A Contemporânea Teologia do Profeta Joel


Joel, cujo nome significa “O Senhor é Deus, identifica-se como “filho de Petuel” (1.1). suas numerosas referências a Sião e ao ministério do templo indicam que ele era profeta em Judá e Jerusalém, e sua familiaridade com os sacerdotes sugere ter sido ele um profeta sacerdotal (Jr 28.1,5) que proclamou a verdadeira palavra do Senhor. Joel não menciona nenhum rei, ou ainda não menciona nenhum evento histórico, razão pela qual não se pode determinar o período de seu ministério. Acredita-se que ele tenha exercido seu ministério depois de os exilados terem voltado da Babilônia a Jerusalém e reedificado o templo (cerca de 510-400 a.C.). Outra corrente acredita que a mensagem de Joel tenha sido profetizada durante os primeiros dias do rei Joás, que subiu ao trono com a idade de sete anos (II Rs 11.21), o que daria uma data aproximada entre 835-830 a.C.
Ao escrever seu livro ele o fez em virtude de duas calamidades naturais recentes e da iminência de uma invasão prefigurada ou literalmente de gafanhotos. Seus propósitos ao escrever a profecia eram três:
(1) Reunir o povo perante o Senhor para uma assembleia solene (1.14; 2.15,16)
(2) Exortar o povo a arrepender-se e voltar-se humildemente ao Senhor Deus através de jejuns, choro, pesar e clamor por sua misericórdia (2.12-17)
(3) Falar ao povo da sua restauração caso acontecesse um sincero arrependimento (2.18 – 3.21)
De acordo com a nota introdutória da Bíblia de Estudo Pentecostal, cinco aspectos básicos caracterizam o livro de Joel, a saber:
(1) É uma das obras literárias mais esmeradas do AT.
(2) Contém a profecia mais profunda no AT a respeito do derramamento do Espírito Santo sobre toda a humanidade.
(3) Registra numerosas calamidades nacionais: pragas de gafanhotos, seca, fome, incêndios arrasadores, invasões militares, desastres nos céus; como juízos divinos em decorrência da desintegração espiritual e moral do povo de Deus.
(4) Enfatiza que Deus, às vezes, opera sobrenaturalmente na história através de calamidades naturais e conflitos militares a fim de levar a efeito o arrependimento, o avivamento e a redenção da humanidade.
(5) Oferece o exemplo de um pregador que, em virtude de sua estreita comunhão com Deus e estatura espiritual, conclama o povo de Deus a arrepender-se de modo decisivo, em âmbito nacional, numa hora crítica de sua história, e consegue resultados positivos.
Independente da época em que situe o profeta, o cenário de Joel vai nos ajudar a entender a sua mensagem. Há uma seca muito forte e uma praga de gafanhotos como cenários principais do livro. Para uma nação que dependia da agricultura e da pecuária para viver, isto era um sinal certo de grave crise econômica. É uma figura de juízo sobre o povo. Um tempo de fome se avizinha. A invasão de gafanhotos domina o cenário, mais que a seca. Três teorias pretendem explicá-la.
(1) Os gafanhotos não seriam reais, mas seriam uma figura de invasores como egípcios, babilônios, assírios e gregos. Embora respeite quem interprete desta maneira, a colocação dos gregos aqui dependerá de uma data mais próxima de nós, colocando o livro no período pós-exílico. Isso eu hesito em fazer.
(2) Os gafanhotos seriam criaturas apocalípticas, símbolo de exércitos invasores no final dos tempos. Joel estaria falando do nosso futuro e não do seu futuro. Estaria pregando para uma época posterior a nós e não para seus contemporâneos. Também respeito esta posição, mas ela invalidaria o restante do livro. Por que uma chamada ao arrependimento aos contemporâneos de Joel por causa de algo a acontecer 3.700 anos depois?
(3) Os gafanhotos seriam literais. Comedores de hortas, campos e lavouras. Eram o sinal de juízo divino sobre aquela geração, os contemporâneos do profeta.
Esta última interpretação me parece ser a mais viável porque a descrição feita por Joel é típica de uma nuvem de insetos.
Joel tem uma teologia contundente, profunda, pertinente ao povo de sua época, mas atual, contemporânea e faz-se necessária sua abordagem e aplicação nos dias atuais. Esses pensamentos trazem uma extraordinária contemporaneidade e relevância para o nosso tempo. Observemos:

