimento do tempo nem da chegada do “reino de Deus”. O Senhor também pregava que os judeus deveriam se arrepender dos seus pecados, residindo aqui o papel de precursor que João, o último profeta da antiga aliança, desempenhou, pois ele, preparando o caminho do Senhor, também veio pregando o arrependimento dos pecados, arrependimento a ser demonstrado pelo batismo (Mt.3:2; Mc.1:4; Lc.3:3; At.19:4).
Para “ver o reino de Deus” é necessário nascer de novo (Jo.3:3). Este novo nascimento, que é do Espírito (Jo.3:6), nada mais é senão o resultado do arrependimento dos pecados pela fé em Cristo Jesus (Jo.16:8,9).
Para que haja salvação é indispensável que haja arrependimento dos pecados (At.2:37,38), arrependimento que significa mudança de mentalidade (a palavra grega para arrependimento é “metanoia” — μετάνοια —, cujo significado é precisamente o de “mudança de mente”) , mudança de comportamento, abandono do pecado, um arrependimento que é a tristeza segundo Deus (II Co.7:10). Quando há arrependimento, a pessoa deixa as trevas e vem para a luz, passando a praticar boas obras (Jo.3:21), pois foi chamado das trevas para a maravilhosa luz do Senhor (I Pe.2:9).
- A pregação do Evangelho é a pregação para que as pessoas se arrependam de seus pecados. Não há como se pregar o Evangelho sem, antes de mais nada, mostrar aos homens de que eles são pecadores e precisam de salvação na pessoa de Jesus Cristo.
- Na atualidade, proliferam outros evangelhos, que, ao invés de mostrarem aos homens de que eles são maus e necessitam se arrepender de seus pecados e obter o perdão divino pela fé em Cristo Jesus, procuram lustrar o ego dos seres humanos, dizer-lhes de que eles são bons e que Deus os aceita do jeito que estão e que eles não precisam mudar a sua vã maneira de viver. São falsos evangelhos, que querem apenas arrebanhar adeptos, simpatizantes, mas que não têm como objetivo e finalidade trazer o homem à comunhão com Deus, o que somente se fará mediante a retirada dos pecados, que são os responsáveis pela separação que há entre Deus e a humanidade (Is.59:2).

- Este discurso da “bondade inerente à natureza humana” é mais um dos ardis de Satanás para impedir que os homens alcancem a salvação. Os homens são maus (Mt.7:11), embora tenham sido criados perfeitos por Deus (Gn.1:31; Ec.7:29), têm uma natureza pecaminosa, na qual não há bem algum (Rm.7:18) e, por isso, Jesus veio ao mundo, para pagar o preço da redenção do homem com o Seu próprio sangue e, por meio deste sacrifício, tirando o pecado do mundo, permitir ao homem, por graça, i.e., por favor imerecido, restabelecer a comunhão com Deus.
É absolutamente necessário que preguemos aos homens a necessidade do arrependimento dos pecados. Sem arrependimento, não há como se alcançar a salvação. O Espírito Santo convence o homem do pecado, para que ele creia em Jesus e obtenha o perdão de suas iniquidades, mas para que haja este convencimento é mister que preguemos a Palavra, através da qual vem a fé que salva o homem (Rm.10:17), Palavra que mostra a necessidade do arrependimento.
-  O arrependimento é a reação humana ao amor de Deus, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4), é o primeiro ato humano do processo da salvação. Por isso, o nosso adversário busca, de todas as maneiras, impedir que haja tal atitude por parte do homem, atitude que, entretanto, é indispensável para que possamos ver “o reino de Deus”, pois, sem que o vejamos, não há como podermos nele entrar.
O arrependimento importa no abandono da vida pecaminosa, pois somente seremos de Deus se não mais vivermos pecando (I Jo.3:6-10). O arrependimento leva-nos a mudar de orientação em nossas vidas, à conversão, de sorte que passamos a ser “novas criaturas” (II Co.5:17; Gl.6:15), com um comportamento totalmente distinto daquele que tínhamos antes de nos encontrarmos com o Senhor Jesus (Ef.4:20-32; Cl.3:5-14). O “filho do reino” não tem mais a forma do mundo, mas é uma pessoa transformada, diferente (Rm.12:2), uma pessoa que se converteu dos ídolos para servir o Deus vivo e verdadeiro (I Ts.1:9).
