LIÇÃO 3 – APRENDENDO COM AS PORTAS DE JERUSALÉM




                      Lição 3: Aprendendo com as Portas de Jerusalém I             O valor da união no meio do povo de Deus é muito grande, pois é na união que o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Sl.133).
INTRODUÇÃO
- Estudaremos hoje o capítulo 3 de Neemias, onde se faz a explícita menção da cooperação de todo o povo de Judá na reedificação dos muros de Jerusalém.
- Assim como ocorreu na reedificação dos muros de Jerusalém, toda a Igreja deve estar consciente de que a “edificação em amor” somente se dá pela justa operação de cada parte (Ef.4:16).
I – UM HIATO NARRATIVO QUE EXPLICA A PRÓPRIA NARRATIVA
- Na continuidade do estudo do livro de Neemias, estudaremos hoje o seu capítulo 3, que muitos estudiosos da Bíblia chegam a considerar como sendo uma “interpolação”, ou seja, uma inclusão que se faz no meio das “memórias de Neemias”, a fim de explicitar quem cooperou na obra da reedificação dos muros de Jerusalém, visto que há uma suspensão em a narrativa do capítulo 2, suspensão esta que é retomada no capítulo 4.
- Embora respeitemos este entendimento, preferimos ver este “hiato narrativo” de uma outra maneira, qual seja, a de que Neemias, como bom líder, antes de contar a história da oposição à reedificação do muroteve a ideia, devidamente inspirado pelo Espírito Santo, de mencionar a cooperação e os cooperadores da obra da reedificação, mostrando que muito mais importante que a oposição sofrida foi a união de todo o povo de Judá para a realização da obra.
- Se bem verificarmos o final do capítulo 2, vemos ali que todo o povo havia dito a Neemias que iria se levantar e edificar os muros da cidade, tendo o copeiro real ainda afirmado que o povo “esforçara as suas mãos para o bem” (Ne.2:18). Em seguida é que afirma que os inimigos, ao terem conhecimento desta declaração, tiveram a sua reação de zombaria, desprezo e acusação, ao que Neemias respondeu num gesto de confiança em Deus, confirmando que o povo se levantaria e edificaria, mas que Deus é que os faria prosperar (Ne.2:20).
- Ora, nada mais coerente, portanto, que Neemias, em seguida a este relato, mostrasse como o Senhor, realmente, fez prosperar o povo e como o povo cumpriu o seu desejo de se levantar e edificar os muros de Jerusalém. Não vemos aqui, com o devido respeito, uma “interpolação”, mas o desenvolvimento da narrativa dentro dos princípios e valores de um servo de Deus, de um verdadeiro líder.
Muito mais importante do que a oposição do inimigo, eram a fé e a disposição do povo em realizar a obra. Por isso, devia-se mencionar, antes da ação dos inimigos, a ação do povo na realização da obra, obra que tinha a bênção divina, obra que era a própria razão de ser da oposição. Isto já nos dá uma importante lição que muitos têm esquecido ultimamente: a de que a obra de Deus deve ter prioridade em nosso falar, em nossa proclamação, e não a oposição do inimigo. Infelizmente, em muitos lugares, atualmente, temos ouvido falar mais do que o diabo fez ou deixou de fazer do que Jesus tem realizado. Sigamos o belo exemplo de Neemias em sua narrativa!
- Como se não bastasse este fator, qual seja, o da prioridade de menção à obra de Deus do que às atividades do inimigo, Neemias mostra aqui uma bela característica do líder, qual seja, o do conhecimento de seus liderados e do reconhecimento de seus esforços. Antes de falar dos seus inimigos, Neemias entendeu ser muito mais prudente e correto falar daqueles que estavam a seu lado, dos seus cooperadores.
OBS:  “…Aquelas pessoas que são tratadas como uma simples peça de engrenagem nada fazem além da estrita obrigação, não tendo o menor estímulo no seu trabalho. Cria-se nelas um desejo de vingar-se dessa indiferença, não só reduzindo o seu ritmo de trabalho, como inclinando-se para o campo do derrotismo, atingindo a muitos que o ladeiam. Cabe ao líder evitar esse mal, identificando cada um de seus subordinados e procurando conhecê-los dentro e fora de suas atividades profissionais…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Os dez mandamentos de um líder idôneo para o século XXIp.36).
- Quantos têm se esquecido desta regra elementar da liderança e, por causa disso, têm tido problemas sérios para liderar e para manter a sua credibilidade à frente dos irmãos. Não podemos ser ingratos, nem injustos, devendo reconhecer o esforço daqueles que estão juntamente conosco na jornada para o céu. O líder deve entender que, se não tiver a cooperação dos liderados, jamais a obra será realizada, pois a obra não é do líder, mas, sim, do Senhor, que exige, pois, o esforço de todos os envolvidos.
- Neemias, antes de falar dos seus adversários, mostrou que tinha em conta aqueles que estavam ao seu lado, sem o que os muros jamais seriam reedificados. Neemias fora chamado para liderar aquele povo, mas seria aquele povo que faria a reedificação, jamais isto seria feito apenas por Neemias. Que os líderes no meio do povo de Deus sempre se lembrem de que a obra é para ser realizada pela igreja e que aqueles que estão à frente do povo jamais podem se esquecer de reconhecer os esforços de todos que estão sob sua liderança.
- Ao mencionar primeiro aqueles que trabalharam na reedificação dos muros de Jerusalém antes de falar da oposição sofrida, Neemias também nos indica dois princípios da doutrina social bíblica, a saber, a dignidade da pessoa humana e o primado do trabalho.
- Antes de falar da oposição sofrida, antes mesmo de falar a respeito da obra em si, Neemias fala daqueles que trabalharam na reedificação dos muros de Jerusalém, a nos mostrar que o ser humano tem prioridade nos relacionamentos sociais que travarmos nesta Terra. O homem é a “coroa da criação” (Sl.8:4-8) e, portanto, nada nesta Terra pode ter maior valor que o ser humano. Este é um princípio básico advindo das Escrituras e que tanto tem sido negligenciado em nossos dias, onde tudo vale mais que o ser humano (Am.8:5,6). No entanto, Neemias mostra que é um homem de Deus pois, antes de falar das próprias vitórias concedidas pelo Senhor na realização da obra, antes de falar da própria obra em si, prefere falar dos judeus que trabalharam na obra, dos seres humanos, pois nada é mais valioso do que um homem para Deus (Sl.49:7,8).
OBS: “…A mensagem fundamental da Sagrada Escritura anuncia que a pessoa humana é criatura de Deus (cf. Sl. 139:14-18) e identifica o elemento que a caracteriza e distingue no seu ser à imagem de Deus: ‘Deus criou o homem à Sua imagem, à imagem Ele o criou, homem e mulher os criou’ (Gn. 1:27). Deus põe a criatura humana no centro e no vértice da criação: no homem (em hebraico ‘Adam’), plasmado com a terra (‘adamah’), Deus insufla pelas narinas o hálito da vida (cf. Gn.2:7). Portanto, ‘por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade depessoa: ele não é apenas uma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com as outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com o seu Criador, a oferecer-Lhe uma resposta de fé e de amor, que ninguém mais pode dar em seu lugar’ (Catecismo da Igreja Católica, 357)…” (PONTIFÍCIO CONSELHO DE JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da doutrina social da Igreja, n. 108, p.72) (destaques originais).
- Além do princípio da dignidade da pessoa humana, também vemos aqui o princípio do primado do trabalho. Antes de contar a própria realização da obra, Neemias identifica os trabalhadores e o trabalho realizado, mostrando que o trabalho concede dignidade ao homem e deve estar em primeiro lugar na consideração das relações sociais. Afinal de contas, o trabalho foi a primeira incumbência que Deus deu ao homem (Gn.2:15) e é através do trabalho que nós nos identificamos com Deus Pai e com o Senhor Jesus (Jo.5:17).
- Hoje em dia, lamentavelmente, vivemos, em muitos lugares, a subversão destes princípios basilares do relacionamento social à luz da Bíblia Sagrada. Não são poucos os que dignificam as coisas em lugar das pessoas (notadamente o vil metal…), como também os que almejam, desejam e invejam o ócio em lugar do trabalho. Voltemos à principiologia bíblica, que é tão esplendidamente ensinada por Neemias no simples redigir do capítulo 3.


Fonte: CHAMPLIN, R.NO Antigo Testamento interpretado versículo por versículov.3, p. 1784.

