Lição 1: O Surgimento da Teologia da Prosperidade I


1º Trim. 2012: Lição 1: O Surgimento da Teologia da Prosperidade I
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2012
TEMA – A verdadeira prosperidade – a vida cristã abundante
COMENTARISTA: José Gonçalves
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
                                               Damos graças ao Senhor pelo início de mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, gratidão que aumenta quando vemos que, celeremente, as profecias bíblicas estão se cumprindo e cada vez mais a Igreja percebe que estamos nos derradeiros dias da dispensação da graça.
                                               Neste novo ano, iniciamos com um trimestre temático, quando estudaremos a respeito da “verdadeira prosperidade – a vida cristã abundante”, um estudo dos mais necessários nestes dias tão difíceis, uma vez que a maior praga que tem contaminado os salvos em Cristo Jesus, atualmente, é a famigerada “teologia da prosperidade”, de longe a heresia que mais tem grassado nos púlpitos das igrejas locais.
                                               A palavra “prosperidade” vem do latim “prosperitas”, cujo significado era “ventura, boa saúde, felicidade”, palavra que, com o tempo, adquiriu o significado de “estado do que é ou se torna próspero; grande produção de alimentos e bens de consumo; abundância, fartura; acúmulo de bens materiais; fortuna, riqueza”, como nos dá conta o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
                                               “Prosperidade” é, assim, um estado de felicidade, de abundância, que, cedo foi traduzido por uma situação de abundância, de fartura de bens materiais.
                                               Na Bíblia Sagrada, na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra “prosperidade” aparece por 11 (onze) vezes (Et.10:3; Jó 21:13; Sl.30:6; 35:27; 73:3; 122:7; Pv.1:32; Ec.7:14; Jr.22:21; At.19:25; I Co.16:2). Em todas estas passagens, a palavra denota um estado de abundância e de fartura, não somente material, mas, também, um estado de felicidade.
                                               Em Et.10:3, a Bíblia de Jerusalém, inclusive, traduz “prosperidade” por “felicidade”, sendo que a palavra hebraica aqui é “shalom” (שלם), cujo significado mais conhecido é “paz”, no sentido de uma completude, de não haver falta de coisa alguma. A “prosperidade” é, portanto, este estado em que a pessoa não sente falta de coisa alguma, algo que somente se conquista para o ser humano quando se está em comunhão com o Senhor, que é o seu Criador. É a mesma palavra que se encontra no Sl.73:3
                                               Em Jó 21:13, a palavra “prosperidade” é, no original hebraico, “towb” (טיב), que a Bíblia de Jerusalém também traduz por “felicidade”, e cujo significado é de “bem”. É a mesma palavra encontrada em Ec.7:14.
                                               No Sl.30:6, a palavra “prosperidade” é a palavra hebraica “shelev” (שלוח), que é derivada de “shalom” e que a Bíblia de Jerusalém traduziu por “tranquilo”. É a mesma palavra encontrada no Sl.122:7, em Pv.1:32 e em Jr.22:21.
                                               Em o Novo Testamento, a palavra prosperidade em At.19:25, palavra utilizada por Demétrio, ourives da prata que fazia imagens de Diana em Éfeso, é “euporia” (ευπορία), cujo significado é de “riquezas, recursos”. Já em I Co.16:2, a palavra grega é “euodóo” (εύοδόω), um verbo cujo significado é “ter recebido sucesso”, “ter sido bem sucedido”, tanto que a Versão do Rei Tiago traduz a passagem como “que Deus tem prosperado”.
                                               Assim, embora o vocábulo, em o Novo Testamento, tenha um sentido material, é importante observar que a prosperidade, no texto de Paulo, é vinculada à ação divina, enquanto que o texto de Atos reproduz o entendimento de um gentio idólatra, e, como tal, circunscrito ao sentido puramente material de “prosperidade”.
                                               Só pelo que vimos, numa rapidíssima verificação dos textos da Versão Almeida Revista e Corrigida que trazem a palavra “prosperidade” já podemos afirmar que a “prosperidade bíblica”, a “verdadeira prosperidade”, de forma alguma, está confundida com puro e simples bem-estar econômico-financeiro, como, lamentavelmente, se está a propagar no meio da Igreja, notadamente nos últimos trinta anos, quando a “teologia da prosperidade” passou a ser adotada por muitos dos que cristãos se dizem ser.
                                               O estudo deste trimestre letivo apresenta-se como fundamental para que, devidamente armados com a “espada do Espírito”, saibamos extirpar esta erva daninha que se tem introduzido em nossas igrejas locais, bem entendendo qual é a “verdadeira prosperidade”, qual é a “vida cristã abundante”, que nada tem que ver com “muito dinheiro no bolso”, como diz conhecida canção dos festejos de Ano Novo.
                                               A capa da revista do trimestre mostra-nos uma pessoa com trajes típicos dos tempos bíblicos segurando em suas mãos um pão e um recipiente que traz algo de beber. Seus trajes são brancos, parecendo ser de linho.
                                               Esta enigmática ilustração reporta-nos a três passagens bíblicas que nos dão o verdadeiro sentido da prosperidade nas Escrituras Sagradas.
                                               A primeira é o que diz o sábio Agur, em Pv.30:7-10, em que pede ao Senhor a “porção acostumada do pão”, não desejando nem a pobreza, para que não venha a furtar para sobreviver e, assim, pecar contra o Senhor, nem tampouco a riqueza, para que não venha a achar que não precisa de Deus e despreze ao Senhor.
                                               A pessoa da capaz tem o suficiente para sobreviver, ou seja, a comida e a bebida, além do vestido, a provar que Deus promete e garante a benção da abastança, o necessário para passarmos dignamente por esta Terra. É aí que nos recordamos das palavras do apóstolo Paulo em I Tm.6:7-10, onde se diz que devemos nos contentar com o suficiente e o necessário para o nosso sustento e para o nosso vestido, não querendo ser ricos, pois isto é laço de tentação que nos fará amar o dinheiro e nos fará desviar da fé.
                                               Por fim, a pessoa que tem o suficiente para se sustentar e se vestir, apresenta trajes brancos de linho, símbolo nas Escrituras da vida santa, da vida de comunhão com Deus, pois as vestes de linho são as “justiças dos santos” (Ap.19:8), o que nos mostra, claramente, que a verdadeira prosperidade bíblica tem cunho espiritual, é a comunhão que obtemos com Deus através de Jesus Cristo, que nos garante a vida eterna e a felicidade, que é mais que felicidade, as bem-aventuranças, que nos farão estar sempre com o Senhor.
                                               Algo que também nos chama a atenção na ilustração da capa é o fato de que a pessoa segura o pão e o recipiente do líquido em suas mãos, num gesto que não é de egoísmo, mas que nos transparece que vai oferecer aquilo que tem.
                                               Isto nos ensina que a prosperidade bíblica é, também, voltada para a ajuda ao próximo, para o compartilhamento com o carente, não é uma prosperidade movida por uma ganância, por um egoísmo, como se vê em toda a pregação da teologia da prosperidade, o que nos faz lembrar o que está escrito em II Co.8:14, quando o apóstolo Paulo nos mostra que a abundância que nos vem é para suprimento da falta dos outros.
                                               É graças a esta verdadeira prosperidade, que nos faz ter comunhão com Deus, que nos faz amar ao Senhor e ao próximo como a nós mesmos, que teremos a bênção da abastança durante esta passagem pela Terra e que fará viver eternamente com o Senhor. É isto que Deus nos promete e é isto que nos dará.
                                               Após uma lição introdutória, em que estudaremos como surgiu a “teologia da prosperidade” (lição 1), passaremos ao estudo do que é a prosperidade bíblica, verificando como a prosperidade era tratada no Antigo Testamento (lições 2 e 3) e, depois, em o Novo Testamento (lição 4), encerrando-se, assim, o primeiro bloco, em que teremos uma ideia do que é a prosperidade na Bíblia.
                                               Em seguida, no segundo bloco, faremos algumas análises importantes para evitar que sejamos enganados pela herética “teologia da prosperidade”, vendo a distinção entre as bênçãos de Israel e o que cabe à Igreja (lição 5), qual o significado da prosperidade prometida aos salvos, isto é, aos bem-aventurados (lição 6), bem como o sentido da expressão paulina “tudo posso n’Aquele que me fortalece”, tão indevidamente utilizada pelos teólogos da prosperidade (lição 7). Ainda neste bloco, para desfazer os ensinos equivocados dos teólogos da prosperidade, também veremos o perigo de se querer barganhar com Deus (lição 8) e o correto ensino a respeito dos dízimos e ofertas (lição 9).
                                               No terceiro e último bloco, faremos, então, um estudo da “verdadeira prosperidade”, da “vida cristã abundante”, entendendo o que é uma igreja verdadeiramente próspera (lição 10), como se pode alcançar a verdadeira prosperidade (lição11), qual o propósito da verdadeira prosperidade (lição 12), concluindo pelo caráter cristocêntrico da verdadeira prosperidade, que só é encontrada em Jesus Cristo (lição 13).
