LIÇÃO 13 – A INTEGRIDADE DE UM LÍDER


4º Trim. 2011 - Lição 13- A integridade de um líder I
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
QUARTO TRIMESTRE DE 2011

TEMA –  Neemias – integridade e coragem em tempos de crise

COMENTARISTA :  Elinaldo Renovato de Lima


             Neemias é modelo bíblico de liderança a ser seguido pelos líderes na Igreja.
INTRODUÇÃO
Na conclusão deste trimestre, em que estudamos o livro de Neemias, veremos um resumo do perfil de Neemias, o líder levantado por Deus para a restauração do povo judeu até a vinda do Messias.
Neemias é um modelo bíblico de liderança a ser seguido pelos líderes na Igreja.
I – NEEMIAS, UM LÍDER TEMENTE A DEUS
- Chegamos ao término do trimestre e do ano letivo e, ao terminarmos o estudo do livro de Neemias, veremos um perfil deste grande homem de Deus, que foi usado pelo Senhor para restaurar o povo judeu a fim de que pudesse ele subsistir até a chegada do Messias, até porque a ordem para a reedificação de Jerusalém foi o marco inicial das “setenta semanas de Daniel” (Dn.9:25).
- Ao longo do trimestre, enquanto estudávamos o livro de Neemias, por algumas oportunidades tivemos ocasião de registrar algumas qualidades deste homem de Deus, notadamente em relação à sua liderança, de modo que temos, nesta derradeira lição, praticamente a missão de condensar tudo quanto se disse a respeito deste aspecto.
- É interessante observar, de início, que, já quando o povo de Israel saiu do Egito, seguindo um conselho de seu sogro Jetro, Moisés elencou quais deveriam ser as características dos líderes no meio do povo de Deus. Para liderar, era necessário que os homens fossem “capazes, tementes a Deus, homens de verdade e que aborreçam a avareza” (Ex.18:21). Neemias preencheu todos estes requisitos, o que demonstra porque foi exitoso em seu governo diante do povo de Judá.
- O primeiro ponto que queremos destacar na vida de Neemias é o fato de ser “temente a Deus”, pois este é um ponto fundamental na vida de qualquer líder no meio do povo de Deus. Para que alguém possa liderar com êxito na Igreja, faz-se absolutamente necessário que, antes de mais nada, seja um liderado do Senhor, ou seja, alguém que tema a Deus, ou seja, que seja obediente e reverente ao Senhor.
- Neemias era extremamente temente ao Senhor, como podemos observar ao longo do livro que leva o seu nome. A narrativa mostra-nos que, antes de mais nada, Neemias era um homem de oração.
- Desde o instante em que Neemias surge no livro (Ne.1:4) até o momento do término da narrativa (Ne.13:31), encontramos Neemias orando. Neemias, antes de tomar qualquer decisão, orava a Deus e, posteriormente, após ter tomado a decisão, voltava a orar a Deus.
- Quando alguém teme ao Senhor, tem o máximo interesse em agradar a Deus, em tudo fazer segundo a orientação divina, a fim de que tenha certeza de que está a obedecer ao Criador em todas as atitudes. Cristo deixou-nos este exemplo, sendo obediente até a morte (Fp.2:8).
- Ora, não há outro meio pelo qual saibamos precisamente o que Deus quer, a fim de Lhe sermos obedientes e reverentes, senão pela oração, ação pela qual nós mantemos um diálogo constante com o Senhor, passando a ter cada vez maior intimidade com Ele. O verdadeiro líder no povo de Deus tem de ser um homem de oração, um homem que tenha intimidade com o Senhor.
- Samuel, o último juiz de Israel, mostra-nos a grande importância da oração na liderança, pois, tendo resignado o seu cargo, disse ao povo que não poderia deixar de interceder por ele, sob pena de vir a pecar (I Sm.12:23). A oração é tão importante para o líder que, mesmo depois de ter deixado de exercer as funções de liderança, deve continuar a orar pelo povo.
- O Senhor Jesus, antes de revestir de poder os Seus discípulos, de modo a que pudessem iniciar a obra da evangelização, fez-lhes orar por sete dias ininterruptos, a nos demonstrar claramente que não há como se constituir líderes na Igreja sem que se tenha uma vida de oração.
- Lamentavelmente, nos dias em que vivemos, muitos que se dizem líderes no meio do povo de Deus não têm uma vida de oração. Recentemente, em seu livro “De pastor para pastor”, o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes deu notícia de uma pesquisa em que o tempo médio de oração diária dos pastores no Brasil não passa de quinze minutos, ou seja, um quarto do tempo mínimo considerado pelo próprio Senhor Jesus (Mt.26:40)! Não espanta, pois, o quadro trágico em que se encontra a Igreja em nosso país na atualidade…
Além de ser um homem de oração, Neemias também praticava o jejum. Logo no limiar da narrativa, vemos Neemias jejuando e orando a Deus (Ne.1:4), sendo certo que também participou, junto com o povo, daquele jejum coletivo que os levou ao arrependimento e confissão de pecados (Ne.9:1).