II – A REEDIFICAÇÃO DOS MUROS E DAS PORTAS DE JERUSALÉM: AS PORTAS DO GADO E DO PEIXE
- Tendo visto a profundidade do fato de Neemias ter relatado, antes da narrativa da oposição e da própria realização da obra de reedificação, a cooperação dos judeus nesta obra, passemos, então, a analisar este relato, para dele extrairmos importantes lições.
- O relato da cooperação na reedificação começa com o sumo sacerdote Eliasibe e seus irmãos, os sacerdotes, que ficaram responsáveis pela edificação da porta do gado ou porta das ovelhas, tendo, além de edificarem esta porta, também a consagrado, assim como também às torres de Meá e de Hananeel (Ne.3:1).
- É sintomático que Neemias tenha iniciado seu relato pela edificação da porta do gado ou porta das ovelhas e tenha mencionado o sumo sacerdote. Isto nos traz aqui uma outra lição de liderança. O líder deve ser o primeiro a trabalhar na obra. “…Só falar da excelência da obra não basta. Às vezes é até contraproducente. O que importa é cooperar em favor da essência de sua excelência.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. op.cit., p.20). Ao mostrar o sumo sacerdote como o primeiro a ter se disposto a trabalhar, Neemias mostra que todos resolveram cooperar e que é necessário que os líderes deem o exemplo de serviço. Não pode prevalecer, no meio do povo de Deus, o “mandonismo ocioso”.
- Mas, além de mencionar por primeiro o sumo sacerdote como cooperador, Neemias também começa seu relato pela “porta do gado” ou “porta das ovelhas”, que era a porta pela qual entravam os animais destinados ao sacrifício no templo de Jerusalém. Isto também nos traz uma importante lição: devemos dar prioridade às “coisas de cima” (Cl.3:2). Na reconstrução dos muros, procurou-se dar prioridade à porta pela qual vinham os animais para serem levados aos sacrifícios do Templo: a prioridade era para a porta ligada diretamente ao culto a Deus.
- A “porta das ovelhas” estava totalmente destruída, o que não era de se admirar, já que o próprio templo havia sido totalmente destruído nos dias de Nabucodonosor. O inimigo procura, de todas as maneiras, destruir todo aspecto de nossa vida que se refira a nosso relacionamento com Deus, por isso não podemos permitir que a nossa “porta das ovelhas” seja destruída em nossa vida. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Esta porta era a mais importante, haja vista que foi a única porta a ser “consagrada” em todo o relato da reedificação. Por isso, esta porta nos ensina que não há nada mais sério em nossa vida do que nosso relacionamento com Deus. A “porta das ovelhas” estava relacionada com os sacrifícios que seriam feitos no templo, com a comunhão com o Senhor. Temos buscado a Deus e a sua justiça em primeiro lugar, como nos ensina o Senhor Jesus (Mt.6:33)? Nenhuma edificação espiritual em nossas vidas poderá ser iniciada a não ser “pela porta das ovelhas”.
- Segundo a irmã Joacyara Cavalcante, a “porta das ovelhas” aponta-nos a cruz de Cristo, aquele que como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), como ovelha muda não abriu a sua boca (Is.53:7; At.8:32), conquistou para nós a eterna redenção. A vida espiritual tem de começar no Calvário, pois é ali que somos postos novamente em comunhão com o Senhor, é ali que iniciamos nossa jornada para o céu. Temos tido consciência disto?
- É interessante também observar que a edificação da “porta do gado” deu-se por meio do sumo sacerdote e de seus irmãos os sacerdotes. Eles não só tinham autoridade espiritual para a consagração das portas como também trabalharam na sua edificação. Temos aqui uma figura de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que, como “sumo sacerdote” não só nos “consagrou um novo e vivo caminho” (Hb.10:19-21), como também coopera conosco na edificação da Sua Igreja (Mc.16:20), até porque Sem ele nada pode ser feito (Jo.15:5 “in fine”). Temos tido “ousadia” para entrar no santuário pelo caminho consagrado pelo Senhor Jesus? Temos aceitado a sua cooperação em o nosso trabalho para o Senhor?

- Junto aos sacerdotes sob a direção do sumo sacerdote Eliasibe, estavam os homens de Jericó, como também Zacur, filho de Inri (Ne.3:2). Jericó era uma cidade amaldiçoada (Js.6:26) e sua habitação era como que uma desobediência a Deus, tanto que foi edificada precisamente no pior reinado da história de Israel, o reinado de Acabe (I Rs.16:34). Como entender, então, que os jericoítas estivessem exatamente junto dos sacerdotes na reedificação dos muros?
- Temos aqui uma preciosa lição, a de que a compaixão e a misericórdia de Deus devem estar acima de todas as diferenças e de todos os preconceitos no meio do povo de Deus, na realização da obra do Senhor. Certamente os habitantes de Jericó não eram bem vistos pelos demais, mas, e até por isso mesmo, o próprio sumo sacerdote, demonstrando compaixão e amor, chamou-os para que trabalhassem junto dele nesta obra. A obra exigia a participação de todos e o sumo sacerdote e seus irmãos, os sacerdotes, ao trazerem para junto de si os jericoítas, evitaram qualquer discriminação e deram àqueles judeus a satisfação de poderem trabalhar na parte nobre da obra, o que lhes deu uma autoestima e um estímulo que os mantiveram comprometidos na realização da tarefa.
- Esta mesma disposição devemos ter também, na Igreja, com relação aos “fracos na fé” (Rm.14:1), que devem ser recebidos e não repudiados. Em vez de os discriminarmos, de os censurarmos, devemos usar do amor cristão para que não venham a se escandalizar e, neste sentido, trazê-los para que, conosco, sob a nossa supervisão, possam se envolver e realizar a obra do Senhor. Temos feito isto?
- É importante observar que a expressão “junto a”, que aparecerá em todo o capítulo, tem um significado muito importante. Como ensina Russell Norman Champlin, “…As palavras ‘junto a’, no original hebraico, são, literalmente, ‘à mão’, tal como o acádico ‘à mão’, que significa ‘ao lado de’ (cf. Nm.13:29; Ex.2:5).…” (O Antigo Testamento interpretado versículo por versículov.3,p.1780). Eram, pois, pessoas que se ajudavam mutuamente, que estavam “à mão”, ou seja, dispostos a auxiliar no que fosse preciso. Havia um esforço conjunto para a realização da obra.
- Além da “porta do gado”, também foi de responsabilidade deste primeiro grupo a edificação das torres de Meá, também conhecida como “torre dos cem”, e de Hananeel.  Estas torres tinham a função de proteger o templo. As torres eram, na verdade, fortalezas que serviam de proteção.  Havia, pois, duas torres para a proteção desta porta, a nos indicar, claramente, que devemos ter vigilância em seu nosso relacionamento com Deus. A vigilância é ordem santa, como diz conhecido hino sacro, tendo sido ordenada por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Mt.24:42; 25:13; 26:41; Mc.13:33,35,37; 14:34,38; Lc.21:36). Muitos, por falta de vigilância, tem deixado que a sua “porta das ovelhas” seja destruída e perdem a salvação. Vigiemos, amados irmãos!
- “Meá”, em hebraico, significa “cem”. Não se sabe ao certo porque a torre assim era chamada. Entendem alguns que era porque a torre ficava a cem côvados da “porta das ovelhas” ou, então, que teria cem côvados de altura. Por um motivo ou por outro, temos preciosas lições a respeito da vigilância: a de que não podemos nos distanciar das coisas de Deus, bem como não podemos abrir brechas para o inimigo em nossas vidas, separando-nos seja do pecado, seja do embaraço (Hb.12:1). É necessário, para sermos vigilantes, termos uma vida de santificação.
- “Hananeel”, por sua vez, significa, “Deus é gracioso”. A outra torre que nos permite a vigilância é a da graça de Deus. Temos de nos santificar, é evidente, mas não podemos abrir mão da graça de Deus para que sejamos vigilantes. Não temos como, por nós mesmos, alcançarmos a separação do pecado, a santidade, não temos como resistir, com nossas forças, às investidas do adversário contra o nosso relacionamento com Deus. Dependemos da graça de Deus e esta consciência e dependência da graça de Deus, que nos faz manter uma vida de oração e de meditação nas Escrituras, é fundamental para que possamos vencer os obstáculos e manter nossa “porta das ovelhas” (a nossa comunhão com Deus) intacta dos ataques do inimigo.
- A segunda porção de trabalhadores era a relacionada com a edificação da “porta do peixe”, tarefa que ficou na incumbência dos “filhos de Senaa”, que emadeiraram, levantaram as suas portas com suas fechaduras e os seus ferrolhos (Ne.3:3).
