LIÇÃO 11 – O DIA DE ADORAÇÃO E SERVIÇO A DEUS


4º Trim. 2011 - Lição 11: O Dia de Adoração e Serviço a Deus I
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
QUARTO TRIMESTRE DE 2011

TEMA –  Neemias – integridade e coragem em tempos de crise

COMENTARISTA :  Elinaldo Renovato de Lima


                                   A adoração e serviço a Deus devem ser prioridade em nossas vidas.
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo do livro de Neemias estudaremos hoje a segunda parte do capítulo 13, quando Neemias remove outro abuso que encontrou ao retornar da Pérsia: a falta da guarda do sábado.
Embora, como Igreja, não estejamos sujeitos à guarda do sábado, devemos dar prioridade à adoração e ao serviço de Deus em nossas vidas.
I – NEEMIAS OBSERVA OUTRO ABUSO PROMOVIDO DURANTE SUA AUSÊNCIA – A FALTA DA GUARDA DO SÁBADO
- Na lição anterior, vimos que Neemias, ao retornar para Jerusalém, após ter recebido autorização do rei Artaxerxes para continuar governando o povo judeu, verificou que, durante sua ausência, alguns abusos haviam se instalado no meio do povo, fruto da influência dos nobres e magistrados que, durante todo o primeiro mandato, mantiveram laços com os inimigos dos judeus.
- O primeiro destes abusos, conforme estudamos, foi a presença de Tobias em uma câmara grande no templo de Jerusalém, o que causou a desorganização de todo o serviço do Templo e prejudicou sensivelmente a adoração a Deus.
- Mas não foi este o único abuso encontrado por Neemias. O governador também observou que, como fruto desta desorganização do serviço religioso do Templo, como consequência da falta de um culto a Deus, o povo também não estava mais a observar a guarda do sábado.
- Em Ne.13:15, verificamos que o governador constatou que, em pleno dia de sábado, havia os judeus que pisavam lagares e traziam feixes que carregavam sobre os jumentos, como também vinho, uvas e figos e toda sorte de cargas, que traziam para Jerusalém, além de também vender mantimentos nesse dia.
- Ora, esta situação contrariava frontalmente a lei de Moisés que, entre os dez mandamentos, havia instituído a guarda do sábado. O quarto mandamento determinava a guarda do sábado, “in verbis”: “Lembra-te do dia do sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.” (Ex.20:9-11).
Este mandamento é repetido por Deus a Moisés em Ex.31, quando o Senhor mandou falar aos filhos de Israel que “…certamente guardareis meus sábados: porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações, para que saibais que Eu sou o Senhor que vos santifica. Portanto guardareis o sábado porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo. Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá. Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo. Entre mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-Se” (Ex.31:13-17).
- Este mesmo preceito é repetido em Ex.35: “Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso ao Senhor; todo aquele que fizer obra nele morrerá. Não acendereis fogo em nenhuma das vossas moradas no dia do sábado” (Ex.35:2,3).
- Diante de preceitos tão clarevidentes, Neemias verificou que, durante a sua ausência, um grande mal havia ocorrido no meio do povo, que estava deixando de lado o sinal que Deus havia estabelecido entre Ele e Israel, que era o sábado. Além de o povo não mais adorar a Deus, por falta de um serviço no Templo, também agora estava a perder a sua marca de identidade do seu relacionamento com Deus e, como bem afirmou o mestre em Ciência da Religião e superintendente da Escola Bíblica Dominical das Assembleias de Deus – Ministério de Perus – Região de Vila Perus (São Paulo/SP), Maxwell Fajardo da Silva, em reunião em 30 de outubro de 2001, Neemias tencionava não só reconstruir muros e portas em Jerusalém, mas, também, reconstruir o culto a Deus, a adoração a Deus entre os judeus.
- A influência dos inimigos dos judeus sobre Judá durante a ausência de Neemias bem mostrava qual era a intenção dos inimigos: a destruição da identidade de Judá como um povo distinto e diferente dos demais, como a “propriedade peculiar de Deus entre os povos”.
- Depois de Tobias ter se instalado na “câmara grande” no templo em Jerusalém, o que causou a total desorganização do serviço do Templo e levaria ao fim do culto a Deus, também se instalou uma mentalidade de se deixar Deus de lado, deixando-se de guardar o sábado, dia que, além de ser de descanso, deveria ser “santificado”, ou seja, separado para a adoração ao Senhor.
- Hoje em dia não é diferente. O inimigo da Igreja continua com os mesmos propósitos e objetivos, pois seu trabalho outro não é senão matar, roubar e destruir (Jo.10:10). Por primeiro, tenta desorganizar todo o serviço de adoração a Deus, toda a estrutura que busca fazer com que sirvamos a Deus e que façamos a tarefa que Ele nos deixou que é o da pregação do Evangelho e a edificação espiritual dos salvos. Por segundo, tenta nos impor um regime de vida que subtraia o nosso tempo para Deus, que nos impeça de nos dedicarmos, durante a semana, um período para louvar e bendizer ao Senhor.
- Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo nos aconselha a “remir o tempo porque os dias são maus” (Ef.5:16), pois uma das maiores armadilhas do inimigo para atrapalhar e arruinar a nossa comunhão com Deus é, precisamente, o de nos impedir que tenhamos tempo para nos dedicarmos ao serviço e à adoração ao Senhor.
