Junta de Missões Mundiais lança Projeto SOS Mali



Objetivo é atender às necessidades mais urgentes dos irmãos em Cristo neste país


Junta de Missões Mundiais lança Projeto SOS Mali
Missões Mundiais lançou o projeto SOS Mali com o objetivo de atender às necessidades mais urgentes dos irmãos em Cristo neste país, situado na África Ocidental, que vive uma situação de caos, desabastecimento, fome e perseguição religiosa na região desde que rebeldes tuaregues pegaram em armas e entraram em conflito contra o governo. 

O levante já teve várias consequências trágicas, entre elas a destruição da igreja batista de Gao e a pilhagem do instituto bíblico da cidade, agora controlada pelos rebeldes, que proclamaram unilateralmente a independência de Azawad, no Norte do Mali. 

A missionária Veralucia Rocha, que teve que sair do Mali por recomendação da Embaixada brasileira em Bamaco, disse que o país está vivendo “uma das maiores crises alimentares” de sua história e que muitos irmãos malineses “estão passando por uma situação difícil”. 

O objetivo do projeto SOS Mali é enviar recursos que possam auxiliar os crentes malineses neste período de emergência. 

Leia a seguir o relato de um missionário local. A mensagem foi escrita no momento em que rebeldes disparavam vários tiros para o ar, em frente à porta de sua casa. 

“Pela graça de Deus, eles não entraram em nossa casa, conhecida pela vizinhança como o ‘lar cristão’, e também não nos pediram para recitar o credo muçulmano, nem para dizer: ‘Viva a República de Azawad’”, contou. 

1 de abril – Gao, Mali 
Depois de passar duas noites sob as luzes de armas de fogo, com aviões pesados sobre nossas cabeças, estamos seguros. Ontem os rebeldes tuaregues assumiram Gao, no norte do Mali, e nosso Exército se retirou para o sul. Hoje, Gao é uma cidade fantasma. Cerca de 90.000 almas são deixadas sozinhas, sem água, eletricidade e esperança. Os rebeldes, liderados e seguidos pela população, invadem bancos e lojas, roubam e saqueiam todos os prédios oficiais. Os rebeldes estão indo de casa em casa e fazem pilhagem. 

Ao chegar a nossa casa, eles perguntaram: "Esta é a casa do professor?”. Minha esposa respondeu “sim”. Então eles pegaram nosso carro, um veículo comprado com a ajuda de um amigo. Entregamo-lhes o carro sem resistência, na certeza de que Deus pode substituí-lo. Minha esposa e nossos filhos ficaram inquietos; os vizinhos gritavam, mas eu tinha paz em meu coração. Perante minha esposa e filhos experimentei o que significa ser impotente e sem força diante da adversidade. Mas aprendi também, ao longo dos anos, a confiar em Deus. Minha fé tem me dado forças nesses dias de horrores! 

Minha família e mais três outras tentamos deixar a cidade, mas não conseguimos. Somos 28 pessoas que vivemos em nossa casa. Se a situação não mudar e as lojas não abrirem, vamos passar por necessidades. Nosso desejo é sair daqui e irmos para Bamaco ou Niamey, no Níger. 

Os rebeldes controlam a estrada principal e removem os carros e até motos. Não há maneira de recebermos a ajuda financeira para nossas viagens. Missões Mundiais quer enviar os recursos para nossa saída do país, mas não temos como recebê-los. Estamos numa situação muito crítica! Por enquanto, os rebeldes não invadiram nem a igreja nem a faculdade. Por cinco vezes, eles pararam em frente à escola e dispararam vários tiros para o ar, depois se afastaram.

2 e 3 de abril 

Nós estávamos amontoados em nossas casas enquanto ouvíamos tiros constantes. Eu ainda estava escrevendo esta mensagem quando uma pessoa do Colégio Bíblico veio e me disse que os rebeldes disseram que queriam ver o que está nos escritórios e salas de aula. Eles abriram o escritório e pegaram uma copiadora grande, os computadores e alguns objetos de valor. Eles também pediram a chave do caminhão que transportava um equipamento nosso. Além disso, saquearam os dormitórios e usam a nossa biblioteca como uma base. 

A chave do caminhão não estava conosco, então ameaçaram matar o vigia da escola se ele não conseguisse encontrá-la. E me deram um ultimato: exigir que ele entregasse a chave para pegar o caminhão. Os pistoleiros ameaçavam matá-lo perante sua esposa e filhos, se a chave não aparecesse. Depois de várias discussões, finalmente perceberam que não a tínhamos e desistiram de procurá-la. 

4 de abril 

Os rebeldes encontraram um mecânico na cidade que os ajudou a desmontar o veículo. Eles tiraram todos os pneus, o motor e o combustível. Também roubaram roupas e bolsas dos alunos e levaram alguns de seus bens. O caminhão estava carregado de arroz e também foi saqueado. 

5 e 6 de abril 

Finalmente conseguimos negociar um ônibus para Bamaco, pagamos a taxa e ele ficou à disposição de nossa equipe. Para nossa tristeza, foram reservados somente 30 lugares para nós, mas precisávamos de 67 assentos. As mulheres e crianças embarcaram e ficaram sentadas na parte traseira do ônibus. A empresa, mais tarde, pegou outros passageiros que não faziam parte da nossa equipe. Enquanto protestávamos, o ônibus partiu, às pressas, deixando para trás 25 dos nossos, que tiveram que passar a noite ao relento. 

Enquanto tentávamos deixar nosso local, fomos informados de que os rebeldes e outras pessoas estavam rodeando a igreja, com a intenção de saqueá-la. Ficamos muito tristes ao ver várias pessoas saqueando a igreja e a biblioteca. Elas levaram tudo da casa do pastor! A igreja ainda estava intacta, mas, no final da tarde, eles também a saquearam. 

7 e 8 de abril – Bamaco 

Chegamos com segurança à capital, Bamaco. O ônibus de 50 assentos transportava 129 pessoas. Nós mal podíamos respirar. O maior problema é que todos os dias chega um grupo novo à cidade em busca de comida. 

Um novo grupo visitou o Instituto Bíblico. Os homens, fortemente armados, chegaram em diversos veículos dizendo que vieram para ajudar na construção civil do país. Mas furtos, estupros, assaltos e sequestros são comuns, e a população está em pânico. 

Hoje, quando liguei para Gao, um amigo me disse que não havia água encanada nem eletricidade; centenas de pessoas estão fugindo da cidade. Os ladrões invadem uma casa após a outra. Os rebeldes destruíram a cadeia e todos os prisioneiros escaparam. 

”Por favor, continue orando por nós. Agora vamos começar uma nova vida em Bamaco para onde viemos sem nada. Mas os irmãos daqui nos deram uma recepção calorosa. Louvamos e agradecemos a Deus por sua graça e proteção. Agradecemos a todos por suas orações em nosso favor”, diz o missionário. 

Ajuda

Você pode contribuir com o SOS Mali entrando em contato com a Central do Adotante pelos telefones 2122-1901 (cidades com DDD 21) ou 0800-709-1900 (demais localidades).


Fonte: Junta de Missões Mundiais