LIÇÃO 12 – AS CONSEQUÊNCIAS DO JUGO DESIGUAL


4º Trim. 2011 - Lição 12: As Consequências do Jugo Desigual I
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
QUARTO TRIMESTRE DE 2011

TEMA –  Neemias – integridade e coragem em tempos de crise

COMENTARISTA :  Elinaldo Renovato de Lima


                                   A família deve ser construída segundo modelo bíblico pra que não haja prejuízo aos indivíduos e à sociedade.
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo do livro de Neemias, estudaremos a terceira e última parte do capítulo 13, quando Neemias remove o abuso dos casamentos mistos.
- Na ausência de Neemias, os judeus haviam retomado a prática dos casamentos mistos, gerando uma grande deformação que comprometia o futuro do povo de Judá na Terra Prometida.
I – A PROIBIÇÃO DOS CASAMENTOS MISTOS EM ISRAEL
- Conforme temos visto nas duas últimas lições, o capítulo 13 relata a deplorável situação que Neemias encontra quando retorna a Jerusalém para exercer seu segundo mandato de governador. Ao chegar, Neemias havia encontrado Tobias morando numa câmara grande no templo, como também a profanação do sábado, abusos que prontamente removeu.
- No entanto, a partir do versículo 23 do capítulo 13, Neemias dá conta de um outro abuso que se instalara durante a sua ausência, a saber, os casamentos mistos, que comprometiam a própria existência do povo judeu.
- Neemias afirma que, ao chegar a Jerusalém, viu também naqueles dias judeus que tinham casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas, cujos filhos falavam meio asdodita e não podiam falar judaico, senão segundo a língua de cada povo (Ne.13:23).
Este problema não surgira somente agora, quando Neemias retornava para seu segundo mandato de governador. Na verdade, anos antes, foi este um problema que havia sido detectado por Esdras quando fora mandado por Artaxerxes para ensinar a lei do Senhor.
- Com efeito, quando lemoso capítulo 9 do livro de Esdras, notamos que, assim que o escriba e sacerdote chegou a Jerusalém, doze anos antes da primeira chegada de Neemias, os príncipes disseram a Esdras que o povo de Israel, os sacerdotes e os levitas não se tinham separado dos povos daquelas terras, seguindo a sua abominação, casando com os gentios, misturando, assim, a semente santa com os povos das terras, tendo sido os príncipes e magistrados os primeiros naquela transgressão (Ed.9:1,2).
- Ao saber daquela situação, Esdras desesperou-se, rasgou seus vestidos e arrancou os cabelos da sua cabeça e da sua barba, ficando atônito, levando-o à oração intercessória ao Senhor e convencendo o povo a abandonar esta prática, ocorrendo um verdadeiro avivamento em Judá (Ed.9:3-10:44).
- No entanto, pelo que se extrai do texto sagrado, alguns judeus, que moravam entre os estrangeiros, não seguiram esta orientação, os mesmos judeus que foram instrumentos do inimigo durante a construção dos muros e portas de Jerusalém (Ne.4:12).
- O fato é que, ausentando-se Neemias de Jerusalém, estes judeus, que habitavam entre os estrangeiros, certamente estimulados pelo péssimo exemplo dado pelo sumo sacerdote Eliasibe, que se aparentou com Tobias e até lhe entregou a câmara grande do templo, vieram também morar em Jerusalém, com suas famílias mistas, cujos filhos nem sequer falavam a língua aramaica, então utilizada pelos judeus, falando meio asdodita, meio amonita e meio moabita, sendo um verdadeiro “corpo estranho” que estava a comprometer toda a espiritualidade do povo judeu.
O inimigo se infiltrara de forma sutil no meio do povo judeu após a ausência de Neemias. Primeiro, levara o sumo sacerdote Eliasibe a se aparentar com Tobias e, diante deste aparentar, criou laços que fizeram com que o serviço do templo se comprometesse e, desta maneira, toda a adoração a Deus ficasse prejudicada, fazendo cessar o culto ao Senhor.
- Em seguida, o inimigo também conseguiu que a principal marca de identificação do povo de Judá como povo de Deus, o sábado, fosse igualmente prejudicada, usando de estrangeiros que vinham enriquecer-se neste dia, arrastando após si também os judeus.
- Por fim, fez com que os judeus que habitavam entre os estrangeiros e que haviam se casado com os povos das terras, trouxessem de novo, para o meio de Judá, estas famílias mistas, totalmente descomprometidas com Deus e com a Sua lei, tanto que os filhos nem sequer falavam a língua utilizada pelo povo judeu.