A “porta do peixe” era a porta da entrada do peixe que vinha do litoral. Alguns a identificam com a “porta da esquina” (Jr.31:38). “Senaa”, o ancestral dos que realizaram esta obra, significa “espinhoso” e isto nos dá a entender que a “porta do peixe” é, como ensina o pastor José Valente (As doze portas de Jerusalém. Disponível em:http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1362791 Acesso em 30 ago. 2011), “a porta da dedicação profética”, a porta da proclamação da Palavra, visto que Jesus disse que Seus discípulos seriam “pescadores de homens” (Mt.4:19; Mc.1:17). A “porta do peixe” fala-nos da evangelização, do espinhoso trabalho de proclamação do Evangelho. Conforme a irmã Joacyara Cavalcante, é a “porta do serviço”.
- Além dos “filhos de Senaa”, trabalharam na edificação da “porta do peixe”, “Meremote, filho de Urias, o filho de Coz” (Ne.3:4). “Meremote” significa “alturas” e isto nos mostra que o trabalho espinhoso da evangelização somente pode ser feito se tivermos “a ajuda do alto”, ou seja, se entendermos que todo o nosso serviço na evangelização depende da “cooperação do Senhor Jesus”, o que se faz, inclusive, com sinais e maravilhas que confirmem a Palavra (Mc.16:20). Temos procurado “a ajuda do alto”?
- Sobre “Meremote”, é importante, também, assinalar que se tratava de alguém pertencente à família de Coz, que, nos dias do regresso do cativeiro (cerca de 90 anos antes), perdera a posição de sacerdote, por não terem sido encontrados nas genealogias  (Ed.2:61,62). Vemos, uma vez mais, que não havia qualquer discriminação ou acepção de pessoas no trabalho da obra. Embora os “filhos de Coz” não pudessem servir como sacerdotes, nem por isso deixavam de pertencer ao povo de Judá e, por isso, eram bem-vindos na obra do Senhor. Precisamos entender que uma coisa é não servir para um determinado trabalho na casa do Senhor, outra, bem diferente, é não poder cooperar.
- A inclusão de Meremote na obra e a sua explícita menção por Neemias faz-nos entender que a realidade do povo de Deus, como corpo de Cristo (I Co.12:27), é a de que os membros todos formam o corpo e que o corpo somente pode funcionar com os membros todos funcionando, ainda que cada um fazendo seu trabalho específico, como, aliás, é necessário em um corpo (ICo.12:20). Por isso até Meremote não trabalhou junto com os sacerdotes, mas não esteve distante deles, a fim de que não houvesse qualquer mal-estar nem discriminação. Que bom seria se todos agíssemos assim na obra do Senhor!
- Ao lado de Meremote, trabalhou Mesulão, filho de Berequias, o filho de Mesezabel (Ne.3:4). O significado de “Mesulão” é “amigo”. Mesulão era um dos expoentes do povo, pois foi convocado por Esdras para pôr fim aos casamentos mistos (Ed.8:16), prova de que se constituía em um dos homens que zelavam pela observância da lei de Moisés entre os judeus. O fato de estar a trabalhar junto de um “banido do sacerdócio”, mostra bem que era um “verdadeiro amigo”, aquele que está sempre disposto a ajudar e a reabilitar as pessoas apesar das adversidades e fracassos da vida, pois “em todo tempo ama o amigo e na angústia nasce o irmão” (Pv.17:17). Temos agido como “amigos” e “irmãos” na igreja local? Ou apenas procuramos nos aproximar e estar junto daqueles que “estão por cima”?
- No trabalho do Senhor, como “pescadores de homens”, temos de estar sempre próximos dos “banidos do sacerdócio”, daqueles que, por falhas, estavam a exercer funções que não poderiam fazê-lo. Temos de ser seus “verdadeiros amigos”, contribuir para envolver estes na obra do Senhor, no trabalho devido, sem machucá-los ainda mais, nem tampouco alijá-los da senda da vida. Temos de fazer como nos ensina o escritor aos hebreus, ou seja, ajudar aquele que manqueja, para que não se desvie inteiramente, mas, antes, seja sarado (Hb.12:13). Muitos, infelizmente, ao invés de ajudar o que manqueja, trata logo de quebrar-lhe as pernas de vez…
- Junto de Meremote e de Mesulão, estava também “Zadoque, filho de Baaná” (Ne.3:4). O significado de “Zadoque” é “reto” e o de “Baaná”, “filho de aflição”. Os que são retos e salvos na pessoa de Jesus Cristo e que, por isso mesmo, têm no mundo aflições, são capazes de estar ao lado dos “banidos do sacerdócio” e dos “verdadeiros amigos”. Como é importante sabermos aproveitar das aflições do tempo presente para nos tornamos pessoas amorosas e compreensivas, que tenham a sensibilidade para estar junto daqueles que necessitam de ajuda e, assim, todos juntos e unidos, caminharmos para o céu.
- Juntamente com estas pessoas, também trabalhavam os tecoítas, ou seja, os moradores de Tecoa, a cidade natal do profeta Amós (Am.1:1), situada a 9 km ao sul de Belém. Nesta cidade, apenas os simples e homens comuns do povo se dispuseram a trabalhar na obra, pois os “seus nobres não meteram o seu pescoço ao serviço do seu senhor” (Ne.3:5).
- Vemos aqui um primeiro grupo que não quis cooperar na obra da reedificação: os nobres de Tecoa. Sua recusa em participar da obra foi chamada por Neemias como  recusa ao jugo do Senhor. Tal afirmação, inspirada pelo Espírito Santo, mostra-nos como é grave e sério não querermos trabalhar para o Senhor. Recusar-se a trabalhar para Cristo é recusar Seu jugo e quem o faz não só não tem descanso para a sua vida espiritual (Mt.11:28-30), como também não tem parte com o próprio Jesus, comprometendo a sua salvação. Lembremo-nos que o servo inútil, que nada fez, foi lançado nas trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes (Mt.25:30).
- Hoje em dia muitos são os ociosos nas igrejas locais, que nada fazem para o Senhor Jesus, pois se acham “nobres” e não estão dispostos a “meter o seu pescoço ao serviço do seu senhor”. Tais pessoas, infelizmente, estão sendo enganadas pelo adversário de nossas almas, pois estão a fazer o que ele quer, ou seja, que não haja edificação espiritual da Igreja. Os nobres de Tecoa estavam “rezando na cartilha” dos inimigos do povo de Deus, contribuindo para que se realizassem os desejos de Sambalate, Tobias e Gesem e, da mesma forma que eles, foram envergonhados, pois Deus prosperou a obra apesar de sua oposição. Queremos ter o mesmo fim deles? Então, o quanto antes, saiamos da ociosidade e venhamos participar da obra que o Senhor tem realizado através do Seu povo!
- Os tecoítas mostram, também, uma determinação sem igual. Não se deixaram influenciar pelos “nobres”, pois não se deixavam intimidar pelos relacionamentos sociais existentes, mas, sim, estavam comprometidos com o Senhor da obra, com o Deus dos céus. Que tenhamos esta mesma disposição e que costumes, convenções ou laços sociais não nos venham retirar da obra do Senhor.
III – A REEDIFICAÇÃO DOS MUROS E DAS PORTAS DE JERUSALÉM – AS PORTAS VELHA, DO VALE E DO MONTURO
- A terceira porta mencionada por Neemias é a “porta velha”. Este nome é discutido pelos estudiosos da Bíblia, que entendem ser esta um “portão da cidade antiga” ou da “muralha antiga”. O trabalho de seu reparo (prova de que não estava totalmente destruída) ficou a cargo de “Jeoiada, filho de Paseia” e de “Mesulão, filho de Besodeias”, que a emadeiraram e a levantaram com as fechaduras e ferrolhos (Ne.3:6).
- O nome “Jeoiada” significa “conhecido por Deus” ou “Deus reconheceu” e “Mesulão”, como vimos, significa “amigo”. Para tratar da “porta velha”, é preciso ser “reconhecido por Deus” e “amigo”, o que nos faz lembrar do que Jesus nos disse a respeito do “escriba instruído acerca do reino dos céus”, que é como o pai de família que tira do seu tesouro “coisas novas e velhas” (Mt.13:52).