                                               O comentarista deste trimestre é o pastor José Gonçalves da Costa Gomes, que está a comentar o seu segundo trimestre de Lições Bíblicas, já que havia comentado o 4º trimestre de 2009, quando estudamos sobre a vida de Davi, é pastor das Assembleias de Deus em Teresina/PI e vice-presidente do Conselho de Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB), professor de grego e hebraico, escritor e articulista, tendo um blog na internet chamado “Ortodoxia Carismática” (http://prjosegoncalves.blogspot.com/).
                                               Que, ao término deste trimestre letivo, estejamos devidamente vacinados contra esta verdadeira peste que tem assolado nossas igrejas locais e tenhamos condição de ajudar os que entraram nesta perigosa senda a retornarem ao caminho do Senhor.
B) LIÇÃO 1 – O SURGIMENTO DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
                        A teologia da prosperidade é uma nova versão da mais antiga teologia distorcida que se encontra nas Escrituras Sagradas: a dos amigos de Jó.
INTRODUÇÃO
- Uma das principais ervas daninhas que têm grassado no “jardim fechado” da Igreja, nestes dias tão difíceis que antecedem à volta de Cristo, é a chamada “teologia da prosperidade”, que nada mais é que uma doutrina distorcida a respeito de Deusde forte conteúdo materialista, que tem seduzido muitos crentes e os feito desviar da verdade.
- O apóstolo Paulo foi claríssimo ao afirmar que se esperarmos em Cristo só para as coisas desta vida seremos os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19). É esta a triste situação espiritual dos milhões que têm procurado Jesus única e exclusivamente para terem a “prosperidade” apregoada pelos falsos mestres da atualidade, eles mesmos escravos da ganância (II Pe.2:3).
I – A TEOLOGIA DISTORCIDA DOS AMIGOS DE JÓ: A ORIGEM REMOTA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
- Quando falamos em “teologia da prosperidade”, que éum desdobramento materialista da chamada “confissão positiva”, “palavra da fé” ou “movimento da fé”, não falamos, propriamente, de uma seita ou de uma denominação, mas de um movimento que se tem infiltrado, com suas ideias e concepções, em diversas denominações e grupos evangélicos, principalmente os pentecostais, sendo, por isso mesmo, uma das mais perigosas heresias na atualidade. Seus conceitos têm invadido as mentes de muitos crentes, trazendo grandes prejuízos espirituais.
- Entretanto, como tudo que provém do inimigo das nossas almas, tais concepções nada têm de novo, pois o mundo, imerso no maligno, só tem a oferecer ao ser humano três coisas: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida (I Jo.2:16). Por isso, ainda que sob novas roupagens, até porque o adversário é ardiloso e extremamente versátil, tudo o que se apresenta ao homem não é qualquer novidade, mas ideias antigas que são apresentadas sob nova aparência. Daí porque Salomão ter, dentro da sabedoria que Deus lhe deu, chegado à conclusão de que “o que foi, isso é o que há de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós” (Ec.1:9,10).
- Com relação a este “vento de doutrina”, que tem soprado fortemente entre os crentes, denominado de “teologia da prosperidade”, não é diferente. Suas raízes encontram-se naquele que muitos dizem ter o mais antigo livro da Bíblia, o livro de Jó, que teria sido escrito ou pelo patriarca Jó, provavelmente contemporâneo de Abraão, ou, então, por Moisés, quando ele ainda se encontrava entre os midianitas.
- Na história de Jó, comparecem perante ele três amigos, Elifaz, Bildade e Zofar, que, diante da prova sofrida pelo patriarca, que perdera seus filhos, seu patrimônio e sua saúde, apresentaram um conceito que tinham a respeito de Deus, que é, precisamente, o conceito que hoje nos é apresentado pela “teologia da prosperidade”. Esta ideia de Deus que os amigos de Jó apresentam ao longo do livro de Jó é a “teologia”, ou seja, “o discurso sobre Deus” daqueles homens, ideias estas, contudo, que foram consideradas errôneas pelo próprio Deus. Com efeito, pouco antes de o Senhor virar o cativeiro de Seu servo, a Bíblia nos diz que Deus Se apresentou a Elifaz e afirmou que tudo o que fora dito a respeito d’Ele por parte daqueles “teólogos” não estava de acordo com a verdade (Jó 42:7).
- Portanto, como as próprias Escrituras testemunham, as ideias apresentadas pelos amigos de Jó a respeito de Deus são ideias que não devem ser seguidas nem adotadas pelos que servem a Deus, uma vez que se tratam de ideias reprovadas pelo próprio Deus a Seu respeito. Esta “teologia distorcida”, pois, deve ser identificada para que nós, que queremos ter o mesmo testemunho que Jó teve de Deus, não venhamos a cometer os mesmos erros de Elifaz, Bildade e Zofar.
- Em primeiro lugar, os amigos de Jó dizem que há uma relação de barganha entre Deus e os homens, ou seja, Deus abençoa aqueles que Lhe são fiéis e castiga os pecadores, isto é, a bênção divina é uma retribuição pela fidelidade da pessoa. Teríamos um “toma-lá-dá-cá” entre Deus e os homens (cf. Jó 4:7,8; 8:4-6; 11:13-15).
- Entretanto, como bem sabemos, Jó não havia pecado e a perda de todas as suas propriedades, de seus filhos e da sua saúde haviam sido uma permissão divina, tão somente para provar a fidelidade do patriarca, um homem sincero, reto, temente a Deus e que se desviava do mal (Jó 1:1). Deus, na Sua bondade e misericórdia, abençoa tanto a justos quanto a ímpios (Mt.5:45), pois não faz acepção de pessoas (Dt.10:17).
- Em segundo lugar, os amigos de Jó dizem que há uma correspondência entre o bem-estar físico e social e o bem-estar espiritual de alguém, ou seja, se alguém é saudável e ocupa posição social avantajada, isto é uma demonstração de que se trata de uma pessoa que está em comunhão com o Senhor (cf. Jó 5:22-26; 15:17-35; 18; 20).
- Entretanto, tal pronunciamento dos amigos de Jó também não tem respaldo bíblico, porquanto, se é verdade que o ímpio responderá por sua impiedade e ela lhe selará um triste destino na eternidade, não é menos certo que, por vezes, o ímpio apresenta, nesta vida, saúde física e prosperidade material, sem que isto represente qualquer sinal ou evidência de comunhão com o Senhor. O próprio Jó, ao contrário do que achava o adversário, ao perder sua posição social e suas riquezas, nem por isso deixou de adorar o Senhor e de Lhe reconhecer o direito de dar e de tirar todos os bens de alguém (Jó 1:21).
- Em terceiro lugar, diante do que os amigos de Jó dizem, conclui-se que o arrependimento dos pecados concede automaticamente saúde física e prosperidade material, de forma que bastaria ao patriarca se arrepender dos pecados para retornar ao estado anterior em que se encontrava. Tudo não passaria de uma questão de “pecado oculto”, que deveria ser confessado.
- Entretanto, como bem sabemos e Jó não se cansa de falar, neste longo diálogo travado com seus amigos, o patriarca não tinha pecado algum, era inocente diante de Deus, não tendo o que confessar. Além do mais, a Bíblia nos mostra que Jó teve o seu cativeiro mudado quando orava pelos seus amigos, ou seja, quando dava mostras de sua santidade, intercedendo por eles, intercessão que foi aceita pelo Senhor (cf. Jó 42:9,10).
- As aflições do patriarca, todo o seu sofrimento, pois, não era sinal ou evidência de pecado, como diziam os seus amigos, mas tudo não passava de uma provação divina, cujo intento era o aprimoramento espiritual de Jó, algo que foi reconhecido pelo próprio servo do Senhor, que, pouco antes de ter seu cativeiro mudado, reconhecia, diante de Deus, o seu crescimento no conhecimento do Senhor (cf. Jó 42:5,6).
- Em resumo, portanto, considerar que o relacionamento entre Deus e os homens é um “toma-lá-dá-cá”, que o bem-estar espiritual corresponde a um bem-estar físico e social, bem como que a doença física ou a desvantagem social são consequências do pecado é “não dizer de Deus o que é reto”, é “acender a ira de Deus” (Jó 42:7).
- Como se não bastasse esta evidência bíblica de reprovação desta “teologia distorcida” dos amigos de Jó, vemos que esta visão, segundo nos diz o próprio Elifaz, que parecia ser o “capitão do time” dos amigos do patriarca, foi resultado de uma manifestação sobrenatural de um “espírito” onde se lançaram as bases deste pensamento (cf. Jó 4:13-21), a indicar, portanto, com clareza de onde provém tal “teologia”, pois tal “espírito” outro não é senão o mesmo que fomenta todo o engano, o pai da mentira.
- Como veremos no desenvolvimento desta lição, é precisamente esta “teologia distorcida” dos amigos de Jó, esta velha heresia que será retomada pela “teologia da prosperidade”, que, repetimos, é um desdobramento materialista da “confissão positiva”, “palavra da fé” ou “movimento da fé”.
II – HISTÓRIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: OS INSPIRADORES OCULTISTAS DO MOVIMENTO
A história da teologia da prosperidade teve início com o norte-americano Phineas Parkhurst Quimby (1802-1866), que nasceu em New Lebanon, no estado de New Hampshire. Quimby era um relojoeiro e, a partir de 1847, dedicou-se à cura de doenças por intermédio da mente, tendo, então, segundo seus biógrafos, tratado de mais de 12.000 pacientes até a sua morte em 1866. Dentre os seus pacientes, encontraram-se algumas pessoas que, posteriormente, diante das “experiências” tidas com o “dr. Quimby”, passaram a difundir ideias relativas ao assunto e a fundar movimentos para sua propagação, como é o caso de Julius e Anneta Dresser, que fundaram o “Novo Pensamento”(e consideram Quimby como o “pioneiro espiritual”) e Mary M. Patterson,  que, depois, se tornou Mary Baker Eddy, fundadora da “Ciência Cristã”.
- Quimby estudou pouco na escola fundamental, o suficiente para poder exercer alguma profissão, tendo, ao longo de sua vida, sido infenso a leituras. Seus manuscritos são, a propósito, extremamente carentes de citações ou referências, a indicar que a leitura não era seu hábito. Nos últimos anos, entretanto, começou a fazer constantes citações do Novo Testamento, buscando interpretá-los, ainda que não tivesse uma vida religiosa, não sendo membro de qualquer igreja, não tendo, também, tido qualquer participação no movimento espírita que surge, com todo o vigor, nos Estados Unidos ao tempo de sua vida.
Quimby dedicou-se ao estudo da “cura espiritual”, estudo este iniciado com a prática da hipnose, que havia há pouco sido introduzida nos Estados Unidos. Depois de identificar, pela hipnose, de que uma mente poderia influenciar outra, Quimby começa a elaborar o que afirmava ser a “cura das doenças pela mente”. Para Quimby, a “doença era um estado desarranjado da mente” e, portanto, com a realização do “arranjo mental”, ter-se-ia a cura. Tal cura se processaria mediante a “fé”. Dizia Quimby que “…’a doença’, ele[ Quimby, observação nossa] nos assegura,  seu poder sobre a vida e a sua curabilidade, estão ‘todos contidos na nossa crença. Alguns creem em vários remédios, e outros creem que os espíritos dos mortos prescrevem. Eu não confio na virtude de nenhum deles. Eu sei que curas têm ocorrido por estes meios. Eu não os nego. Mas o princípio no qual elas são feitas é o problema a resolver, pois a doença pode ser curada, com ou sem medicina, mas apenas em um princípio…” (DRESSER, Horatio W. Quimby. A história do Movimento do Novo Pensamento. apudhttp://www.ppquimby.com/hdresser/history.htmAcesso em 19 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês).
- Para Quimby, saúde é “… sabedoria perfeita e o quanto um homem é sábio, assim é a sua saúde. Como nenhum homem é perfeitamente sábio, nenhum homem pode ter perfeita saúde, pois a ignorância é a doença, embora não necessariamente acompanhada por dor…”  (QUIMBY, P. Doença. http://www.ppquimby.com/sub/articles/disease.htm Acesso em 19 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês). Percebemos, aqui, portanto, que a ideia de Quimby era de que a saúde era vinculada ao estado espiritual da pessoa.
- Não nos alongaremos mais nos pensamentos de Quimby, que é a fonte da “teologia da prosperidade”, embora ele mesmo não se intitulasse um religioso, mas, antes de prosseguirmos, é interessante observar que, em meio a suas ideias de “cura espiritual”, o sr. Quimby apresentava algumas noções heterodoxas a respeito de Jesus e de Sua obra, a ponto de afirmar, entre outras, que:
a) Jesus, enquanto homem, não era nem podia ser Deus, já que Deus não Se manifestaria em carne e sangue – “…Se eu pergunto se Jesus, o homem, era Deus, a resposta é Não, mas Deus Se manifesta na carne. Então podem a carne e o sangue ser Deus? Não.” (QUIMBY, P. Cristo explicado. http://www.ppquimby.com/sub/articles/christ_explained.htm Acesso em 19 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês).
b) Jesus não pretendeu convencer o mundo de que era o Filho de Deus – “…Jesus pretendeu convencer o mundo de que ele era Deus? Eu respondo que não e também sustento que seu ensino inteiro veio destruir a ideia de que ele (Jesus) era o Cristo, mas ele  se esforçou para convencer as pessoas de que o Cristo era a verdade que ele, Jesus, falava e que esta verdade é de Deus e não do homem…” (QUIMBY, P. O corpo de Jesus e o corpo de Cristo. http://www.ppquimby.com/sub/articles/body_of_jesus_and_the_body_of_ch.htm Acesso em 19 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês).
c) o corpo de Cristo era distinto do corpo de Jesus – “…O corpo de Jesus e o corpo de Cristo eram dois, um visível para o homem natural e o outro para o homem espiritual ou cientifíco vestido com uma veste de verdade que foi roubado e dividido entre eles…” (QUIMBY, P. op.cit.)
- Vemos, portanto, que jamais uma teologia coerente com a Palavra de Deus poderia surgir de pensamentos como os de Phineas Quimby, pois, ante tais “conclusões” vemos bem de que árvores poderiam advir tão maus frutos (cf. Mt.7:17-20).
- No entanto, como já dissemos há pouco, Quimby teve uma série de admiradores, entre os quais, destacam-se os fundadores dos movimentos “Novo Pensamento” e “Ciência Cristã”, dos quais, para os fins desta lição, interessa-nos particularmente o movimento “Ciência Cristã”
O movimento “Ciência Cristã” foi fundado pela norte-americana Mary Baker Glover Patterson Eddy(1821-1910) (este nome longo é o resultado dos três casamentos que teve durante sua vida), natural de Bow, no estado de New Hampshire, uma antiga paciente de Quimby, que,  em 1° de fevereiro de 1866, sofreu uma queda no gelo ficando sem sentidos por algumas horas. O médico diagnosticara como choque traumático e possível deslocamento da espinha. Mary não tomou os remédios receitados. Nesse período, passou a ler os Evangelhos em sua casa. Lendo a cura do paralítico por Jesus, e, ainda influenciada pelas ideias de Quimby, a quem fora buscar solução para os seus ataques nervosos e seu mal da espinha em 1862, sentiu-se curada. Este é o milagre básico da Ciência Cristã e adquiriu o título de "A Queda Milagrosa em Lynn" (CENTRO APOLOGÉTICO CRISTÃO DE PESQUISAS-CACP. Ciência cristã: a arte da cura pela mente.http://www.google.com/search?q=cache:ctQSSzSQyEIJ:www.cacp.org.br/ciencia_crista.htm+%22Mary+Baker+Eddy%22&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=1 Acesso em 19 abr. 2006).
- Depois da morte de Quimby, Eddy diz ter descoberto os fatos importantes relacionados com o espírito e com a superioridade deste sobre a matéria, denominando de “ciência cristã” esta sua descoberta, que deu origem à doutrina que se encontra no seu livro “Ciência e saúde com a chave das Escrituras”, cuja primeira edição é de 1875. Em 1879, fundou a Igreja do Cristo Cientista, da qual foi eleita presidenta, sendo, em 1881, eleita pastora.
Eddy apresentou diversas doutrinas contrárias às Escrituras, de modo que sua “ciência cristã” não pode ser reconhecida nem como ciência, vez que é refutada pelos cientistas, que a consideram uma prática ocultista, nem como “cristã”, na medida que não põe a Cristo no Seu legítimo lugar de único e suficiente Senhor e Salvador do mundo. Pelo contrário, a própria Eddy escreveu que “…Ninguém pode tomar o lugar da Virgem Maria, o lugar de Jesus Cristo, o lugar da autora de Ciência e Saúde, a descobridora da Ciência Cristã" (Retrospection and Introspection, p. 70). …” (CACP, end. cit.).
- Dentre as muitas heresias ensinadas por Eddy, destacamos as seguintes, todas elas extraídas do artigo já mencionado do Centro Apologético Cristão de Pesquisas:
a) “Um Cientista Cristão necessita da minha obra Ciência e Saúde como seu livro-texto, e o mesmo acontece com todos os seus alunos e pacientes” (Ciência e Saúde, p. 456).: "Onde quer que uma Igreja da Ciência Cristã seja estabelecida, o seu Pastor é a Bíblia e o meu Livro" (Misc. Writings, p. 383).  – Vemos aqui que Eddy coloca a Bíblia abaixo dos seus escritos, que seriam indispensáveis para a obtenção da saúde física e espiritual, o que é uma nítida característica de uma heresia
b) “A virgem-mãe concebeu essa ideia de Deus, e deu a seu ideal o nome Jesus - isto é, Josué, ou Salvador” (idem, 29). "O Cristo, como ideia espiritual ou verdadeira de Deus, vem hoje, como outrora, pregando o Evangelho aos pobres, curando os doentes e expulsando males" (idem, 347). – Há, aqui, uma nítida negação da humanidade de Jesus, o que caracteriza a atuação do “espírito do anticristo” (I Jo.4:3).
c) O Cristo morou eternamente como ideia no seio de Deus, o Princípio divino do homem Jesus, e a mulher percebeu essa ideia espiritual, se bem que de começo fracamente desenvolvida" (idem, p. 29). – Aqui Eddy é fiel a seu “inspirador” Quimby, distinguindo duas pessoas em Jesus e Cristo.