- Com todas estas artimanhas, o inimigo estava a, mais uma vez, perseguir o seu alvo, que era tão somente o da destruição do povo judeu, que, caminhando como estava, em pouco tempo se misturaria com os povos das terras e perderia a sua identidade de “propriedade peculiar de Deus entre os povos”.
- Notamos, assim, que uma das mais importantes armas do inimigo para a destruição do povo de Deus é a destruição da família segundo o modelo estabelecido pelo Senhor. A família é uma instituição divina, criada pelo próprio Deus, para ser o ambiente propício para que o homem tenha comunhão com o seu Senhor (Gn.1:27,28; 2:18,21-24).
A família é a “célula mater” da sociedade, ou seja, não há sociedade, não há povo que se forme sem que seja por intermédio da família, que foi especialmente criada por Deus para ser o cerne, a base da própria humanidade, o ambiente pelo qual o homem pode cumprir o propósito estabelecido pelo seu Criador.
- Ora, se a família for destruída, se não for constituída segundo os parâmetros estatuídos pelo Senhor, não haverá como o homem cumprir os propósitos queridos por Deus a ele e, deste modo, toda a missão da humanidade estará comprometida e a perdição é certa. Não é por outro motivo que o inimigo do homem, o diabo, tem se esforçado para lançar seus dardos inflamados contra a família, pois, em um só golpe, atacará todo o projeto de Deus para o homem.
- Esta realidade foi bem percebida por Esdras, quando de sua vinda para Jerusalém, como bem observamos no teor da sua oração intercessória pelo povo. Esdras tinha consciência de que a mistura com os povos das terras e suas abominações por parte dos judeus era grave violação aos mandamentos do Senhor e comprometia toda a missão deixada a Israel pelo Senhor (Ed.9:11-15).
- Se a família é o ambiente estabelecido por Deus para que venhamos a cumprir os propósitos divinos para a humanidade, como podemos construir uma família sem observar a vontade do Senhor? Como podemos constituir uma família fora dos parâmetros estatuídos por Deus? Como poderemos criar um ambiente propício à adoração ao Senhor, se não Lhe formos obedientes na própria constituição da família?
- A lei de Moisés era claríssima quanto aos parâmetros que deveriam ser seguidos pelos judeus na constituição de famílias. Em Ex.23:32 e 34:15,16, o Senhor proibiu que os israelitas fizessem concerto com os povos das terras, e, principalmente, que houvesse casamento entre israelitas e gentios, visto que o casamento é um dos mais solenes concertos e comprometimentos que pode haver entre duas pessoas.
A razão de ser desta proibição não tinha qualquer base étnica. Não se estava aqui a defender uma “raça pura” ou uma superioridade da parte de Israel. O objetivo desta regra divina era estritamente espiritual: “ e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se após os seus deuses, façam que também teus filhos se prostituam após os seus deuses” (Ex.34:16).
- O Senhor mostrava a Israel que, a partir do momento que se formassem famílias entre israelitas e gentios, a mistura faria com que os israelitas deixassem de servir ao Senhor, porque, diante do compromisso estabelecido no casamento, certamente se envolveriam com os deuses dos povos das terras, deixando, pois, de servir a Deus e de ser “a nação sacerdotal e o povo santo” que os israelitas haviam se comprometido em ser na aliança do Sinai (Ex.19:5,6).
O casamento é uma “comunhão divina e humana entre um homem e uma mulher”, como definia o jurisconsulto romano Modestino (190-244). Trata-se, pois, de um compromisso assumido entre um homem e uma mulher que ultrapassa o mero aspecto biológico ou social, mas que atinge, também, o nível espiritual. É a forma que Deus estabeleceu para a formação da família (Gn.2:24) e, por isso, exige que ambos os cônjuges sejam comprometidos com o Senhor, para que se tenha o ambiente propício para a adoração ao Senhor.
- Os israelitas jamais poderiam ser “nação sacerdotal e povo santo” se o povo se estruturasse em casamentos mistos, em casamentos entre israelitas e gentios, visto que os gentios não serviam a Deus e, portanto, não podiam, de forma alguma, criar um ambiente para que o povo de Israel servisse ao Senhor e se constituísse em intermediários entre Deus e o restante da humanidade, fosse um povo separado para cultuar ao Senhor dentre as nações.
- Caso houvesse esta mistura, o próprio Deus denunciava que o resultado, a consequência seria que os filhos decorrentes destas uniões não serviriam a Deus, mas, sim, seriam levados à infidelidade e à idolatria, porquanto a mistura entre o santo e o imundo resulta em imundícia, jamais em santidade. Como diria séculos mais tarde o profeta Ageu: “se alguém, que se tinha tornado impuro pelo contato com um corpo morto, tocar nalguma destas coisas, ficará isso imundo? E os sacerdotes, respondendo, diziam: ficará imunda” (Ag.2:13).