A “porta velha” era uma porta antiga, talvez existente desde antes dos tempos da conquista de Jerusalém por Davi, mas que, por ser antiga, nem por isso foi desprezada. O servo do Senhor, “escriba instruído acerca do reino dos céus” não deve desprezar a tradição, os costumes antigos, que se estabelecem ao longo dos séculos na Igreja, conquanto não devam tais tradições e costumes sufocarem a Palavra de Deus (Mt.15:6). Alguns a identificam com “a porta de Efraim”, que é mencionada apenas em Ne.8:16.
A edificação espiritual não abre mão das tradições, dos costumes antigos. Eles também cooperam para a edificação dos muros de Jerusalém, eles também servem para a proteção do povo de Deus, são, como diziam os rabinos judeus, uma “cerca para a Palavra de Deus”. Por isso, não podemos admitir os “revolucionários”, os “quebradores de paradigmas”, que tanto têm se inserido em nosso meio e causado grandes prejuízos à obra do Senhor, já que suas “inovações” não passam de desvirtuamento espiritual. Devemos, antes, fazer como Davi que diz: “Lembro-me dos dias antigos; considero todos os Teus feitos; medito na obra das Tuas mãos” (Sl.143:5) ou como Salomão, que afirma: “Não removas os limites antigos que fizeram teus pais” (Pv.22:28).
- Juntamente com Jeoiada e Mesulão, estavam “Melatias”, o gibeonita e Jadom, meronotita, homens de Gibeão e de Mizpá, que pertenciam ao domínio do governador daquém do rio (Ne.3:7). A presença de Melatais e de Jadom é explicitada porque eles eram moradores distantes de Jerusalém. Há quem entenda que, em Mizpá, havia até um palácio do governador persa, mas isto não impediu estes homens de deixarem as suas cidades e virem colaborar com a obra do Senhor. Também devemos nos esforçar para ajudar aqueles que estão a trabalhar para Jesus longe de nós, em especial, os que estão em lugares longínquos pregando o Evangelho.
- Infelizmente, em nossos dias, já há muitos crentes que não se dispõem nem sequer a andar algumas quadras a mais para congregar. Temos sabido de casos de pessoas que, por causa da mudança do prédio da igreja local, não mais vão congregar e até exigem que seja aberto um novo local para culto sem o que não congregarão mais. Que absurdo, amados irmãos! Melatias e Jadom deixaram suas residências  longínquas para virem cooperar na reconstrução de Jerusalém. Que exemplo a seguir!

- Os nomes destes homens também nos ensinam algo precioso. “Melatias” significa “Deus liberta” e “Jadom”, “governa”. Vemos, pois, que somente quem é liberto por Cristo e que passa a ser governado pelo Espírito Santo, “andando segundo o espírito”, é capaz deste gesto de desprendimento do comodismo para servir a Deus. Que não sejamos como Jônatas, o levita que, em busca de comodidade, acabou se tornando um sacerdote idólatra que corrompeu toda a tribo de Dã (Jz.17:7-18:31). Segundo a irmã Joacyara Cavalcante, a “porta velha” representa, precisamente, o senhorio de Cristo sobre a vida do salvo, ou seja, temos de ser governados por Jesus se quisermos ter edificação espiritual (Portas e muros de Jerusalém. Disponível em:http://aulinhasdominicais.blogspot.com/2009/09/portas-e-muros-de-jerusalem.html Acesso em 02 set. 2011). Somos realmente servos de Jesus?
- Ao lado de Melatias e de Jadom, trabalharam “Uziel, filho de Hiraías”, um ourives e “Hananias, filho dum dos boticários”, tendo todos fortificado Jerusalém até ao muro largo (Ne.3:8). Todos se esforçaram para realizar a obra, mesmo que não tivessem como profissão a de pedreiros. Uziel era um ourives e, como todo ourives, era um profissional que trabalhava com precisão, com todo cuidado, num ambiente refinado, mas não se importou em executar o trabalho bruto da construção, pois o interesse era o “bem da nação”, o “bem de todo o povo judeu”. Esta também foi a conduta de Hananias, que era filho dum dos boticários, ou seja, que era um “perfumista”, acostumado aos ambientes refinados da produção de perfumes e demais líquidos suntuosos. Temos tido este desprendimento ou, sob a justificativa de nossas habilidades pessoais, não contribuímos para o bem de nossa igreja local?
- “Uziel” significa “Deus é minha força” e Hananias, “Deus é clemente”, significados que nos dão preciosas lições. Uziel, embora estivesse acostumado com um serviço “leve” e assaz refinado, sabia que Deus lhe daria força para que ajudasse no trabalho pesado dos reparos da “porta velha”, assim como “Hananias”, embora estivesse afeito ao trabalho refinado do perfumista, sabia que a clemência divina lhe daria condições para bem efetuar os serviços da construção civil. Temos tido esta confiança em Deus ou, em virtude de nossas habilidades naturais, achamos que Deus não pode nos auxiliar ao fazer a obra de Deus?
- Observemos que tanto Uziel quanto Hananias executaram serviços dos mais pesados, visto que tinham de reparar até o “muro largo”, que seriam muralhas antigas que teriam sido reforçadas naquela ocasião. A importância desta obra se verifica pela ajuda que tiveram de “Refaías, filho de Hur, maioral da metade de Jerusalém”. A obra era tão importante que aquele que detinha uma posição de superioridade naquela metade da cidade ali estava para ajudá-los, mais um exemplo de que os líderes devem ser os primeiros a “pôr a mão na massa”. “Refaías” significa “sarado pelo Senhor” e só quem é liberto do pecado, da noção de autossuficiência em relação a Deus, que o diabo, desde Eva, tem levado a humanidade a se enganar (Gn.3:4,5). Quantos “maiorais” que perderam esta posição e acham que não devem mais se envolver na obra…
- Juntamente com o maioral Refaías, estava “Jedaías, filho de Harumafe” que, inclusive, morava ali perto (Ne.3:10). Vemos, aliás, nesta afirmação que Neemias não procurava pôr fardos muito pesados sobre o povo. Jedaías morava perto da porta velha e, portanto, nada mais natural que cooperasse ali mesmo. Lamentavelmente, nos dias hodiernos, muitos têm sido constrangidos a fazer sacrifícios desnecessários na obra do Senhor, por falta de compaixão e de sabedoria das lideranças. Se Jedaías morava perto da porta velha, por que mandá-lo trabalhar em outro local? Sejamos razoáveis em nossa distribuição de tarefas, até porque o significado de “Jedaías” é muito elucidativo: “Deus julga”. Quem for irrazoável e lançar fardos difíceis de suportar aos irmãos que querem cooperar na obra de Deus será julgado pelo dono da obra. Que Deus nos guarde!
- “Hatus, filho de Hasabneias”; “Malquias, filho de Harim” e “Hassube, filho de Paate-Moabe” também auxiliaram o grupo incumbido da reparação da “porta velha”, tendo não só reparado esta porta como também “a torre dos fornos”, que era o local onde se assavam os pães, perto da “rua dos padeiros” (Jr.37:21), o que nos permite entender que tanto estes dois quanto Jedaías fossem padeiros. “Hatus” significa “congregado”; “Malquias”, Deus é rei e “Hassube”, “atencioso”. Somente podem ajudar a edificar com as coisas antigas aqueles que estiverem “congregados”, ou seja, que estão envolvidos no grupo social, que conhecem suas raízes e sua história, que “vestiram a camisa”, como se diz; aqueles que são submissos a Deus e o que reconhecem como Rei, sendo tão somente servos, dispostos a obedecer e executar as tarefas que lhe foram cometidas,  como também os “atenciosos”, aqueles que sempre prestaram atenção a tudo que lhes foi ensinado e guardaram o ensino da sã doutrina em seus corações.
- Para completar esta obra da “porta velha” e dar demonstração da sua complexidade, também se encontrava ali o maioral da outra metade de Jerusalém, “Salum, filho de Haloés”, tanto ele quanto suas filhas. Temos aqui, inclusive, a inusitada participação de mulheres na reedificação. Entendem alguns que Salum não tinha filhos, só filhas, motivo por que, para dar exemplo, como líder que era, elas também foram ajudar na reedificação da cidade. A propósito, “Salum” significa “retribuição” e, ao ir ajudar com suas filhas na construção, “Salum” estava a retribuir a honra e consideração dadas a ele por Neemias ao indicá-lo como maioral da metade da cidade.
- Vemos, pois, aqui, nesta verdadeira figura que se nos apresenta da Igreja como corpo de Cristo, que as mulheres têm, sim, seu lugar na obra do Senhor. Mesmo entre os judeus, que, em sua oração matinal, agradecem até hoje por não terem nascido “mulher, escravo ou gentio”, as mulheres puderam participar ativamente da reedificação dos muros de Jerusalém. Na Igreja, não é diferente: a mulher tem lugar, sim, na obra do Senhor, podem cooperar nela, ainda que não sejam destinadas ao ministério, como, apesar de trabalharem na obra, nem por isso as filhas de Salum se tornaram “maiorais da metade de Jerusalém” como seu pai.