- Como vimos nos principais textos da lei de Moisés que instituíam a guarda do sábado, o sábado era um sinal entre Deus e Israel, uma marca característica da aliança estabelecida entre o Senhor e este povo que formara para ser a “Sua propriedade peculiar dentre os povos”. Ao não trabalharem no sétimo dia, dedicando-se única e exclusivamente a adorar a Deus, os israelitas davam um testemunho público de que queriam ser semelhantes ao Senhor, que havia descansado da obra da criação no sétimo dia, de que viviam conforme a este Deus, sendo que, em seu descanso, anunciavam este Deus, o único e verdadeiro Deus, visto que era o Criador de todas as coisas, às demais nações.
Até os dias de hoje, os israelitas são identificados pelas demais nações da Terra por causa da guarda do sábado. É, sem dúvida, um sinal que o distingue dos demais povos e que faz com que toda a humanidade perceba que Israel serve a um Deus que é o Criador dos céus e da terra, característica que na Antiguidade era ainda mais sobressalente visto que, àquela época, os israelitas eram o único povo monoteísta da Terra, ou seja, o único povo que cria haver um único Deus.
OBS: “…Foi o expoente moderno do nacionalismo cultural judaico, Achad Ha-am (pseudônimo de Asher Ginzberg, 1856-1927), que cunhou o epigrama que se tornou famoso não só porque era espirituoso mas porque era verdadeiro: ‘Mais do que os judeus têm guardado o Sabath, o Sabath tem sustentado os judeus’. Do ponto de vista do historiador da religião, esse dia tem representado um dos principais elos da unidade para os judeus através de sua história milenar.(…). Maimônides, o filósofo rabínico do século XII, concluía: ‘O Sabath é uma aliança eterna entre nós e o Santificado — abençoado seja Ele!’…” (AUSUBEL, Nathan. Sabath. In: A JUDAICA, v.6, p.735).
- Quando da entrega dos mandamentos no Sinai, o Senhor já foi bem claro ao dizer que deveriam guardar o sábado os israelitas e os estrangeiros que habitassem em suas portas, ou seja, tratava-se de um mandamento destinado única e exclusivamente à nação israelita, que os estrangeiros que habitassem entre eles deveria também guardar, já que não se permitiria esta “brecha” para se violar este sinal distintivo entre o povo de Israel e Deus, até porque o estrangeiro que habitasse em Israel deveria se sujeitar à lei de onde estava a viver.
- Vemos, logo de início, que o sábado é uma disposição que diz respeito apenas entre Deus e Israel e, por isso mesmo, o estrangeiro que não habitava em Israel não era obrigado a observá-lo. Eis a razão precípua pela qual não se pode estender o sábado aos gentios e, mais precisamente, à Igreja que, apesar de ser o povo de Deus, não é Israel e, deste modo, não está sujeita ao mandamento da guarda do sábado, como, aliás, ficou bem claro no concílio de Jerusalém, quando a Igreja, seguindo o parecer do Espírito Santo, não determinou a guarda do sábado aos salvos em Cristo Jesus (At.15:28,29).
- Em outra orientação divina a Moisés, ficou também claro que o sábado é indicado como um sinal entre Deus e Israel, como uma prova e demonstração de que este povo havia sido separado das nações pelo Senhor para ser Sua propriedade peculiar (Ex.31:13), prova de que não se trata de instituição que se tenha transportado para o novo povo que se formou de judeus e gentios, a Igreja (Ef.2:11-16).
O primeiro objetivo do sábado, pois, era o de estabelecer um sinal de santificação, mostrar a todas as nações que Israel era a “propriedade peculiar de Deus entre os povos”, um povo que havia sido separado por Deus para ser “reino sacerdotal e povo santo” (Ex.19:6). O sábado é, pois, a verdadeira “marca visível” da aliança do Sinai, a “marca da lei” e, por isso mesmo, não pode ser assumido por quem não mais vive na lei, como é o caso da Igreja (Gl.3:23-29).
O segundo objetivo do sábado era o de criar uma semelhança entre Deus e Israel, mostrar que, além de povo separado, Israel era um povo que era “imagem e semelhança de Deus”. Por que se escolheu o sétimo dia para guarda entre os sete dias da semana? Porque foi no sétimo dia que Deus havia descansado de Suas obras (Gn.2:2,3).
- Quando Israel deixava de fazer toda e qualquer obra no dia sétimo, estava a “imitar” o seu Deus, estava a repetir-Lhe o gesto, estava se mostrando semelhante ao Senhor, dando um testemunho de que era “o povo de Deus”, de que procurava seguir os passos dados pelo seu Deus.
OBS: “…Os Sábios Rabínicos formulavam o seguinte raciocínio sobre a obrigação de guardar o Sabath: como a imitação de Deus em todos os Seus atributos morais representava padrão de conduta recomendada ao homem devoto, também na questão da observância do Sabath dever-se-ia ter em mira o exemplo do Criador, como inspiração para os devotos. Se Deus, que nunca Se cansa, descansou de Sua labuta no sétimo dia, com muito mais razão o homem frágil, que se cansa tão facilmente, deveria interromper seu trabalho no Sabath santificado! Assim argumentavam os Sábios do Talmud. Esse ‘repouso’ era de importância moral e espiritual. Fazia parte da Aliança de Israel com Deus no Monte Sinai…” (AUSUBEL, Nathan. Sabath. In: A JUDAICA, p.735).
- Ser povo de Deus é mostrar-se como “imagem e semelhança de Deus”. Não é por outro motivo que a Igreja, também, deve ser imitadora de Cristo Jesus (I Co.11:1), deve seguir as pisadas do Senhor Jesus (I Pe.2:21), pois sabemos que Jesus é a “expressa imagem da pessoa de Deus” (Hb.1:3), “a imagem do Deus invisível” (Cl.1:15), “o último Adão” (I Co.15:45). É neste sentido que podemos afirmar que “Jesus é o nosso sábado”, porque é em Cristo que haveremos de nos mostrar aos homens como “imagem e semelhança de Deus”.