- Atualmente, muitos têm se iludido com um discurso de que “Deus só quer o coração”, discurso este que busca justificar uma forma pecaminosa de viver, como se o Senhor estivesse pronto a aceitar o homem de qualquer maneira. Isto é mentira, amados irmãos! Deus quer, sim, o coração do homem (Pv.23:26a), mas com o propósito de fazer com que o homem passe a observar os Seus caminhos (Pv.23:26b).
- Deus quer o coração para transformá-lo, fazer com que o coração de pedra se torne um coração de carne (Ez.11:19; 36:26), ou seja, Deus quer o nosso coração velho, endurecido com os pecados, de onde procedem todos os males (Mt.15:19), para nos dar um coração novo, um coração sensível e obediente ao Senhor. Deus quer que recebamos um coração circuncidado, ou seja, que o homem interior sele uma aliança de obediência e submissão a Deus (Dt.10:16; Jr.4:4; Rm.2:29). Em outras palavras: Deus quer o nosso arrependimento, a nossa conversão.
- É assaz preocupante vermos, na atualidade, que, além de não se pregar mais sobre a necessidade do arrependimento dos pecados, há um grande descuido na apreciação daqueles que se aproximam e passam a frequentar as igrejas locais. Muitos têm sido inseridos na vida eclesiástica mesmo sem demonstrarem estar a dar frutos dignos de arrependimento. Há muitos inconversos a participar das atividades nas igrejas locais em grave prejuízo à vida espiritual de todos que ali estão. “Arrependei-vos” é a mensagem do “reino de Deus”, pois nenhum pecador herdará este reino (I Co.6:9,10; Gl.5:19-21). Lembremos disto!
V – A MENSAGEM DO REINO DE DEUS – CREDE NO EVANGELHO
A última parte da pregação do “reino de Deus” feita por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo era “crede no Evangelho”. Já vimos que a fé é indispensável para que vejamos e, depois, entremos no “reino de Deus”. Aqui o Senhor enfatiza esta absoluta necessidade da fé, fé que deve ser no Evangelho, ou seja, nas boas novas de salvação, no poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, tanto do judeu quanto do gentio (Rm.1:16).
 - A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17). Por isso, devemos pregar a Palavra, pois é ela a portadora da fé salvadora que, com origem em Deus, chega aos ouvidos do pecador e tem de descer ao seu coração para que ele obtenha a sua salvação.
Crer no Evangelho não é fácil, é algo que somente poderia provir de Deus (Ef.2:8). O homem, por si só, cegado pelo deus deste século (II Co.4:4), não tem condições de ver o “reino de Deus”, a menos que seja iluminado pela luz do Evangelho de Cristo.
Para se ver o “reino de Deus”, deve-se crer no Evangelho, ou seja, na Palavra que é pregada, mas, lembremos, nem todos darão crédito à pregação (Is.53:1). Na verdade, o Senhor, ao desvendar os “mistérios do reino de Deus”, mostrou, na parábola do semeador, que a semente da Palavra encontrará sempre quatro espécies diferentes de terreno e que em somente um deles haverá frutificação permanente (Mt.13:1-9, 18-23).
- Por isso, não podemos nos iludir com a falácia dos “métodos de crescimento de igreja” que têm infestado as igrejas locais nestes últimos tempos. A fé não é de todos (II Ts.3:2 “in fine”) e, máxime nos dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, a fé será algo raro sobre a face da Terra (Lc.18:8), pois serão dias em que muitos apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (I Tm.4:1).
