Vivemos dias onde o papel da Igreja na sociedade, quando questionado, provoca ponderações em diversas direções. Para mim, entretanto, a Igreja está no mundo para fazer diferença nos lugares onde sua influência chega - ela deve cuidar dos interesses de Deus na terra: adorando-o, pregando o Evangelho, ensinando sua Palavra e atentando para os "órfãos e viúvas". O cumprimento de todo este papel exige da Igreja inconformismo (no sentido de Romanos 12:2) "não vos conformeis a este mundo"). Ela não pode acomodar-se, aquietar-se, nem omitir-se; sua guerra é contra o pecado, a injustiça e contra as "hostes espirituais da iniqüidade" (Efésios 6:12) e, para tanto, necessita de santidade, oração e dependência do Espírito.
A sociedade continua tão sedenta de Deus quanto em qualquer outra época da história. Cada vez maior é o número de pessoas desesperadas. Fala-se em 400 mil suicídios por ano no mundo! As pessoas procuram sustentação espiritual, daí tantas religiões que surgem e conquistam adeptos, o que confirma quão grande é a carência do mundo. Se o mundo continua o mesmo em matéria de sede de Deus, a Igreja, por sua vez, sobretudo os evangélicos chamados históricos, necessitam de reflexão sobre seu papel. Penso que a crise de integridade que afeta o evangelicalismo do primeiro mundo já alcança nosso país e tende a agravar-se.
Acredito que a Igreja precisa, hoje, de um avivamento real. Avivamento é viver o Cristianismo com integridade. O problema da Igreja em grande parte reside na pobreza de vida cristã que se vive: são multidões de crentes nominativos, meros freqüentadores semanais de cultos que, quando muito, contribuem financeiramente com suas Igrejas. Há um descompromisso com a Palavra, com a ética e a moral cristãs. A Igreja é um corpo que encarna Cristo e como tal não poderia passar despercebida. Em suma, falta a consciência de discipulado cristão nos membros de nossas Igrejas.
Concordo com Juan Carlos Ortiz, que no seu livro "O Discípulo" fala da Igreja como sendo um orfanato cheio de bebês e que nós, os pastores, passamos grande parte de nosso tempo correndo atrás de "bebês" para dar-lhes "leite". A Igreja somente pode cumprir seu papel em meio à sociedade se prezar pela qualidade de vida cristã. Tenho certeza de que crentes verdadeiramente avivamos são capazes de revolucionar uma sociedade, uma nação, um país inteiro.
Para que a Igreja possa alcançar sua estatura ideal, nos termos de Efésios 4:12 e 13, o ministério da pregação é fundamental. Verdadeiramente a pregação é prioridade na Igreja Cristã. Concordo com Lloyd-Jones, que no livro "Pregação e Pregadores" relaciona o declínio da Igreja ao empobrecimento e desprestígio do púlpito. O grande número de crentes nominativos em nossas Igrejas é conseqüência dos púlpitos insossos, sem unção, vida, nem criatividade. Para que a Igreja cumpra seu papel no mundo é imprescindível que os pregadores desempenhem seu ministério eficientemente e façam com que a pregação da Palavra volte a ser o momento mais importante do culto.
Para que a pregação readquira seu grau de importância é imperativo que os pregadores tenham um preparo adequado, tanto espiritual como intelectualmente. O pregador deve ser vocacionado por Deus para a mais importante tarefa do mundo e, consciente de sua excelente missão, dispor-se nas mãos de Deus buscando a direção do Espírito em todas as áreas de sua vida. A vida do pregador precisa referendar seus sermões. Ele deve viver o que prega, ser exemplo de vida, de santidade, amor, oração, honestidade, chefe de família. O preparo intelectual é igualmente importante. É mistér que o pastor seja homem dado aos estudos, primeiramente das Escrituras, mas não somente conhecimento bíblico é fundamental ao bom pregador. Ele precisa ter boa formação teológica, conhecimento histórico, filosófico, psicológico, antropológico, dentre outras áreas, e isto exigirá do pregador constante apego aos estudos e pesquisas.
