PORTAL ESCOLA DOMINICAL
PRE ADOLESCENTES - CPAD
2º Trimestre de 2013
Tema: Embaraços que prejudicam a vida cristã
Comentaristas: Ângela Sueli da Costa Silva
LIÇÃO 6- DUVIDAR, JAMAIS!
Subsidio escrito esporadicamente por
Prof. Alex Esteves da Rocha Sousa. em 2007
Título: “Duvidar? Jamais”!
Tema: A dúvida entre os pré adolescentes.
Texto bíblico básico deste subsídio: “... não duvidou, por incredulidade, da
promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus” (Rm 4.20 1 ).
Introdução.
O que é a dúvida? O crente pode duvidar? Não seria um contra senso ter dúvida e fé ao mesmo tempo?
Gostaria de refletir com o (a) colega professor (a) acerca desse importante assunto, que, não obstante ser tratado aqui com destaque para os pré adolescentes, interessa a cada um de nós.
Desde já, afirmo que meu objetivo principal é oferecer uma linha de enfrentamento do tema, uma análise que enxergue a dúvida em seus diferentes sentidos, afastando interpretações e aplicações não condizentes com a realidade.
Também quero avisar que estou ciente do enfoque proposto, que concerne à confiança nas promessas e instruções divinas para a vida individual.
Mas, considerando o título da Lição e a natureza dos pré adolescentes, não posso me furtar a algumas ponderações que podem ser úteis aos professores.
1. Definindo a dúvida.
1.1. Informações do dicionário.
Do latim dubitare, o verbo “duvidar” significa
a) ter dúvida, não saber ao certo;
b) não acreditar, não admitir;
c) descrer, não confiar;
d) ter suspeitas, desconfiar;
e) desafiar;
f) questionar 2 .
O substantivo “dúvida” quer dizer
a) incerteza, vacilação sobre a realidade de um fato ou hesitação em tomar uma decisão ou partido entre diversas opiniões;
b) dificuldade para entender, para admitir como verdadeiro; objeção;
c) suspeita mais ou menos fundada; desconfiança;
d) ceticismo, descrença 3 .
Assim, pelo simples exame de um dicionário já se pode observar que os
termos “dúvida” e “duvidar” trazem consigo diversas acepções, que não podem
ser desprezadas quando se pretende tratar do tema.
1.2. Incredulidade e questionamento.
Essa análise é necessária porque, se por um lado a palavra “dúvida” está relacionada à falta de fé, também tem que ver com o questionamento. Ora, falta de fé é incredulidade, algo espiritual, enquanto o questionamento é de índole intelectual. Por isso, quando se fala de dúvida, é preciso saber se trata de não crer ou de simplesmente questionar.
É certo que as coisas estão relacionadas, porque o questionamento pode culminar no ceticismo. Mas é preciso lembrar que nem todo questionador se torna cético. E, mais do que isso, nem todo “crente” está plenamente seguro daquilo que ostenta como bases de fé, justamente porque tem receio de que a fragilidade de suas crenças não suporte o crivo da dialética 4 ou do diálogo.
Por outro lado, é um dado da experiência que as pessoas menos frívolas em suas convicções se tornam crentes mais firmes, já que aceitam a fé cristã com sinceridade, e não por tradição nem por emoção, e passam a reunirargumentos plausíveis para defesa da fé.
Nesse passo, lembremos daquela semente que caiu em solo pedregoso: a superficialidade foi a causa tanto da aceitação fácil como do abandono rápido da palavra (Mt 13.20,21).
2. A dúvida científica.
Vale recordar que a dúvida é fundamental para o desenvolvimento da ciência. Com René Descartes e sua dúvida metódica (Séc. XVII), foi possível questionar os mitos do Romanismo, que durante toda a Idade Média dominara o conhecimento mundial, ao sustentar a idéia de um universo estático, hierarquizado, tomado por forças místicas, enfim, um mundo em que a verdade era confundida com os postulados da autoridade eclesiástica, e onde a ignorância servia aos interesses do Clero.
A partir da dúvida cartesiana, o indivíduo pôde perguntar como, onde, quando e por que, indagações essenciais ao pensamento científico e filosófico,algo que existiu na Antiguidade Clássica, com os filósofos gregos, mas queadormeceu sob a penumbra da chamada Idade das Trevas (Séculos V ao XV, agrosso modo). Não por acaso, uma das qualidades próprias de um cientista é a curiosidade. Um pesquisador não curioso é uma contradição em termos.
3. A dúvida a serviço da fé (!).
O servo de Deus, seja teólogo ou não, precisa estar atento a não aceitar tudo o que lê, ouve ou vê. Antes, deve agir como o pessoal da igreja que estava em Beréia. Com efeito, diante do ensino de Paulo e Silas, os irmãos bereanos foram consultar as Escrituras para ver se “as coisas eram, de fato, assim” (At 17.11). Alguém, sem aviso, poderia dizer que eles estavam desconfiando do apóstolo, e que, por isso, eram pessoas incrédulas. Não há equívoco maior!