- Em nossos dias, não é diferente. A Igreja, que é o povo de Deus nesta dispensação, não pode formar famílias com “os povos das terras”, pois, se o fizer, estará também abrindo uma importante brecha para que o inimigo de nossas almas se infiltre e prejudique grandemente a obra de Deus. O fato de a Igreja ser um povo espiritual em nada altera este parâmetro divino estatuído para as famílias, até porque as razões pelas quais se proíbem os casamentos mistos, como vimos, são razões de ordem espiritual e não étnica.
- A exemplo de Israel, a Igreja também deve ser um povo santo e sacerdotal (I Pe.2:9) e, portanto, não pode, também, permitir que suas famílias sejam constituídas por pessoas que não estão comprometidas com o Senhor. Os salvos devem casar-se apenas com outros salvos, criando, assim, o ambiente propício para que o nome do Senhor venha a ser glorificado em suas vidas. Afinal de contas, a Igreja, assim como Israel, é formada por famílias e já está presente nas famílias (Rm.16:5; I Co.16:19; Cl.4:15).
A história sagrada mostra claramente como os casamentos mistos foram extremamente danosos para Israel. O próprio Moisés, que se casara com Zípora, que era midianita, sofreu muitíssimo por causa deste casamento, a ponto de ter tido uma temporária separação de sua mulher, sem o que não conseguiria realizar a obra de libertação de Israel no Egito (Ex.4:20-26). Posteriormente, este casamento foi a raiz da sedição de Arão e Miriã contra o próprio Moisés, uma das mais graves crises enfrentadas por Moisés durante a sua liderança (Nm.12).
- Muitos têm comprometido seus ministérios, em nossos dias, por causa dos casamentos feitos fora da direção e orientação do Senhor, casamentos feitos com pessoas que, embora até pertencentes à comunidade social da igreja local, não são verdadeiros salvos, não pertencem à Igreja, já que não se converteram verdadeiramente. Tomemos cuidado com a formação de nossas famílias!
- O conselho dado por Balaão a Balaque que quase causou a destruição do povo de Israel foi, precisamente, o de levar os israelitas a formarem famílias com as moabitas (Nm.25), episódio que levou à morte de vinte quatro mil israelitas e que, inclusive, fez com que se proibisse a entrada de moabitas na casa do Senhor (Dt.23:4).
- Hoje em dia não tem sido diferente. Muitos “Balaãos” têm se levantado para trazer conselhos a agentes do inimigo e têm levado os salvos a se comprometer com pessoas não salvas na formação de famílias e em relacionamentos espúrios, causando grande estrago no meio do povo de Deus. Já há, inclusive, aqueles que defendem o “ficar gospel”, o relacionamento espúrio e pecaminoso entre supostos filhos de Deus, incentivando-os à práticas abomináveis aos olhos do Senhor e, com isso, levando muitos à morte espiritual, como nos dias do negócio de Baal-Peor. Vigiemos, amados irmãos!
- Outro triste episódio de indevido casamento misto na história de Israel vemos no relato do livro de Rute. Elimeleque e Noemi, sem a direção de Deus, por causa da fome na terra de Israel, mudam-se para Moabe, onde Elimeleque vem a falecer. Seus filhos, Malom e Quiliom, casam-se com mulheres moabitas, Rute e Orfa, e, quase dez anos depois, morrem em Moabe, sem conseguir a prosperidade almejada e sem sequer terem tido filhos (Rt.1:1-5). O resultado disto é que Noemi, nome cujo significado é “agradável, formosa”, ao retornar à sua terra, pediu para que fosse chamada “Mara”, cujo significado é “amarga”, pois, com esta situação, somente lhe veio amargura e aflição de espírito (Rt.1:20).
- Quantos assim também não têm procedido em nossos dias? Em busca de “satisfação”, formam famílias com pessoas que não pertencem ao povo de Deus, pessoas até que abominam a Deus ou praticam coisas que são abomináveis aos olhos do Senhor, como era o caso dos moabitas, resultando disto apenas morte espiritual e amargura de espírito. Deixemos de buscar o prazer imediato e a satisfação de necessidades imediatas para sermos felizes fazendo a vontade do Senhor.
- Outros casamentos mistos de consequências nefastas para o povo de Israel foram os casamentos políticos celebrados por Salomão. Desde o primeiro casamento, que foi com a filha de Faraó (I Rs.3:1), Salomão iniciou uma série de casamentos, que chegaram a setecentos, casamentos motivados por interesses políticos, mas que foram a desgraça tanto para o rei quanto para Israel (I Rs.11:1-13; Ne.13:26).