- Para Mary Baker Eddy, “…uma doença era sempre uma ilusão mental que poderia ser curada por meio de uma mais clara percepção de Deus…”(Mary Baker Eddy.In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mary_Baker_EddyAcesso em 19 abr. 2006). Assim como Quimby, portanto, concebia a doença como o fruto de uma falsa crença do homem e, a partir do instante em que o homem deixasse de crer na doença, passando a ter fé, mediante uma iluminação espiritual, atingiria a cura inevitavelmente.
- Temos, portanto, ainda que de forma sucinta, observado que, assim como Quimby, Mary Eddy também se encontrava completamente fora da sã doutrina, produzindo frutos relacionados com a esta falsidade.
III – A HISTÓRIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: ESSEK WILLIAM KENYON E SUAS PRINCIPAIS DOUTRINAS
- Pois bem, uma das pessoas que se aproximará dos ensinos de Eddy é Essek William Kenyon (1867-1948), natural de Saratoga, no estado norte-americano de New York. Durante sua infância e adolescência não frequentou igreja alguma. Por volta dos 20 anos de idade, tornou-se membro da igreja metodista em Amsterdam, New York, mas, logo em seguida, abandona a igreja, passando-se a considerar um “agnóstico” (i.e., pessoa que entende ser impossível conhecer algo que vá além da experiência, o que inclui a pessoa de Deus), casando-se com Ewa Spurling, que também era agnóstica. Antes de se casar, porém, frequentou, em Boston, a Escola de Oratória de Ralph WaldoEmerson(1803-1882), conhecido filósofo agnóstico americano. Depois de se casar, Essek e Ewa passaram a frequentar a igreja da Rua Clarendon, também em New York e aceitaram a Cristo por volta de 1893. Ainda neste ano, Kenyon se uniria aos Batistas da Boa Vontade, passando a pastorear uma pequena congregação em Elmira, New York.
- Kenyon fundou, em 1898, um instituto bíblico, denominado Instituto Bíblico Betel, que existiu até 1923. Sua mulher o deixou em 1902, mas houve reatamento dos dois em 1910, tendo Ewa morrido em 1914. Kenyon, então, casa-se novamente, com Alice M. Whitney, com quem terá um casal de filhos. Mudou-se em 1924 para a Califórnia onde passou a se identificar como “Dr. E.W. Kenyon de Massachussets”, embora não tivesse qualquer educação teológica formal. Em 1930, sua mulher Alice o abandonou, acusando-se de manter romances com outras mulheres, quando ele se encontrava no auge de sua popularidade. Kenyon, então, muda-se para Seattle, onde passa o restante dos seus dias, dirigindo a Sociedade Publicadora do Evangelho de Kenyon, que, atualmente, está sediada em Kirkland, Washington.
Kenyon exerceu nítida influência, durante a sua vida, sobre grandes nomes que se tornariam os pregadores mais conhecidos do chamado “movimento da fé”, entre os quais se destacam Kenneth Hagin, Tommy L. Osborn e F.F. Bosworth. O estudo de seu pensamento, portanto, é fundamental para termos ideia exata do que significa a “teologia da prosperidade”.
- Um dos principais ensinos de Kenyon, onde se percebe a nítida influência de Quimby e de Eddy é o de que “…pecado e doença são um só. Eles não podem dominar a nova criatura(…).O que Deus diz, é. Se você é uma nova criatura, então não há condenação para você. Se não há condenação, a doença não pode ser Senhora sobre você.…”(KENYON, E.W. Jesus, o curador.http://posword.org/articles/kenyon/kenyon03.shtml Acesso em 19 abr. 2006).  Para Kenyon, a redenção “…está baseada sobre o fato de que Deus lançou nossos pecados e doenças sobre Jesus…” (A realidade da redenção. http://posword.org/articles/kenyon/kenyon08.shtml Acesso em 19 abr. 2006).
- No entanto, quando observamos as Escrituras Sagradas, vemos que, embora o pecado tenha gerado, entre suas consequências, a morte física (cf. Gn.3:19) e, por conseguinte, as doenças sejam resultado desta penalidade, não é menos exato de que a doença não significa necessariamente que haja pecado. A Bíblia tem exemplos de pessoas que, embora estivessem doentes, estavam em comunhão com Deus, como são os caso de Jó, Eliseu (II Rs.13:14), do cego de nascença (Jo.9:3) e de Timóteo (I Tm.5:23).
- Outro ensino de Kenyon é de que a salvação nos livrou da pobreza e da necessidade, advindo daí o desdobramento materialista que caracteriza a “teologia da prosperidade”. Segundo suas palavras: “…Virá a hora em que você saberá que a necessidade e a pobre são coisas do passado…” (KENYON, E.W. O que nós somos em Cristo.http://posword.org/articles/kenyon/inchrken.shtml Acesso em 19 abr. 2006).
- No entanto, quando observamos as Escrituras Sagradas, vemos que, embora o pecado tenha gerado, entre suas consequências, a necessidade do trabalho para a sobrevivência do homem e a penosidade deste mesmo trabalho (Gn.3:18,19), não é menos exato de que a pobreza não significa necessariamente que haja pecado. Aliás, pelo contrário, a pobreza foi considerada por Jesus como um obstáculo a menos para a salvação, visto que afirmou que os ricos teriam maior dificuldade para servir ao Senhor (Mc.10:25; Lc.18:25). Na própria igreja primitiva, havia aqueles crentes que viviam da assistência social, ou seja, da caridade pública e nem por isso tinham deixado de ser crentes (At.6:1,2). Os crentes da Judeia estavam passando necessidade a ponto de o apóstolo Paulo fazer uma coleta em seu favor e este fato não o impediu de serem considerados como verdadeiros e genuínos servos do Senhor, chamados, inclusive, de santos (Rm15:26). Aliás, o mesmo Paulo testifica que Jesus Se fez pobre (II Co.8:9), precisamente Aquele que nunca pecou (Hb.4:15).
- Kenyon também ensinou que Jesus, para nos remir, não só sofreu no Calvário, morrendo por nós, como também teve de sofrer no Hades, sede do domínio de Satanás, até que Seus direitos fossem reclamados, quando, então, o diabo não pôde mais detê-l’O e Ele ressurgiu.”… Veja, Jesus foi feito pecado com nosso pecado. Ele Se tornou nosso substituto. Nós morremos com Ele. Fomos sepultados com Ele. Fomos julgados com Ele. Ele foi para o lugar que nós deveriam ter ido e lá Ele sofreu até que os clamores de justiça contra nós fossem encontrados, até que todos os clamores fossem satisfeitos. Então, a sepultura não pôde mais detê-l’O(…). O trabalho foi aceito, terminado por Jesus quando Ele sentou à mão direita do Pai. Ele não foi terminado na cruz. Ele começou na cruz, mas foi consumado quando o sangue foi aceito e Cristo assentado.…” (A realidade da redenção, op.cit.).
- Temos aqui um tema que seria muito bem desenvolvido pelos outros “pregadores da fé”, que não encontra qualquer respaldo bíblico. A morte de Jesus foi suficiente para alcançar a nossa justificação (Rm.5:10). Não se fez necessário “acerto de contas” algum no Hades com Satanás para que Jesus obtivesse o perdão dos nossos pecados, uma vez que a dívida que o homem tinha era com Deus e não com o diabo. O pecado é desobediência contra o Senhor, é injustiça e é um problema que diz respeito ao relacionamento entre Deus e os homens (Is.59:2). O diabo nada tem, nada representa neste processo, sendo apenas um ser que procura matar, roubar e destruir o homem (Jo.10:10), mantendo-o iludido com relação às coisas de Deus (II Co.4:4). Jesus completou a Sua obra salvadora no Calvário, como Ele mesmo disse (Jo.19:30), não havendo sequer um “lugar” onde o diabo reine, como pressupôs Kenyon, até porque o Hades é o lugar dos mortos e, pela história que Jesus nos conta do rico e de Lázaro, o diabo ali não está (Lc.16:19-31), mas, sim, nas regiões celestiais (Ef.6:12), de onde será defenestrado, junto com os seus anjos, quando chegar a Nova Jerusalém, para receber os santos arrebatados pelo Senhor (Ap.12:7-12).
- A morte de Jesus foi suficiente para tirar o pecado do mundo, pois, se não fosse assim, o véu do templo não se teria, naquele momento exato da morte do Senhor, se rasgado de alto a baixo (Mt.26:50,51). A ressurreição de Jesus, além de ser cumprimento da Palavra do Senhor, já vaticinada desde os profetas (Sl.16:8,11; At.2:31; I Co.15:3), é a garantia de que o Seu sacrifício foi aceito e que o pecado do mundo foi tirado(I Co.15:14). Assim também Sua ascensão aos céus, que é a Sua glorificação, é confirmação da Palavra do Senhor (Jo.14:1-3) e uma necessidade para que houvesse a dispensação da graça, a demonstração plena do amor de Deus à humanidade (cf. Rm.9-11).
- Kenyon é claro ao dizer que o plano da redenção abrange três partes: Deus, o homem e o diabo, de forma que Deus precisa ser justo em relação a Si mesmo, ao homem e ao diabo:”… O plano da Redenção não pode ser entendido a menos que o leiamos de um ponto de vista legal. Neste plano da Redenção, há três partes para o contrato: Deus, o homem e o diabo. Deus deve ser justo conSigo mesmo, com o homem e com o diabo…” (Reclamando nossos direitos. http://posword.org/articles/kenyon/claim.shtml Acesso em 19 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês).
