No capítulo 10 de Lucas tem um registro interessante. No registro Jesus foi interrogado por um advogado. Advogado, em Israel, era alguém especializado na interpretação da lei mosaica; era também interprete das tradições rabínicas que se desenvolveram em torno da Lei de Moisés. Um desses doutores aproximou-se de Cristo e disse: “Conheço o que Moisés diz acerca da entrada no Reino de Deus. Também conheço as justiças que os fariseus dizem necessárias para que alguém seja aceitável diante de Deus. Pois bem, o que o Senhor diz a respeito?”.
Ele pôs Jesus à prova quanto à interpretação do modelo de justiça que Deus exige dos que andam em comunhão com ele. Em termos mais simples, a pergunta era: O que um homem deve fazer para agradar a Deus. A idéia era pegar Jesus em alguma contradição na Lei e depois condena-lo. O Senhor não deu resposta direta ao doutor; em vez disso, perguntou ao advogado o que era que a lei dizia, e no seu entender, qual era o padrão de justiça e conduta de Deus.
O advogado conhecia a lei mosaica, porque citou certinho o que Deus espera da pessoa justa. Ele respondeu que a exigência de Deus é: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento” (v. 27). Quando o individuo é assim controlado pelo amor divino, não haverá pecado contra Deus. A segunda exigência que se faz a quem deseja servir a Deus é: “amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19.18). Quem age em amor para com o próximo, não será culpado de crime algum contra seu próximo, porque o amor a Deus e ao próximo lhe controlarão a vida, e essa vida justa agrada a Deus. Jesus disse que ele respondeu certo, mas devia ser praticante, e não somente conhecedor. “Faça isso e viverás” – Disse o Senhor ao advogado (v. 28). Ele não havia agradado a Deus; e por isso condenou-se pelo próprio resumo que fez da Lei.
A condenação busca uma justificativa. O doutor apelou para a ignorância. Suas palavras foram: “o único motivo porque não tenho vivido uma vida justa, é que não sei quem é meu próximo” (v. 29). Quem é meu próximo? Perguntou ele. O Senhor, novamente não respondeu de forma direta, mas contou a parábola do Samaritano, uma das mais belas da Bíblia. Jesus tinha em mira dois pontos: primeiro, mostrar ao doutor quem era seu próximo; segundo: mostrar em resumo o que constitui justiça aos olhos de Deus. A história é bem conhecida.
Um homem ia de Jerusalém para Jericó, e foi assaltado por ladrões que o surraram impiedosamente, roubando-lhe tudo o que possuía, abandonaram-no à beira da estrada para ali morrer, e em seguida, foram embora com o fruto do roubo. Por acaso, passava um sacerdote pela mesma estrada. Este viu o homem. Ele não ignorou. Viu a necessidade do homem, portanto sabia o que fazer, mas passou de largo, deixando de reconhecer a sua obrigação à luz do seu conhecimento. Logo depois veio um levita; também viu o homem; não o ignorava, pois. Reconheceu-lhe a necessidade; também sabia qual era sua responsabilidade no caso; mas não estava disposto a assumir nenhuma obrigação; também passou longe. Depois veio um homem desprezado; um pária para os judeus, um samaritano. Este viu a necessidade; reconheceu sua responsabilidade em face ao que conhecia; aproximou-se do ferido e necessitado, derramou óleo nos ferimentos para suaviza-los, e vinho para desinfeta-los; transportou o ferido até um ponto de pouso seguro, e assumiu as despesas do tratamento até que ele recuperasse a saúde (v. 34-35).
Então nosso Senhor voltou-se para o advogado e perguntou-lhe: “Qual destes três te parece ter sido o próximo?” Só havia uma alternativa, e o advogado foi obrigado a confessar: “O samaritano que socorreu o necessitado”. Primeiro o Senhor definiu quem é o próximo. Nem sempre nosso próximo é aquele que mora no mesmo quarteirão onde residimos, ou aquele que faz parte da nossa igreja, tão pouco é aquele que nos ama e elogia. O próximo é qualquer pessoa que esteja em necessidade, cuja necessidade conhecemos e temos capacidade para atender. A justiça divina exige uma reação amorosa, graciosa de nossa parte para com o necessitado, caso contrario, não estaremos cumprindo nossa obrigação para com Deus nem para com o próximo.
Enquanto os doutores representados pelo advogado, ficam usando de subterfúgios a respeito de uma definição, seja ela qual for, Jesus ensina que devemos amar de verdade a Deus e ao próximo, e que o amor não é assunto de discussão teórica, mas de demonstração prática. Os fanáticos profissionais que assumem nossos púlpitos, exemplificados pelo sacerdote e pelo levita, podem discutir sobre a questão com grande habilidade. Osamaritano, entretanto, apesar de desprezado, era considerado um homem de raça mestiça e de religião profana, é elogiado por não teorizar, mas sim agir. Ele não fazia parte da “patotinha” dos importantes, mas agiu corretamente diante de Deus.
Nosso sábio e divino Mestre, concluiu esta conversa com o advogado, dizendo: “vai, e procede tu de igual modo”.
Célio Roberto
Assembléia de Deus – Vila Espanhola – São Paulo – SP