- Através destes casamentos, a idolatria, que havia sido extirpada de Israel, foi reintroduzida no meio do povo e, como resultado disto, tivemos não só a divisão de Israel em dois reinos mas, no limite, a perda da Terra Prometida, visto que foi a idolatria a principal causa tanto para a destruição do reino do norte (o reino de Israel, o reino das dez tribos), quanto o cativeiro da Babilônia para o reino do sul (o reino de Judá).
- Temos ainda os exemplos dos casamentos mistos realizados por Acabe, rei de Israel, que se casou com a famigerada Jezabel, filha do rei de Sidom (I Rs.16:31), que o tornou um adorador de Baal e cujo casamento levou quase todo o Israel para a apostasia, num dos períodos mais críticos da história de Israel. Este casamento foi tão nefasto que acabou por levar o rei de Judá, Josafá, a casar seu filho Joerão com uma das filhas de Acabe, Atalia (I Rs.18:1; II Rs.8:18), casamento este que, além de ter desvirtuado Jeorão, tornando-o um péssimo rei para Judá (I Rs.21:1,20), também gerou outro rei muito ruim, Acazias (II Cr.22:2,3), também pôs em sério risco a própria descendência de Davi à frente do povo de Judá, o que significou o próprio risco da ascendência de Cristo (II Cr.22:10). Quantos males causa um casamento misto!
- Hoje também não é diferente. Os casamentos mistos trazem a destruição da Igreja, mesmo efeito que tem ocorrido com a proliferação de divórcios que hoje contagia o povo de Deus. Não há mais eficaz arma para se retirar a santidade das igrejas locais, não há mais poderoso instrumento para comprometer o povo de Deus com o pecado e o mundo. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Razão sobeja tinha Esdras, pois, para, ao encontrar a situação dos casamentos mistos quando de sua vinda a Jerusalém, ter se desesperado, intercedido e levado o povo que habitava nas cidades de Judá a se reconciliar com Deus.  Agora era a vez de Neemias se deparar com esta situação.
II – NEEMIAS REMOVE O ABUSO DOS CASAMENTOS MISTOS
- Por volta de vinte e quatro anos haviam se passado desde que Esdras levara o povo a abandonar a prática dos casamentos mistos, mas o fato é que, com a ausência de Neemias e o próprio aparentar de Eliasibe com Tobias (Ne.13:4), os judeus que habitavam os estrangeiros vieram para Jerusalém e, juntamente com ele, suas famílias constituídas fora dos parâmetros previstos na lei do Senhor, mediante casamentos mistos com asdoditas, amonitas e moabitas (Ne.13:23).
- O quadro visto por Neemias era trágico. Os filhos destes casamentos mistos não eram judeus, pois nem sequer falavam “judaico”, que era a língua aramaica, mas, sim, falavam meio asdodita ou, ainda, a língua de cada povo com que os judeus haviam se misturado.
- Isto nos mostra claramente que, na constituição de uma família com uma pessoa que não serve a Deus, o salvo nunca imprimirá no “modus vivendi” da família aquilo que é desejável pelo Senhor. Não nos iludamos: quando um salvo se casa com alguém perdido, a sua família será perdida. A mistura entre um santo e um ímpio jamais resulta em santidade, mas, sim, em impiedade.
- Alguém poderá dizer que tal assertiva não teria amparo bíblico, visto que o apóstolo Paulo afirma que, num casal misto, teríamos que “os filhos seriam santos e não, imundos” (I Co.7:14). Como explicar isto?
- Por primeiro, temos que o caso tratado pelo apóstolo Paulo não se refere a casamentos mistos como os aqui tratados. Aqui, estamos a tratar de casamentos em que pessoas salvas, desobedecendo ao Senhor, casam-se com ímpios. Paulo está a tratar de pessoas que, sendo ímpias, casaram-se com ímpios mas que, posteriormente, se converteram ao Senhor (I Co.7:12,13). Era a situação vivida em Corinto. Paulo está a explicar que o fato da conversão não significa, em absoluto, permissão para abandonar o cônjuge.
OBS: Já houve quem, há alguns anos, para justificar seu próprio adultério, chegou a defender que é preciso “reavaliar os casamentos feitos durante a incredulidade” e que seria “justo abandonar o vinho velho e buscar um vinho novo”. Fujamos deste conselho de Balaão!
- Por segundo, o apóstolo Paulo está a ensinar que, diante da conversão de um dos cônjuges, passa a ser ele elemento de santificação do lar, inclusive dos filhos, ou seja, como “sal da terra” e “luz do mundo”, o cônjuge que se converteu passa a ser um instrumento de Deus na família que já constituíra antes, no tempo de sua incredulidade, motivo pelo qual não poderá ele querer se ausentar da família só porque alcançou a salvação, mas deve agir de forma a levar os demais integrantes da família para Deus.