O terceiro objetivo do sábado era o de estabelecer um dia de descanso. Em hebraico, “sábado” é “shabat” (שבת), cujo significado é “cessação” ou “descanso”, a indicar este aspecto do mandamento divino. O sábado foi feito para o descanso.
- Este descanso não deve ser interpretado fisicamente, ao mesmo num primeiro momento. Por quê?  Porque o “descanso de Deus” não é a necessidade de Deus recuperar Suas energias, porque Ele não Se cansa (Is.40:28), mas mera indicação que Deus não mais criou coisa alguma.
- Assim, se este “descanso” é a indicação de que Deus cessou a Sua criação e passou a contemplá-la, qual o significado deste “descanso”? Ora, foi precisamente este sétimo dia o início da convivência entre Deus e o homem, visto que o homem foi criado no sexto dia (Gn.1:26,31). Ao mesmo tempo que Deus estava a contemplar a Sua criação, estava também na companhia do homem que criara.
- O sétimo dia, pois, ao nos revelar o “descanso”, está a nos mostrar a companhia entre Deus e o homem. Por isso, o Senhor Jesus nos mandou tomar sobre nós o Seu jugo, e aprender d’Ele que é manso e humilde de coração, e, então, encontremos “descanso em nossas almas” (Mt.11:29).
- O escritor aos hebreus, também, assinala-nos que “ainda resta um repouso para o povo de Deus” (Hb.4:9), “repouso” este que outro não é senão o Senhor Jesus, senão a nossa obediência a Cristo, pois quem entra neste repouso não é desobediente (Hb.4:11).
- O “descanso”, portanto, deve ser entendido como uma demonstração de obediência a Deus, de submissão ao jugo do Senhor, de fidelidade ao Criador, de reconhecimento de que Ele é o Senhor de todas as coisas.
- Quando os israelitas, no sétimo dia, nada fazem, estão a reconhecer que Deus é o Senhor que criou todas as coisas e que eles querem obedecer-Lhe, que eles precisam servir-Lhe, que eles reconhecem o Seu senhorio. Este “descanso” expressa comunhão com o Senhor.
- É certo que, em não efetuando qualquer trabalho no sábado, os israelitas também expressavam a necessidade que o homem tinha de restaurar as suas forças, além de indicarem que não era o “suor do rosto” a razão de ser de tudo o que possuíam, mas, mais do que este “suor”, a bênção de Deus sobre as suas vidas. O sábado expressava a limitação e a dependência do homem em relação ao Senhor.
Hoje em dia, a Igreja mostra este “descanso” em sua obediência incondicional ao Senhor Jesus e à Sua Palavra. Este “descanso” não se faz no sétimo dia, mas, sim, em tomarmos o “jugo de Jesus” e em “aprender d’Ele que é manso e humilde de coração”. Este “descanso” não se faz apenas no corpo, mas é um “descanso de alma”, algo não circunscrito a um dia da semana, mas que se revela em cada dia, pois o dia do salvo é “hoje” (Hb.4:7).
O quarto objetivo do sábado era o de ser um dia de adoração a Deus. Além de ser um “descanso”, uma “cessação de obras”, o sábado deveria ser “santo ao Senhor”, ou seja, se os israelitas deveriam “cessar as suas obras”, deixar de trabalhar, de fazer as atividades necessárias à sua sobrevivência, deveriam separar este dia para Deus. Assim, não se tratava apenas de um “repouso semanal” para o exercício das atividades diárias, mas de um dia destinado à adoração ao Senhor, um dia dedicado a Deus.
- O sábado é uma das solenidades, das santas convocações do Senhor para o povo de Israel. Na verdade, a primeira das festas solenes do Senhor mencionadas na lei é o sábado (Lv.23:2,3). Vê-se, pois, que o sábado não era apenas um dia de repouso, mas, mais do que isto, um culto solene ao Senhor, um dia dedicado a Deus, um dia destinado a celebrar o Senhor, louvá-l’O e bendizê-l’O. A partir do cativeiro da Babilônia, passou a ser “…a oportunidade de [os judeus] se encontrarem no culto comunitário e ler alto das obras sagradas hebraicas…” (AUSUBEL, Nathan, op.cit., p.737). Por isso, o Senhor Jesus tinha o costume de ir à sinagoga no dia do sábado (Lc.4:16).
- Os judeus, no dia destinado a mostrar a sua “marca distintiva” como “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”, reuniam-se para adorar a Deus, orando, louvando e meditando nas Escrituras. Separavam este dia para Deus, não só não realizando suas atividades diárias, mas, principalmente, reservando este tempo para adorar a Deus, para reconhecer-Lhe a soberania e senhorio.
É preciso, mesmo, dedicarmos um tempo para Deus. Deixar os nossos afazeres desta vida passageira e nos voltarmos para as coisas eternas, para as “coisas de cima”, com mais afinco. Ao mesmo tempo em que restauramos as nossas forças físicas, também restauramos nossas forças espirituais, dedicando-nos mais intensamente a Deus, a um contato com o Senhor.
- O “descanso do sétimo dia”, como já vimos, representou a comunhão entre Deus e o homem, a companhia do Senhor junto àquele que criou para que vivesse juntamente com Ele. Por isso, os israelitas, no exato instante em que testificavam ao mundo o seu relacionamento distintivo com Deus, também se aproximavam mais do Senhor, dedicando aquele dia para cultuar a Deus de forma solene, com prioridade.
