QUEBRANDO PARADIGMAS DO ENSINO NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL


A escola é geralmente reprodutora dos paradigmas e da ideologia das classes dominantes. Dessa forma, ela reproduz o que a sociedade possui de bom e de ruim. Para combater o reprodutivismo escolar, alguns teóricos revolucionários (chamados também de utópicos) acreditam que a partir da escola a sociedade pode ser mudada. Para isso, a escola teria de abandonar a sua condição de reprodutora de modelos e sistemas fracassados, engessados, fossilizados e ultrapassados, e assumir a sua vocação contestadora e transformadora.
Todas as questões que envolve a chamada “escola secular” são de alguma forma vivenciadas na Escola Dominical, que geralmente é reprodutora do sistema eclesiástico, e aparelho ideológico de classe dominante (clerical). Na condição de agência educativa reprodutora, a Escola Dominical é formada por superintendentes, dirigentes, professores e alunos reprodutores acríticos de doutrinas, tradições, práticas, teologias e doutrinas. Assim como a “escola secular”, a Escola Dominical precisa descobrir (ou redescobrir) a sua vocação transformadora.
Os motivos são óbvios, visto que tendo a Bíblia como fundamento teórico, e sendo a Bíblia a Palavra de Deus que tem papel transformador, seria natural que a postura daqueles que fazem a Escola Dominical, e a natureza do seu ensino fossem transformador.
É em Jesus, o Mestre dos mestres, que vamos encontrar o nosso referencial de educador cristão e de ensino transformador, que assim como nós, enfrentou a dura realidade de um sistema de ensino reprodutor das mazelas da sociedade de seu tempo.
A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA DE JESUS
A sociedade judaica onde Jesus nasceu e foi educado, era caracterizada pelo formalismo e centrada numa religiosidade mecânica, ritualística e excludente. Como resultado, a injustiça social se proliferava e se manifestava em forma de miséria, da exploração do próximo, do favorecimento das elites, etc. O legislativo, o judiciário, o executivo, e o religioso, todos estavam contaminados, corrompidos e comprometidos. Observemos alguns fatos e retratos deste quadro caótico nos evangelhos, e o posicionamento de Jesus diante desta realidade de seu tempo:
- O rito se tornou mais importante do que o motivo (Mt 6.7)
- A tradição se tornou mais importante do que a Escritura (Mt 15.1-3ss)
- O cargo se tornou mais importante do que o serviço (Mt 20.20-21ss)
- O símbolo se tornou mais importante do que a coisa em si (Mt 23.-16-22)
- A aparência se tornou mais importante do que a essência (Mt 23.25-28)
- A instituição se tornou mais importante do que as pessoas (Jo 19.24-34ss)
Como fica claro, Jesus não se conformou, nem silenciou diante dos grandes desafios da sociedade e do sistema religioso falido de sua época, antes criticou, contestou e partiu para uma ação transformadora. A ação transformadora de Jesus envolveu a pregação e o ensino da Palavra transformadora de vidas. Somente pessoas transformadas pelo poder da Palavra podem de fato transformar a sociedade.
Acontece, que em qualquer tempo e lugar, a única forma de não incomodar o sistema e não ser pelo sistema perseguido é ficando quieto, inerte, omisso e calado. Como a missão de Jesus, recebida do Pai, não incluía tais posturas, ele resolveu enfrentar o sistema, com plena consciência de todas as implicações deste ato.
O SISTEMA EDUCACIONAL DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA DE JESUS
Na época de Jesus o sistema oficial educacional judaico se constituía de aulas na sinagoga, tendo o Livro da Lei como referencial teórico. Alguns pesquisadores sugerem que por esse tempo já havia escolas em Israel. Fora do sistema oficial de ensino, que tinha os escribas e os doutores da lei como mestres (Ed 7.6-10), estava a família, que tinha a responsabilidade de educar o menino “no caminho em que deve andar” (Gn 18.-19; Dt 6.6-9; Pv 22.6).
Jesus, na qualidade de um filho do seu tempo, como todo menino em Israel, incorporou e vivenciou a cultura do seu povo. Aos oito dias de nascido foi circuncidado (Lc 2.21), cumprindo-se os dias da purificação foi apresentado no templo (Lc 2.22-39).
Lucas nos informa que a participação da família de Jesus nas cerimonias religiosas de Israel eram frequentes (Lc 2.41). Embora os evangelistas não especifiquem, os primeiros contatos de Jesus com o conteúdo das Escrituras foi no ambiente familiar. Sendo quem era (homem sem pecado/Deus), sua capacidade cognitiva acima da média logo se revelou. Aos doze anos de idade (Lc 2.42) já se assentava no meio dos doutores, não como um ouvinte passivo, mas já com uma postura questionadora:
“E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os”. (Lc 2.46-47)
O menino continuava a crescer em sabedoria e em estatura, e em graça para com Deus e os homens (Lc 2.52). Não há nada que contrarie a ideia de que Jesus frequentou aulas e reuniões na sinagoga enquanto crescia. Ele foi alfabetizado, pois sabia ler (Lc 4.16) e escrever (Jo 8.6).
Jesus estava tão inserido em seu contexto cultural, que sem problema algum ensinava nas sinagogas arrancando louvores dos seus ouvintes (Lc 4.15).
A relação de Jesus com o sistema educacional de sua época caminhava com certa tranquilidade, até que, usando o próprio espaço educacional do sistema (a sinagoga), começou a incomodar o sistema com algumas interpretações “heterodoxas” e “heréticas” (assim entendidas por seus pares) das Escrituras (Lc 4.17-27).
Por causa disso, os guardiões da tradição judaica, juntamente com o povo escandalizado com as suas interpretações, expulsaram-no violentamente da sinagoga e da cidade de Nazaré (Lc 4.28-30). A partir de então, o sistema oficial de ensino judaico teve Jesus como uma ameaça aos modelos e pensamentos vigentes, e a sua presença tornou-se indesejada nas sinagogas.
É nesse momento, que em vez de recuar, fora dos espaços oficiais, usando o campo, o deserto, as praias, etc., Jesus, com toda a liberdade e ousadia do Espírito, ensina e prega atraindo multidões que com isso davam as costas para o sistema, espaços, conteúdos e mestres oficiais. A posição de Jesus foi assim firmada, e a crise com as instituições de Israel instaurada de uma vez por todas com a quebra de paradigmas.
A QUEBRA DE PARADIGMAS NA ESCOLA DOMINICAL
Assim como os espaços educacionais da época de Jesus e as escolas seculares de nosso tempo em sua maioria são reprodutores de modelos sociais e religiosos falidos (ou em falência), a Escola Dominical tem servido aos mesmos fins.
Em diversos lugares, a Escola Dominical não transforma, nem se transforma, e assim como o sistema falido ou em falência nela reproduzido e onde está inserida, caminha na mesma direção. Modelos, estruturas, métodos, conteúdos, superintendentes e professores fossilizados e engessados, trabalham e cooperam para o fracasso da Escola Dominical como espaço para uma educação cristã, bíblica e transformadora.
Precisamos, assim como Jesus, nos posicionarmos contra tudo aquilo que se inseriu na Escola Dominical, que apesar de servir aos interesses da instituição ou denominação, não serve aos interesses do Reino de Deus.
A Escola Dominical precisa ser espaço de ensino e reflexão, de exposição e contestação de modelos e de ideias, de rejeição daquilo que não se sustenta à luz da Escritura, e de fortalecimento daquilo que se fundamenta na Palavra.
Não há meio termo. Adotaremos a postura de Jesus ou a dos escribas e doutores da lei, conformistas e hipócritas, que temiam a perda de cargos e privilégios? Negociaremos com a nossa consciência ou ela será, junto com o poder do Espírito, a nossa força de ação?
É preciso quebrar urgentemente alguns paradigmas que norteiam o ensino na Escola Dominical, se desejarmos que ela retome a sua relevância para o Reino, e avance como agência transformadora, mediante o ensino transformador da Palavra transformadora, mediatizado por professores transformados e transformadores.
Maceió-AL, 04/02/2012   fonte http://www.altairgermano.net/