- O que estamos a tratar aqui, porém, é de algo totalmente diverso, o de um salvo que, deliberadamente, resolve contrair união com um ímpio, com um incrédulo. Este casamento é um verdadeiro “jugo desigual”, pois alguém que está na luz vai formar o mais solene e sério compromisso de vida sobre a face da Terra com alguém que vive nas trevas, o que, certamente, além de não ser agradável a Deus, constituirá num comprometimento que trará seríssimos prejuízos espirituais.
- O apóstolo Paulo, ademais, neste mesmo ensino aos coríntios a respeito do casamento, reafirma o que já fora determinado na lei de Moisés, ao mandar que os salvos se casassem “no Senhor”  (I Co.7:39), ou seja, segundo os parâmetros estabelecidos por Deus, o que envolve a existência de comunhão entre os cônjuges e Deus.
- Foi o que viu Neemias ao contemplar aquelas famílias. Os filhos nem sequer sabiam falar judaico, eram verdadeiros gentios, não conhecendo a Deus e não tendo nada que ver com os judeus (I Ts.4:5).
- Se após a morte da geração da conquista da Terra Prometida, a simples negligência no ensino da lei do Senhor fez que com surgisse uma geração que desconhecia ao Senhor, com graves consequências para o povo de Israel (Jz.2:10-13), que dirá de famílias que já foram constituídas com pessoas estranhas ao concerto de Israel e que nem sequer a língua do povo judeu ensinaram aos seus descendentes?
Os casamentos mistos são um instrumento poderosíssimo na mão do inimigo para retirar a identidade do povo de Deus, para impedir a sua continuidade. Uma das funções primordiais do casamento é o de propiciar a perpetuação da espécie humana e a mistura entre salvos e ímpios no casamento é a garantia que tem o adversário de nossas almas de que a próxima geração seja completamente ignorante das coisas de Deus, esteja inevitavelmente comprometida e envolvida com o pecado.
- Assim, ao contrário do caso tratado pelo apóstolo Paulo, que diz que a pessoa salva se torna instrumento de santificação de seus filhos num lar que, outrora, era composto apenas por ímpios, o salvo que se casa com um ímpio se torna um instrumento de geração de filhos do diabo, um instrumento de “imundificação”. Podemos, como filhos de Deus, ser geradores de “filhos do diabo”? Evidentemente que não!
- Além dos filhos nascidos destes casamentos mistos não serem salvos, mas perdidos, também os próprios salvos que se uniram a pessoas ímpias acabam sendo igualmente levados à perdição. Nos exemplos trazidos da história sagrada, bem percebemos que os santos, entrando em comunhão com os ímpios, tornam-se ímpios, como nos ensina Ag.2:13. Afinal de contas, quando alguém se aproxima de uma pessoa doente, torna o doente são ou fica doente como ele? Logicamente que fica doente. Ninguém transmite saúde para outrem, apenas transmite doença.
- Moisés, para realizar a obra que Deus lhe dera, teve de ser apartado de sua mulher, sem o que sucumbiria espiritualmente. Os israelitas que se envolveram com as moabitas foram mortos. Malom e Quiliom morreram em Moabe. Salomão, como afirmou o próprio Neemias (Ne.13:26), foi levado ao pecado por causa de suas mulheres e, embora tenha alcançado a misericórdia do Senhor (II Sm.7:14,15), não impediu a destruição do reino (I Rs.11:11) e a perdição de seu filho Roboão (I Rs.14:21-24).
Verificando esta situação, Neemias, então, contendeu com os judeus, a fim de que eles cessassem estes casamentos mistos, voltando a servir ao Senhor. Quando Neemias diz que contendeu com os judeus, isto nos mostra que houve grande resistência para a mudança deste “modus vivendi”.
OBS: A palavra hebraica empregada aqui é “riyb” (ריב), cujo significado é “contender”, “esforçar-se”, “empenhar-se com”, “queixar-se”, “disputar”, dando, pois, a entender uma ação persistente e continuada com grande oposição.
Não é fácil lidar com assuntos familiares no meio do povo de Deus, pois, sendo a “célula mater” da sociedade e, por conseguinte, da própria igreja local, o enfrentamento de problemas na família leva a uma remoção de malfeitos nas próprias raízes do relacionamento. É por isso que o inimigo quer se infiltrar nas famílias, pois, assim, torna-se muito mais difícil a obra de restauração.
- No entanto, Neemias não desistiu diante da resistência apresentada pelos judeus. É interessante observar que, se com Tobias e os estrangeiros que profanavam o sábado, Neemias tratou logo de despejar e fechar as portas de Jerusalém, não fazendo caso de extirpar este povo do convívio de Jerusalém, com os seus compatriotas, Neemias assim não procedeu. Tratava-se de judeus e, portanto, de parte do povo de Deus, motivo pelo qual ele não poderia deles se desfazer.