OBS:  Por isso, embora as mulheres possam e devam ter participação na obra do Senhor, não podemos admitir “pastoras”, “episcopisas” (que, ignorantemente, alguns denominam de “bispas”, palavra que, em língua portuguesa, é tão somente o nome de uma planta), “apóstolas”, “presbíteras” e “diaconisas”, como, lamentavelmente, vêm aparecendo nestes dias tão difíceis em que estamos a viver.
- A quarta porta a ser reparada foi a “porta do vale”, por onde, após três dias de sua chegada, Neemias havia saído para ver a real situação de Jerusalém (Ne.2:13). Segundo o pastor José Valente, era a porta por onde saíam os esgotos, que eram lançados no rio Cedrom, ou seja, era a porta que ficava em frente ao “vale do Cedrom”.
Era, pois, um lugar de purificação, pois ali se fazia o lançamento dos esgotos no rio, o que nos faz lembrar das palavras de Tiago no sentido de que, para podermos nos aproximar do Senhor, temos de “alimpar as nossas mãos pecadoras” (Tg.4:8). Necessitamos continuamente ser purificados pela Palavra (Jo.15:3) e pelo sangue de Jesus (I Jo.1:7), sem o que jamais seremos edificados e edificaremos na obra do Senhor. Estamos limpos? Olha que nem todos que andam ao redor de Jesus estão limpos (Jo.13:10). Cuidado!
- A irmã Joacyara Cavalcante vê na “porta do vale” a vida de humildade que devemos ter para que sejamos edificados espiritualmente. Afinal de contas, somente através da humilhação debaixo da potente mão de Deus poderemos ser exaltados (I Pe.5:6) e temos de imitar Cristo (I Co.11:1) que, por ter Se humilhado até a morte e morte de cruz, pôde ser exaltado sobre todo o nome (Fp.2:5-11). Se temos uma vida de comunhão com o Senhor, aprenderemos d’Ele, que é manso e humilde de coração (Mt.11:29).
- A porta do vale foi reparada por “Hanum e os moradores de Zanoa” que a edificaram e levantaram as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos, como também mil côvados do muro até a porta do monturo (Ne.3:13). Era um trecho extenso e Neemias deve ter dado esta porção maior por ser um caso também de “reparo”, ou seja, não havia uma destruição total. Vemos, pois, como se compensava complexidade da obra com a extensão. Na distribuição de tarefas, devemos levar em conta tanto quantidade quanto qualidade, algo que a “síndrome do crescimento numérico” que toma conta de muitas igrejas locais tem feito muitos se esquecerem.
- “Hanum” significa “favorecido” e, portanto, apesar de uma maior extensão (mil côvados de muro são praticamente quinhentos metros), temos que este “peso um pouco maior” era um favor, um favorecimento vindo da parte do Senhor para este grupo. Que na obra de Deus não nos queixemos de maior carga do que os demais, visto que tudo isto é um “favor não merecido” de Deus. Afinal de contas, como já disse a poetisa sacra Frida Vingren, “não desanimes por ser tua cruz maior que a de teu irmão, a mais pesada levou teu Jesus, te consola, então. A tua cruz vai levando, como Jesus perdoando, alegremente andando pra o lindo céu” (segunda estrofe do hino 394 da Harpa Cristã). Temos tido este comportamento?
- Juntamente com Hanum estavam os moradores de Zanoa, cidade localizada a 19 km a oeste de Belém, um grupo de pessoas que morava um pouco distante de Jerusalém e que, apesar disso, não reclamaram do fato de lhes dada uma extensão maior que a dos demais. Que tenhamos “moradores de Zanoa” entre nós!
- A quinta porta a ser reparada foi a “porta do monturo” que, como dissemos na lição anterior, era “o pior lugar”, visto que era a porta destinada ao lixo da cidade, que ficava em frente ao vale do Hinom, onde o lixo era queimado. Este lugar fora visitado por Neemias na sua inspeção noturna (Ne.2:13). Tinha sido um lugar onde, no passado, o povo se entregara à idolatria, inclusive com os horrendos sacrifícios de crianças a Moloque (II Cr.28:3; 33:6).
- Assim como a “porta do monturo” servia para se jogar o lixo para o lado de fora da cidade, onde deveria ser ele queimado, também nós devemos expelir de nossas vidas o “lixo espiritual”, devendo tudo ser queimado pela operação do Espírito Santo em nossas vidas. Temos abandonado o pecado e o mundo? Temos sido “queimados”, ou seja, purificados pelo Senhor? A propósito, a irmã Joacyara Cavalcante aponta esta porta como a figura da “vida de santificação e limpeza” do salvo, sem o que não se terá qualquer edificação espiritual, até porque “sem a santificação, ninguém verá o Senhor” (Hb.12:14).
- A reparação da “porta do monturo” ficou sob a incumbência de “Malquias, filho de Recabe”, maioral do distrito de Bete-Haquerem, que a edificou e lhe levantou as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos (Ne.2:14). Malquias era maioral de um local que era um lugar fértil, pois “Bete-Haquerem” significa “casa dos vinhedos”, um local alto de onde podiam ser emitidos sinais de fogo (Jr.6:1). Malquias deixou um lugar próspero e que era um lugar de alegria (o vinho representa a alegria) para ir trabalhar na porta do lixo!
- E por que Malquias agiu desta maneira? Seu nome, que já estudamos, explica: “Deus é rei”. Malquias não estava ali para fazer a sua vontade, mas para fazer a vontade do rei, a vontade do Senhor. Só com este espírito é que poderia deixar um lugar fértil e alto para ir para um lugar baixo e fétido como era a região da “porta do monturo”. Temos este mesmo sentimento, que é sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp.2:5-8), a Quem  devemos imitar (I Co.11:1)?
- Não devemos temer ter de deixar “a casa dos vinhedos” para irmos para o “aterro sanitário” da sociedade, pois temos de fazer a obra de Deus e o Senhor Jesus não veio para os sãos, mas, sim, para os doentes (Mt.9:12). É realmente preocupante vermos muitos que cristãos se dizem ser se esquivando de ir até a “porta do monturo”, esquecidos de que, antes de nos encontrarmos com Cristo, era precisamente o que éramos e onde estávamos. Que o Senhor seja nosso rei e que possamos ir até a porta do monturo!
IV – A REEDIFICAÇÃO DOS MUROS E DAS PORTAS DE JERUSALÉM: A PORTA DA FONTE, A FORTALEZA E O PÁTIO DA PRISÃO.
- Na sequência do relato da cooperação na reedificação dos muros e das portas de Jerusalém, somos apresentados à sexta porta, que é a “porta da fonte”, que também fora visitada por Neemias em sua inspeção noturna (Ne.2:14) e que já dissemos ser “o melhor lugar”, porque era a ponte de onde vinha a água, a melhor água, para a cidade, tanto que ali perto ficava o “viveiro do rei”, i.e., o “açude do rei”, o lugar que abastecera, nos áureos tempos de Jerusalém, a elite da cidade com água.
- Esta porta ficava perto da “porta do monturo”, para nos mostrar como limpeza e sujeira podem conviver lado a lado, mas sem jamais se misturar. De igual modo, o crente, embora esteja no mundo, não é do mundo e com ele não pode ter comunhão (II Co.6:14). Fujamos do sincretismo religioso e do mundanismo que tanto prejuízo tem causado para o povo de Deus em nossos dias.
OBS: Como afirmou o Manifesto de Manila de 1989, em seu item 3: “…Há somente um Evangelho porque há somente um Cristo. Aquele que por Sua morte e ressurreição é o único caminho da salvação. Por isso, rejeitamos tanto o relativismo, que considera todas as religiões e espiritualidades como caminhos de aproximação a Deus igualmente válidos, como o sincretismo, que procura mesclar a fé em Cristo com outras crenças…” (UNDEFAITH, MISSÕES URBANAS. Disponível em: http://undefaith.wordpress.com/visao-ministerial/manifesto/ Acesso em 07 ago. 2011).
- Segundo o pastor José Valente, “…A porta da fonte simbolizava a bênção divina constante a brotar na nascente…” (end.cit.), tendo sido ali que o cego de nascença foi curado por Jesus séculos depois (Jo.9:10,11). Quem está em Cristo, torna-se uma fonte para levar vida eterna a todos quantos o cercam (Jo.4:14). Temos ido beber junto a esta fonte?