- Se Israel, que vivia no tempo da lei, que servia de aio para conduzi-los a Cristo, separava um tempo especial para servir a Deus e buscá-l’O, como pode a Igreja, que agora não vive mais a “sombra dos bens futuros” (Hb.10:1), mas desfruta já da realidade da revelação plena de Deus na pessoa de Jesus Cristo (Hb.1:1), pode ter menor dedicação do que os que viviam sob a lei?
Ainda que o tempo da Igreja seja “hoje” e, portanto, tenhamos de ter comunhão e intimidade com o Senhor a todo instante, tanto que devemos orar sem cessar (I Ts.5:17) e vigiar a todo instante (Mc.13:33; Lc.21:36), o fato é que não podemos, também, de deixar de dedicar um tempo especial para adorarmos ao Senhor, inclusive coletivamente.
Este dia, desde o início da Igreja, deixou de ser o sábado para ser o domingo, “o dia do Senhor”, o “primeiro dia da semana”, o dia em que Jesus ressurgiu dos mortos (Mc.16:9), o dia em que se mostrou visivelmente aos homens a vitória do Senhor sobre o pecado e a morte (At.2:24; I Co.15:20-22).
- Jesus Se apresentou aos Seus discípulos reunidos no dia mesmo de Sua ressurreição (Jo.20:19), indicando, pois, que este era o dia especialmente reservado para que os Seus discípulos se reunissem e, com esta reunião, o Senhor Se manifestasse entre eles (Mt.18:20).
- Tanto assim é que Lucas registra que os crentes de Troas se reuniam no “primeiro dia da semana para partir o pão” (At.20:7), como também o apóstolo Paulo que assim igualmente faziam os crentes de Corinto (I Co.16:2).
- O que se percebe, portanto, é que a Igreja, desde os seus primórdios, estava consciente de que, vivendo sob a graça, não poderia deixar de dedicar um dia para servir a Deus mais intensamente, já que na lei o povo de Israel assim se fazia, quando ainda vivia “na sombra dos bens futuros”. Este dia, porém, não poderia ser o sábado, visto que a “imitação de Deus” agora não mais correspondia a este dia, visto que o “descanso” se obtém pela comunhão com Deus, que se faz por meio de Cristo Jesus, cuja vitória sobre o pecado se mostrou visivelmente no “primeiro dia da semana”, ou seja, no domingo, o dia em que Ele Se fez Senhor.
- Por isso, nada mais falso do que afirmar que o domingo se tornou o dia de guarda para os cristãos por causa de um decreto do imperador romano Constantino (272-337, imperador de 306-337), como costumam dizem os sabatistas. Os exemplos bíblicos há pouco mencionados são demonstrações evidentes de que muito tempo antes de Constantino a Igreja já reconhecia o “primeiro dia da semana” como a marca da sua nova vida em Cristo, como o sinal da “nova criação”, como a marca da ressurreição, a garantia da nossa fé.
- Com muita propriedade, assim afirma o item VII  do capítulo XXI da Confissão de Fé de Westminster, um dos principais documentos doutrinários da Reforma Protestante e a base da chamada “teologia reformada” (calvinista), datada de 1643, a respeito do tema: “Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em Sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão (Ex. 20:8-11; Gn. 2:3; I Co. 16:1-2; At. 20:7; Ap.1:10; Mt.5:17-18)”.
- A Confissão de Fé de Westminster prossegue no item seguinte, “in verbis”: “VIII. Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas próprias obras, palavras e pensamentos a respeito dos seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e misericórdia.”.
- No sábado, os sacerdotes trocavam os pães da proposição no lugar santo (Lv.24:5-9). Os “pães da proposição” simbolizam “Cristo, o Pão da Vida”, o único alimento que poderia ser ingerido pelos sacerdotes no lugar santo. Como afirma o pastor Abraão de Almeida: “…Aqueles doze pães, cada um preparado sem fermento e com cerca de oito litros de flor de farinha, eram colocados sobre a mesa apropriada, em cada sábado. Em seguida, o sacerdote derramava sobre eles o incenso puro, tornando-os santos. Permaneciam na mesa de um sábado a outro. A cada sábado, os sacerdotes se reuniam no Lugar Santo e os comiam. Era o alimento deles como tipo de Cristo, o Pão da Vida. O crente, ao ministrar como sacerdote no Lugar Santo, precisa alimentar-se dos pães asmos, que também representam a plenitude do povo de Deus diante de seu Redentor e Senhor…” (O tabernáculo e a Igreja. Versão digitalizada por Levita, p.72).
O quinto objetivo do sábado, portanto, era o da reunião do povo de Deus em torno de seu Senhor, o instante em que o povo não só mostrava a sua comunhão com Deus mas a comunhão de uns com os outros, comemorando que tal comunhão e unidade se devia única e exclusivamente a Deus, que os havia formado como “propriedade peculiar dentre os povos”. Nesta reunião, também os israelitas confirmavam que a fonte da vida era o próprio Deus, Aquele que lhes permitia sobreviver sobre a face da Terra. Era o dia da alimentação, o dia da consagração a Deus.
- Em nossos dias, não pode ser diferente. Também há um dia em que devemos nos reunir e celebrar a Cristo Jesus, o nosso Senhor, o Pão da Vida (Jo.6:35,48), fazendo-o em santidade, sem pecado (ou seja, sem fermento), consagrando-nos a Ele em oração e nos alimentando d’Ele através da Sua Palavra.