- Temos de ter cuidado ao tratar de problemas, ainda que graves como era o dos casamentos mistos, que dizem respeito a pessoas salvas, ainda que em desobediência como era o caso dos que haviam celebrado casamentos mistos. Neemias sabia que estava a lidar com o “povo de Deus” e não podemos lançá-los fora, se formos realmente “bons pastores” (Jo.10:11,12). Quem deixa as ovelhas se espalharem são os mercenários, não os pastores. O Senhor julgará severamente os pastores que procederem de modo negligente e não tomarem conta das ovelhas do Seu rebanho (Ez.34:1-10; Hb.13:17). Tomem cuidado, pastores!
- Neemias não podia simplesmente “descartar” os judeus que haviam contraído aqueles casamentos mistos e, por isso, começou a contender com eles, a fim de convencê-los a abandonar estes casamentos mistos e a voltar para o pleno convívio com o povo de Deus e com o próprio Deus, passando a servi-l’O, o que não estava mais a ocorrer, precisamente o que fora feito quase um quarto de século antes por Esdras (Ed.10:3).
- Em nossos dias, entretanto, a solução para tais problemas não é o abandono do cônjuge descrente e dos filhos. A solução dada por Esdras e, posteriormente, por Neemias, era uma decisão “conforme a lei” (Ed.10:3 “in fine”). Agora, já não estamos mais debaixo da lei, mas, sim, da graça.
- E o que manda a graça? O Senhor Jesus bem nos ensinou como deve ser tratado o casamento segundo a graça, ou seja, o pleno restabelecimento do que era “desde o princípio” (Mt.19:1-9), ou seja, o casamento jamais pode ser desfeito a não ser que tenha ocorrido a “porneia”, ou seja, a “impureza sexual” e tal impureza seja tal que não há como se continuar servindo a Deus e se manter casado sem que haja a participação no pecado do cônjuge impuro (I Co.6:15-20).
Não é possível, diante do cometimento do erro do casamento misto, que o cônjuge salvo simplesmente abandone o cônjuge ímpio e os filhos decorrentes deste casamento “para servir a Deus”, como, equivocadamente, chegou a ser defendido e realizado décadas atrás por alguns menos avisados. Na graça, com o pleno restabelecimento da vontade de Deus para com a família, temos de venerar o matrimônio e o leito sem mácula (Hb.13:4 “in initio”).
- Precisamos, diante de tais erros, pedir a misericórdia do Senhor e suportar todas as consequências do erro cometido, buscando respeitar a instituição do casamento e se esforçar para que, como resultado de uma vida piedosa, sóbria e justa, venha o cônjuge salvo, devidamente reconciliado com o Senhor e com a Igreja, tornar-se luz do mundo e sal da terra em sua própria casa, levando o cônjuge ímpio à salvação, bem como criando condições e mecanismos para a devida doutrina dos filhos, o que, sabemos, não é nada fácil, mas não é impossível (Mt.19:26; Mc.9:23).
- A resistência não foi pequena. Neemias teve até de amaldiçoá-los, de espancar alguns deles, arrancar-lhes os cabelos e os fazer jurar por Deus de que não mais dariam seus filhos a gentios, nem tomariam gentios para seus filhos (Ne.13:25).
- Quem olha para tais atitudes de Neemias chega a surpreender-se e até a recriminar o gesto do governador, que parece ser cruel e desumano. No entanto, esta aparência é enganosa. Senão vejamos.
- Por primeiro, vemos que Neemias podia simplesmente expulsar os judeus recalcitrantes, mandá-los para as terras estrangeiras. Se o fizesse, Neemias não seria um verdadeiro “pastor”, mas um “mercenário”, e, certamente, estaria sob a reprovação divina, como já vimos no texto supramencionado do profeta Ezequiel.
- Por segundo, vemos que Neemias podia simplesmente mandar matar os judeus, tomando, inclusive, o exemplo do caso de Baal-Peor, mas, assim agindo, também não estaria a cumprir a vontade de Deus, pois, embora tivesse “jurisprudência” a seu favor, seu ministério não era o de destruir o povo de Judá, mas, precisamente o contrário, era o de restaurá-lo para que ele pudesse tornar a servir a Deus e aguardar a vinda do Messias.
- Por terceiro, temos de entender que se estava no tempo da lei e de uma cultura totalmente diversa da nossa. O que para nós hoje significa uma “violação dos direitos humanos”, uma “demonstração de crueldade”, nos dias de Neemias era o estrito cumprimento da lei então vigente, o regular exercício da autoridade de que Neemias fora legitimamente investido não só pelo rei Artaxerxes mas pelo próprio Deus.