- Já para a irmã Joacyara Cavalcante, a “porta da fonte” representa a plenitude do Espírito Santo na vida do salvo, a edificação espiritual através do revestimento de poder e a vinda dos dons espirituais. Realmente, vivendo uma vida de santificação e de pureza, ficamos acada vez mais íntimos do Senhor e o revestimento de poder torna-nos testemunhas eficazes de Cristo entre os homens.
- A reparação desta porta ficou a cargo de “Salum, filho de Col-Hoze”, maioral do distrito de Mizpá, que a edificou, cobriu e lhe levantou as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos, como também o muro do viveiro de Selá, ao pé do jardim do rei, mesmo até os degraus que desciam da cidade de Davi (Ne.2:15).
- Vemos aqui um outro maioral, e do distrito de Mizpá, onde se entende que havia um governante do reino persa, que deixou sua localidade, para vir contribuir para a obra. O fato de ser maioral não o impediu de cooperar na obra, mesmo habitando fora da jurisdição. Era a consciência de todos os judeus que deveriam colaborar com Neemias. Que sempre tenhamos este espírito de colaboração, amados irmãos!
- Salum, ademais, mostrava porque era o maioral daquele distrito. Era extremamente cuidadoso, tanto que não só edificou a porta, como tomou cuidado de cobrir o viveiro do rei, precisamente para não haver a contaminação da água potável. Temos nos preocupado de nos cobrir, como fontes de água que jorram para a vida eterna? Temos buscado uma intimidade maior com o Senhor e o exercício de uma vigilância que evite a nossa contaminação num mundo cada vez mais perverso e corrompido? Temos sido zelosos com a nossa vida espiritual? Salum mostra que devemos “cobrir o viveiro do rei”, porque estamos próximos ao monturo. Sejamos cautelosos!
- Não são poucos os que, na atualidade, estão “alegremente” a manter seus viveiros descobertos. Participam de atividades e grupos que não reverenciam ao Senhor, fazem coisas abomináveis, muitas até “em nome do Senhor”. Assim, já temos eventos que, em vez de adorarem ao Senhor, promovem tão somente a carnalidade e o pecado, como são as chamadas “baladas gospel”, “shows gospel” e tantas outras invencionices. Vivemos hoje em dia de “folguedos” nas igrejas locais, que apenas geram escândalo e carnalidade. Livremo-nos disto, amados irmãos, cubramos “o viveiro do rei” antes que a contaminação seja irreversível.
- Junto ao maioral do distrito de Mizpá, edificou “Neemias, filho de Azbuque, maioral da metade de Bete-Zur”. Não confundamos este Neemias com a personagem principal do livro que estamos a estudar, que era “filho de Hicalias” (Ne.1:1). Trata-se de mais uma autoridade que veio ajudar na reconstrução de Jerusalém. Bete-Zur era uma fortaleza entre Belém e Hebrom (I Cr.2:45). A edificação foi até o sepulcro do rei Davi, como também na região onde existia um “viveiro artificial” (que deveria ser um reservatório auxiliar de água, construído pelo homem) e “a casa dos varões”, muito provavelmente onde ficavam as residências dos “valentes de Davi” (Ne.2:16).
- A indicação de Neemias para esta área também nos traz uma preciosa lição. Bete-Zur era uma fortaleza, de forma que o maioral tinha bom conhecimento de como lidar com fortalezas e estávamos numa área da construção que lidava com áreas de fortalezas, visto que se referiam à antiga área onde ficavam as fortificações do tempo de Davi (a “cidade de Davi” era a fortaleza principal de Jerusalém, construída logo após sua conquista por Davi). Nada como buscarmos pessoas peritas, isto é, especialistas para cuidar de certos aspectos da obra do Senhor. Deus tem concedido ao Seu povo especialistas em várias áreas, mas, infelizmente, muitos líderes não agem como Neemias, desprezando estes talentos que o Senhor tem dado à Sua obra.
- Juntamente com o maioral de Bete-Zur, também trabalharam nesta parte da reedificação, na porta da fonte, os levitas sob o comando de “Reum, filho de Bani”, como também “Hasabias” e “Bavi, filho de Henadade”, ambos maiorais do distrito de Queila (Ne.3:17,18). Aqui temos, mais uma vez, a sabedoria na distribuição de tarefas. Tanto os levitas quanto os queilitas eram pessoas muito próximas a Davi e a seus descendentes (II Sm.23:1,2), que haviam participado ativamente da construção desta parte da cidade logo após a conquista de Jerusalém por Davi. Assim, o fato de eles se envolverem na construção desta parte dos muros era uma consideração em relação a seus antepassados, o que fazia com que eles fizessem a obra com maior dedicação e zelo. Os aspectos psicológicos e sentimentais devem, sim, levados em conta na hora da distribuição de tarefas na obra do Senhor.
- “Hasabias” significa “o Senhor estimou” e “Bavi”, “pela misericórdia de Deus”. Assim, em que pesem os laços históricos e sentimentais de ambos com esta obra, seus nomes mostram, claramente, que nunca estaremos em um lugar na obra de Deus por “merecimento”, mas, única e exclusivamente, porque a misericórdia do Senhor ali nos pôs, nos deu a graça, o favor imerecido, de poder cooperar na sua obra. Por isso, não há “cadeira cativa” nem tampouco “hereditariedade” na obra do Senhor (ainda que isto tenha sido esquecido na esmagadora maioria de nossas igrejas locais na atualidade…).
- Ao lado deles, ajudou na reparação nesta parte “forte” dos muros e portas de Jerusalém, “Ezer, filho de Jesua”, maioral da outra porção de Mizpá, que cuidou da parte defronte da subida (provavelmente a parte pela qual subiu Neemias na sua inspeção noturna – Ne.2:15) para a casa das armas à esquina, sendo acompanhado por “Baruque, filho de Zabai”, que “reparou com grande ardor” desde a esquina até a casa de Eliasibe, o sumo sacerdote (Ne.3:19,20).
- “Ezer” significa “ajuda” e este maioral da outra metade de Mizpá vem mostrar que estava ele ali a ajudar o seu vizinho Salum no reparo da porta da fonte e tudo que estava em seu entorno. Temos também esta disposição de ajudar o nosso próximo? O vizinho é para ajudar, não para atrapalhar. Temos consciência disto?
- “Baruque” significa “abençoado” e vemos claramente porque era ele um “abençoado”, porque trabalhava “com grande ardor”. Temos trabalhado “com grande ardor” na obra do Senhor ou já estamos como o anjo da igreja em Éfeso que, apesar de trabalhar bastante, já tinha perdido “o primeiro amor” (Ap.2:4). Deus não Se agrada de quem trabalha por obrigação e não por amor. Nós vemos apenas a parte exterior do trabalho realizado, mas Deus vê também as intenções, o aspecto interno da obra, tanto que mandou Neemias registrar para a posteridade o “grande ardor” de Baruque. O que está registrado no céu a respeito de nosso serviço?

- Ainda neste segmento dos muros de Jerusalém, vemos que a reparação da porção que ficava diante da casa do sumo sacerdote ficou sob a responsabilidade de “Meremote, filho de Urias, o filho de Coz” (Ne.3:21), de que já cuidamos antes, o “banido do sacerdócio”. Vemos aqui a comprovação do que já dissemos antes, ou seja, de que Meremote foi acolhido apesar de sua origem, tanto que, não podendo trabalhar junto com os sacerdotes na porta das ovelhas, foi-lhe dada a honra de construir diante da casa do sumo sacerdote. Isto é que é amar o próximo e não permitir que as adversidades da vida venham a lhe privar de cooperar na obra do Senhor.
- Depois da porção cuidada por Meremote, o reparo ficou por conta dos sacerdotes que habitavam na campina (Ne.3:22), que os estudiosos entendem serem “os homens que habitavam nas vizinhanças do templo” ou sacerdotes que habitavam fora de Jerusalém. Também eles, apesar de não estarem no cotidiano do templo, vieram ajudar na reconstrução dos muros de Jerusalém.
- Em seguida a estes sacerdotes, foram encarregados da reconstrução “Benjamim” e “Hassube”, defronte de sua casa (Ne.3:23). Uma vez mais vemos como Neemias se preocupou em não sobrecarregar os cooperadores, pondo-os para construir nos lugares mais convenientes e menos penosos. O mesmo se deu com “Azarias, filho de Maaseias, o filho de Ananias”, que também reparou o muro junto à sua casa (Ne.3:23).