- O líder deve ser alguém que não só tem uma vida de oração, mas que também se consagra a Deus periodicamente, a fim de que tenha maior intimidade com o Senhor e mais poder vindo dos céus. Infelizmente, nos dias hodiernos, muitos têm trocado o jejum pela participação assídua em banquetes onde reinam os deleites cotidianos e onde recebem o galardão da injustiça (II Pe.2:13)…
Outro aspecto que nos mostra que Neemias era temente a Deus é o seu conhecimento das Escrituras, algo que, nos tempos de Neemias, não era tão simples assim, ainda mais que Neemias não era sacerdote nem escriba e, como sabemos, havia nascido na diáspora, isto é, fora da terra de Israel.
- Em sua oração intercessória pela situação lamentável de Jerusalém, logo no primeiro capítulo, Neemias mostra ter pleno conhecimento da história sagrada, como também da lei do Senhor (Ne.1:6-9). Ao longo da narrativa, vemos que Neemias tomava decisões em pleno acordo com o que constava tanto na lei quanto nos escritos sagrados posteriores, como, por exemplo, no episódio do despejo de Tobias (Ne.13:1,7,8) ou na designação de cantores e levitas para o templo (Ne.12:44-46), prova de que era um exímio conhecedor da revelação divina a Israel.
- O conhecimento das Escrituras é um requisito “sine qua non” para que alguém possa liderar o povo de Deus. A Bíblia Sagrada é a revelação de Deus ao homem e não há como alguém que queira liderar o povo de Deus seja uma pessoa que não conheça o que Deus quer do homem.
- Da mesma maneira que a oração nos mantém um diálogo com o Senhor, a partir do homem, o conhecimento da Bíblia Sagrada é, também, uma forma de conhecermos a Deus e sabermos a Sua vontade, só que a partir da iniciativa do próprio Deus, que quis revelar-Se ao homem por intermédio das Escrituras.
- O líder tem de ser um conhecedor da Palavra de Deus, sem o que não poderá estar à frente do povo ( e é isto que significa “presidir”). Como pode alguém guiar outro na senda espiritual se não tem visão espiritual? Ora, a visão espiritual, o enxergar espiritual só é possível por intermédio da “lâmpada” e da “luz”, que é a Palavra do Senhor (Sl.119:105).
- Nos dias em que vivemos, por incrível que pareça, estamos diante de uma situação lamentável, onde muitos líderes são verdadeiros “analfabetos bíblicos”. Apesar do aumento da escolaridade do povo de Deus, apesar da disseminação do ensino teológico, as Assembleias de Deus vivem um momento crítico de “analfabetismo bíblico”, a começar dos que líderes querem ser.
- É triste dizermos isto, mas é pura realidade: os “analfabetos” que eram obreiros no início da história de nossa denominação eram muito mais “eruditos” biblicamente falando do que os “doutores em divindade” de nossos dias. Vivemos um instante de profundo desconhecimento bíblico por parte daqueles que querem liderar que, apesar de ostentarem “diplomas” e “anéis no dedo”, nada conhecem de Bíblia, até porque a esmagadora maioria das “escolas teológicas” não passam de “balcões de vendas de diplomas”, que não deixam coisa alguma a desejar em relação ao medíocre e lastimável estado da educação secular em nosso país, que é uma das piores do mundo.
- Como prova disso é que a esmagadora maioria dos que líderes se dizem ser em nosso país não são (e muitos nunca foram) alunos da Escola Bíblica Dominical e também pouco frequentam as reuniões de ensino na igreja local (salvo quando são os “ensinadores”). Como Neemias era diferente…
- Como se não bastasse isso, Neemias também sempre mostrou ter interesse em que o povo conhecesse a sua história e o teor das Escrituras, tanto que mandou ler o livro das genealogias (Ne.7:5), como também a própria lei do Senhor, sempre que tinha necessidade de tomar decisões baseadas nas Escrituras (Ne.13:1), pois, como bom líder, não queria “ser rei por ter um olho em terra de cegos”, mas que o povo compreendesse a revelação divina, que o povo também fosse conhecedor da Palavra de Deus.
- Para tanto, Neemias não trouxe qualquer objeção, mas antes incentivou, a leitura da lei do Senhor por Esdras, leitura esta que fez o povo adquirir um novo patamar espiritual diante de Deus, o que gerou não só o avivamento e o arrependimento e confissão de pecados, mas também a própria disposição do povo em se comprometer a servir ao Senhor.
- Esdras, que viera treze anos antes de Neemias, havia se dedicado à preparação dos levitas e sacerdotes na lei do Senhor, mas o governador “popularizou” esta instrução, tendo um papel fundamental para enraizar no povo judeu o zelo pela observância da lei, característica que vemos até os dias de hoje e que é responsável pela preservação da identidade judaica ao longo dos séculos. Sem esta decisão de Neemias, Judá correria o risco de ser assimilado pelos demais povos, o que seria catastrófico para a humanidade, já que a salvação vem dos judeus (Jo.4:22).
- O líder temente a Deus quer que todo o povo também tema ao Senhor. O líder temente a Deus sabe que o povo é de Deus e não dele, e, por isso, não quer fazer da ignorância uma arma de dominação, pois sabe que não pode dominar, mas, sim, deve apascentar este povo (I Pe.5:2,3).
- O líder temente a Deus faz de tudo para que haja mestres no meio do povo de Deus, incentiva-os, a fim de que o povo possa bem conduzir-se na sua vida espiritual, a fim de que a obra de Deus possa ser eficazmente realizada. O pastor, além de ser necessariamente um mestre (I Tm.3:2), tem de estimular e prestigiar os mestres que, nem sempre, necessariamente terão de ser pastores.
- Nos dias em que vivemos, porém, o “espírito de dominação” paira em muitos lugares e os que líderes se dizem ser buscam, de todas as maneiras, manter os liderados sob o manto da ignorância bíblica, até porque, em alguns casos, são eles próprios ignorantes ou, o que é pior, pessoas que já abandonaram a sã doutrina e que querem agora ter pessoas à sua volta e não mais em torno de Cristo Jesus (At.20:30). São cegos que guiam outros cegos e que cairão ambos na cova da perdição (Mt.15:14).
- Não é de se admirar, portanto, que muitos líderes hodiernos estejam a retirar a Bíblia Sagrada das mãos dos liderados, substituindo-a por “visões”, “revelações” e tantas outras invencionices, sendo também impiedosos perseguidores dos mestres que o Senhor levanta no meio do povo, sendo desestimuladores, quando não aniquiladores de atividades como a Escola Bíblica Dominical e o culto de doutrina.
Neemias também demonstrou ser temente a Deus ao pôr Deus como prioridade em sua vida e fazer o povo assim entender. Lembremos de que ele era um governador civil e que, portanto, a princípio, sua missão era reedificar a cidade de Jerusalém e organizar a administração daquela região, algo importantíssimo num império que passou para a história como um exemplo de administração como era o Império Persa. No entanto, tudo quanto fez levava em conta o fato de que Judá era “a propriedade peculiar de Deus dentre os povos”, de forma que tinha plena consciência de que toda a administração devia estar voltada para criar condições para que o povo pudesse amar a Deus sobre todas as coisas.
- Neemias, pois, assim que terminou a reconstrução dos muros e das portas de Jerusalém, tratou não só de organizar o serviço do templo, como também criar critérios seletivos para a povoação de Jerusalém, de modo que a população fosse piedosa e pusesse Deus acima de todas as coisas.
- Neemias, pois, sempre incentivou as iniciativas do povo de buscar adorar a Deus, de cultuá-lo, prestigiando não só a leitura da lei por Esdras, como também a celebração da Festa dos Tabernáculos e, depois, o ajuntamento espontâneo que redundou no arrependimento e confissão dos pecados e no solene compromisso de observância da lei (Ne.8-10).
- Ao retornar em seu segundo mandato, Neemias, também, fez questão de dar conhecimento do teor da lei para o povo (Ne.13:1), antes de remover os abusos relacionados com a presença de Tobias na câmara grande do templo, com a profanação do sábado e com os casamentos mistos, a fim de que o povo tivesse ciência de que não estava ali o governador simplesmente a usar de seus poderes civis, mas, precipuamente, a cumprir a vontade de Deus.
- Como se não bastasse isso, o próprio Neemias convocou o povo para a cerimônia de dedicação dos muros de Jerusalém (Ne.12:27-43), num gesto em que, uma vez mais, mostra que a prioridade da vida do povo deveria ser a de servir a Deus e a de amá-l’O sobre todas as coisas.
- O líder temente a Deus deve levar o povo de Deus a pôr Deus como prioridade em suas vidas. Deve ser um incentivador e estimulador do culto ao Senhor, da adoração a Deus. O líder, a partir de sua própria vida e testemunho, deve incutir no povo de Deus aquilo que o Senhor Jesus nos ensinou, ou seja, de que devemos buscar o reino de Deus e a sua justiça primeiramente (Mt.6:33).
- Hoje em dia, entretanto, muitos dos que líderes se dizem ser são os primeiros a mostrar ao povo, por meio de seu modo de viver, que se devem buscar as coisas desta vida, de que mais valem as coisas passageiras deste mundo (riquezas, fama, posição social etc., etc., etc.) do que as “coisas de cima”. Não há qualquer estímulo ao culto a Deus ou à verdadeira e genuína adoração, mas, quase sempre, há um incentivo tão somente ao entretenimento e aos “shows”. Como Neemias era diferente…
- Não são poucos, aliás, os líderes que acabam gerando no meio do povo de Deus uma inquietação e um incômodo quanto estão na presença do Senhor. Muitos, atualmente, chegam a afirmar que quem manda no culto é o “relógio”, porque têm pressa de sair da presença de Deus, embora sejam absolutamente negligentes no tocante ao horário de início das reuniões, porque também não têm pressa de chegar à presença do Senhor. Como Neemias era diferente, tanto que o povo chegou a ficar seis horas diárias ininterruptas ouvindo a lei do Senhor…
OBS: A propósito, o Talmude, segundo livro sagrado do judaísmo, tem um importante ensino que vale a pena ser reproduzido aqui: “…Disse Rabi Chelbo que disse Rav Huna: aquele que deixa a sinagoga não deve dar passos grosseiros (rápidos). Disse Abaiê: esta halachá  [regras da tradição, observação nossa] não foi dita, senão para aquele que sai da sinagoga, mas aquele que se dirige à sinagoga — é mitsvá [mandamento, observação nossa] que cora, como está dito: “persigamos para conhecer o Eterno” (Os.6:3). (…) Disse rabi Zeira: No início, eu costumava ver os sábios correndo para as palestras de Tora no Shabat, e eu dizia: os sábios estão profanando o Shabat, pois não é correto dar passadas grosseiras e correr no Shabat. Uma vez que ouvi a halachá que disse Rabi Tanchum em nome de Rabi Yehoshua bem Levi: O homem deve sempre correr, se for para estudar umahalachá, e mesmo que seja durante o Shabat, pois está dito “Andarás atrás do Eterno, como um leão rugirá (Os.11:10), e o leão se move rapidamente e não é detido em seu caminho. Desde então, eu também corro.…” (Berachot, 6b). O Shulchan Aruch, código de leis judaicas da Idade Média, assim dispõe: “ É mitsvá correr para ir à sinagoga, e o mesmo se aplica quando se trata de realizar toda e qualquer mitsvá, mesmo durante o Shabat, quando é proibido dar passadas grosseiras. Mas, quando deixa a sinagoga, é proibido correr” (Orach Chayim 90:12). (apud Talmud Bavli: Massecht Berachot, v.1, p. 49).
- Neemias tinha todo o interesse que o povo mantivesse um relacionamento íntimo com Deus, não só era temente ao Senhor, mas também queria que o povo também o fosse. Que bom será termos líderes assim no povo de Deus!
- Por fim, por ser temente a Deus, Neemias tinha discernimento espiritual, o que o impedia de ser enganado pelo inimigo. Quem tem intimidade com o Senhor, conhece a Sua voz (Jo.10:14,27) e, por isso, quando são armadas as ciladas do adversário, ele as desbarata pela direção do Espírito Santo. Assim, Neemias não foi enganado com a falsa profecia de Semaías (Ne.6:12).
- A falta de discernimento espiritual na liderança atualmente no meio do povo de Deus é uma das principais causas da apostasia que grassa na esmagadora maioria das igrejas locais. Que nossos líderes sejam tementes a Deus para que possam discernir os espíritos enganadores que estão no meio da Igreja nestes últimos dias (I Tm.4:1)!
II – NEEMIAS, UM LÍDER CAPAZ
Neemias era um líder temente a Deus, mas também preenchia outro dos requisitos anotados por Jetro para Moisés e prontamente acolhidos pelo líder libertador de Israel: a capacidade.
- Neemias, conforme se vê da narrativa de todo o livro que leva o seu nome, era um líder capaz, preparado para o exercício daquela função tão espinhosa e que representou a sobrevivência da identidade judaica até a vinda do Messias.
Em termos de liderança no povo de Deus, a capacidade advém, primordialmente, do chamado divino. A obra de Deus não tem “oferecidos”, mas pessoas que são devidamente escolhidas por Deus e vocacionadas para o exercício da liderança, visto que o ministério é um dom, algo dado por Deus.
- Neste ponto, Neemias foi, efetivamente, chamado por Deus para liderar o seu povo, o que percebeu ao longo dos quatro meses de oração em que intercedeu pelo bem-estar dos judeus e de Jerusalém. Somente após esta convicção é que Deus lhe abriu oportunidade para pedir ao rei que fosse enviado para a reedificação dos muros e portas de Jerusalém (Ne.2:3-5).
Uma vez chamado, tendo consciência desta escolha divina, Neemias, mesmo antes de ter a oportunidade de pedir ao rei para que fosse enviado a Jerusalém, já iniciou o seu preparo, planejando tudo quanto iria fazer.
- O planejamento é algo que é indispensável para quem quer exercer um papel de liderança, como, aliás, é algo indispensável para toda e qualquer ação inteligente que se queira fazer. Deus dá-nos o exemplo, pois Ele mesmo planejou a salvação da humanidade ainda antes da fundação do mundo (Mt.25:34; Ef.1:4; Ap.13:8; 17:8).
- Tanto assim é que, recebendo a autorização do rei para ir a Jerusalém, Neemias soube precisar o tempo em que haveria de se ausentar, como também sabia que documentos e que materiais pedir para ir até Judá, numa clara demonstração de que havia, durante os quatro meses de oração, também feito planos para realizar a obra que Deus o levantara para fazer.
- O líder deve ser capaz e, para tanto, deve saber o que está a fazer, qual é o objetivo de sua chamada para exercer esta ou aquela função. Neemias bem sabia o que iria fazer. Será que temos líderes que planejam suas ações a partir do chamado divino ou que vivem à base da improvisação?
- Mas, além de planejar, Neemias também mostrou a sua capacidade quando, ao chegar a Jerusalém, foi verificar “in loco” a situação da cidade (Ne.2:12-15). Apesar de ter tido informações fidedignas de seu irmão Hanani e de todos os judeus que o acompanharam até Susã, quis certificar-se da realidade, pois, por melhores que sejam as informações, nada é comparável aos fatos.
Um líder capaz não vive apenas de informações, do “ouvir dizer”, mas tem contato com a realidade dos fatos. A capacidade do líder depende de seu contato com o mundo real.
Um líder capaz, também, tem contato com os seus liderados, vive no meio deles, não se ausenta nem no mundo das informações em detrimento do mundo real, como também não se isola de seus liderados. Como se costuma dizer, “o pastor tem de ter cheiro de ovelha”.
- Em várias oportunidades, ao longo da narrativa do livro de Neemias, vemos o governador entrando em contato com o povo, desde o instante em que se apresentou ao povo com o seu plano de reedificação de Jerusalém, como nas horas difíceis da própria reconstrução, em que Neemias se fez um dos construtores, juntamente com o povo, como nas agruras da oposição ou da remoção dos abusos, em que sempre entrou em contato com o povo, a fim de conseguir-lhes o consenso e, assim, ter legitimadas as suas ações.
- Um líder capaz, consciente de que é chamado por Deus e que sabe o que está a fazer, não teme ser apeado do seu lugar, nem tampouco teme o povo. Pelo contrário, está sempre em contato com os seus liderados, pois deseja imprimir-lhes o mesmo espírito, a união e, com isso, conseguir a cooperação de todos para que os objetivos perseguidos sejam alcançados.
- Um líder no meio do povo de Deus deve lembrar que o povo é de Deus e que, portanto, nada pode ser feito sem a aquiescência e a cooperação daquele que é “menina dos olhos de Deus”. A participação do povo nas deliberações e decisões é fundamental para o sucesso de todos os planos feitos pela liderança. No meio do povo de Deus não há lugar para “ditaduras”.
- Em nossos dias, na Igreja, que é um corpo (I Co.12:12-27), muito mais do que Neemias, devemos todos buscar o consentimento e a participação de todos os interessados para que possamos bem realizar a obra de Deus. O fato é que, ultimamente, em nome de uma “teocracia”, tem-se alijado boa parte dos salvos das deliberações e das decisões, o que não é correto. Neemias tinha autorização da máxima autoridade daquele tempo para reedificar Jerusalém e estava na direção de Deus, que era quem o escolhera para a realização daquela grande obra, mas não ousou usar de sua “autoridade”, tendo preferido antes obter o consenso de todo o povo, sem o que, sabia ele, nada poderia ser realizado.
- Deus, apesar de ser o Criador de todas as coisas e Senhor de tudo (Sl.19:1), não é um ditador. Muito pelo contrário, tem prazer em compartilhar a existência com o homem e, por isso, convida o homem a esta parceria. Este gesto divino é a demonstração indelével do Seu amor para conosco e tem de ser, necessariamente, imitado pelos Seus servos. Por isso, uma das características da Igreja é a “perseverança na comunhão e no partir do pão”, ou seja, a mantença de uma vida de compartilhamento entre os irmãos, de colaboração mútua, de exercício do amor desinteressado.
O líder capaz é aquele que sabe levar todas as decisões e deliberações para ser compartilhadas com o povo que, por ter o mesmo Espírito Santo que tem o líder, saberá tomar decisões que estejam de acordo com a vontade do Senhor.
- Por ter este contato com o povo e por compartilhar todas as decisões e deliberações com o povo, Neemias pôde enfrentar eficazmente a oposição, mesmo quando ela tentou voltar o povo contra o governador seja através da intimidação (Ne.4:10,10-12), seja através de pressões externas na carta aberta de Sambalate (Ne.6:5,6), como também retirar a credibilidade das acusações que se lhe fizeram.
- Nos dias hodiernos, muitos são os líderes que se “isolam” dos liderados no meio do povo de Deus, numa atitude que é extremamente desagradável ao Senhor e que contraria toda a lógica existente na Igreja, segundo a qual os maiores devem servir aos menores (Mt.20:25-28; Mc.10:42-45). O líder não pode distanciar-se dos liderados, sob pena de pôr a perder todos os seus planos e projetos.
Neemias, até por ter contato com a realidade e com os seus liderados, mostrou-se também capaz por ter sido exímio na organização da obra. “Em sentido geral organização é o modo em que se organiza um sistema, segundo a conhecida sigla usada em administração, POCCC, atribuída a Fayol [um dos teóricos clássicos da ciência da administração, francês, 1841-1925 – observação nossa]  é do Planejamento (o "P" da sigla), que se atinge à Organização (o "O", da sigla) e a desenvolve pelas diversas categorias de "Com - mando" e/ou "mando - com", segundo Fayol, facilitando, dessa forma, pela consecução dos diversos objetivos dessa organização, o alcance final de um objetivo fim, que é o cerne da organização. É a forma escolhida para arranjar, dispor ou classificar os diversos objetos, documentos e informações, bem como sua necessária contabilidade, através do CONTROLE…” (Organização. In: WIKIPÉDIA. Disponível em:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o Acesso em 18 out. 2011).
- Neemias soube sempre fazer a devida organização tanto na reedificação dos muros e portas de Jerusalém, pondo as pessoas certas nos lugares certos, sem que a obra causasse esforços inúteis e desnecessários para os construtores, além de saber aproveitar as habilidades e talentos de cada um dos edificadores. Assim, como vimos na lição 3, pôs os edificadores para edificar diante de suas residências, quando isto era possível, como também pôs pessoas apropriadas para cada segmento dos muros, como foi o caso de pôr os sacerdotes para a edificação do portão das ovelhas ou os encarregados da vigilância para o segmento dos muros onde havia a fortaleza.
- O líder capaz é aquele que sabe organizar o povo de Deus para que, cada um, na sua devida função e papel, possa fazer “ o auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte” (Ef.4:16). O apóstolo Paulo disse que a Igreja é o corpo de Cristo e que nem todos são mãos, pés ou ouvidos (I Co.12:14-20). Assim, precisamos saber juntar cada parte no seu devido lugar, sem o que não haverá edificação. Lembremo-nos que, na visão dos ossos secos, Ezequiel viu que a Palavra fez juntar cada osso ao seu osso, ou seja, o avivamento daquele vale exigiu a devida organização (Ez.37:7).
- O líder capaz, porém, é também aquele que, ao executar o planejado, participa, com seus liderados, da execução. Não é alguém que diga “faça o que eu mando”, mas que “também faz o que está sendo feito”. O líder não é apenas alguém que dá ordens, mas que participa do cumprimento das próprias ordens dadas.
- O líder capaz participa da execução do planejamento, a fim de que, inclusive, possa, ao longo do processo, corrigir o que está sendo executado de forma errada, ou, mesmo, alterar o que for planejado diante do desenvolvimento da execução, o chamado “controle”, que é uma das atividades essenciais da administração.
- Neemias participou como edificador da reconstrução dos muros e portas de Jerusalém, tanto que pôde, ao longo do processo, diante das ações dos inimigos, fazer adaptações, como o estabelecimento de vigias e a própria determinação de armar os edificadores diante das ameaças chegadas de que viriam os inimigos com um exército para impedir o prosseguimento da obra, de forma imediata, já que estava a compartilhar da realidade dos construtores.
- Como é triste vermos, hoje em dia, líderes que mandam o povo orar, mas não oram; mandam o povo meditar nas Escrituras, mas não meditam; mandam o povo jejuar, mas não jejuam; mandam o povo evangelizar, mas não evangelizam. Como é triste vermos líderes que não alteram em coisa alguma as atividades eclesiásticas, apesar de o inimigo estar a agir de modo a obstar qualquer sucesso em tais atividades, simplesmente porque nem sequer conhecem o que está sendo feito, visto que ficam encastelados em seus gabinetes, completamente fora da realidade do cotidiano da igreja local. Acordemos, líderes, antes que seja tarde demais!
O líder capaz sabe administrar os conflitos e tomar as decisões na hora certa e no momento certo, bem como na dose certa. O líder capaz é prudente, lembrando que só possui prudência quem tem a “ciência do Santo” (Pv.9:10).
- Neemias sempre exerceu a prudência, não se antecipando nem atrasando nas medidas que teve de tomar ao longo de seu governo. Assim que, para despejar Tobias, por exemplo, primeiramente levou o povo a ler a lei e perceber o grande mal que significava um amonita tomando conta de uma câmara grande no templo, para depois tomar as necessárias atitudes drásticas. Mas também não deixou de tomar tais atitudes, quando era necessário. Assim deve agir o líder no meio do povo de Deus, com prudência, mas agindo quando for necessário, inclusive de forma drástica quando a situação o exigir.
III – NEEMIAS, UM LÍDER QUE ABORRECIA A AVAREZA
Neemias não era apenas um líder temente a Deus e capaz, mas também era um líder que aborrecia a avareza, outro dos requisitos apresentados por Jetro a Moisés para o estabelecimento de líderes em Israel.
- Neemias era copeiro do rei Artaxerxes, um cargo alto na corte real e que, portanto, não precisava ambicionar ser governador de uma província subalterna como era Judá naquela época. Não foi, pois, a ambição por posição ou por riquezas que o fez deixar tudo no palácio real em Susã para se dirigir para a semidestruída capital dos judeus.
- Chegando a Jerusalém, Neemias viu a situação de penúria por que passava o povo e, por causa disso, recusou inclusive receber “o pão do governador” (Ne.5:14,18), não tendo, ao tempo de seu governo, sequer adquirido propriedades para que isto não viesse a escandalizar o povo ou colocá-lo sob suspeita de desonestidade (Ne.5:16).
- Estas atitudes de Neemias, bem como a devolução do que havia emprestado com usura para alguns do povo (Ne.5:10-11), mostram que Neemias aborrecia a avareza, nada fazia por interesses econômico-financeiros, não queria se enriquecer às custas da sua posição de liderança. Não era um amante do dinheiro, bem ao contrário dos falsos profetas que se deixaram subornar por Tobias e Sambalate (Ne.6:12,13).
- O amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10) e, por causa dele, muitos líderes têm se desviado da fé. Já nos dias de Moisés, tinha-se como certo que o bom líder deve aborrecer a avareza, visto que, se o líder for apegado ao dinheiro, tudo fará para enriquecer-se, pondo toda a obra de Deus no meio do Seu povo a perder, como temos visto ao longo da história sagrada.
- Tanto assim é que uma das características dos falsos mestres que se introduzem no meio do povo de Deus é, precisamente, o de fazer dos salvos negócio por causa da avareza (II Pe.2:3), o que, tristemente, temos visto ao longo dos últimos anos com cada vez maior intensidade no meio do povo de Deus, até porque é esta uma das características dos últimos dias da Igreja sobre a face da Terra.
- Por causa disso, muitos dos que líderes se dizem ser são hoje nada mais nada menos que empresários e que também designam outros empresários para arrecadarem os recursos econômico-financeiros daqueles que, lamentavelmente, se encontram iludidos por suas palavras fingidas. Por isso, muitos “pastores” não passam de “lobos cruéis que não perdoam ao rebanho” (At.20:29), que admiram as pessoas única e exclusivamente por causa do interesse (Jd.16), verdadeiros mercenários, que não são pastores, mas adoradores de Mamom, ou seja, das riquezas.
- O líder no meio do povo de Deus tem de aborrecer a avareza, pois o avarento é um idólatra (Cl.3:5), alguém que não pode servir ao Senhor, pois, disse Jesus que, quem serve às riquezas, não pode servir a Deus ao mesmo tempo (Mt.6:24).
Para que um líder seja íntegro, ou seja, esteja inteiramente devotado ao Senhor, é absolutamente necessário que seja avesso à avareza, que não seja servidor das riquezas. Lamentavelmente, muitos têm deixado a desejar neste ponto, máxime nos dias em que vivemos, onde impera um materialismo desenfreado, que tem feito muitos se desviarem da fé. Tomemos cuidado, amados irmãos!
- Mas, além de ser um líder que aborrecia a avareza, Neemias também era um homem de verdade, outro dos requisitos dados por Jetro a Moisés para a escolha dos líderes em Israel. Ser “um homem de verdade” é ser alguém que ama a verdade, que fala a verdade, que vive sinceramente.
- Ora, já vimos que Neemias era temente a Deus e que, por isso, conhecia a Deus, procurava agradar-Lhe e conhecia as Escrituras. Ora, Deus é a verdade (Jr.10:10) e a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17), de sorte que Neemias não poderia ter outra conduta senão a de ser “um homem de verdade”. A Bíblia de Jerusalém traz “homens de verdade” como “homens seguros”, o que nos leva à prudência já mencionada, que é, como também já vimos, “a ciência do Santo”.
- Ao longo da narrativa do livro, vemos que Neemias sempre foi alguém que falou a verdade, fosse ela agradável ou não. Assim, ao convocar o povo de Jerusalém pela vez primeira, não hesitou em descrever a terrível situação em que se encontra Jerusalém (Ne.2:17), ao mesmo tempo em que seu realismo jamais representou derrotismo ou falta de confiança em Deus (Ne.2:18).
- Os líderes precisam sempre falar a verdade com os liderados, inteirar-lhes de toda a situação que se atravessa, pois somente assim conseguirão se manter na direção do Senhor, que é a própria verdade. Falar a verdade, ser prudente é uma característica que não pode faltar de forma alguma entre os que estão a liderar o povo de Deus.
- Entretanto, nos dias difíceis em que vivemos, não são poucos os que líderes se dizem ser que preferem o “politicamente correto” ao verdadeiro, não raras vezes distorcendo a verdade ou mentindo para não terem dificuldades, adversidades ou problemas junto ao povo de Deus.
Ser “homem de verdade” exige que o líder não somente fale a verdade, mas seja, também, transparente e claro. Quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus (Jo.3:21) e é, portanto, no mínimo preocupante quando vemos muitos líderes no meio do povo de Deus construir verdadeiras “caixas pretas” que não são acessíveis aos liderados. Temos todos de liderar com absoluta transparência, para que se manifeste a todos os salvos que as obras efetuadas pelos líderes são feitas em Deus.
- Neemias, vemos por suas memórias contidas no livro que leva seu nome, sempre foi absolutamente transparente diante do povo, tanto que não escondeu nem omitiu todas as suas súplicas a Deus, todas as dificuldades que enfrentou, como se dava o seu sustento e o de seus amigos, porque e para que tomou estas ou aquelas atitudes. Que exemplo a ser seguido pelos líderes da atualidade!
- Quando vemos lideranças que escondem o que fazem, que preferem as “negociatas” e os acordos secretos, quando evitam mostrar ao povo os meandros e as circunstâncias destas ou daquelas decisões, temos de tomar cuidado, pois, como afirma Jo.3:20, “todo aquele que faz o mal aborrecer a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas”.
- A transparência de Neemias, a sua conduta sincera diante do povo foi um dos principais fatores que fez com que se frustrassem totalmente as conspirações feitas contra ele pelos seus inimigos. Aprendamos isto com Neemias, caros líderes!
- Terminamos, assim, o estudo não só deste trimestre letivo, mas de todo ano de 2011, ano em que o Portal Escola Dominical, pela graça de Deus, voltou à internet. Que possamos ter aproveitado bem este ano e que, no próximo ano, se Jesus não vier antes nos buscar, conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor (Os.6:3 “in initio”). Feliz 2012!
Colaboração para o Portal Escola Dominical - Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco
                                   BIBLIOGRAFIA DO TRIMESTRE

          A bibliografia diz respeito aos estudos de todo o quarto trimestre de 2011, não contendo bíblias e bíblias de estudo consultadas, bem assim textos esporádicos, notadamente fontes eletrônicas, cujas referências foram dadas no instante mesmo de suas utilizações.

ALMEIDA, Abraão de. O tabernáculo e a Igreja: entrando com ousadia no santuário de Deus. Versão digitalizada por Levita com exclusividade para e-books evangélicos. Disponível em: http://www.4shared.com/get/8hhPzNZY/Abrao_de_Almeida_-_O_taberncul.html Acesso em 31 out. 2011. 90p.
ALTER, Robert e KERMODE, Frank (org.). Trad. de Raul Fiker, revisada por Gilson César Cardoso de Souza. O guia literário da Bíblia. São Paulo: UNESP, 1997.  725p.
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GUEDES, Maria do Céu. A Bíblia Sagrada em rima e poesia. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2009. 215p.
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TALMUD BAVLI: Massechet Berachot – volume um. São Paulo: Lubavitch-Yehsivá Tomchei, 2010. 293p.