- Esta busca por um crescimento numérico, quantitativo, que tem caracterizado os que cristãos se dizem ser em nossos dias nada mais é que operação destes espíritos enganadores, que não entendem em que tempo estamos a viver. O “reino de Deus” cresce, sim, de forma imperceptível aos olhos humanos, é o “grão de mostarda” que de menor semente se torna a maior das plantas (Mt.13:32), mas que não deixa de ser “o pequeno rebanho” (Lc.12:32), pois muitos do que estão no meio deste povo são tão somente “joio no meio do trigo” (Mt.13:25,26,38,39), “os peixes ruins que estão junto com os bons” (Mt.13:47,48), “o fermento que é lançado nas três medidas de farinha” (Mt.13:33).
- Crer no Evangelho é crer no poder de Deus que é a salvação de todo aquele que crê. Por isso, como bem diz um querido irmão que conosco frequenta o estudo dos professores de EBD em nossa igreja local, o Evangelho não precisa de defensores, como muitos estão a arrogar por aí, mas, sim, de seguidores, de pessoas que se comprometam a nele crer e a viver segundo os seus ditames e ensinos.
- Crer no Evangelho é fazer o que Jesus manda, demonstrando assim amor para com Nosso Senhor (Jo.14:15; 15:10,14).
- Muitos, atualmente, entretanto, não creem no Evangelho, tanto que estão a buscar subterfúgios, como se o Evangelho de Jesus Cristo fosse algo fraco, não fosse o poder de Deus. Assim, buscam artifícios, métodos para “estimular” e “incentivar” a fé do povo, gerando um sem número de “amuletos” para que o povo creia. Surgem, então, as “toalhinhas”, os “lenços ungidos”, os “sabonetes de extrato de arruda”, os “tijolos da prosperidade”, as “rosas ungidas”, as “chaves ungidas”, os “molhos de trigo ungidos”, as “águas bentas” e tantas outras invencionices, tudo a indicar que são pessoas que não creem no Evangelho, que acham que o Evangelho precisa ser complementado por coisas criadas pelos homens.
Crer no Evangelho é dar crédito às promessas de Deus e, em virtude disto, pregar a Palavra e ter a certeza de que esta Palavra será confirmada com os sinais que seguem aos que creem. É não ter medo de apontar o pecado aos homens e chamá-los a ter fé em Cristo Jesus, dizendo-lhes que Cristo liberta dos vícios, dos males, das doenças e que transformará a criatura, mas que tudo tem de começar pelo arrependimento dos pecados.
 Crer no Evangelho é renunciar às concupiscências do mundo, à sua impiedade e passar a ter uma vida sóbria, justa e pia neste presente século (Tt.2:12), mesmo que isto custe caro (II Co.11:23-28), mesmo que isto represente o ódio do mundo contra quem assim passa a viver (Jo.15:18-20).
Crer no Evangelho é não se deixar iludir com este mundo, é ter consciência de que o mundo e a sua concupiscência são passageiros e não devem ser amados (I Jo.2:15-17), mas manter a viva esperança de, um dia, que está tão próximo, ingressaremos no “reino de Deus” para sempre ali estarmos com o Senhor (Fp.3:20,21; I Ts.1:10; Tt.2:13; I Pe.1:3,4; II Pe.3:13; I Jo.3:2,3).
Crer no Evangelho é não buscar complementar a Palavra de Deus com “mandamentos de homens”, com “vãs filosofias”, sabendo que o “reino de Deus” não é comida nem bebida mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17). Quem crê no Evangelho não se prende a uma vida religiosa exterior, mas, pelo contrário, sabe que o Evangelho produz no homem a justiça, que vem pela fé (Rm.5:1); a paz com Deus, pelo perdão dos pecados (Rm.5:1) e a comunhão com o Senhor, por meio do Espírito Santo, que traz ao homem não só a alegria da salvação, mas uma vida de alegria e de manifestação do poder de Deus (Rm.8:14-18).
- Será que temos pregado e, principalmente, vivido a mensagem do reino de Deus trazida por Nosso Senhor e que temos o dever de prosseguir a anunciar? Pensemos nisto!
                                                                                  Caramuru Afonso Francisco