- A porção seguinte ficou sob o encargo de “Binuí, filho de Henadade”, que cuidou da obra desde a casa de Azarias até à esquina e até ao canto. Aqui, segundo estudiosos, terminava “a cidade de Davi”, a parte do muro correspondente a esta fortaleza. “Binuí” significa “edifício”, mais uma vez nos mostrando o acerto na distribuição das tarefas de acordo com a habilidade de cada um.
- “Palal, filho de Uzai” reparou defronte da esquina e a torre que sai da casa real superior, que está junto ao pátio da prisão (Ne.3:25). “Palal” significa “juiz” e o fato de ter reparado a porção que vai do fim da fortaleza até o pátio da prisão, faz-nos lembrar de julgamento, pois era o caminho feito pelos condenados, desde o local onde eram julgados (na fortaleza, na casa superior real) até a prisão.
- Alguns estudiosos, como o pastor José Valente, considera haver uma outra porta, que seria “a porta do pátio da prisão” ou “porta do cárcere”, embora não tenha sido explicitado no texto de que se trataria de uma porta. Esta porta, ou este pátio, fala-nos da realidade do julgamento divino e de que não podemos nos descuidar em nossa vida espiritual, sob pena de sermos condenados e levados até o “pátio da prisão”, onde, Jeremias, por exemplo, foi encerrado (Jr.32:2). Era costumeiro, naquele tempo, os palácios reais terem prisões a ele anexas, onde eram trancafiados os criminosos considerados perigosos. Dura coisa é sairmos da fortaleza, do palácio real e sermos conduzidos até o “pátio da prisão”. Jesus ensinou-nos a não irmos até o juiz pois dali não sairemos enquanto não pagarmos o último ceitil (Mt.5:25,26). Que Deus nos guarde!
- Depois de Palal, foi incumbido do reparo dos muros, “Pedaías, filho de Parós”. “Pedaías” significa “Deus remiu” e isto nos mostra que a remissão dos nossos pecados é a libertação da prisão. Muitos estão a crer, por incrível que pareça, nas mentiras satânicas a respeito de uma “falsa liberdade” que o crente possui e que o permitiria pecar. No entanto, quem é liberto, quem tem liberdade, não pode mais voltar a pecar, pois o pecado aprisiona, escraviza (Jo.8:32-36). Nós, que recebemos a graça de Deus, não podemos mais viver no pecado, pois morremos para ele (Rm.6:1,2).
OBS: Oportuna, aliás, a afirmação feita pelo chefe da Igreja Romana que, por sua biblicidade, aqui reproduzimos: “…O relativismo que se difundiu, e para o qual tudo dá no mesmo e não existe nenhuma verdade, nem um ponto de referência absoluto, não gera verdadeira liberdade, mas instabilidade, desajuste e um conformismo com as modas do momento…” (BENTO XVI. Mensagem para a Jornada Mundial da Juventude 2011. Disponível em: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=277672 Acesso em 30 ago. 2011).
V – A REEDIFICAÇÃO DOS MUROS E DAS PORTAS DE JERUSALÉM: AS PORTAS DAS ÁGUAS, DOS CAVALOS, ORIENTAL E DA GUARDA
- Após a saída do pátio da prisão, receberam a incumbência de reparar os muros de Jerusalém “os netinins que habitavam em Ofel” até defronte a porta das águas, para o oriente e até à torre alta (Ne.3:26). Os “netinins” eram “servos do Templo”, nome cujo significado é “dedicados”, pessoas que trabalhavam nos serviços do templo e que dependiam das doações do povo para sua subsistência. Eram servos dos sacerdotes, cuja condição social era das mais baixas entre o povo. No entanto, moravam em Ofel, provavelmente a coluna sul de Jerusalém, num lugar alto, onde havia sido construído um muro alto e uma torre alta.
- É interessante que este lugar alto tenha sido habitado por pessoas de tão baixa condição social, a mostrar que, na obra de Deus, os humilhados serão exaltados e os exaltados, humilhados (Lc.18:14). Também notamos que, apesar de serem servos e de terem condição humilde, não foram alijados da obra nem tampouco foram sobrecarregados, pois, assim como os demais, tiveram a facilidade de trabalhar junto ao local onde moravam. Neemias mostrava ser um verdadeiro homem de Deus, não fazendo acepção de pessoas.
“A porta das águas”, a sétima porta na reconstrução, era a porta que trazia suprimento de água para a cidade em geral e que simboliza o suprimento que temos da parte de Deus pela Sua Palavra para a nossa sobrevivência espiritual, estando, neste ponto, concordes tanto o pastor José Valente quanto a irmã Joacyara Cavalcante. Do cuidado desta porta estavam os netinins, ou seja, “os servos do Templo”, a nos mostrar que os ministros na casa do Senhor são, antes de tudo, servidores do povo, que devem trazer a água viva para todos. Lamentavelmente, há muitos ministros que, na atualidade, estão deixando de dar água para os crentes que, assim, estão literalmente a morrer de fome e de sede, por falta de alimentação espiritual.
- Para fazer companhia aos netinins, foram convocados os tecoítas, os homens humildes e simples de Tecoa (já que os nobres, como já vimos, se recusaram a participar da reedificação), que fizeram também a reparação desde defronte a torre grande e alta até o muro de Ofel, que também ficava no alto. Tudo extremamente de acordo com a lógica divina que faz com que os menores sejam os maiores no meio do Seu povo (Mc.10:43). Será que temos agido deste modo? Será que temos posto os servidores no alto?
- A oitava porta a ser reparada foi “a porta dos cavalos”, cujos reparos ficaram por conta dos sacerdotes que ali moravam, cada qual defronte de sua casa (Ne.3:28). Aqui, uma vez mais, vemos o cuidado de não trazer sobrecarga desnecessária aos cooperadores, tendo, também, feito com que os sacerdotes ficassem ao lado de netinins e tecoítas, ainda que numa altura menor.
- Esta porta recebeu este nome porque, segundo estudiosos, foi por ali que foram conduzidos “os cavalos dedicados ao sol” construídos por reis de Judá e destruídos por Josias (IIRs.23:11). Sua reconstrução por sacerdotes, então, também trazia uma espécie de “mantença da purificação”, para evitar qualquer nova utilização idolátrica desta porta.
- Tanto o pastor José Valente quanto a irmã Joacyara Cavalcante entendem que esta porta figura a nossa vitória nas constantes batalhas espirituais, o que nos é possível precisamente por já estarmos livres do pecado e devidamente abastecidos com a água da Palavra de Deus. Afinal de contas, quando estamos em santidade e bem sabemos manejar a Palavra de Deus, que é a espada do Espírito (Ef.6:17), não há mesmo como deixarmos de vencer o mundo com a nossa fé (I Jo.5:4).
- Depois destes sacerdotes, foi incumbido da reparação “Zadoque, filho de Imer”, que também fez reparos em frente à sua residência. Depois dele, fez reparos “Semaías, filho de Secanias”, que era o “guarda da porta oriental” e que, igualmente, fez reparos diante não só de sua residência mas do próprio local onde exercia sua profissão (Ne.3:29).
- Temos, então, aqui, a nona porta, “a porta oriental”, que era o portal principal do templo, que muitos identificam como sendo “a Porta Formosa” onde foi curado o coxo pelos apóstolos Pedro e João (At.3:2). Esta porta é assim chamada porque ficava voltada para a nascente do sol, o que dá a esta porta uma grande quantidade de significados, visto que era a primeira parte iluminada do templo ao amanhecer. Teria sido por esta porta que Jesus entrou em Jerusalém quando foi aclamado como “filho de Davi” (Mt.21:7-10; Mc.11:1-10; Lc.19:29-38) e a porta que será de entrada privativa do príncipe no futuro templo descrito por Ezequiel (Ez.44:2).
A “porta oriental” representa, segundo tanto segundo o pastor José Valente quanto a irmã Joacyara Cavalcante, a volta de Cristo, o arrebatamento dos salvos, uma porta que sempre deve estar aberta pelo salvo para que possa se encontrar com o seu Senhor. Não é à toa que a incumbência de sua guarda e reparo tenha ficado com “Semaías”, cujo nome significa “Deus tem ouvido”. Por ouvir a contínua oração da Igreja e do Espírito Santo para que venha (Ap.22:17), o Senhor virá nos buscar. Aleluia!  Temos, porém, deixado esta porta aberta e exclusiva para Jesus?