Este dia em que devemos nos reunir em torno de Cristo Jesus é o “primeiro dia da semana”, pois foi neste dia, conforme já visto, que o Senhor Jesus Se apresentou aos Seus discípulos, o dia da Sua ressurreição, o que, aliás, deixou bem reforçado quando Se apresentou glorificado ao apóstolo João precisamente neste dia (Ap.1:10).
OBS: “…No versículo 10, o apóstolo João nos informa que ele foi arrebatado em espírito no dia do Senhor. O Dia do Senhor a que João se refere seria o sábado ou o domingo? Para os judeus, baseados na lei do V.T. seria o sábado. Mas, para os crentes do N.T., o domingo era considerado o Dia do Senhor, por ter se dado no domingo a Sua ressurreição. Portanto, o dia do Senhor mencionado em Ap.1:10, refere-se ao domingo.…” (SERAFIM, José. Desvendando o Apocalipse: livro da revelação, p.13).
- Não é por outro motivo que Lucas nos diz que o apóstolo Paulo se reuniu com os crentes de Troas no primeiro dia da semana, o dia em que eles se reuniam para partir o pão, como que nos mostrar que este é o dia em que devemos expressar a nossa comunhão uns com os outros (At.20:7).
OBS: Justino, um dos mais antigos “pais da Igreja”, que morreu em 167, mostra-nos que esta era a forma de os cristãos cultuarem a Deus, como nos dá conta no seu livro Apologia, “in verbis”: “…No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos. Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo: ‘Amém’ (…)Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabes-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame…” (Apologia, p.40. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/apologetica/Justino_de_Roma_IApologia.pdf Acesso em 31 out., 2011). O “dia do Sol” é o domingo e o “dia de Saturno” é o sábado, como, aliás, até hoje atestam os nomes destes dias em línguas como o inglês (“Sunday” e “Saturday”).
O sexto objetivo do sábado é encontrado na “repetição da lei” em Deuteronômio, quando, ao falar do quarto mandamento, assim se manifesta Moisés: “Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o SENHOR, teu Deus. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu;  porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado” (Dt.5:12-15).
- O sábado, segundo este texto, que complementa os anteriores, era também para que os israelitas se lembrassem da redenção, da sua libertação da escravidão no Egito. O sábado era que como uma “pequena recordação” da sua libertação do Egito, recordação que era solenemente efetuada uma vez ao ano por ocasião da Páscoa.
- Daí porque a Igreja ter o seu dia santificado o domingo, pois foi neste dia que se estabeleceu, de forma definitiva e visível, a libertação do pecado com a ressurreição de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, instante em que o Senhor Jesus foi “declarado Filho de Deus em poder, pela ressurreição dos mortos — Jesus Cristo Nosso Senhor” (Rm.1:4).
II – NEEMIAS REMOVE OS ABUSOS, FAZENDO O POVO VOLTAR A GUARDAR O SÁBADO
Neemias observou que os judeus estavam a profanar o sábado, a deixar Deus de lado no seu dia-a-dia, na sua vida cotidiana. No sábado, não deveriam fazer qualquer obra, mas, eis que, vindo o sábado, o governador pôde perceber que os judeus pisavam lagares ao sábado.
OBS: Deixar Deus de lado é uma das características principais dos tempos em que vivemos, como, biblicamente, tem afirmado o atual chefe da Igreja Romana em várias de suas manifestações, como, v.g., a seguinte: “…queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma.(…) A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo.…” (BENTO XVI. Discurso proferido no Dia de reflexão, diálogo e oração pela paz e justiça no mundo. 27 out. 2011. Disponível em:http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2011/october/documents/hf_ben-xvi_spe_20111027_assisi_po.html Acesso em 31 out. 2011).
- É elucidativo que a primeira atividade mencionada que era realizada no sábado era o “pisar lagares”, ou seja, a produção do vinho, símbolo da alegria na Bíblia, mas também figura do prazer e das coisas desta vida, que é aqui o correto significado. Tanto assim é que o apóstolo Paulo nos recomenda não nos embriagar com vinho mas nos enchermos do Espírito (Ef.5:18), fazendo uma contraposição entre a vida envolvida com as coisas desta vida (o vinho) e a vida envolvida com as coisas de Deus (o Espírito).
- O envolvimento com as coisas deste mundo, a busca incessante pelo prazer, o chamado “hedonismo”, que tanto caracteriza o mundo hodierno, é uma das coisas que faz com que se despreze a busca de um tempo dedicado a Deus. Nestes últimos dias, em que há homens “mais amigos dos deleites do que amigos de Deus” (II Tm.3:4), é natural que “não se tenha tempo para Deus”.
- Nos dias em que vivemos, é triste vermos que muitos que cristãos se dizem ser estão como os judeus dos dias de Neemias, “pisando lagares ao sábado”, ou seja, buscavam satisfazer seus prazeres, ocupando o tempo em que deveriam estar a cultuar a Deus com coisas que servem tão somente para a sua própria satisfação. Assim, por exemplo, não são poucos os que dedicam a maior parte do “dia do Senhor” para seus próprios deleites, apenas indo ao templo para cultuar a Deus no “finalzinho do dia” e, mesmo assim, chegando atrasados ao culto, depois que já descansaram, passearam, viram seus programas prediletos na televisão, depois do jogo de futebol, etc. etc. etc. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Mas havia também aqueles que Neemias viu “trazendo feixes que carregavam sobre os jumentos, toda a sorte de cargas”, ou seja, os “trabalhadores incansáveis”, que se preocupavam em “vender”, em “faturar” no dia de sábado. Eram os gananciosos que não admitiam “perder tempo”, pois “tempo é dinheiro”.