- A partir desta noção, Kenyon afirma um dos pontos que é um dos cernes da “teologia da prosperidade”, a saber: “Nós entendemos que Deus criou o homem, pondo-o aqui na Terra e que Ele lhe conferiu alguns direitos legais. Direitos legais que são conferidos são mais facilmente confiscados do que aqueles que vêm por natureza. Estes direitos o homem transferiu para Satanás, inimigo de Deus. Isto trouxe o diabo para o plano de modo que se deve tratar com ele e todo o esquema da Redenção é a busca de Deus para redimir a raça humana do pecado de Adão e fazê-lo sobre uma base equitativa que satisfaça perfeitamente os clamores de Justiça, encontre as necessidades do homem e derrote Satanás em bases legais. A queda do homem foi um ato legal, isto é, Adão tinha o direito legal de transferir a autoridade e do domínio que Deus tinha posto em suas mãos para as mãos de um outro. Isto dá a Satanás o direito legal de ditar regras ao homem e à criação…” ( Reclamando nossos direitos. op.cit.)
- É esta a ideia-mestra de todas as “determinações”, “declarações” e “exigências” que caracterizam os “pregadores da fé”. Para Kenyon, Deus ao instituir o homem como Seu mordomo, deu “direitos legais” ao homem, que foram, com a queda, transferidos a Satanás que, “legalmente”, hoje domina a terra e a criação terrena. A redenção seria uma fórmula pela qual Deus tomasse estes “direitos” de Satanás, mas de forma legal e justa, livrando o homem do domínio satânico.
- No entanto, tal pensamento não tem o menor respaldo bíblico. Deus nunca deixou de ser o Ser Soberano, o Ser Supremo. Quando a Bíblia nos diz que o homem foi constituído como ser que dominaria sobre as demais criaturas terrenas (cf. Gn.1:26-28), tal deve ser compreendido dentro do princípio de que o homem é “imagem e semelhança de Deus”, ou seja, de que jamais o homem teria “direitos legais” diante de Deus, mas o homem foi feito um “mordomo”, ou seja, um servo que era superior às demais criaturas divinas mas que não deixava de ser servo, tanto que, ao conscientizar o homem de que ele era “livre”, Deus o fez por meio de uma ordem (cf. Gn.2:16,17), deixando bem claro quem era a autoridade, quem mandava e quem deveria obedecer.
- Deus não entregou o domínio da Terra ao homem, como ensinou Kenyon, pois, se assim fosse, a Bíblia não diria que a terra e a sua plenitude são do Senhor (Sl.24:1), devendo nós prestar atenção ao emprego do verbo no tempo presente, a indicar que a terra não “foi” ou “era” do Senhor, mas que é d’Ele, não tendo tido a queda do homem o poder de alterar coisa alguma a respeito. Não há passagem alguma das Escrituras que mostre que o homem se tornou, em algum momento, senhor da terra ou da criação terrena, de forma que, como não houve tal delegação, todo o raciocínio de Kenyon não tem fundamentação bíblica.
- Procuram alguns defender este ponto-de-vista, argumentando que a Bíblia chama o diabo de “deus deste século”(II Co.4:4), “príncipe deste mundo” (Jo.12:31; 14:30; 16:11), “pai”(Jo.8:44), esquecidos que estas expressões dizem respeito ao “mundo espiritual”, ou seja, ao mundo do mal e do pecado, onde o diabo domina, ainda que transitoriamente, pois quem peca se faz servo do pecado (Jo.8:34), não tendo condições de escapar da natureza pecaminosa que tem dentro de si (Rm.7:15-24). Trata-se, porém, de uma escravidão provocada pelo pecado de cada homem (Tg.1:14,15), que faz com que o homem seja dominado pelo pecado (Gn.4:7), fazendo com que o homem faça os desejos do diabo (Jo.8:44). Agora, isto nada tem que ver com a soberania que Deus tem em relação a todo o universo, nem tampouco confere direito algum ao diabo, que, ao dominar o homem pecador, está apenas em meio ao seu mundo de iniquidade, ou seja, de injustiça. Não, pois, qualquer legalidade, qualquer direito por parte do diabo, que é um intruso, que se aproveita da brecha que o homem lhe deu para se apoderar da vontade humana, brecha esta, entretanto, que é resultado do pecado do homem, que o separou de Deus (Is.59:2).
- Ao dizer que o homem, ao pecar, transferiu direitos a Satanás e que o plano da redenção tem em vista a recuperação destes direitos de uma forma legal, Kenyon traz uma das principais características do “movimento da fé”, que é a defesa de que o homem, uma vez redimido por Cristo, é detentor de “direitos” diante de Deus. Temos, assim, a um só tempo, a provar o caráter herético destes ensinos, a concessão de “direitos” e de “possibilidade de reivindicações” do diabo e do homem em relação a Deus, um indevido e inadmissível apequenamento da figura de Deus. Tanto assim é que, se formos levar o pensamento de Kenyon às últimas consequências, veremos que o homem poderia “legalmente” pecar e que cabe a Deus arrumar um jeito para que “legalmente” o diabo seja satisfeito e o homem, salvo. Que absurdo!
- Kenyon, mostrando uma vez mais seu débito para com os movimentos de Quimby e de Eddy, defende a ideia de que “como Deus está em nós”, nós passamos a fazer parte da “divindade”, não podendo, pois, ter qualquer espécie de sofrimento ou de dor: “…Nós recebemos o dom da justiça. Nós recebemos a abundância da graça. Nós reinamos como reis no reino da vida e do amor.(…). O complexo de inferioridade que vem da consciência do pecado foi destruído e a consciência do Filho tomou seu lugar. Não se pode ter um espírito servil e desfrutar da realidade da filiação. Nós somos mestres, vencedores, dominadores porque estamos n’Ele. Nós temos Sua habilidade, Sua sabedoria, Sua força, Seu amor. Espiritualmente, nós somos homens livres. Nós habitamos em Deus e Deus habita em nós.(…). Esperar diante de Deus por poder ou por alguma bênção especial que você tenha ouvido é desnecessário porque você a tem em você, se você recebeu o Espírito Santo, a fonte de todas as experiências.” (God-Inside Minded, que poderíamos traduzir como “Tendo a vontade de Deus em nosso interior”.http://posword.org/articles/kenyon/kenyon10.shtml Acesso em 20 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês). “…Nós temos nossa Redenção. Não há coisa alguma que tenhamos de orar ou pedir…” (Levantado com Ele. http://posword.org/articles/kenyon/raised.shtml Acesso em 20 abr. 2006).
- Percebemos, portanto, que, para Kenyon, a salvação nos equipara ao próprio Deus, visto que passamos a ter o Espírito Santo e, por isso, nada pode mais nos abalar, estamos praticamente divinizados e é a isto que se denominou de “confissão positiva”, ou seja, a salvação nos traz “direitos”, “afirmações”, “poderes” que, praticamente, nos equipara a Deus. Este tipo de pensamento justifica o nome de “evangelho da Nova Era” que alguns estudiosos deram ao “movimento da fé”, visto que, no fundo, utilizando-se de uma “roupagem evangélica”, chega a mesma conclusão que o movimento Nova Era, qual seja, a de que o homem pode se tornar deus.
OBS: Célebre é a frase de Kenyon, que depois foi repetida por Kenneth Hagin: “…Todo homem que ‘nasceu de novo’ é uma encarnação e a Cristandade é um milagre. O crente é tão Encarnação quanto o foi Jesus de Nazaré…” (O Pai e Sua família. 17.ed., p.20 apud HANEGRAAF, Hank. What’s wrong with the faith movement(part one): E.W. Kenyon and the twelve apostles of another gospel http://www.google.com/search?q=cache:btit4XLNYqAJ:www.equip.org/free/DC755-1.htm+%22Essek+William+Kenyon%22&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=2 Acesso em 20 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês). Esta mesma expressão, segundo Hanegraaff, é utilizada por Kenneth Hagin no seu artigo “A Encarnação”, da revista “The Word of  Faith”, de dezembro de 1980, na página 14.
- Este pensamento, bem propício para quem foi influenciado por ideias de que podemos “curar pela mente”, como defendiam Quimby e Eddy, não tem qualquer respaldo bíblico. A salvação não nos faz tornar “pequenos deuses”, mas, sim, “filhos de Deus”, que não deixam, porém, de ser homens e, por isso mesmo, submissos ao Senhor. Quando alcançamos a salvação, retomamos a imagem e semelhança de Deus originais, a posição perdida pelo primeiro casal, que, como se vê, claramente, no livro do Gênesis, era uma posição de absoluta subserviência a Deus, como “mordomos” da criação terrena.
