«Acho que é por causa do Papa», explica um dos operários que descarrega material de um camião, percebido graças a um jovem feito intérprete. Coincidência ou não, o esforço para embelezar o acesso à catedral estará concluído a tempo da chegada de Francisco, dia 14, que além de visitar Seul estará em Daejeon. Há 25 anos foi João Paulo II que na sua segunda viagem ao país voltou a prestar homenagem aos cristãos coreanos, comunidade com uma história de perseguições e mártires, mas que hoje exibe grande vitalidade. Calcula-se que dos 53 por cento de sul-coreanos que assumem prática religiosa, mais de metade sejam cristãos, com a Igreja Católica a ser a maior das que seguem Jesus, mas as confissões protestantes a somarem mais crentes. A outra grande religião coreana é o budismo, introduzido no século IV a partir da China.
Funcionária pública, Bora Kim é uma cristã protestante orgulhosa da sua pertença religiosa. Diz que há quatro gerações que a família se converteu à mensagem de Jesus e que toda a sua maneira de ser tem que ver com essa opção pelos valores cristãos. Elogia o papel dos missionários, que, depois da Guerra da Coreia (1950-1953), conquistaram grande simpatia pelo seu trabalho pelos mais desfavorecidos, sobretudo as crianças. Construíram escolas e hospitais por todo o sul do país, dividido do norte comunista até hoje. Bora Kim recorda que o seu avô teve contacto estreito com missionários americanos que vieram para a Coreia nessa época e que «com um deles aprendeu a usar marionetas para explicar a mensagem cristã aos mais novos».
Se toda a gente admite que o dinamismo das igrejas protestantes é impressionante, até por via dos meios económicos, é também indesmentível que a história do cristianismo na Coreia começa com o catolicismo. «A Coreia é um caso único. Não foram estrangeiros que trouxeram o cristianismo, foram os próprios coreanos que o introduziram no país a partir da China», explica Pedro Louro, padre português, um dos missionários da Consolata que vive nesta nação asiática.
«Ao todo somos dez missionários, três portugueses», diz Pedro Louro, acrescentando que Álvaro Pacheco, há 17 anos na Coreia, está a preparar o regresso a Portugal. Na casa da Consolata em Yeokok (há mais duas) surge para o almoço um sul-coreano recém-chegado de África, sendo que o país é famoso por produzir missionários, tanto católicos como protestantes.
Aliás, nesta Coreia onde a liberdade religiosa é total (ao contrário do que se passa na Coreia do Norte, oficialmente ateísta) a vitalidade do cristianismo tem levado a uma multiplicação de igrejas protestantes, algumas envolvidas em escândalos como o do ferry naufragado há meses e que pertencia a uma empresa ligada a pastores. «É um grupo que não é reconhecido pelo Conselho das Igrejas», explica Pedro Louro, que lamenta excessos e a incapacidade das autoridades para os travar. Outra polémica é a situação das Testemunhas de Jeová que, visto os seus membros recusarem cumprir o serviço militar, têm uma relação conflituosa com o governo. É preciso não esquecer que nunca foi assinado um tratado de paz entre as Coreias e as duas contam com centenas de milhares de homens em armas e são pouco recetivas a pacifistas.
Em Seul, perto do mercado de Dongdaemun, dois jovens distribuem panfletos. São Testemunhas de Jeová e um deles, estudante universitário, lamenta não ter nenhuma publicação em português mas oferece uma em inglês. Questionado sobre quantos são os fiéis na Coreia, responde «um milhão», número que tem todo o ar de ser só uma ambição. Prova de que a diversidade religiosa é uma das marcas da Coreia, mais à frente surge uma bancada a fazer a apologia da Falun Gong, corrente espiritual recente que tem tido problemas na China, o seu país de origem.
Francisco, que estará quatro dias na Coreia do Sul, lembrará os tempos difíceis do catolicismo local durante a beatificação de 124 mártires. A história destes é recordada em cartazes junto à catedral de Seul. A própria catedral de Myeong-dong merece ser recordada pelo abrigo que dava aos defensores da democratização, em luta contra o regime militar pró-americano. Muito do prestígio atual da Igreja Católica vem dessa luta pelos direitos humanos, até triunfar a democracia nos anos 1980 num país cheio de vitalidade e que é uma das economias mais dinâmicas do planeta, graças a empresas como a Samsung, gigante dos telemóveis e tabletes, a LG, também eletrónica, ou a Kia, marca automóvel.
FM
Notícia copiada de: http://www.noticiascristas.com/2014/08/pujanca-do-cristianismo-no-pais-da.html#ixzz3Bt46DOZQ
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