- Estes gananciosos também estão presentes em nossos dias, dias de “amor do dinheiro”, dias de materialismo e consumismo desenfreados. Quem serve ao dinheiro, às riquezas não serve a Deus (Mt.6:24) e passa a viver como um gentio, que se preocupa apenas com as coisas materiais, não se importando em buscar a Deus (Mt.6:31,32), porque não conhece a Deus (I Ts.4:5).
- É muito triste observarmos que, entre os que cristãos se dizem ser, também há aqueles que estão “com toda a sorte de cargas”, deixando de dedicar um dia para o Senhor para “se enriquecerem”. Muitos têm deixado de dedicar um tempo para Deus “por causa do trabalho”, “por causa das ocupações”, não raras vezes, inclusive, acabando por sofrer problemas de saúde física por causa do esgotamento pelo excesso de afazeres. Esquecem-se de que Deus promete aos Seus servos o pão de cada dia (Mt.6:25-34), de que não devemos ajuntar tesouros aqui na terra, mas, sim, nos céus (Mt.6:19-21).
- Havia um terceiro grupo que também foi observado por Neemias. Eram os tírios que habitavam em Jerusalém e que traziam peixe e toda a mercadoria que no sábado vendiam aos filhos de Judá e em Jerusalém (Ne.13:16).
- Os tírios eram naturais de Tiro, uma das mais importantes cidades da Fenícia (atual Líbano), que se notabilizaram na Antiguidade como os principais comerciantes do mundo, o que, aliás, é atestado na Bíblia Sagrada (Ez.27 e 28). Como estrangeiros que habitavam em Jerusalém, eram também obrigados a guardar o sábado (Ex.20:10).
- Entretanto, como consequência até da maléfica influência que Tobias já havia exercido sobre os nobres e magistrados, os tírios, também, não se sentiam obrigados a guardar o sábado e exerciam o seu comércio, naturalmente rentável (parece que tinham o controle do mercado de peixe), que despertara a ganância junto aos judeus, que queriam ter a mesma prosperidade que os tírios possuíam.
A presença de estrangeiros em Jerusalém que não eram levados a observar a lei levou o próprio povo judeu a profanar o sábado. Isto nos mostra como é prejudicial ao povo de Deus a convivência e a comunhão com quem não pertence ao corpo de Cristo, como não se pode permitir que o modo de viver do povo de Deus seja ditado e estabelecido por quem não tem compromisso com o Senhor.
- Os sociólogos afirmam que há grupos sociais que são importantes na sociedade porque servem de modelo a outros grupos, embora estes não pertençam àqueles. São os chamados “grupos de referência”, grupos cujos parâmetros, cuja maneira de viver se tornam as nossas. Em Jerusalém, os tírios haviam se tornado um “grupo de referência” e seu “modus vivendi” tornou-se o modo de viver dos judeus que, deste modo, estavam abandonando seu principal caráter distintivo das demais nações.
- É precisamente o que está a ocorrer, em nossos dias, na Igreja. Muitos dos que cristãos se dizem ser, em vez de imitarem a Cristo, aos servos fiéis ao Senhor, estão se deixando envolver por “grupos de referência”, que, a exemplo dos tírios, nenhum compromisso têm com Jesus e com a Sua obra.
- Hoje é extremamente natural vermos supostos cristãos vivendo em conformidade com o mundo, tendo parâmetros e valores segundo os “tírios que traziam peixe”, abandonando o modo de viver estabelecido pelo Senhor Jesus na Sua Palavra para estar de acordo com o mundo e a sua concupiscência. Como é triste vermos, por exemplo, os servos de Deus adotando os trajes, os cortes de cabelo, as expressões lingüísticas e tantas outras coisas que estão “na moda”, que são ditadas pelos “grupos de referência”, que hoje se encontram exponenciados em seu poder pela mídia.
- Neemias observou que os judeus preferiam comprar o peixe dos tírios a buscar a Deus, a celebrar-Lhe o devido culto no dia de sábado. Quantos não têm feito o mesmo em nossos dias? Preferem comprar “o peixe dos tírios” a servir a Deus? Tomemos cuidado, amados irmãos!
Diante desta situação deplorável, Neemias voltou-se para os principais responsáveis por esta situação: os nobres de Judá. Sim, amados irmãos, embora todo o povo estivesse se corrompendo, a principal responsabilidade por isso era da parte da elite do povo, daqueles que, como autoridades, deveriam cuidar para que o povo continuasse a servir a Deus. Neemias não foi tomar uma atitude imediata contra o povo, mas, sim, contra aqueles que estavam à frente do povo. De igual modo, procedeu o Senhor Jesus ao mandar as cartas aos anjos das igrejas da Ásia Menor (Ap.2 e 3), como que a lembrar aos ministros que são eles que hão de prestar contas das ovelhas do Senhor Jesus postas sob seus cuidados (Hb.13:17).
- Os nobres de Judá não só consentiam com aquela deplorável situação, como, certamente, dela tiravam proveito. Afinal de contas, os nobres de Judá eram os principais consumidores das mercadorias dos tírios, como também deviam ser os principais empreendedores das atividades praticadas no dia do sábado, servindo, pois, de péssimo exemplo para o restante do povo.
- Em nossos dias, muitos são os líderes que, infelizmente, estão levando multidões para a apostasia, visto que também deixaram de ter a Deus como prioridade em suas vidas, visando tão somente a busca incessante pelos prazeres mundanos, o enriquecimento desmedido e, para tanto, deixando que pessoas completamente descompromissadas com o Evangelho venham a ditar regras e comportamentos no meio do povo de Deus.