- O próprio Jesus, ao descrever a condição humana no estado eterno, ou seja, após o desaparecimento destes céus e terra, disse que nós seremos “como os anjos que estão nos céus’ (Mc.12:25), descartando, assim, qualquer “igualdade” entre os redimidos e a Divindade. No Apocalipse, aliás, o Senhor ratifica este entendimento, ao dizer que os vencedores se sentarão no trono d’Ele, enquanto que o próprio Senhor Se sentou no trono do Pai (Ap.3:21), o que explica que há uma diferença hierárquica entre o Filho e a Igreja, tanto assim que o Filho é a cabeça da Igreja (Ef. 1:22; 5:23), não havendo outro nome que seja superior ao nome de Jesus (Fp.2:9-11). Se somos filhos de Deus, somos filhos por adoção (Rm.8:15), motivo por que sempre Lhe seremos inferiores.
OBS: A “divinização” do homem evidencia-se tanto na “teologia da prosperidade” que, ao invés de seus pregadores dizerem que, ao nos ver, Deus vê Jesus e, por isso, não olha para nossas imperfeições e fraquezas, Deus  nos vê em Jesus, numa completa inversão de valores, como podemos observar neste texto de Kenyon: “…Na mente de Deus, todos nós estamos em Cristo agora. Ele nos vê n’Ele…”(Levantados com Ele. op.cit.).
- Sendo assim, temos, ao contrário do que ensina Kenyon, de aguardar a vontade de Deus para conseguirmos as bênçãos, pois nem sempre é vontade de Deus no-las conceder, pois os caminhos e pensamentos de Deus estão além dos nossos caminhos e pensamentos. Jesus, sendo Jesus, teve negado um pedido Seu no jardim do Getsêmane, enquanto que os gigantes espirituais das Escrituras, todos, sem exceção, nunca tiveram seus desejos plenamente satisfeitos por Deus, precisamente para que se demonstrasse que o homem, mesmo quando em comunhão com o Senhor, continua sendo homem e, portanto, subserviente à Divindade. Senão vejamos:
a) Enoque – este grande homem de Deus foi tomado pelo Senhor, depois de ter andado com Deus. Foi poupado da morte não por sua vontade, mas porque Deus assim o quis. As Escrituras são claras a respeito: “Deus para Si o tomou” (Gn.5:24 “in fine”; Hb.11:5).
b) Moisés – este profeta, que tinha tanta intimidade com Deus (Dt.34:10), foi proibido até de orar para entrar na Terra Prometida, seu grande desejo e anelo (Dt.3:26).
c) Elias – o grande profeta, poupado da morte, aliás, contra a sua vontade (I Rs.19:4), não pôde “determinar” qualquer bênção para seu sucessor Eliseu (II Rs.2:9,10).
d) João Batista – o maior homem nascido de mulher não teve respondida a sua pergunta feita a Jesus que, ao revés, tomou providências para fortalecer a fé do profeta encarcerado (Mt.11:3,4).
e) Pedro, Tiago e João – os apóstolos do “círculo íntimo” de Jesus não fizeram o que quiseram: Pedro, no final de sua vida, foi levado para onde não queria (Jo.21:18); Tiago foi um dos primeiros mártires da Igreja (At.12:1,2) e João encontrou-se preso por causa do Evangelho na ilha de Patmos (Ap.1:9).
IV – HISTÓRIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: KENNETH HAGIN E A PROPAGAÇÃO DAS DOUTRINAS DA CONFISSÃO POSITIVA
Se Essek William Kenyon é o principal idealizador da “teologia da prosperidade”, coube a Kenneth Hagin a sua divulgação maciça por todo o mundo, até porque, como já vimos, Kenyon, em virtude de seus problemas familiares, acabou se recolhendo ao estado norte-americano de Washington na parte final de sua vida.
- Kenneth Erwin Hagin (1917-2003) nasceu em McKinney, no estado norte-americano do Texas. Durante a infância, foi pessoa acometida de diversas enfermidades. Em abril de 1933, teria tido uma dramática experiência, que o levou à conversão, quando, por três vezes, teria morrido, vendo os horrores do inferno e retornando à vida. Em 1934, teria também se levantado do “leito da morte” pela “revelação da fé na Palavra de Deus”. Em 1936, pregou seu primeiro sermão, como pastor de uma pequena igreja em Roland, Texas, cidade próxima a sua terra natal. Pastoreou, depois, outras cinco igrejas no Texas, até tornar-se ministro itinerante. Em 1966, mudou-se para Tulsa, no estado norte-americano do Oklahoma, onde montou a sede do seu ministério. Hagin não teve formação acadêmica, tendo obtido seu título de “doutor” de forma honorífica pela Universidade Oral Roberts.
Os ensinamentos de Hagin são, basicamente, os mesmos de Kenyon. Aliás, segundo se descobriu em 1983, Hagin copiou vários escritos de Kenyon, em verdadeiro caso de plágio e não só de Kenyon mas de outros escritores, também, o que, talvez, explique a grande semelhança, identidade até, de pensamentos e ideias, o que, de pronto, mostra que não se está diante de alguém que tenha frutos dignos de arrependimento e de conversão. Como diz Hank Hanegraaff, grande estudioso das heresias, os ensinos de Hagin apresentam um outro componente a infirmá-los: Hagin sempre apelou para “revelações” e “visões” para corroborar seus pensamentos, tendo, mesmo, dito que teve a “visita pessoal de Cristo” por cerca de sete vezes durante o seu ministério. A sua própria conversão é decorrente de uma experiência sobrenatural solitária.
- Com Hagin, porém, temos a configuração do falso ensino da “palavra da fé”, conceito tão importante que é o próprio título da principal revista do ministério criado por Hagin, num desenvolvimento das teses apresentadas por Kenyon. Reside aqui a ideia da “confissão positiva”, ou seja, como dizia Kenyon, “o que eu confesso, eu possuo”.
OBS: Esta “palavra da fé”, aliás, foi o ensinamento acolhido, entre outras, pela Igreja Internacional da Graça de Deus, como se vê do site do Ministério R.R. Soares, que ora transcrevemos: “…Em 02 de dezembro de 1984, após ler o livro de Kenneth Hagin, O Nome de Jesus, a Igreja da Graça começou a pôr em prática a Determinação, e a partir daí, foram bênçãos atrás de bênçãos…” (http://www.google.com/search?q=cache:TgnOkP_9kY8J:www.ongrace.com/rrsoares/ministerio.php+%22kenneth+hagin%22&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=9 Acesso em 20 abr. 2006).
- Hagin alega que esta ideia a respeito da “palavra da fé” foi resultado de uma aparição de Jesus a ele, em Phoenix, Arizona, quando lhe foram reveladas as “chaves para que o povo obtivesse de Deus o que desejasse” (HAGIN, K. How to Write Your Own Ticket With God, p. 1-5 apud HOWARD, J. Kenneth Hagin Ministries: where’s the faith? http://www.google.com/search?q=cache:vi0uuSk0ym4J:www.xmark.com/focus/Pages/hagin.html+%22kenneth+hagin%22&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=18 Acesso em 20 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês). De pronto, sem ainda adentrar ao mérito desta “doutrina”, observamos que a mesma se origina em uma “aparição”, em uma “visão” e, o que é mais importante, quando o próprio Hagin afirma que se encontrava aborrecido porque via os ímpios prosperarem, enquanto os membros de sua igreja passavam por dificuldades.
OBS: “…"Eu costumava me preocupar quando eu via pessoas não salvas obtendo resultados, mas os membros da minha igreja não obtinham resultados. Então clareou em mim o que os pecadores estavam fazendo. Eles estavam cooperado com a lei de Deus – a lei da fé…” (HAGIN, K. Tendo fé em sua fé, p.4,5 apud HOWARD, J. op.cit.) (tradução nossa do texto original em inglês).
- Ora, não devemos nos perturbar com a prosperidade dos ímpios. Devemos confiar em Deus e saber que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28). Se atentarmos para a prosperidade dos ímpios, que é uma prosperidade puramente material e que finda aqui, corremos o risco de nos desviarmos dos caminhos do Senhor, como nos ensina o salmista Asafe (Sl.73). Vemos que, infelizmente, não foi o caminho seguido por Hagin que, excessivamente preocupado com tais circunstâncias, acabou sendo presa fácil de uma “aparição”, que traria um falso ensinamento para o meio do povo de Deus.
- Com efeito, o pedido do cristão, enquanto servo de Deus, em termos de prosperidade material, deve ser o sábio pedido de Agur, qual seja, o de ter o suficiente para uma sobrevivência digna e independente da caridade pública (Pv.30:7-9), pedido, aliás, que foi ratificado por Jesus quando nos ensinou a orar (Mt.6:11), até porque a prioridade, em nossas vidas, é o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:31-33). A busca incessante pela satisfação dos desejos e necessidades desta vida, ao invés de mostrar a “palavra da fé”, na verdade é uma demonstração de falta de fé (Mt.6:30).
- Para se obter o que se deseja de Deus, diz Hagin, é preciso fazer quatro coisas, as chamadas “regras da fé” ou “fórmulas da fé”, a saber:
a) confessar o que você quer
b) crer que você tem aquilo que você quer
c) receber o que você quer
d) contar aos outros que você tem o que você quer
- De pronto, observamos que a vontade de Deus não é levada em consideração. Tudo gira em torno do que “você quer”, sem que se indague se o que se quer é o que Deus quer, uma vez que, apesar de sermos filhos de Deus, não fomos despidos de uma vontade própria, como Jesus mesmo nos ensinou, seja ao nos ensinar a orar, seja no jardim do Getsêmane. Temos, mais uma vez, evidenciado que a doutrina da confissão positiva diviniza o homem, dá uma “roupagem evangélica” para o desejo pecaminoso de se ser independente de Deus.
