Apesar de a Palavra de Deus nos orientar a fugir da amargura ou nos despojarmos dela, a verdade é que muitos cristãos vivem presos, acorrentados a esse mal. São pessoas que vivem num amargor essencial, trazendo toda uma sintomatologia da presença da amargura. Os olhos e as linhas do rosto as denunciam; o tom de voz deixa vazar o gosto ácrito de insatisfação; percebe-se um protesto gratuito no falar e até quando alega não sentir amargura alguma.
A Palavra de Deus é pródiga ao descrever pessoas que padeceram desse trágico sentimento. Jonas é um caso clássico na Bíblia.. O senhor perguntou-lhe: "É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até à morte" (Jonas 4:9). Jonas se sentia no direito de amargurar-se. "Eu tenho direito de estar amargurado, eu não concordo que o Senhor perdoe esse povo...". Outro exemplo é o caso de Caim ,que é citado como um homem amargurado: "Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante". (Gn 4:5). Mas o que fazer quando nossa alma está empanzinada de insatisfação, quando o nosso mundo interior veste-se com o manto negro da amargura?
1) De onde procede a amargura:
A amargura sempre vem de um erro ou de um pecado do outro em relação a nós. Quando você peca contra outra pessoa, você sente culpa. Quando alguém peca contra você, você sente AMARGURA. A amargura é uma reação negativa a algo que uma pessoa fez conosco. Mas não é uma reação negativa para com qualquer pessoa. A amargura é um sentimento negativo que nasce quando uma pessoa próxima de nós peca contra nós. Nesse sentido, a amargura não depende tanto do pecado que cometeram contra nós, mas do grau de proximidade que a pessoa que cometeu o erro tem conosco. Não depende tanto da extensão do pecado praticado, mas do quanto ele tem a ver com nossa pessoa. Por piores que sejam os pecados cometidos por George W. Bush, no Iraque, nós, com certo grau de certeza, nunca sentiremos culpa ou amargura por causa deles. Por que? Porque, conquanto sejam grandes e graves, pouco têm a ver conosco. Poderemos nos sentir consternados, estarrecidos, mas nunca culpados, nem muito menos amargurados. Porque a amargura não depende do tamanho do pecado, mas do grau de proximidade que a pessoa promotora do pecado tenha conosco. Nesse sentido, a amargura está diretamente relacionada às pessoas que nos rodeiam, como pais, mães, irmãos, maridos, esposas, filhos e outros..
2) Como saber se temos amargura?
a) A amargura prende as pessoas aos detalhes.
Pessoas amarguradas são pessoas que recordam tudo o que a outra pessoa fez com ela nos mínimos detalhes. Desse modo, a amargura transforma nossa mente numa máquina "auto reverse" de nossa própria dor.
b) A amargura racha os relacionamentos.
Outra característica de uma pessoa amargurada é que ela torna-se incapaz de produzir relações duráveis. Como uma raiz que cresce silenciosamente e imperceptivelmente, a amargura racha a base dos relacionamentos. Vale a analogia da palavra de Deus "raiz de amargura". Ela cresce, aprofunda, expande, e num último momento, vem à tona, à superfície. Pouco resta a fazer. Assim é a amargura. Ela abre profundas rachaduras em nossas relações, torna o caminho de nossas emoções intransitável, faz de nós verdadeiras grotas, expostas a céu aberto, nada consegue passar o pavimento escabroso da amargura desenhado em nosso coração. O que sobra é uma pessoa fissurada, trincada, estilhaçada pela amargura.
3. Como o mundo lida com a amargura?
O mundo apresenta duas soluções para o caso:
a) "abrir-se" e liberar o rancor.
"Abrir-se" geralmente não é a solução. Quando alguém se abre, na tentativa de curar-se de sua amargura, geralmente não resolve o problema, apenas o "expande" às outras pessoas. Não cura o mal, apenas o "endemiza" (infecta o povo). Quem "se abre", acaba por contaminar outras pessoas com a sua amargura, e isso é contra a Palavra de Deus: "longe de vós" ? A amargura jamais deve chegar a outros.
b) "Fechar-se" e conservar no íntimo o rancor.
Embora a Palavra de Deus seja contra a pessoa abrir-se com outros e contaminá-los, o oposto também é errado. Guardar no íntimo o rancor por muitos anos não é a solução. Quem guarda a amargura contra outra pessoa adoece, envenena-se, entra num processo de autofagia e de putrefação do tecido interno. Ambas as soluções do mundo são paupérrimas. Segundo a Palavra de Deus, não podemos guardá-la no nosso íntimo, nem liberá-la.
4. Como a Palavra de Deus lida com a amargura:
a) Reconheça que a amargura é pecado. Qual a razão de não nos libertamos da amargura? A razão é simples: não tratamos a amargura como um pecado nosso. Justificamos a amargura com certos chavões: "não estou amargurado, estou apenas machucado"; "Não sou amargo, é porque fui muito magoado...". Pensamos na amargura sempre como uma reação normal ao pecado cometido pela outra pessoa. justificamos a amargura na atitude do ofensor. Mas a Palavra de Deus é tácita em dizer que a amargura é pecado nosso. E quem quiser vencê-la, ao invés de concentrar-se na atitude do ofensor, precisa concentrar-se na atitude grosseira de seu coração.
b) Mude os conteúdos do seu coração. Isso significa que o coração só derrama o conteúdo de que está cheio. Amy Carmichael, certa ocasião, fez um comentário a respeito de como um copo repleto de água doce não irá derramar uma só gota de água amarga, não importando o tipo de solavanco que vier a levar. Se estiver cheio de água doce, que tipo de água irá despejar, quando for sacudido? Água doce. Se o copo for sacudido com mais força, o que irá acontecer? Mais água doce irá sair. Assim é a nossa vida. Não somos amargos por causa dos solavancos que sofremos, somos amargos por causa dos conteúdos de nosso coração. Se estamos cheios de amargura, não é por causa das "pancadas" que recebemos, mas por causa do conteúdo que possuímos. Os "solavancos" não alteram o conteúdo do nosso coração, eles apenas jogam para fora aquilo que já está dentro. Se estamos cheios de amargura, derramaremos amargura. Se estamos cheios de doçura, quanto mais golpeados, mais doçura sairá de nós.
c) Não espere o outro mudar, para você mudar. O diabo nos diz: "olhe, quando ele parar de mentir, ou quando ele deixar de fazer isto ou aquilo, ou quando ele lhe pedir perdão, então tudo ficará acertado e você irá perdoá-lo". O grande perigo dessa "proposta indecente" é que ela nos sugere um raciocínio errado. "A pessoa pede perdão e a amargura vai embora e eu perdôo". Ledo engano! Isso jamais vai acontecer, mesmo que o outro mude e peça perdão. Por uma razão bem simples: "porque a amargura não sabe perdoar". Pessoas amarguradas jamais perdoam. Já as pessoas que conseguiram perdoar um dia, são pessoas que antes foram curadas de sua amargura. Portanto, a solução da amargura é unilateral. Não depende de o outro pedir perdão.
Depende só de nós mesmos.
Que Deus nos abençoe.
Pr. José Kleber Fernandes Calixto.
I.P. de Coromandel-MG
(recebido por e-mail)
fonte http://klerida.blogspot.com.br