Destaco o preparo homilético do pregador. É fundamental que este se aperfeiçoe homileticamente, que estude, que se aprofunde na homilética a fim de conhecer técnicas, métodos e formas sermônicas que enriquecerão seu trabalho.
Concordo com aquilo que ouvi, que o bom sermão é aquele que "conforta os abatidos e incomoda os acomodados", pois creio que o sermão deve constituir-se num instrumento de Deus para falar ao seu povo. Assim, quero destacar alguns aspectos que creio serem importantes na preparação dos sermões:
a) Dependência do Espírito. O pregador deve encher-se dEle continuamente (Efésios 5:18), pois o Espírito foi quem o escolheu e é quem o capacitará para a sua tarefa.
b) Oração. É fundamental a todo cristão, principalmente ao pregador que, através da oração, poderá trilhar o caminho do ministério da pregação com eficiência.
c) Estudo da Bíblia. Meditação e estudo são imprescindíveis. O pregador precisa alimentar-se da Palavra, ouvir os conselhos de Deus para sua vida antes de transmiti-los aos seus ouvintes.
d) Visão. O pastor precisa ter visão de onde pretende chegar com seu rebanho. Como Igreja, temos uma Missão tremendamente abrangente e a visão do pastor orientará o rebanho na parcela que lhe caberá dentro dessa Missão. A partir da visão, de onde se quer chegar, e da consciência de onde se está no momento, o pregador estabelecerá um programa de pregação que vise alimentar e conclamar seu rebanho na direção certa. Este programa deve ser previamente elaborado e dosado de criatividade e variedade, haja visto que a monotonia prejudicará a comunicação.
e) Técnicas de comunicação e homilética. O pregador precisa especializar-se a fim de eficientemente comunicar-se com seu povo. Para isso, pode buscar reciclar-se através de leituras ou aperfeiçoar-se com cursos de pós-graduação. Este aperfeiçoamento é importante para que consiga transmitir idéias contidas nos sermões com clareza de modo a serem absorvidas pelos ouvintes. Este cuidado levará o pregador a ter sempre um objetivo específico em cada sermão e a saber como alcança-lo mediante a pregação.
f) Conhecimento da natureza humana. O pregador que busca a eficiência em seu trabalho precisa conhecer seu povo e reconhecer suas carências. Se o sermão não for relevante, também não será interessante ao povo. A Bíblia não pode ser usada a pretexto, pois a pregação eficiente é bíblica e contemporânea. Concordo com L. M. Perry e Charles Sell que no livro "Pregando Sobre os Problemas da Vida" afirmam que de nada vale falar de detalhes da vida do século I e nada dizer sobre a vida do século XX.
g) Boa administração do tempo. Em geral os pregadores se envolvem com diversas atividades, mas o bom pregador é alguém que reconhece a preciosidade da obra que tem a desempenhar e investe a parcela necessária de tempo neste trabalho. Vale ressaltar que a preguiça é uma terrível inimiga da eficiência do pregador.
h) O celeiro de idéias. É uma prática igualmente importante. Uma simples agenda pode registrar idéias para sermões e ilustrações que o pregador leu, ouviu ou mesmo viveu e que futuramente poderão lhe servir para enriquecer seu trabalho.
i) Criatividade e variedade. O pastor nunca deve ser tido como repetitivo e previsível em seu trabalho como pregador. Deve surpreender sua congregação ao usar de inteligência e criatividade, podendo alcançar isto variando as formas homiléticas de apresentar seus sermões. Sermões narrativos, segmentados, monólogos, biográficos, dentre outros, poderão compor o calendário de pregação.
j) Avaliação. Destaco a necessidade do pregador avaliar-se e, para tanto, acredito que uma pessoa de confiança do pastor pode auxiliá-lo (quase sempre a esposa é uma pessoa indicada). Sugiro também que todo pregador vez por outra grave seus sermões e depois os ouça a fim de avaliar-se.
Os rumos que a Igreja deverá seguir daqui para a frente dependerão dos seus púlpitos. Se os pregadores forem aptos a discernir a vontade de Deus e dedicados a transmiti-la aos seus ouvintes, viveremos tempos de colheita abundante.
fonte http://www.pregaapalavra.com.br/
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