1. NA TEOLOGIA DE JOEL ANALISEMOS O LUGAR QUE DEUS OCUPA EM SEU PENSAMENTO.
O livro de Joel é um livro teocêntrico. Em todas as atividades nesse livro, Deus é o autor das ações. A praga de gafanhotos foi enviada por Deus (2.11). Também a remoção dos gafanhotos é obra de Deus (2.19-20). É o Senhor quem chama o povo a chorar e ao arrependimento (2.12-13). É Deus quem decide que é tempo de julgar, mas é Ele quem chama para a conversão, quem oferece a restauração, quem derrama o Espírito Santo e quem finalmente dá a vitória final. Joel nos relembra dois aspectos importantes que não podemos esquecer na atualidade: (1) Deus é o Senhor da natureza; (2) Deus é o Senhor da história. Precisamos rever o lugar que Deus ocupa em nossa vida e pensamentos. Tem sido Ele considerado por nós o Senhor da história? Compreendemos realmente que é Deus quem está no controle de todas as coisas?
O Senhor Deus tem o destino das nações em suas mãos. Não é um Deus fora do mundo. Embora não seja do mundo, ele está no mundo. Ele suscita gafanhotos, em 1.4 e no capítulo 2. Ele traz a seca, em 1.12. Ele move as nações no capítulo 3. Ele restaura o seu povo, no trecho final do livro (3.18-21). Tudo vem dele, tudo é feito por ele, tudo obedece a ele. A história tem um rumo, ditado por ele. Vai para onde ele quer que ela vá.

2. NA TEOLOGIA DE JOEL OBSERVEMOS A MORALIDADE DE DEUS.
Ele não é uma força ou energia cósmica. Não é um Deus impessoal. Ele tem propósitos morais porque Ele é um ser moral. Ele tem propósitos éticos porque é um Deus ético. Ele chama o seu povo à santidade porque é um Deus santo (I Pe 1.16). Nossa visão deve contemplar a contemporânea santidade de Deus. O profeta Isaias no meio de uma crise sem precedentes vai ao templo, tem uma visão do trono de Deus e com ela a constatação de seu próprio pecado. Quando Isaias confessa seu pecado tem então a experiência da purificação e da convocação para uma missão especifica (Is 6.1-8). Deus nos chama a contemplar sua moralidade, a termos uma visão de sua santidade, a vermos a grandeza de sua perfeição, para que através dessa visão sejamos confrontados com os nossos pecados e nos arrependamos diante do Senhor nosso Deus.

3. NA TEOLOGIA DE JOEL ANALISEMOS A COMPAIXÃO DE DEUS
Deus se mostra zeloso e teve compaixão (2.18). O termo hebraico traduzido por “compadeceu”, não é um termo comum. O termo é “hemel” que aparece também em Êxodo 2.6, mostrando que a filha de Faraó teve compaixão do pequeno Moisés. Parece ser um verbo para uma compaixão materna. O sentimento de Deus é o de uma mulher, com senso de maternidade, que vê o seu filho prestes a morrer. É interessante como vimos a compaixão de Deus retratada nos profetas. É Deus que convida o povo a arrepender-se. É Deus quem se interessa por restaurar os anos consumidos pelos gafanhotos. Em Oséias é Deus prefigurado na figura do marido traído que vai atrás da mulher infiel para restaurar seu casamento, perdoá-la e viver outra vez com ela. O que está evidenciado nesses livros é a compaixão de Deus. Não importa quantas vezes o ser humano falhar, a compaixão de Deus é suficiente para restaurar o homem quantas vezes se fizerem necessárias. O apostolo João escreve: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados” (I Jo 2.1,2).