Na verdade, o registro feito por Lucas deixa claro que eles foram tidos como nobres, o que, no contexto, significa o mesmo que “liberais”, “de mente aberta”. O elogio foi ainda mais eloqüente, ao dizer que eles foram “mais nobres que os de Tessalônica” (At 17.11), já que estes preferiram expulsar Paulo e sua equipe. Aliás, em outra ocasião, foi o próprio Paulo quem advertiu os tessalonicenses a julgar todas as coisas (examinar tudo) e reter o que é bom (I Ts 5.21). Combinado com o exame está o questionamento, já que nem tudo pode ser retido.
4. A dúvida como característica natural da adolescência.
Na fase da adolescência, uma das mudanças ocorre na esfera intelectual.
O pré adolescente já começa a abstrair, e com isso vem a capacidade de pôr em
“crise” aquilo que lhe ensinam.
Ademais, o pré adolescente não admite que sua inteligência seja deprimida por respostas pouco satisfatórias ou evasivas. Dependendo da situação, é mais recomendável dar uma explicação clara e precisa do que uma tentativa de acomodar as coisas, pois, do contrário, ele vai acabar percebendo que se está buscando “tapar o sol com a peneira”.
Vejamos o que diz a professora LIN JOHNSON 5 :
“A segunda palavra chave do desenvolvimento moral do adolescente é dúvida. Esta característica encontrasse intimamente ligada à sua busca por independência e à nova capacidade de pensar.
Quando crianças, sua fé era herdada de seus pais ou de outros adultos merecedores de respeito, como professores de Escola Dominical. Eles criam principalmente porque eram ensinados a crer. Porém, agora, começam a questionar o que aprenderam sobre a fé em Deus, a igreja, a Bíblia, etc. Costumam perguntar: 'Como você sabe que é verdade'? Ao contrário do que pensam os adultos, questionar a fé não equivale a heresia ou incredulidade.
Como um velho ditado diz: Quem nunca duvidou, jamais creu de verdade.
É saudável para o adolescente questionar e refletir sobre sua fé, a fim de que ela possa ser incorporada e não descartada quando se tornar independente dos pais.
Eu prefiro muito mais os adolescentes que me colocam em dificuldades com suas dúvidas àqueles que ficam sentados quietos, absorvendo a aula, sem refletir em nada. Anne, por exemplo, quase todas as semanas tinha uma dúvida, desde que entrou em minha classe. Não consigo responder à muitas dessas dúvidas (sic), porque a Bíblia não nos dá respostas definitivas em certas áreas. No entanto, fico entusiasmada ao saber que ela pensa e não tem medo de perguntar. Os adolescentes que nunca têm dúvidas ou perguntas são os primeiros candidatos aos cultos em grupo” [grifos do original].
O (a) amado (a) me perdoará por fazer transcrição tão longa, mas julguei necessário tendo em vista a acuidade da autora, que tem conhecimento de causa e muita propriedade na área.
Com isso, quero destacar exatamente a necessidade de sermos sensíveis às características do pré adolescentes, os quais têm como que a vocação de fazer perguntas intrigantes, desafiadoras, que nos obrigam a pensar.
Por exemplo, no último domingo, depois da aula que dei à classe de adultos acerca da teoria da evolução, um irmão que tem dois filhos adolescentes me perguntou o que deveria lhes dizer a respeito dos seis mil anos de vida humana, segundo a Bíblia, e os milhões de anos que são calculados segundo os registros fósseis. Considerando a natureza do jovem, minha sugestão foi apresentar algumas teorias possíveis, que buscam harmonizar o relato bíblico e as descobertas verdadeiramente científicas – e deixar que eles mesmos assumam uma posição.
5. Fé e dúvida na Bíblia.
De pronto, pode se dizer que existe a dúvida ruim e a dúvida salutar. A dúvida ruim é o mesmo que incredulidade; a dúvida salutar é o mesmo que questionamento. Foi isso o que buscamos esclarecer no item 1.2.
Nesse sentido, vamos verificar alguns personagens bíblicos que manifestaram a dúvida como incredulidade ou a dúvida como questionamento.
Abraão, o pai da fé: Abraão é considerado o pai da fé. É necessário, porém, observar que sua fé consistiu em confiar nas promessas de Deus, e não em se tornar uma pessoa obtusa. Em Rm 4.20, Paulo tem o cuidado de dizer que Abraão não duvidou por incredulidade. Isto significa que o mérito do velho patriarca foi não desconfiar, não suspeitar de Deus, o que não tem absolutamente nenhuma relação com acreditar no escuro.
Maria que questiona; Zacarias que desconfia: Podemos comparar a posição de Zacarias, pai de João Batista, e a de Maria, mãe de Jesus, que viveram situações parecidas: a visita de um anjo anunciando o nascimento de um filho em condições humanamente impossíveis – a esposa de Zacarias era estéril e Maria nem conhecera varão... Ante o anúncio inusitado, ambos tiveram uma reação: a dúvida.