- Esta “divinização” teria sido confirmada pelo próprio Jesus nesta “aparição” em Phoenix, Arizona, onde teria dito a Hagin que  “…sua ação derrota ou impõe. De acordo com a sua ação, você recebe ou fica sem receber…”(op.cit.). Como afirma Jay Howard, um pensamento desta natureza leva-nos à seguinte conclusão: “…Sr. Hagin está nos dizendo que se você faz algo errado na fórmula, você realiza uma ação particular ou obsta uma outra ação particular que impede Deus de liberar a coisa que você confessou. Em outras palavras, você necessitará julgar por você mesmo durante o processo qual é a ação correta para realizar o que assegurará a você seu objetivo confessado (seja ele bens materiais ou a cura física). O corolário seria, se você realiza a ação errada, isto anulará a habilidade de Deus para liberar o que você pediu. É tudo por sua conta! …” (HOWARD. J. op.cit.)
- Segundo a teologia da prosperidade, pois, a força da mente do salvo é suficiente para que obtenhamos o que deseja o nosso coração, o que nos mostra que o que se tem aqui é a simples aplicação do conceito do “pensamento que cura” ou da “cura da mente” desenvolvidos por Quimby e por Eddy, ideias estas que não têm qualquer respaldo das Escrituras. Aliás, antes de recorrermos a “fórmulas de fé”, ao “pensamento positivo”, devemos sempre nos lembrar o que diz a Bíblia sobre os desejos humanos: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr.17:9).
- Partindo desta ideia da “força da mente”, que é expressa através de “fórmulas de fé”, chegamos à ideia de “rhema”, palavra grega que significa “palavra” e que, para Hagin, seria distinta de “logos”, cujo significado também é “palavra”. Entretanto, diz Hagin, enquanto que “logos” representaria a Palavra de Deus, ou seja, as Escrituras, “rhema” representaria a “Palavra Oral”, ou seja, a palavra que é proferida aos crentes em revelação ou inspiração em todas as épocas.
- A ênfase dada a este “poder da palavra” é tanta que Hagin denominou seu centro bíblico de “Rhema”, havendo centros de treinamento em vários países do mundo. “A palavra da fé”, seria, pois, “rhema”, a palavra falada, dotada da mesma autoridade que as Escrituras. De pronto, vemos que, sob esta “denominação”, Hagin procura dar legitimidade a suas “visões” e “revelações”, esquecendo-se que a Palavra foi completamente revelada por meio do Filho (Hb.1:1).
OBS: “…Rhema é a palavra falada de Deus e denota o ensino ou expressões vocais nas quais Deus, através de alguém, declara a Sua mente. Rhema é a instrução divina pelos pregadores do evangelho, palavras de profecia e anúncio profético…” (THE LATTER RAIN PAGE. Rhema. http://www.google.com/search?q=cache:zRBmDQ8uJ5wJ:latter-rain.com/theology/rhema.htm+rhema,+logos&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=14Acesso em 20 abr. 2006) (tradução nossa de texto em inglês). Como se verifica desta definição, há nítida contrariedade às Escrituras Sagradas, vez que, como Jesus já nos disse, o ministério profético durou até João (Mt.11:13; Lc.16:16) e o dons de profecia existentes, ministerial e espiritual, nada mais fazem que expor a Palavra para a edificação da igreja e do crente, despidas tais mensagens de autoridade própria, devendo ser confrontadas com a própria Bíblia Sagrada (cf. I Co.14:29).
- Entretanto, quando verificamos a distinção que Hagin faz entre “rhema” e “logos”, para justificar esta palavra poderosa, da fé que “remove montanhas”, ao observarmos os textos das Escrituras, vemos que ela não se sustenta. Passagens há em que se utiliza “rhema” e outras em que se utiliza “logos” e que não correspondem às distinções feitas por Hagin.
-  “Rhema” é a “palavra da fé”,  e, por isso, a Bíblia diz que “a fé é um dom de Deus” (Ef.2:8). As Escrituras dizem que a “fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm.10:17). E, ao contemplarmos o texto grego deste versículo, veremos que ali está escrito “hara hé pístis ex ákons, é dè ákoé diá rhematos Kristou”, ou seja, a palavra de Deus que dá origem à fé é “rhema” e não “logos”. Portanto,  “rhema” seria a palavra dirigida diretamente ao crente por Deus, que lhe traria a salvação.
OBS: Aliás, quando observamos o texto grego, vemos que melhor é a tradução feita pela versão Almeida Revista e Atualizada, a saber: “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.”
- Mas, se assim é, por que, então, Pedro, no dia de Pentecostes, pregou as Escrituras (At.2:14-36)? Por que o apóstolo Paulo faz questão de dizer que tudo quanto pregava, fazia “segundo as Escrituras” (I Co.15:3) ? Simplesmente porque os apóstolos sabiam que a revelação completa de Deus havia sido o Senhor Jesus e que tudo quanto ocorrera com Ele havia sido, antes, predito pelas Escrituras. “Logos” é o próprio Deus (Jo.1:1), que Se fez carne e habitou entre nós (Jo.1:14), não havendo, portanto, necessidade alguma de uma revelação direta suplementar.
- E que dizer, então, de Hb.4:12, onde se diz que “A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos, e intenções do coração?” Sem dúvida alguma, esta definição da “palavra” está perfeitamente adequada à palavra “oral diretamente dirigida ao crente”. Consultemos, então, o original grego: “Zon gar ho logos tou theou kai energés kai tomóteros hyper pasan machairan distomon kai diiknoumenos archi merismon psyches kai pneumatos, harmon te kai myelon, kai kritikos enthymeseon kai ennoion kardias”. Percebemos que esta “palavra” é tradução de “logos” e não de “rhema”. O texto bíblico, pois, não se coaduna com o ensino do sr. Hagin.
- As Escrituras ensinam-nos que nós somos servos do Senhor, simples ramos da videira verdadeira (Jo.15:1-3,16), sendo que a Palavra de Deus (seja “rhema”, seja “logos”, a Bíblia a denomina por ambas as palavras) tem o condão de nos fazer dependentes do Senhor, de nos manter limpos, ligado à videira, sem qualquer domínio ou autonomia em relação a Deus. Esta palavra, que é o próprio Filho, o testemunho do Filho, ela é viva e eficaz, continua a ser levada pela pregação e a ser a fonte do convencimento do Espírito Santo para a salvação de almas, bem assim para o aperfeiçoamento dos santos, que por meio dela, são impedidos de ser destruídos (Os.4:6). Não se faz necessário que haja qualquer revelação direta suplementar, pois ela é completa e suficiente para a salvação e o crescimento do cristão.
- Observemos, aliás, que os sinais e maravilhas que se produzem na obra de Deus são para “confirmação da palavra” (Mc.16:20), palavra que, no grego, é “lógon”. A demonstração do poder de Deus, portanto, indispensável para a completude do evangelho, é feita por Deus para confirmação do “logos”, não havendo que se falar numa “palavra direta” denominada de “rhema”.
- Por isso, “rhema”, na teologia da prosperidade, acaba sendo menos uma palavra de Deus e mais uma demonstração da força de vontade do homem. Vejamos o que diz, por exemplo, este texto de um seguidor desta “doutrina”: “…Rhema carrega uma conotação espiritual que o diferencia de logos. Ele também leva a uma aplicação para o contexto específico de nossas vidas. Por exemplo, nós podemos estar lutando com um problema na nossa vida e durante nosso tempo de repouso nós lemos um versículo que ‘fala’ diretamente para a situação com que estamos lidando. Aquela porção da Escritura tornou-se ‘uma palavra Rhema’ de Deus para nós considerando nossa situação. Nós, então, podemos levantar em fé no Rhema que Deus nos deu e confessá-lo sempre que o diabo tentar nos atacar.…” (COOK, Paul. A espada do Espírito. http://www.porn-free.org/sword_of_the_Spirit.htm Acesso em 20 abr. 2006). Como podemos observar, menos do que a orientação divina, a ideia de “rhema” diz que a Palavra só se torna ativa se tiver a “confissão”, a “determinação” do crente. É a “fé do crente” que torna eficaz a palavra que lhe foi dirigida. Deus ocupa um lugar menor, o que vale, mesmo, é a vontade do homem. Mais uma vez, voltamos à constatação de que há verdadeira e indevida “divinização” do salvo por parte da “teologia da prosperidade”.
- Por isso, via de regra, os teólogos da prosperidade costumam fazer uma ilustração de que “Logos” seria o dínamo, a fonte geradora de energia, enquanto que “Rhema” seria “a luz”. “Logos” seria “…o potencial completo de tudo o que Deus é — algo capaz de fazer ou falar qualquer coisa mas sem que qualquer ação esteja envolvida…” (ROACH, Elwin R. The Word.http://www.hisremnant.org/roach/TheWord2.htmlAcesso em 20 abr. 2006), enquanto que Rhema seriam “…porções de logos sendo manifestadas na forma de palavras faladas…”(ROACH, Elwin.R. op.cit.). Há, portanto, uma equivalência entre Deus e o homem: se o homem não agir, de nada adianta o gerador; se não houver Deus, o homem também não pode “acender a luz”. Que petulância destes teólogos, que se esqueceram que, para Deus, o querer e o efetuar são o mesmo e realizados conforme a Sua vontade (Fp.2:13).