- As Escrituras afirmam que Neemias contendeu com os nobres de Judá (Ne.13:17 “in initio”), precisou argumentar com insistência com eles, pois que estavam acostumados a este estado deplorável e não pareciam inclinados a querer modificar a situação. Não nos iludamos, amados irmãos, nós, os fiéis e sinceros servos de Deus, precisaremos contender, lutar, verdadeiramente “batalhar pela fé uma vez dada aos santos, porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo” (Jd.3 “in fine”,4).
- Neemias, em sua contenda com os nobres de Judá, mostrou-lhes que a profanação do sábado era um mal e que se repetia aqui o mesmo erro cometido pelos antepassados que havia causado o cativeiro da Babilônia (Ne.13:17,18).
- Mas o povo de Israel não guardara o sábado antes do cativeiro? Sim, como nos mostra o profeta Jeremias, nos dias imediatamente anteriores ao cativeiro, o povo já não estava mais a observar o mandamento do sábado, tanto que o profeta teve de repreender-lhes neste sentido (Jr.17:19-27). Vemos, aliás, através deste exemplo que uma das características da apostasia do povo de Deus é a profanação do dia da guarda, como, infelizmente, temos visto em muitas igrejas locais na atualidade.
- Por primeiro, vemos mais uma qualidade de Neemias enquanto líder: identificou os responsáveis. Assim deve proceder toda liderança no meio do povo de Deus: não deixar de responsabilizar os integrantes. Devemos sempre lembrar que, se temos liberdade, temos, também, responsabilidade, que devemos prestar contas de nossos atos diante de Deus e dos homens.
- Por segundo, vemos que Neemias, ao chamar os nobres à responsabilidade, fê-lo com base na Palavra do Senhor, a nossa única regra de fé e prática. Neemias, ao contender com os nobres de Judá, mostrou onde se encontrava o erro das atitudes tomadas, à luz da Palavra de Deus.
- Por isso, uma das exigências para que alguém seja capaz de liderar o povo de Deus é o ser apto a ensinar (I Tm.3:2). Como se pode liderar se, no instante da responsabilização, não se tiver conhecimento das Escrituras para que, com base nelas, se faça a devida exortação ou admoestação? Por isso, ao aconselhar seu filho na fé Timóteo, o apóstolo Paulo insistiu que ele persistisse em ler, exortar e ensinar (I Tm.4:13). Quem não lê, não pode exortar nem tampouco ensinar.
- Após contender com os nobres de Judá, chamando-os à responsabilidade e os conscientizando do mal que isto representava para o povo judeu no seu relacionamento com o Senhor, Neemias usou de sua autoridade e determinou que as portas se fechassem assim que dessem sombra antes do sábado, tendo, também, determinado que alguns de seus moços ficassem de guarda nas portas para não permitir que nenhuma carga entrasse em Jerusalém no dia de sábado (Ne.13:19).
- Não basta chamar a atenção, nem tampouco basear esta exortação com base nas Escrituras. O líder também precisa agir, atacando a raiz do problema. Neemias, após ter mostrado que a profanação do sábado era um mal, imediatamente tomou a iniciativa de mandar fechar as portas de Jerusalém assim que começasse o início do pôr-do-sol, também determinando que moços ficassem nas portas para não permitir que qualquer mercadoria ingressasse na cidade.
- Nos dias em que vivemos, não é raro encontrarmos lideranças que até responsabilizam e exortam os salvos mas que, infelizmente, não passam disso, limitando-se a “dizer a verdade”, mas se mantendo completamente omissos em atitudes que, de forma radical, encerrem a profanação, a conduta errada.
- Alguns, inclusive, chegam a justificar esta omissão dizendo que “o Espírito Santo Se encarregará de remover o mal”, esquecendo-se de que o Senhor Jesus deu à Igreja os dons ministeriais para o “aperfeiçoamento dos santos” (Ef.4:11-16), ou seja, que incumbe àquele que foi constituído como pastor o papel de promover as necessárias ações para que o mal não se repita no meio do povo.
- Neemias não titubeou e mandou que as portas fossem fechadas quando se aproximasse o sábado. Assim também devemos fazer na igreja do Senhor: fechar as portas quando se iniciar a aproximação do mal que está a perturbar a vida espiritual dos crentes. Devemos fechar as portas para o maligno e ainda vigiar (assim como os moços de Neemias) para que não se venha tentar abri-la. Temos feito isto?
- Diante desta atitude radical de Neemias, qual foi a reação dos que tiveram seus interesses contrariados? Porventura se submeteram à nova orientação, porventura se conformaram com a tomada de decisão em conformidade com a vontade do Senhor? A resposta é negativa!
- Diz-nos Neemias que, diante do fechamento das portas, os negociantes e vendedores de toda mercadoria passaram a noite fora de Jerusalém, uma ou duas vezes (Ne.13:20). Insistiam em querer criar uma situação para que a ordem de fechamento das portas fosse revogada. Não aceitavam de forma alguma a mudança de situação.
- Assim ocorre também na igreja. Quando se tomam decisões a favor da ortodoxia doutrinária, da santificação, do cumprimento da Palavra de Deus, não faltarão aqueles que “passarão a noite fora de Jerusalém, uma ou duas vezes”, pressionando para que tudo “volte como dantes no quartel de Abrantes”. Não podemos, porém, desanimar, mas manter firme e inabalável a decisão de servir a Deus, de cumprir a Sua Palavra.