- Assim, o fato de Neemias ter espancado alguns judeus recalcitrantes ou lhes ter arrancado os cabelos não era, à época, exercício de uma violência injusta, mas a aplicação de castigos devidamente previstos na lei, tanto a lei persa quanto a lei de Moisés, o devido castigo que as autoridades não só podem mas devem aplicar aos desobedientes e perturbadores da ordem pública (Rm.13:1-4).
- Observemos, a propósito, que Neemias, como um verdadeiro e autêntico homem de Deus, aplicou castigos corporais, mas não levou ninguém à morte, prova de que este tipo de pena não é da vontade do Senhor, pois só Deus é o dono da vida e só Ele pode aplicar tal pena, como, aliás, foi estabelecido pelo Senhor quando da aliança firmada com Noé após o dilúvio (Gn.9:5).
- Por quarto, a aplicação de castigo aos judeus recalcitrantes não tinha outro objetivo senão a correção, era uma demonstração de amor de Neemias aos desobedientes, uma forma de repreensão e de pressão para que houvesse a retomada da vida correta e de acordo com a vontade do Senhor, o que também Deus faz em relação a nós (Hb.12:5-11), tanto que, após serem espancados ou terem seus cabelos arrancados, acabam por jurar ao Senhor que não mais permitiriam a realização de casamentos mistos, ou seja, arrependiam-se e assumiam compromisso solene de servir a Deus (cf. Ne.10:29).
Há instantes que, no exercício do amor, é preciso que haja a aplicação de castigo, a aplicação de penalidades aos que resistem à observância da Palavra do Senhor. O amor envolve, conforme já vimos, a aplicação de disciplina, não sendo, pois, possível viver-se no meio do povo de Deus sem esta prática.
- Lamentavelmente, nos dias hodiernos, o inimigo tem conseguido convencer muitos dos pastores a não serem enérgicos nem exercerem a disciplina e o resultado disso é que os filhos de Deus se tornam bastardos, pessoas sem disciplina e sem compromisso para com o Senhor.
- Neemias buscou, primeiro, contender com os judeus, convencê-los do grande erro que era a prática dos casamentos mistos, mas, diante da resistência desmedida de alguns, teve de partir para a aplicação do castigo, sem qualquer intuito senão o da correção, o do arrependimento dos mais resistentes. Assim devem proceder, também, os que estão à frente do povo de Deus.
- Neemias, também, não aplicou o castigo tão somente, mas explicou a gravidade da violação dos mandamentos do Senhor, citando, inclusive, o exemplo de Salomão para o povo e as nefastas consequências de se tomar “mulheres estranhas” na formação das famílias, o que Neemias chamou de “grande mal” e de “prevaricação contra o Senhor” (Ne.13:27).
- Deus não mudou, amados irmãos! Por isso, os casamentos mistos continuam a ser um “grande mal” e uma “prevaricação contra o Senhor”. Conscientizemo-nos disto e ensinemos nossos jovens a respeito desta verdade bíblica, para que não haja a formação de famílias que gerem pessoas totalmente descomprometidas com Deus.
- Com relação, porém, a uma pessoa, Neemias não agiu desta maneira. Com relação a um dos filhos de Joiada, filho de Eliasibe, o sumo sacerdote, que havia se casado com uma filha de Sambalate, o horonita, o governador usou da aplicação do exílio, expulsando-o de Jerusalém (Ne.13:28 NVI, BJ).
- Por que Neemias não procurou manter o filho de Joiada no meio do povo? Porque ele era neto de Eliasibe, ou seja, era alguém destinado ao sumo sacerdócio e não se poderia ter um sumo sacerdote casado com uma mulher estrangeira. As regras da lei em relação ao sumo sacerdote eram mais rigorosas que para com os demais judeus (Lv.21:13-15) e o filho de Joiada, que Flávio Josefo diz que se chamava Manassés (Antiguidades Judaicas XI, 7, 448), havia, pois, transgredido tal mandamento, ficando, assim, totalmente impossibilitado de se manter no meio do povo, o que tornava a sua expulsão obrigatória.
- Vemos, pois, claramente, que, na aplicação do castigo, deve-se levar em conta a chamada “proporcionalidade”, mediante a qual àqueles que mais for dado, mais deverá ser cobrado (Lc.12:48). Quanto mais destaque tiver a pessoa no meio do povo de Deus, maior deve ser o castigo, a fim de que haja temor no meio do povo de Deus, a fim de que haja a devida aplicação de justiça. Os que têm direito à duplicada honra, têm, também, de sofrer pena dobrada (I Tm.5:17-20).
