Muitos internautas continuam me perguntando sobre o futebol. Num próximo artigo discorrerei sobre o futebol como uma profissão. Neste, atenderei aos que desejam saber se o cristão pode/deve torcer por um time, jogar com amigos e parentes, assistir a jogos pela TV, usar a camiseta do time de coração, etc.
Não serei dogmático, pois quero que o leitor pense, reflita sobre a sua liberdade. A própria Bíblia assevera que somos livres, mas não devemos usar dessa liberdade para dar ocasião à carne (Gl 5.13). Precisamos ter cuidado com os extremos. Muitos dizem que não são legalistas, porém são piores do que os ímpios em sua maneira de viver. Outros, dizendo-se santos, agem com uma implacabilidade incompatível com o amor cristão pregado pelo Senhor Jesus.
Para início de conversa, se nos é lícito o divertimento — e é claro que é —, podemos, em férias ou em momentos de lazer, jogar futebol ou brincar de qualquer outro esporte com a família e os amigos. Aqui em Niterói, por exemplo, o pessoal gosta muito de peteca... Podemos, ainda, eventualmente, assistir a uma programação esportiva na TV. E assim por diante. Mas tenho outras ponderações a fazer.
Como eu disse no artigo anterior, não sou mais um torcedor. Penso que torcer é muito mais que acompanhar os resultados e informações de um clube pela mídia. Em geral, quem torce se envolve, xinga, sofre, expõe-se, deixa-se dominar pela emoção... Alguns (geralmente os corintianos e flamenguistas) querem ser até sepultados no caixão do seu time de coração!
Quando eu torcia por um grande time — campeão do século XX (não me pergunte o nome dele!), o qual elegeu ontem o seu novo presidente —, sofria muito quando ele perdia. Mas, quando vencia, ficava eufórico. Em ambos os casos, na tristeza ou na alegria, me deixava dominar completamente. A paixão pelo... me possuía de tal modo, a ponto de ocupar meu intelecto, meu sentimento e minha vontade.
Em 1 Coríntios 6.12, está escrito que existem coisas lícitas — isto é, não pecaminosas, em si mesmas — que podem se tornar dominadoras e inconvenientes. É o caso do futebol. Se torcermos por um time, a ponto de ficarmos profundamente tristes, angustiados, quando ele perde, e alegres, eufóricos, quando ganha, estamos nos deixando dominar. Não podemos nos esquecer de que a Palavra de Deus nos manda deixar o pecado, mas também o embaraço (Hb 12.1).
É pecado usar uma camiseta — ou como dizem os portugueses, uma camisola — de um time de futebol? A rigor, não. Eu mesmo tenho várias camisetas de clubes e seleções do mundo. Mas nunca vestiria uma delas para ir a um culto de louvor a Deus. Por quê? Porque sou legalista? Não. Porque sou prudente. Lembremo-nos de que a Palavra de Deus nos manda deixar o pecado e o que parece pecado: “Abstende-vos de toda a aparência do mal” (1 Ts 5.22).
Também é preciso ter cuidado com a segurança. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e também em algumas cidades da Europa, usar uma camisola (tenho muitos leitores portugueses) de um time é perigoso, podendo provocar a ira de torcedores adversários. Digamos que você resolva ir ao culto de domingo à noite com a camiseta do São Paulo e, ao entrar no ônibus, dá de cara com a torcida do Corinthians... Depois não me venha dizer que foi mais uma vítima da violência das grandes cidades...
Crentes podem se reunir para assistir a uma partida de futebol? Bem, se quisermos fazer isso, em nossa casa, é lícito. Mas a pergunta é: Convém? O tempo dedicado à partida de futebol não fará falta depois? Às vezes, não. Às vezes, sim. Lembremo-nos de que o nosso tempo não volta. Por isso, a Palavra de Deus assevera: “vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus” (Ef 5.15,16).
Se não há na Bíblia mandamentos claros a respeito do nosso comportamento em relação ao futebol ou a qualquer outra modalidade esportiva, as questões ligadas ao assunto devem ser vistas sob a ótica dos princípios da Palavra de Deus. Não se esqueça disso: as Escrituras contêm promessas, mandamentos, doutrinas, princípios, etc. É um Livro completo.
Portanto, como cristãos devemos ter maturidade, equilíbrio, a fim de saber o que é prioritário. O entretenimento não nos é vedado. Mas não deve ocupar o primeiro lugar em nossa vida nem atrapalhar o que é realmente primaz, como a nossa comunhão com Deus, o bom relacionamento familiar e o ministério que nos foi confiado pelo Senhor.
Amém?
Ciro Sanches Zibordi