- Dentro deste contexto é que surge a ideia da “determinação”. Como explica o missionário R.R. Soares, na lição 1 do seu Curso de Fé: “…aqui está a primeira lição. Não precisamos pedir a bênção e sim determinar, exigir, mandar, ou seja: tomar posse daquilo que aprendemos pela Palavra que nos pertence. Há muita coisa nova que vamos aprender nestas lições sobre a fé, e sempre que aprendemos algo, devemos colocar logo em prática. Não devemos ser lerdos em tomar posse daquilo que é nosso. Quando o Senhor nos dá uma revelação, junto a ela Ele nos dá a bênção.(…). A partir de agora, não precisamos mais orar pedindo a cura, a prosperidade ou a vitória sobre as tentações. Mas, determinar ou exigir que o mal saia da nossa vida.…” (Curso Fé. Aula 1. Determinação. http://www.ongrace.com/cursofe/licoes.php?id=1 Acesso em 20 abr. 2006).
- Ora, como podemos verificar, uma vez “descoberta” a bênção, o que se dá por meio de “rhema”, não há que se falar em outra atitude senão a “determinação”, ou seja, a “confissão” que faz com que tomemos posse da bênção e, portanto, obtenhamos aquilo que desejamos. É esta a essência da chamada teologia da prosperidade. Tudo, portanto, depende de nós, desta nossa “determinação”, até porque, segundo o missionário R.R. Soares, em Jo.14:13, a palavra “pedirdes em meu nome”, “segundo os entendidos em língua grega”, seria melhor traduzida por “determinardes”.
- No entanto, quando vamos ao grego, a saber, “aitesete”(αίτήσητε), vemos que tal palavra significa, mesmo, “pedirdes”, “suplicardes”, “requererdes”, “implorardes”, ou seja, em momento algum se deixa de ter o significado de “pedido”, de “reconhecimento de autoridade superior”.
- Para ainda poder dar coerência a seu pensamento, os teólogos da prosperidade ainda afirmam que a determinação não é, em absoluto, em relação a Deus, pois de Deus nada se exige, mas se trata de uma determinação dirigida a Satanás, “in verbis”: “…É claro que não podemos exigir de Deus. Não podemos mandar que Deus faça isto ou aquilo. Ele é o Senhor e nós servos. Mas, determinar não é ordenar a Deus e sim ao diabo que tire de nós suas garras e desapareça de nossas vidas, de nosso dinheiro e de nossas famílias. Determinar é obedecer ao Senhor. Quando agimos assim, descobrimos que este é o modo de fazer o inimigo nos obedecer. Quando determinamos em o Nome de Jesus, o poder de Deus entra em ação realizando aquilo que queremos.…” (Curso Fé. Aula 1 – Determinação. op.cit.).
- Agora, se estamos salvos por Jesus, como entender que estejamos sob o domínio de Satanás? São os próprios teólogos da prosperidade que ensinam que agora temos “direitos legais” por causa da redenção. Como servos de Deus, vivendo em harmonia com o Senhor, temos promessas de bênção sobre o nosso patrimônio (Dt.28:1-14). Além do mais, enquanto não formos glorificados, haverá, sempre, uma luta contínua e renhida entre a Igreja e o adversário e suas hostes (Mt.16:18; Ef.6:12,13), cabendo a nós, tão somente, lutar o bom combate até acabarmos a carreira, guardando a fé (II Tm.4:7,8).
- Então, se somos salvos e, portanto, estamos debaixo da proteção divina, que é permanente e imutável (Sl.91:1,2; Jo.6:37; 10:28), cabe-nos, tão somente, confiar no Senhor, manter-nos separados do pecado, lutarmos contra o mal, fazermos a vontade do Senhor até que Ele venha, sabendo que tudo o que acontecer, nas nossas vidas, coopera para o bem daqueles que amam a Deus e que são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28). As adversidades existirão e não representarão, de forma alguma, um ataque do diabo sobre nós, a menos que seja com permissão divina, precisamente para que o mal se converta em bem. Deus é fiel e se Ele prometeu dar-nos o necessário para que alcancemos a glorificação, último estágio de nossa salvação, devemos tão somente obedecer-Lhe e seguir-Lhe a direção.
- Dizer que o salvo tem coisas que o diabo está de posse e que podemos tomar com base na “determinação” é, portanto, algo que não tem razão de ser diante do que nos ensinam as Escrituras. Por primeiro, porque nada temos. Como ensinou o patriarca Jó, nada é nosso, tudo é do Senhor (Jó 1:21), de forma que devemos ser desapegados às coisas desta vida, mormente quando sabemos que nossas almas já pertencem ao Senhor e com Ele viveremos eternamente.
- Por segundo, se o diabo roubou algo que estava sob nossa administração, fê-lo por uma de duas razões: ou porque Deus o permitiu e, neste passo, isto tem uma finalidade de crescimento espiritual para nós e, no momento exato, Deus no-lo devolverá ou, como fez com Jó, dará a nós até mais o que administrávamos antes, ou, então, Deus está efetuando justiça, visto que tudo o que homem ceifa, isto também semeia (Gl.6:7,8) e, assim, devemos louvar a Deus e glorificá-lO porque aquilo que nós não podíamos fazer, que era a salvação da nossa alma, Jesus já fez por nós e, mesmo sendo desapossados de bens ou saúde, temos a certeza de que viveremos eternamente com Ele na glória.
- Notamos, pois, que não resta qualquer “determinação” a ser feita ao diabo na vida do crente. Tudo o que se fizer será por pura ganância, por avareza ou por arrogância, pois o desejado será algo que Deus não nos deu, tanto que se encontra nas mãos do inimigo, que poder algum tem sobre nós.
- Mas, poderia alguém dizer, então não devemos expulsar demônios, lutar contra as hostes espirituais da maldade? É lógico que podemos fazê-lo, é este um dos sinais que confirmam a nossa filiação divina. Agora, não se trata aqui de “determinação” alguma, mas de uso do poder que Deus nos confiou. Como servos do Senhor, devemos lutar contra as obras do diabo, obras estas, porém, que não são materiais, embora possam se expressar de forma material (como é o caso de enfermidades malignas), mas, sim, espirituais. Todavia, tudo faremos segundo a vontade do Senhor e para a honra e glória do Seu nome. E o Senhor operará se assim o desejar.
- Os dias em que vivemos são difíceis e há um materialismo e um individualismo, promovidos pelo espírito do anticristo, a infestar a nossa sociedade. Em meio a tantas dificuldades, a pregação de um evangelho que promete autoridade divina, isenção de doenças e dificuldades, bem como prosperidade financeira, é algo que seduz, principalmente aqueles que, tendo um contato superficial com a Palavra de Deus, se deixam levar pelas interpretações dúbias e pelos arranjos intencionais de versículos bíblicos.
- A falta do conhecimento da Palavra de Deus entre os crentes, o domínio dos meios de comunicação por pregadores da prosperidade (até porque este tipo de mensagem tem altos índices de audiência, a incentivar as empresas de comunicação a ceder-lhes horário) e as dificuldades crescentes destes tempos finais da dispensação da graça são fatores que fazem aumentar a propagação da “teologia da prosperidade”, que é, sem dúvida alguma, a maior chaga, a maior erva daninha, junto com o “triunfalismo” no meio do povo do Senhor.
- Somente se voltarmos ao estudo da Palavra e à pregação do evangelho genuíno, com a devida santificação, para que haja, inclusive, a satisfação das necessidades físicas e materiais do povo, pois tais bênçãos estão, sim, entre as prometidas pelo Senhor à Igreja, poderemos estancar as grandes feridas causadas por esta teologia que tem sido a maior arma do inimigo para provocar no povo o sentimento de decepção com Deus, pois, ardilosamente, Satanás tem levantado estas pregações mirabolantes, com as quais Deus não tem qualquer compromisso, pois fora de Sua Palavra (cf. Jr.1:12) e, depois, quando as pessoas continuam doentes e pobres, faz o adversário nelas nascer um sentimento de revolta para com Deus e de total descrença nas Escrituras, criando-se, assim, um vazio espiritual propício para a crença no “super-homem” que está para se manifestar.
- Como diz Elwin R. Roach, “…Não há coisa alguma errada com os cristãos sendo pensadores positivos e é uma boa coisa viver uma vida positiva em Cristo, sabendo que “maior é O que está em nós, do que o que está no mundo”. Mas nós não deveríamos confundir nossa pensamento positivo natural como sendo aquela coisa que resolverá todos os nossos problemas terrenos e que nos põe no assento de um Cadillac novo todo ano…”
(Elwin R. Roach. The Word. http://www.hisremnant.org/roach/TheWord1.htmlAcesso em 20 abr. 2006).
- Durante este trimestre, estudaremos qual é a verdadeira prosperidade bíblica e, certamente, estaremos em condição de ajudar aqueles que, inadvertidamente, têm achado que o Evangelho lhes traz abundância e fartura materiais.
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Prof. Dr.Caramuru Afonso Francisco