- Uma vez mais aqui temos a demonstração da necessidade de vigilância para aguardarmos a vinda de Jesus. A “porta oriental” é a única que tinha um guarda exclusivo, que era Semaías. A segurança era tão extrema que o próprio guarda foi incumbido dos reparos. Temos sido vigilantes? Estamos mesmo aguardando Jesus voltar?
- “Semaías”, ainda, era “filho de Secanias”. “Secanias” significa “Deus habita”, como a nos mostrar que, para sermos legítimos vigias, precisamos que Deus habite em nós. O Espírito Santo está a habitar em nós, uma vez que esta é a característica do discípulo de Cristo (Jo.14:17)? Somos habitação do Pai e do Filho por guardarmos a Sua Palavra (Jo.14:23)? Somente assim podemos dizer que estamos efetivamente esperando a vinda de Jesus.
- Depois de Semaías. Foi incumbido do reparo “Hananias, filho de Selemias” e “Hanum, filho de Zalafe”. Não sabemos se estes Hananias e Hanum são os mesmos já mencionados anteriormente, o que parece ser o caso, numa prova de que estavam tão empenhados na obra que tiveram o privilégio de ajudar Semaías junto a porta oriental, o que também ocorreu com Mesulão, filho de Berequias que, por sinal, ali tinha a sua câmara, ou seja, a sua residência (Ne.3:30).
- A décima porta é a “porta de Mifcade” ou “porta da atribuição” ou, ainda, “porta da guarda”, cujo reparo ficou aos cuidados de “Malquias, filho de um ourives”, até a casa dos netinins e dos mercadores, até a câmara do canto. Vemos aqui mais um ourives se dedicando ao duro trabalho da construção civil e junto de uma área onde estavam alguns netinins (cuja condição baixa podia fazer com que o ourives se recusasse a trabalhar naquela área se não fosse humilde e submisso) como também mercadores.
- A “porta de Mifcade” ou “porta da guarda” fala-nos de que, na obra de Deus, temos uma “atribuição”, temos uma “tarefa” a desempenhar, somos “soldados de Cristo Jesus” e, portanto, temos de cumprir a missão que nos for confiada, como, aliás, ocorreu com todos estes mencionados por Neemias ao longo do capítulo 3. Estamos realmente engajados na obra do Senhor?
- Alguns estudiosos, como a irmã Joacyara Cavalcante, diante do significado de “Mifcade” como “recenseamento”, entendem que ali, naquela porta, era feita a revista das tropas, os guardas eram inspecionados e vistoriados. Isto nos leva à conclusão de que, no final de toda a jornada da reedificação, Deus nos porá em revista, o que, aliás, acontecerá no tribunal de Cristo. Receberemos galardão ou estaremos salvos como que pelo fogo (I Co.3:11-15)? Não nos esqueçamos: o galardão está com o Senhor, que no-lo dará segundo as suas obras (Ap.22:12).
- Por fim, entre a câmara do canto e a porta do gado, repararam os ourives e os mercadores, até porque era lá que também habitavam, concluindo-se assim a obra da reedificação (Ne.3:32).
VI – CONCLUSÕES A RESPEITO DO RELATO DA REEDIFICAÇÃO DOS MUROS E DAS PORTAS DE JERUSALÉM
- Diante deste relato de Neemias sobre a reedificação dos muros e das portas de Jerusalém, temos importantíssimas lições, como vimos ao longo desta exposição, mas não podemos aqui deixar de mencionar algumas conclusões apresentadas pelo teólogo Russell Shedd em sua “Bíblia Shedd” (com. a Ne.3:27, p.687), quando dá a este capítulo 3 do livro de Neemias um elucidativo título, a saber, “o método de trabalhar”.
- Diz Shedd que, no capítulo 3 do livro de Neemias, entendemos que, para trabalharmos bem e com método, temos de, em primeiro lugar, “seguir bons líderes”. Não só Neemias demonstrou ser um bom líder, bem distribuindo as tarefas, como também que o povo estava bem servido de bons líderes, haja vista quantos “maiorais” estavam a dar exemplo, executando a obra ao lado de seus liderados. Bom líder é aquele que sabe bem distribuir as tarefas, sem sobrecarregar os liderados, aproveitando-lhes as habilidades e os aspectos psicológicos envolvidos na execução da obra.
- Neemias não só chamou “maiorais” que “punham a mão na massa”, como também soube respeitar o esforço de todos os envolvidos, evitando discriminações, sacrifícios desnecessários e criando condições para que todos se esforçassem conjuntamente e, deste modo, alcançassem o resultado pretendido no menor espaço de tempo possível. Assim que se constrói a união que recebe da parte do Senhor a bênção e a vida para sempre (Sl.133).
- O segundo ponto do “método de trabalhar” que aprendemos neste capítulo é o da “utilização dos talentos”. Neemias não desperdiçou as habilidades de cada envolvido na obra, sendo um “bom despenseiro dos mistérios de Deus”. Toda liderança na igreja deve aproveitar os talentos que o Senhor sempre dá para o Seu povo. Infelizmente, na atualidade, muitos têm lançado fora preciosos talentos que o Senhor tem dado à Sua Igreja. Deus é fiel, jamais faltará a pessoa certa para o lugar certo na obra de Deus, mas devemos aproveitar o talento, o que nem sempre tem acontecido.
- O terceiro ponto é o prosseguimento para um bom alvo. Todos os reedificadores tinham um objetivo, que era a reedificação dos muros e das portas de Jerusalém. Para isto Neemias os havia conclamado e este fim nunca saiu da mente e das mãos dos edificadores. Hoje em dia, em termos de Igreja, muitos têm perdido totalmente o foco, esquecendo-se o que é e para o que serve a sua participação na obra de Deus. Isto não aconteceu entre os judeus na reedificação de Jerusalém.
- O que é lindo é verificar que, embora estivessem eles plenamente conscientes do que estavam a fazer e o objetivo imediato de seu trabalho, muito provavelmente ninguém poderia compreender o sentido último daquela reedificação, que era o início do correr do tempo para a vinda do Messias, consoante a profecia das setenta semanas de Daniel. Saibamos nós, também, que, apesar de não podermos perder de vista os objetivos de nossa cooperação, ela está bem acima do que possamos imaginar ou pensar.
- O quarto ponto apontado por Shedd e que, de certo modo, já tratamos, é o reconhecimento das afeições domésticas, ou seja, a verificação de fatores pessoais que estimulariam a cooperação. Assim, Salum pôde trabalhar juntamente com suas filhas e Semaías, como guarda da porta oriental, foi encarregado do reparo precisamente desta porta, sem se falar naqueles que foram postos para reparar a área onde residiam. É muito importante que levemos em conta estes fatores que contribuem para que a pessoa se envolva cada vez mais na realização da obra de Deus.
- O quinto ponto mencionado por Shedd é o de que, no trabalho do Senhor, devemos sempre prestar atenção aos pormenores. Por mais de uma vez, é dito que os reedificadores punham fechaduras e ferrolhos nas portas, como também que Zadoque trabalhou “com ardor”, sem falar na circunstância de Salum ter coberto o viveiro do rei. O trabalho deve ser feito com zelo e cuidado, pois, se Neemias, um pobre mortal, pôde notar todas estas minúcias na obra dos reedificadores, quanto mais o nosso Deus estará atento a todos os pormenores, como, aliás, repete o Senhor Jesus em todas as cartas que mandou João escrever às igrejas da Ásia Menor, quando mostrava claramente que conhecia ou sabia as obras daqueles pastores (Ap.2:2,9,13,19; 3:2,8,15). Jesus não mudou, amados irmãos!
- O sexto ponto apontado pelo pastor Shedd é não se desanimar com os rebeldes. Os nobres de Tecoa não foram ajudar na obra, mas não fizeram falta. Neemias não deixou de mencionar a sua recusa, mas isto nada representou para a realização da obra. Também a oposição sofrida, que foi terrível, como haveremos de estudar na continuidade do livro, também nada significou para o desenvolvimento e conclusão da obra. Uma vez havendo esforço e dedicação, o Senhor há de nos fazer prosperar e tudo se realizará a contento, como ocorreu na reedificação dos muros e portas de Jerusalém.
- Que Deus nos abençoe e que este exemplo deixado por Neemias possa ser seguido pela Igreja do Senhor. A reedificação de Jerusalém simboliza a reedificação que temos de fazer enquanto aqui estamos nesta Terra. Somos também chamados a edificar o reino de Deus e se agirmos como Neemias e o povo judeu, o resultado não será outro, mas a reedificação, pois “é o Deus dos céus que nos fará prosperar”. Amém!
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco