Mulheres em Evidência
Não faz muito tempo fui convidado para ministrar em uma convenção de pastores. A minha palestra versava sobre o valor da apologética cristã no ministério pastoral. Durante os dias que ali passei naquele conclave, pude observar um debate acirrado sobre a ordenação de mulheres para o ministério pastoral. As posições estavam polarizadas e os enfrentamentos se tornaram bastante calorosos! Como não havia sido convidado para esse propósito, não tive participação ativa naquele debate.
Não é meu propósito neste capítulo tratar da ordenação ou não de mulheres ao ministério pastoral. Nem tampouco é meu objetivo entrar no mérito dessa questão emitindo um juízo de valor sobre esse assunto. Isso fugiria completamente do nosso foco aqui que é procurar entender o lugar que as mulheres ocuparam no ministério público de Jesus. Todavia acredito que precisamos conhecer o que a história registrou sobre esse assunto a fim de entendermos melhor como a mulher tem sido tratada ao longo dos anos, quer dentro da cultura judaica, cristã ou secular.
O Catolicismo Medieval e as Mulheres!
Embora o debate em tomo da participação feminina nos contextos social e religioso é bastante atual, todavia, como observaram os escritores Bonnidell Cluse e Robert G. Bonnidell, ele não é novo.1 Bonnnidell faz um excelente apanhado histórico sobre a participação feminina no movimento evangélico através dos séculos. Aqui sintetizarei essa análise.
No contexto católico romano, por exemplo, as mulheres possuem atribuições religiosas bastante limitadas. Isso se deve ao fato da analogia que o catolicismo criou entre o sacerdócio levítico e o sacerdócio católico. Sendo o sacerdócio católico uma adaptação do sacerdócio levítico, inclusive com sua função de mediador, somente homens, como era no antigo judaísmo, poderiam participar do culto. As mulheres estavam excluídas por uma série de razões. Uma delas é que a Lei considerava uma mulher, no período menstrual, cerimonialmente impura para o culto. Dessa forma o catolicismo medieval entendia que as mulheres também estavam excluídas para as atividades religiosas pelas mesmas razões.
Mulheres no Contexto da Reforma
No contexto evangélico ou protestante, no que se refere ao papel das mulheres, os debates têm se restringido à participação ou não das mesmas no ministério pastoral. Em outras palavras, a questão gira em torno da ordenação ou não de mulheres para o exercício pastoral ou para a função de liderança. Robert G. Clouse explica como é vista essa questão nas igrejas protestantes. Na maioria das igrejas, observa ele, a ordenação para o ministério se entende como a eleição de algumas pessoas que vão ocupar posições de autoridade dentro da congregação. Isso as qualifica para pregar, administrar os sacramentos e supervisionar os assuntos da congregação. Devido a importância da pregação nas igrejas protestantes, o tema da ordenação está muito relacionado com essa função.2
Com o advento da Reforma Protestante de 1517, a visão bíblica do sacerdócio universal de todos os crentes foi restaurada dentro do contexto evangélico. Seguindo o ensino neotestamentário, Lutero ensinou que o cristão era seu próprio sacerdote (1 Pe 2.9). Isso abolia a figura do sacerdote católico e também tornava desnecessária a figura de um mediador. Apesar de alguns historiadores acharem que Lutero, graças a sua grande influência, deveria ter olhado com mais atenção para a função de liderança das mulheres na igreja, ele não o fez.3 Mas ele acreditava que sob circunstâncias especiais as mulheres poderiam exercer algumas funções na igreja, como por exemplo, a da pregação.4 Essa sua posição mais maleável para com as mulheres exerceu influência entre luteranos e reformados, seguidores de João Calvino.5 Esse ponto de vista do reformador alemão se fundamentava no relato da criação. Ele acreditava que antes da queda tanto o homem quanto a mulher desfrutavam da mesma posição diante de Deus, mas com a entrada do pecado no mundo esse quadro mudou. O homem passou então a exercer a função de liderança. Por outro lado, João Calvino partia do princípio de que a mulher havia sido criada a partir do homem e como tal deveria ser subordinada a ele.
Os Anabatistas e as Mulheres
A posição dos anabatistas sobre a participação das mulheres na liturgia do culto era muito mais maleável do que a dos reformadores. Os anabatistas radicalizaram mais ainda a Reforma exigindo o batismo de adultos e a participação de leigos no ministério da igreja. Na verdade os anabatistas eram totalmente contra toda forma de elitização clerical. Não há dúvida de que esse posicionamento dos anabatistas fez com que as mulheres tivessem muito mais espaço entre eles. De fato os batistas do século XVII e os Quakers, claramente influenciados pelo movimento anabatista de onde surgiram, permitiram a participação ativa de mulheres em suas liturgias.
As Mulheres e o Movimento Pietista Alemão
Essas e outras controvérsias surgidas por conta da Reforma fez com que as igrejas institucionalizadas procurassem definir seus credos doutrinários de forma muito mais precisa. A consequência natural dessa ortodoxia foi a classificação desses movimentos como sendo de natureza sectária e herética.
Muitos cristãos não ficaram satisfeitos com esse enrijecimento doutrinário da igreja institucional e procuraram um retorno ao fervor bíblico primitivo. Passaram a enfatizar a conversão, a ansiar por uma vida mais santa e uma vida devocional mais dinâmica. Esses crentes foram apelidados de “pietistas”. Eles enfatizam a vida interior e não apenas os rituais exteriores. No movimento pietista as mulheres voltaram a ter um papel de destaque.
O Metodismo e as Mulheres
É com o movimento metodista, fundado por John Wesley, que as mulheres vão receber a visibilidade que ainda não possuíam, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos. Wesley acreditava que as restrições de Paulo quanto à função das mulheres na igreja era uma norma a ser seguida. Todavia, ele cria que Deus havia chamado a todos para a sublime missão de pregar o evangelho. Pensando assim, ele permitiu que leigos e mulheres tivessem participação ativa no seu movimento.
Os Movimentos de Reavivamento e as Mulheres
Entre os anos de 1725 e 1770, os Estados Unidos foram abalados pelo que se chama comumente de “O Grande Avivamento”. Tendo origem nas igrejas reformadas holandesas, influenciando posteriormente as igrejas congregacionais da Nova Inglaterra, esse avivamento trouxe conversões em massas e gerou também o famoso pregador Jonathan Edwards. Nesse avivamento, as mulheres tiveram uma participação especial. A mais famosa delas foi Sarah Osborn que desenvolveu um ministério público de pregação. Um outro avivamento, que se seguiu a esse, denominado de “O Segundo Grande Despertamento”, ocorreu em meados do século XIX. Cerca de dois terços dos convertidos nesse movimento eram mulheres que em sua grande maioria estavam na casa dos trinta anos. Esse fato fez com que as mulheres também tivessem proeminência dentro desse movimento.
Com o advento do pentecostalismo no início do século XX, o papel da mulher na igreja ganhou muito mais expressão. Todavia, o mesmo fenômeno que ocorreu dentro de outros movimentos evangélicos passados se repetiu dentro do pentecostalismo e a posição de liderança das mulheres ficou outra vez limitada.6
Observa-se que embora as mulheres tenham exercido diferentes funções dentro do movimento protestante, o protestantismo se manteve sempre conservador ao restringir a função de liderança eclesiástica ao sexo masculino.
O Movimento Feminista e as Mulheres
No contexto secular o movimento feminista surge com a bandeira que promete acabar com toda e qualquer discriminação que existe contra a mulher.
De acordo com a Enciclopédia Barsa, o movimento feminista defende a igualdade de direitos e status entre homens e mulheres, que devem ter garantida a liberdade de decisão sobre suas próprias carreiras e padrões de vida.7 A origem desse movimento está associado à revolução francesa de 1789. Durante esse período de convulsão social o sistema político e social então vigente na França e no resto do Ocidente foi abalado. Ainda de acordo com a Barsa, esse movimento “encorajou as mulheres a denunciar a sujeição a que eram mantidas e que se manifestava em todas as esferas da existência: jurídica, política, econômica, educacional, etc. ”8
Como se observa, esse movimento de contestação francês em seu início centrava-se mais na conquista de direitos civis para as mulheres, situação que viria a mudar radicalmente no século XX. O movimento feminista contemporâneo acredita que a mulher vive marginalizada e oprimida pela cultura masculina, descrita por ele como patriarcal e machista. Pensando nisso, o movimento procura denunciar os supostos mecanismos psicológicos e psicossociais que favorecem essa marginalização ao mesmo tempo em que oferece recursos que possibilitem à mulher se livrar dessas amarras. Acreditam que somente assim a mulher se torna livre em seu corpo e em seus desejos! Fundamentado nessa tese, reivindica a interrupção voluntária da gravidez (aborto) a radical igualdade nos salários e o acesso a postos de responsabilidade.9 Em muitos países esse movimento tem se tornado radical entrando constantemente em confronto com as autoridades constituídas.10
Jesus, o Judaísmo e as Mulheres
Pois bem, tendo dado essa visão panorâmica sobre como foi tratado o sexo feminino ao longo dos séculos, é nosso objetivo agora voltar para a Palestina do primeiro século a fim de entendermos como Jesus tratou as mulheres.
Tem causado espanto em muitos pesquisadores o relato dos evangelhos sobre a participação feminina no ministério público de Jesus. Essa admiração existe em razão da atenção que os evangelistas, especialmente Lucas, dão às mulheres.11 O relato lucano mostra que as mulheres tiveram participação ativa no ministério de Jesus. “E aconteceu, depois disso, que andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do Reino de Deus; e os doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com suas fazendas” (Lc 8.1-3).
O escritor José A. Pagola destaca essa atenção especial que o terceiro evangelho dispensa às mulheres. “Em seu relato aparecem personagens femininos de uma força extraordinária: Maria mãe de Jesus, Isabel, Ana, a viúva de Naim, a pecadora na casa de Simão, suas amigas Marta e Maria, Maria de Magdala, uma mulher anônima que tece elogios à sua mãe... Lucas tem um interesse especial em apresentar Jesus curando mulheres enfermas —a sogra de Simão, a mulher que sofria de hemorragia, a anciã encurvada, Maria de Magdala, da qual liberta “sete demônios” (8.2). Também sublinha sua compaixão e sua ternura com a mulher pecadora (7.36-50), com a viúva de Naim (7.11-17), com as que saem chorando ao seu encontro no caminho da cruz (23.27- 31).12 Pagola destaca ainda que essas “mulheres são seguidoras de Jesus e acompanham os Doze: Maria Madalena; Joana, mulher de Cuza; Susana e ‘muitas outras que o serviam com seus bens’ (8.1-3). Quando os varões abandonaram Jesus, elas permanecem fiéis até o fim junto à cruz (23.49). São elas as primeiras a anunciar a ressurreição de Jesus, embora os discípulos não acreditem nelas (24.22). O Evangelho de Lucas nos ajudará a olhar a mulher como Jesus a olhava, para defender sua dignidade e para fazer com que elas ocupem em sua comunidade o lugar que lhes corresponde”.13
Essa forma de enxergar a mulher, não a tratando como objeto como fazia, por exemplo, o antigo judaísmo, era totalmente inusitada na Palestina dos dias de Jesus. Jesus, portanto, mudou o paradigma que via as mulheres como “coisa” e não como um ser especial formado por Deus.
Assim como Pagola, outros teólogos têm procurado também entender o papel desempenhado pelas mulheres nas comunidades da Palestina dos dias de Jesus. Dentre eles estão J. Jeremias, John P. Meier, Gerd Theissen e os escritores Ekkehard e Wolfgang Stegemann. A obra desses autores procura reconstruir a vida cotidiana das mulheres nos dias bíblicos.14 John P. Meier, por exemplo, em sua obra Um Judeu Marginal observa que embora Lucas não use o substantivo mathetes ou a sua forma feminina equivalente mathetria para se referir a uma discípula, todavia o substantivo masculino em sua forma plural hoi mathetai pode ser usado em referência tanto para homens como para mulheres.
O que pode ser afirmado, diz Meier, com razoável probabilidade sobre a existência ou a natureza de discípulas em torno do Jesus histórico? Para começar, havia seguidoras? E, se havia mulheres seguindo Jesus em um sentido literal e físico, eram elas chamadas ou consideradas “discípulas” durante a vida de Jesus? Tais questões, embora pareçam simples, são surpreendentemente difíceis de responder. Na verdade, quando várias passagens do Evangelho falam em geral de grupos de “discípulos” com Jesus, sem maiores especificações sobre a composição do grupo, é lícito assinalar que o substantivo masculino plural hoi mathetai pode ser entendido inclusivamente, pois pelo menos alguns substantivos masculinos plurais em grego eram entendidos assim (p. ex., o masculino plural hoi goneis para “pai [pai e mãe]”). Ao contrário da tendência contemporânea do uso no inglês dos Estados Unidos, o masculino plural em grego admite uma interpretação inclusiva se o contexto não dá outra indicação. Portanto, a forma gramatical hoi mathetai poderia se referir a discípulos masculinos e também femininos. Pode-se montar um argumento para mostrar que Lucas em particular interpreta o plural dessa maneira, embora ele nunca use clara e diretamente mathetai apenas para um grupo de mulheres.15
O fato de um grupo de mulheres serem citadas como seguidoras de Jesus tem chamado a atenção dos estudiosos. Isso mostra que a missão do Filho do Homem não se limitou aos excluídos economicamente, mas também aquelas que haviam sido excluídas socialmente. É possível observar que essas mulheres, embora discípulas de Jesus, não se sentiram constrangidas a renunciar os seus bens. Como bem observou Meier, se assim tivessem feito não poderiam servir de forma contínua a Jesus e a seus apóstolos (Lc 8.1-3).
O contraste existente, portanto, entre o tratamento que Jesus deu às mulheres e aquele que elas recebiam da sociedade de seus dias é de fato enorme. Na verdade, Jesus promoveu uma verdadeira “inversão” de valores naqueles dias. O objeto passou a ser sujeito! Os escritores Ekkehard e Wolfgang Stegemann na obra História Social do Protocristianismo, fizeram resgate histórico sobre a participação feminina nas culturas do mundo mediterrâneo. Citando o escritor judeu Filo de Alexandria, contemporâneo de Jesus, eles resumem o pensamento que se tinha sobre as mulheres no judaísmo do primeiro século.
“Praças, reuniões do conselho, tribunais, associações, ajuntamentos de grandes massas e o relacionamento cotidiano a céu aberto, por meio da palavra e da ação, na guerra e na paz, são apropriados apenas aos homens; o sexo feminino, em contrapartida, deve cuidar do lar e permanecer em casa; mais exatamente, as virgens devem (ficar) nos aposentos mais retirados e encarar as portas de acesso como seu limite; as mulheres casadas, por sua vez, as portas da casa. Pois há dois tipos de complexos urbanos, casas (oikíai); destes dois, com base na divisão, os homens têm a direção dos maiores, que constitui a administração da cidade (politeia), e as mulheres dirigem os menores, as chamadas economias domésticas (oikonomía). A mulher, portanto, não deve se preocupar com qualquer coisa que vá além das obrigações da economia doméstica.”16
Por outro lado, as culturas gregas e romanas eram muito mais flexíveis com a participação das mulheres na vida pública. Mas, de uma forma geral, a cultura oriental era bastante rígida com a participação feminina na coletividade. Ainda sobre a presença feminina na vida pública na Palestina nos dias de Jesus, o escritor e historiador J. Jeremias destaca que as mulheres não podiam sair de casa sem terem seus rostos cobertos por uma espécie de burca. Dessa forma não era possível nem mesmo reconhecer seu rosto. E conhecido o caso de um sacerdote que mandou açoitar a própria mãe porque não a reconheceu por causa da indumentária que ela vestia! Jeremias destaca que a mulher que saía de casa sem ter a cabeça coberta, que dizer, sem o véu que ocultava o rosto, faltava de tal modo aos bons costumes que o marido tinha o direito, até mais, tinha o dever de despedi-la sem ser obrigado a pagar a quantia que, no caso de divórcio, pertencia à esposa, em virtude do contrato matrimonial.17
As regras do decoro, observa ainda J. Jeremias, proibiam encontrar-se sozinho com uma mulher, olhar para uma mulher casada, e até mesmo cumprimentá-la. Seria vergonhoso para um aluno de escriba falar com uma mulher na rua. Aquela que conversasse com alguém na rua ou ficasse do lado de fora de sua casa podia ser repudiada sem receber o pagamento previsto no contrato de casamento.18 Isso nos permite entender outros textos dos Evangelhos onde Jesus aparece conversando com mulheres! No Evangelho de Lucas, por exemplo, vemos Jesus dialogando com as irmãs Marta e Maria e no Evangelho de João a clássica história da samaritana. Até mesmo os apóstolos, que acompanhavam Jesus de perto, admiraram-se dessa ousadia do Mestre.
Mulheres que tiveram um Encontro Pessoal com Jesus
Aprecio o esboço feito pela escritora Wanda de Assumpção sobre as mulheres que tiveram um encontro pessoal com Jesus. Ela divide em quatro grupos todas as mulheres que de alguma forma se encontraram com Jesus. No grupo das que tiveram Jesus como seu sustento e consolo, estão: Ana, a profetisa, a viúva de Naim e a viúva pobre. No grupo das mulheres que tiveram Jesus como a sua justificação, estão: a pecadora que ungiu os pés de Jesus e a mulher adúltera. No grupo das que tiveram Jesus como a cura, estão: a sogra de Pedro, a mulher com hemorragia, a mulher curvada por enfermidade, a mulher siro-fenícia e Maria Madalena. Por último, no grupo das mulheres que tiveram Jesus como a água viva que sacia a sede, encontram-se: a mulher samaritana, Marta, Maria de Betânia, a mãe de Tiago e João e Maria, a mãe de Jesus.19
De todas essas histórias, a narrativa sobre a mulher pecadora que ungiu os pés de Jesus se mostra como uma das mais belas e fascinantes. Ela mostra que Jesus valorizou as mulheres e devolveu-lhes a dignidade perdida.
“E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa. E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento. E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-los com os cabelos da sua cabeça e beijava-lhe os pés, e ungia-los com o unguento.
Quando isso viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora. E, respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre. Um certo credor tinha dois devedores; um devia- lhe quinhentos dinheiros, e outro, cinquenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois: qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com unguento. Por isso, te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. E disse a ela: Os teus pecados te são perdoados. E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz” (Lc 7.36-50).
Quando isso viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora. E, respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre. Um certo credor tinha dois devedores; um devia- lhe quinhentos dinheiros, e outro, cinquenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois: qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com unguento. Por isso, te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. E disse a ela: Os teus pecados te são perdoados. E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz” (Lc 7.36-50).
Algumas deduções são possíveis a partir desse texto:
1. A mulher pecadora era “cobiçada” pelos homens, mas não se sentia amada por Deus.
Essa mulher que ungiu os pés de Jesus, que não deve ser confundida com uma outra mulher citada no capítulo 12 do evangelho de João, trazia o estigma de ser “pecadora”. Esse adjetivo significava que ela era uma mulher de vida “livre” ou mais popularmente uma “prostituta”. Isso a excluía da vida religiosa e da vida em sociedade. Não há dúvida de que essa mulher, sempre disponível para os homens, sendo cobiçada por eles, não se sentia uma mulher amada.
É somente quando ela encontra o Senhor Jesus que ela de fato vai saber o que é se sentir realmente amada. Jesus fez com que a mulher pecadora se sentisse perdoada por Deus.
2. A mulher pecadora levava consigo um frasco de perfume, mas não conseguia encobrir o fedor do seu passado.
O fariseu que convidou Jesus, ao observar a cena da mulher ungindo o Senhor, pensou: “Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora”. Esse fariseu tinha o olfato refinado para sentir o cheiro do “pecado”. Pela lei, aquela mulher de fato era uma pecadora! O fariseu e todos os presentes ali sabiam disso. Parece que aquela mulher fedia a pecado.
Foi somente quando teve o contado com o Mestre que o seu pecado e consequente o seu passado foram esquecidos diante de Deus. Agora ela não fedia mais a pecado, mas tornara-se o bom perfume de Cristo (2 Co 2.15).
3. A mulher pecadora vendia o seu corpo, mas não conseguia comprar a paz.
O que de fato essa mulher procurava e buscava com intensidade era encontrar a paz! Ela tinha os homens à sua volta, ganhava dinheiro com seu corpo, mas não conseguia encontrar a paz. Jesus mostra-lhe que ser amada por Deus e perdoada por Ele é o que importa. A paz vem quando o perdão de Deus é derramado em seu coração.
4. A mulher pecadora derramou diante de Jesus tudo o que tinha para que Deus juntasse o que havia sobrado dela.
O relato lucano diz que ela ungia o Senhor. Ela derramou tudo o que possuía de mais precioso sobre o Senhor. O seu gesto de entrega e de arrependimento possibilitou o Senhor restaurá-la por completo. A sua vida, que se encontrava fragmentada em retalhos foi totalmente reconstruída.
5. A mulher pecadora aprendeu que a Lei condena, mas a graça perdoa!
A Lei puniu aquela mulher, a graça a perdoou! A Lei a excluía, a graça a abraçou! A Lei foi dada através de Moisés, a graça e a verdade vieram através de Jesus Cristo (Jo 1.17).
José Gonçalves
NOTAS
1 CLUSE, Bonnidell & CLOUSE, Robert G. eds. Mujeres En El Ministério - cuatro pontos de vista. Editorial CLIE, Barcelona, Espanha.