- Não devemos nos intimidar com os “negociantes e vendedores” que façam tal pressão, porque, com a atitude tomada por nós, eles ficarão “do lado de fora de Jerusalém”. Quando fechamos as portas para o mal, ele fica do lado de fora! Que bênção quando o mal está do lado de fora, sem condições de nos contaminar. Ruim é a situação quando deixamos a casa aberta, quando, aí sim, o inimigo entrará e “fará a festa” (Mt.12:43-45).
Neemias, ao verificar a insistência destes negociantes e vendedores, antes que eles assim procedessem pela terceira vez, tomou a iniciativa de intimidá-los. Foi até seu encontro e protestou contra eles e lhe disse que, se o fizessem de novo, lançaria mão deles (Ne.13:21). Diante desta ameaça e da demonstração de disposição inabalável de fazer cumprir suas ordens, os negociantes e vendedores deixaram de vir a Jerusalém no dia de sábado.
- Somente a disposição inabalável de servir a Deus, somente a manutenção de nossas portas fechadas para o maligno e para o pecado poderá fazer com que o inimigo se retire de nossas portas. Como diz Tiago, somente quando nos sujeitamos a Deus, quando nos dispomos a servi-l’O de verdade, teremos condição de resistir ao diabo e, como resultado disso, ele fugirá de nós (Tg.4:7).
- O segredo para termos condição de resistir ao diabo e às tentações é nos sujeitando a Deus, é nos apegando à Palavra de Deus. Foi com o uso da espada do Espírito que o Senhor Jesus resistiu ao diabo nas tentações do deserto, de tal maneira que o diabo d’Ele se ausentou (Mt.4:11), ainda que por um pouco de tempo (Lc.4:13).
- Já temos aprendido neste trimestre que, como diz o pastor Severino Pedro da Silva (Assembleias de Deus – Ministério do Belém - São Paulo/SP), “o inimigo insiste, persiste, mas não desiste”, mas que é possível afugentá-lo, desde que decidamos servir a Deus e nos entregar inteiramente nas mãos do Senhor. Foi o que fez Neemias que, deste modo, não mais teve negociantes e vendedores nas portas de Jerusalém no dia de sábado.
- Mas Neemias, como homem de Deus que era, sabia que não se poderia crer que o inimigo desistisse de seu intento. Por isso, apesar de não haver mais quem se aproximasse dos muros de Jerusalém no dia do sábado, tomou as devidas precauções e mandou que os levitas se purificassem e viessem guardar as portas para santificar o sábado (Ne.13:22).
- Mesmo quando resistirmos ao diabo e ele fugir de nós, não é para nos acomodarmos e vivermos da memória das vitórias que o Senhor nos proporcionou contra o inimigo no passado. Muito pelo contrário, devemos nos manter em santificação, devemos obedecer continuamente à Palavra e andarmos na luz, a fim de possamos, pela obediência e vida na luz, sermos alcançados pela contínua purificação do sangue de Cristo Jesus (I Pe.1:2; I Jo.1:7).
Neemias não pretendeu tratar do assunto apenas como um episódio, mas quis criar um sistema permanente que não permitisse que a profanação do sábado retornasse. Por isso, substituiu seus moços, que atuaram numa situação emergencial, por levitas que, regularmente, cuidariam da guarda das portas. Não basta tomarmos, nas igrejas locais, atitudes esporádicas, tópicas, para dissipar um determinado mal, mas criarmos comportamentos, ações que, de forma perene, venham a impedir a contaminação do povo de Deus com o pecado.
Após historiar estas providências tomadas, Neemias ora a Deus, pedindo que fosse lembrado por todas as ações tomadas e, o que é importantíssimo, pede a Deus perdão “segundo a abundância da benignidade de Deus” (Ne.13:22).
- Nestas suas palavras, Neemias mostra que, uma vez mais, tudo fez segundo a orientação divina, após orar ao Senhor para que fossem tomadas as medidas corretas. Sua prudência em todas as suas ações mostra claramente que era guiado pelo Espírito de Deus e que, por isso, tudo tinha sido resultado de muita oração. Têm as lideranças orado antes de tomar atitudes, mesmo que sejam atitudes necessárias diante do erro e do ingresso do pecado e do mundo nas igrejas locais?
- Mas, além de mostrar que tudo fizera por oração, Neemias também, ao pedir perdão ao Senhor, não está como que confessando algum pecado nas atitudes tomadas, que foram corretas e prudentes. Está a mostrar que, apesar de ser o governador que havia removido os abusos relativos à profanação do sábado, não era mais santo do que qualquer dos nobres de Judá que haviam consentido com aquelas aberrações.
- Neemias dá uma cabal demonstração de sua humildade e de seu reconhecimento de que só Deus é santo, só Deus é puro, só Deus é perfeito. Apesar de estar “do lado certo” neste assunto, nem por isso se sentia melhor do que os seus compatriotas. Por isso, no mesmo instante em que pede a Deus que Se lembrasse do bem que havia feito à santificação de Judá, também faz questão de declarar que, assim como os que haviam errado, ele também dependia da benignidade de Deus, ele também era homem e carecia do perdão de seus pecados. Que exemplo a ser seguido por nós, notadamente por aqueles que, equivocadamente, se acham “supercrentes”. Tomemos cuidado, amados irmãos! Todos nós somos falhos e precisamos da benignidade do Senhor.
- Mas foi este o último abuso que Neemias notou no meio do povo depois de seu retorno para Jerusalém? Não, ainda havia mais um, conforme haveremos de estudar na próxima lição.
Colaboração para o Portal Escola Dominical - Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco