Nos dias de Jesus o sistema religioso em Israel estava mais focado nas coisas do que nas pessoas. A Instituição era mais importante do que o indivíduo, principalmente os excluídos (mendigos, pobres, leprosos, atormentados, cegos, paralíticos, etc.).
A desvalorização do ser humano podia ser percebida em algumas ações dos discípulos, visto que durante o processo formativo que vivenciavam (discipulado), manifestaram várias vezes a influência que esta visão desumanizadora, característica da sociedade em que viviam, exercia sobre os mesmos.
Em seu desespero, a mulher cananeia foi praticamente ignorada pelos discípulos, quando ao Mestre foi pedido que a despedisse, pois seu clamor e presença os incomodava (Mt 15.23).
Quando o cego Bartimeu clamou por Jesus, a atitude dos seus discípulos foi a de mandar que ele se calasse (Mc 10.48).
Nem as crianças escaparam de tamanha insensibilidade (Lc 18.15-17).
O que dizer então da parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37), um claro retrato de uma religiosidade ritualística, mas em nada humanista, onde o cuidado com a pureza cerimonial impede o socorro ao outro, onde o “eu” santo nega ajuda ao “tu” moribundo?
A coisificação do indivíduo, ou a sua plena desvalorização, se manifesta no fazer e nos espaços educativos das mais diversas formas, inclusive, nos fazer e nos espaços educativos cristãos evangélicos.
Nos dias atuais, a Escola Bíblica Dominical reproduz um modelo educativo centrado na transmissão de saberes ou conhecimentos. O professor entende que a sua tarefa se limita a encher a cabeça dos alunos de conteúdos. Desta forma, quando os alunos manifestam certa desenvoltura com a Bíblia, e quando demonstram o domínio de algumas doutrinas, os professores depositantes do saber ficam bastante envaidecidos ao ver que seus alunos, depositários e reprodutores de suas ideias ortodoxas, evoluem substancialmente.
É necessário que haja uma tomada de consciência por parte de superintendentes, dirigentes e professores, que os faça entender que o processo educativo na Escola Bíblica Dominical deve ter como objetivo a formação integral de discípulos/discentes, que extrapola as dimensões do saber, se estendendo para as dimensões do ser (caráter), fazer (serviço) e relacionar-se (comunhão).
A ênfase numa prática educativa que supervaloriza apenas o saber chega ao ponto de levar alguns superintendentes, dirigentes e professores a adotar um sistema de provas (instrumentos avaliativos) fundamentado em notas, que não prova quase nada. Muitas destas tarefas avaliativas são elaboradas sem nenhum critério pedagógico, onde as questões objetivas ou dissertativas são meros exercícios de medição da capacidade de memorização do aluno.
Como bem coloca a educadora e Mestre em Avaliação Educacional Jussara Hoffmann (Avaliar para Promover, Editora Mediação, 2006, p. 19), a avaliação deve levar em conta o desenvolvimento do aluno e o favorecimento do processo de aprendizagem. No contexto da educação cristã a avaliação não pode promover disputas do tipo quem sabe mais ou menos. A avaliação é uma atividade contínua, que não se limita a um exercício ou prova. Tal atividade implica em observação e convivência entre professor e aluno. O progresso integral do aluno, uma vez manifesto (1 Tm 4.15), é a prova cabal do sucesso do professor, que se revela no sucesso do aluno. .
Uma educação cristã humanizadora considera gente como gente. Gente carente de saber, mais também de afeto, de atenção, de correção, de restauração, de toque, de abraço, de socorro, de ajuda, de amor, de um olhar, de uma fala, de um sorriso.
Este tipo de ação pedagógica foi praticada por Jesus, que parava para dar atenção aos cegos, mendigos, paralíticos, publicanos, prostitutas, leprosos e fariseus. Os conteúdos ensinados por Jesus eram direcionados para o ser total. Suas aulas não eram apenas exposições de doutrinas e de revelações do sobrenatural (teoria), mas ações concretas e transformadoras de vidas.
A grande revolução do ensino na Escola Dominical não acontecerá com a aquisição de recursos didáticos de última geração, com a criação de classes adequadas e confortáveis, com a admissão de professores mestres e doutores em educação, com a elaboração de um currículo impecável, com a formação continuada de superintendentes, dirigentes, secretarias, coordenadoras e professores, com estratégias de marketing, com o franco apoio do pastor da igreja ou com qualquer outra iniciativa, se tais ações não forem acompanhadas e regadas por uma postura que promova a dignidade dos alunos, fazendo com que percebam que são mais do que um número na classe, um nome na caderneta e um consumidor de revista de lições bíblicas.
É preciso ensinar na Escola Bíblica Dominical considerando a humanidade do aluno, levando em conta suas complexidades e singularidades, suas potencialiades e limitações, sua sapiência e carência.
É preciso ensinar para a glória de Deus! fonte http://www.altairgermano.net/
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