4. NA TEOLOGIA DE JOEL A NECESSIDADE DE CONVERSÃO É EVIDENCIADA
Nos dias em que vivemos, Deus está sendo tratado como fantoche, robô nas mãos dos homens. Basta ter um comportamento bom, entregar suas ofertas nas “campanhas de prosperidade” de qualquer ministério moderno, e pronto. Tudo já está resolvido. A conversão foi deixada de lado em muitos púlpitos e substituída pela adesão ou pela contribuição. A ética foi suprimida e em seu lugar entrou a prosperidade como tema dominante de muitas pregações. “Todavia ainda agora diz o Senhor: Converte-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e como choro e com pranto”; é a conclamação de Deus registrada por Joel em 2.12. Ele não quer uma liturgia envolvente, Ele quer ação que mostre quebrantamento e não ritual apenas. É para rasgar os corações e não as roupas (2.13). É para o povo chorar os seus pecados (2.17). Rasgar o coração é entristecer-se pelo pecado praticado e pela falta cometida. Rasgar o coração é sentir a dor do pecado que constrange o coração de Deus.
Preguemos a chamada à conversão. O evangelho ôba-ôba, tipo goma de mascar, que se mastiga, mastiga, mantém a boca cheia, mas que nunca alimenta, que faz promessas sem exigências, que anuncia bênçãos em troca de ofertas, que mostra alarido, mas não frutos, é uma perversão da Palavra. O cristianismo é uma chamada à correção, à vida acertada com Deus. Cristianismo não é filosofia de vida, não é festa, nem forró. Cristianismo é um compromisso com a pessoa de Cristo. É a conversão do homem que faz Deus mudar o juízo em benção. É o reconhecimento de que a vida está errada e deve ser mudada.

5. NA TEOLOGIA DE JOEL CONTEMPLAMOS O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO (2.28-32)
Destacaremos algumas verdades aqui:
(1) O derramamento do Espírito Santo é uma promessa segura de Deus (2.28). É Ele quem derrama.
(2) O derramamento do Espírito Santo é uma promessa abundante de Deus (2.28). É derramado, ilimitado, inesgotável.
(3) O derramamento do Espírito Santo é uma promessa abrangente de Deus (2.28,29). Através do derramar do Espírito quatro preconceitos são quebrados:
Ø A quebra do preconceito racial: “toda a carne” (2.28)
Ø A quebra do preconceito sexual: “filhos e filhas” (2.28)
Ø A quebra do preconceito etário: “velhos e jovens” (2.28)
Ø A quebra do preconceito social: “servos e servas” (2.29)
O derramamento do Espírito Santo sinaliza grandes intervenções de Deus (2.30-32). O derramamento do Espírito aponta para o julgamento de Deus às nações e aponta para a salvação de Deus a todos os povos.

Concluindo, Joel anunciou profeticamente o tempo da Igreja, o tempo em que vivemos, o tempo da comunidade onde o Espírito Santo está em todos e age em todos. Infelizmente, a igreja contemporânea tem muita festa e pouco quebrantamento, busca o poder humano, principalmente o político, mas não busca a santidade, não enfatiza a correção de vida. Isto é trágico! Busquemos o Espírito Santo! Convertamo-nos a Deus! Experimentemos as copiosas chuvas que restaura o louvor, que manifesta a presença divina, que reaviva a alegria nacional e que nos liberte da vergonha (2.22-27).

Estudo ministrado por Pastor Sérgio Pereira no culto de edificação cristã na Assembléia de Deus, Distrito 8 – Shalom/Espinheiros, Joinville (SC), em 26/01/2010.

BIBLIOGRAFIA
Bíblia de Estudo Pentecostal
Isaltino Gomes Coelho Filho. O Profeta Joel. Disponível emwww.scribd.com/doc/18338219/o-Profeta-Joel-Pr-Isaltino acesso em 25/01/2010.

Hernandes Dias Lopes. Joel, o Profeta do Avivamento
http://prsergiopereira.blogspot.com.br/2010/01/contemporanea-teologia-do-profeta-joel.html