No entanto, enquanto Maria apenas questionou como aquilo iria acontecer, Zacarias realmente descreu que aquilo fosse acontecer. Dito de outro modo: é como se, estando numa classe, a aluna Maria apresentasse uma dúvida na forma de pergunta, e o aluno Zacarias desconfiasse do mestre em si. Outro exemplo de dúvida ruim foi a que Sara apresentou quando ouviu que lhe nasceria um filho. Duvidou a ponto de rir.
Admoestação paulina: Quando Paulo afirma que o que não é por fé é pecado, ele está se referindo àqueles que agem ou deixam de agir de determinada maneira, mas se sentem em dúvida quanto à licitude da ação/omissão. Assim, mesmo que não haja pecado na atitude em si, passa a existir o pecado no caso concreto – é a dúvida que traz temeridade.
Admoestação de Tiago: O irmão do SENHOR repudia a conduta daquele que não tem fé, pois anda como se fosse uma onda, vagueando de um para outro lugar – é a dúvida que traz inconstância.
O escritor aos Hebreus: A máxima “sem fé é impossível agradar a Deus”, “a “galeria dos heróis da fé”, e a definição de fé são elementos mais ou menos conhecidos na Carta aos Hebreus. Mas em nenhum momento o autor contrapõe fé e questionamento. Antes, o contraste é entre fé e incredulidade.
6. Fé como confiança na palavra de Deus.
Feitas essas ponderações, cumpre deixar consignado que a fé revelada nas Escrituras é a confiança naquilo que Deus propõe ao ser humano, seja no plano universal, seja no plano individual. Ousaríamos dizer que a fé tem bases objetivas, em vez do subjetivismo empírico, tão propalado em nossos dias.
Dessa forma, para que o pré-adolescente confie em Deus, é preciso conhecer a Sua
Palavra. Aliás, como acreditar em palavras de que jamais tive conhecimento? Além disso, é fundamental conversar com Deus, e assim construir um diálogo contínuo, para que a relação de amizade aumente a cada dia. Ler a Bíblia e orar são os pilares de uma vida orientada pelo SENHOR, porque tanto um como outro criam a intimidade, sem a qual não se pode confiar a ponto de entregar os planos pessoais.
E sem confiar na Pessoa do Deus Pai, por meio de Seu Filho Jesus Cristo e mediante a atuação do Espírito Santo, é impossível acreditar na revelação bíblica. Deus requer mais que um assentimento intelectual – por isso, Ele mesmo oferece o dom da fé para que se estabeleça um relacionamento interpessoal com o Homem.
Estabelecida a comunhão entre o pré adolescente e o Criador de todas as coisas, será possível uma entrega constante de seus planos a Deus.
Vale lembrar, ainda, que um fator importantíssimo para edificação da fé são as
orações respondidas. Quanto mais respostas obtemos da parte de Deus, mais aumenta a nossa confiança, porque ao conhecimento bíblico se associa a experiência pessoal.
Conclusão.
Deus conta conosco para formar uma geração com um senso crítico ainda mais refinado. Não se trata de espírito crítico, mas se consciência crítica, como certa vez me disse André Buxton, pastor britânico que trabalhava conosco na Aliança Bíblia Universitária (ABU).
Entendo que o ensino pós moderno nas escolas têm privilegiado certo fundamentalismo filosófico e científico: você tem o livre direito de pensar, desde que pressuponha o big bang, a evolução das espécies, o relativismo de valores morais, opluralismo religioso, a normalidade de quaisquer orientações sexuais.
Ora, num mundo complexo como o nosso, em que há tantas vozes falando ao coração de nossos adolescentes, como devemos nos portar, senão com humildade, buscando uma fundamentação de nossos conceitos à luz da Bíblia?
Do contrário, eles correm o risco de confundir fé com pensamento positivo, auto ajuda, poder cósmico, ou qualquer outra inverdade que tantos têm ensinado, o que inclui líderes neo pentecostais e alguns pregadores “pentecostais” que pululam nas igrejas e misturam conceitos.
O perigo, irmão (ã), não é que os adolescentes questionem, mas que deixem de questionar! Isso porque a falta de questionamento pode levá-los a admitir tantas coisas erradas como se fossem verdades absolutas. No final das contas, o que pode acontecer de prejudicial aos nossos adolescentes é a desobediência, porque advém da incredulidade. É contra isso que devemos lutar, e não contra a dúvida normal e até necessária.
Por fim, com todo o respeito, eu sugeriria que o título da Lição não fosse “Duvidar? Jamais!”, e, sim, “Desobedecer a Deus? Jamais”, ou “Abandonar a fé? Jamais”. Isso porque, como pretendi demonstrar, nem toda dúvida é ruim.
Referências bibliográficas.
Grande Dicionário Larousse Cultural. Regras Ortográficas e Gramaticais. São
Paulo: Nova Cultural. 1999, 928p.
JOHNSON, Lin. Como ensinar adolescentes. Descubra a alegria de trabalhar com
eles/tradução de Luciano Zibordi. Rio de Janeiro: CPAD, 2ª, 2004, p. 158p.
Colaboração para EBDnet : Prof. Alex Esteves da Rocha Sousa.
FONTE PORTAL EBD