2 CLUSE, Bonnidell & CLOUSE, Robert G. eds. Mujeres En El Ministério - cuatro pontos de vista. Editorial CLIE, Barcelona, Espanha.
3 LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, volumes 1 ao 10. Rio Grande do Sul: Editoras Sinodal/Concórdia/Ulbra, 2004.
4 “A Bíblia não é contra as mulheres serem pregadoras do Evangelho. Jesus ensina a todos, inclusive as mulheres. Na Bíblia há vários exemplos claros de mulheres usadas por Deus na pregação da Palavra. O Espírito Santo distribui soberanamente Seus dons para o bem comum da igreja e estes não são condicionados pelo sexo, 1 Co 12:1- 11; 141. Vemos, no SI 68.11, a citação de uma grande companhia que anuncia as boas-novas, sem citar o gênero, portanto as mulheres estão incluídas. O profeta Joel, na promessa do derramamento do Espírito, destaca que “as filhas profetizarão” e as “servas” receberão o Espírito, isto é, anunciarão a Palavra do Senhor, 2.28,29”. (SCHIMIDT, Alaid Schiavone. Pequena Enciclopédia de Temas Femininos. São Paulo: Arte Editorial, 2007).
5 Idem, pp.18-19.
6 Para um estudo mais aprofundado veja a obra: Mujeres Em El Ministério - cuatro ponto de vista (Mulheres no Ministério - quatro pontos de vistas. Editorial CLIE, Barcelona, Espanha.
6 Para um estudo mais aprofundado veja a obra: Mujeres Em El Ministério - cuatro ponto de vista (Mulheres no Ministério - quatro pontos de vistas. Editorial CLIE, Barcelona, Espanha.
7 Barsa Planeta Internacional.
8 Idem. p.222.
9 Barsa, p.224.
10 A revista IstoE, periódico semanal da editora Três, trouxe uma matéria intitulada: “O Movimento das Antifeministas” (13/8/2014). A matéria destaca que “para um número cada vez maior de mulheres jovens, o feminismo é um movimento ultrapassado, cheio de ideias equivocadas". O movimento antifeminista é formado por mulheres de 18 a 24 anos que, por meio de sites e redes sociais, defendem ideais contrárias ao feminismo. Consideram as ideologias feministas contraditórias. São várias essas comunidades: “Mulheres Contra o Feminismo”, “Filosofia Feminista”, “Antifeminismo”, “Resistência Antifeminismo Marxista” e “Moça, Não Sou Obrigada a Ser Feminista”. A bandeira do antifeminismo defende que a mulher pode ser livre independentemente do feminismo; que uma mulher tem o direito de optar por atividades domésticas; para uma mulher ser plenamente feliz, ela pode ter opiniões contrárias ao feminismo; ser feminista é lutar contra as falácias feministas e que a mulher pode lutar por igualdade sem ser feminista.
11 Podemos perceber também a teologia carismática de Lucas nas referências ao Espírito Santo nas vidas de Maria, mãe de Jesus, e Isabel. Lucas registra, por exemplo, que “Isabel ficou possuída pelo Espírito Santo” (Lc 1.41 ) Por outro lado, o anjo de Deus disse a Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do altíssimo te envolverá com sua sombra” (Lc 1.35).
12 PAGOLA, Antônio José. Lucas — o caminho aberto por Jesus. Petrópolis: Editora Vozes.
13 Idem. p. 19.
14 Isso não significa que estou endossando aqui tudo o que esses autores afirmam em suas obras sobre os Evangelhos e a pessoa de Jesus. E clara, por exemplo, a influência do secularismo liberal sobre as obras desses autores quando tratam sobre a questão do “Jesus histórico”. Baseados em critérios totalmente subjetivos e arbitrários, esses autores decidem quais textos dos evangelhos são de natureza histórica e quais não são.
15 MEIER, John P. Um Judeu Marginal - repensando o Jesus histórico, volume três, livro um. Rio de Janeiro: Editora Imago.
16 STEGEMANN, W. & STEGEMANN, Wolfgang. História Social do Protocristianismo — os primórdios no judaísmo e as comunidades de Cristo no mundo mediterrâneo. Editora Paulus/Sinodal. 2004.
17 JEREMIAS, J. Jerusalém no Tempo de Jesus - pesquisa de história econômicosocial no período neotestamentário. Edições Paulinas, São Paulo.
18 Idem. p.475.
19 ASSUMPÇÃO, Wanda. Mulheres que Tiveram um Encontro Pessoal com Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.
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