- Neemias justifica a expulsão do filho de Joiada ao afirmar que ele havia contaminado o sacerdócio, como também o concerto dos sacerdotes e levitas (Ne.13:29). O filho de Joiada havia não somente se desqualificado para exercer o sumo sacerdócio, como também afrontado o solene compromisso que havia sido firmado quase um quarto de século antes sob a direção de Esdras.
- Quando um salvo, que é sacerdote e rei pelo sangue de Cristo (Ap.1:5,6), deliberadamente contrai núpcias com uma pessoa estranha, alheia ao senhorio de Cristo, ainda que esteja no meio dos salvos, ainda que seja integrante da igreja local, está a contaminar o sacerdócio recebido da parte do Senhor, está a quebrar o concerto de fidelidade assumido publicamente quando de seu batismo nas águas, e o resultado outro não é senão o distanciar-se da presença do Restaurador, de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Que Deus tenha piedade de nós, amados irmãos!
- O objetivo de Neemias ao remover mais este abuso era o de “alimpar o povo de todos os estranhos”e, desta maneira, poder designar os cargos dos sacerdotes e dos levitas, cada um na sua obra, como também para as ofertas da lenha em tempos determinados e para as primícias (Ne.13:30).
- Neemias é bem claro ao mostrar que, sem que houvesse a remoção dos cônjuges estranhos, sem que as famílias dos sacerdotes fossem limpas, não poderiam eles exercer as suas funções, nem tampouco se poderia restaurar o altar do sacrifício, em que os pecados do povo eram cobertos, pois não se poderia sequer obter a lenha para se manter o fogo ardendo continuamente sobre o altar (Lv.6:9-13).
- Esta constatação de Neemias é de importantíssima aplicação espiritual para nós, que vivemos na dispensação da graça. Sem que tenhamos uma família sadia, purificada e construída segundo os parâmetros do Senhor, jamais poderemos ter, em nossas casas, o indispensável altar para a adoração ao Senhor, para a comunhão com Deus.
O fogo do altar que deve arder continuadamente em nossas vidas, em virtude do sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário, não é para que venhamos a oferecer sacrifícios ao Senhor por nossos pecados, sacrifício já realizado por Cristo, mas para que mantenhamos uma vida de comunhão com Ele, para que nos santifiquemos a cada dia até que cheguemos à glorificação, seja pela ressurreição se morrermos antes do arrebatamento da Igreja, seja pela transformação no dia do arrebatamento.
- Os romanos denominavam de “lar” ao compartimento de suas casas em que ofereciam sacrifícios e cultuavam a seus antepassados, o lugar mais sagrado de suas residências. A nossa família deve, também, ser um “lar”, o local onde cultuamos a Deus, onde O adoramos em espírito e em verdade.
- Entretanto, se constituirmos casamento fora da direção do Senhor, se nos unirmos com pessoas estranhas ao nosso compromisso com Deus, jamais poderemos ser designados para ofertas de lenha em tempos determinados nem para as primícias, ou seja, jamais poderemos ter uma vida de comunhão com Deus, jamais poderemos exercer o nosso sacerdócio. As famílias formadas pelos casamentos mistos, os casamentos de “jugo desigual” jamais poderão ser locais onde Deus tenha a prioridade, a primazia.
- Da mesma forma que, nos casamentos mistos, não há a menor possibilidade de se construir uma vida de adoração a Deus, também a falta de um contínuo arder do fogo do altar leva a família à apostasia. De nada adianta o casamento ser entre dois salvos, no Senhor, se, ao longo da vida familiar, a casa deixar de ser um altar para ser um local onde toda abominação ingressa, onde o mundo passa a dominar.
- Nos dias em que vivemos, muitos lares já não mais servem para cultuar a Deus, até porque não há mais culto doméstico, a família já não mais se reúne em volta de Cristo Jesus para O adorar e O louvar. Em vez disso, as poucas reuniões passam a ser em volta de atividades que desagradam profundamente a Deus, como a assistência a imorais programas de televisão (em especial, as famigeradas telenovelas), quando não a filmes e tantas outras coisas trazidas pelos mais diferentes meios modernos de telemática.
- Neemias ensina-nos que não há a menor possibilidade de cultuarmos a Deus, mantermos uma vida contínua de adoração a Ele se nos deixarmos envolver com o mundo e fazermos de nossas famílias não o ambiente propício para a adoração a Deus, mas o ambiente em que o inimigo faz a sua indevida e destruidora infiltração.
Removendo este último abuso, pôde Neemias concluir a obra de restauração do povo de Judá, concluindo o seu ministério e, como era um homem de fé, sabia que o Senhor dele se lembraria para bem (Ne.13:31). Temos, também, esta confiança, esta convicção?
Colaboração para o Portal Escola Dominical - Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco