Levanta as mãos.
Pr. José Serafim de Oliveira*
“Assim diz o Senhor: ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele, e achareis descanso para as vossas almas; mas elesdizem: Não andaremos nele”.
Certas inovações têm surgido em nossas igrejas e alguns pregadores têm aderido a estas inovações. Parece-me que está se tornando um hábito. Certos pregadores apelam para oauditório dizendo: Levanta as mãos, fica um minuto com as mãos levantadas, deem uma saraivada de glória. Outros dizem: fala para o teu irmão ao teu lado. Abraça teu irmão. São inovaçõessurgidas nos meios pentecostais. Gostaria muito de saber em que esses pregadores se inspiram, ou em que estão baseados para tais práticas.
Temos, na Bíblia Sagrada, alguns textos que falam de mãos levantadas mas em outras circunstâncias, e com outras finalidades. Ex: Sl. 141. 2 - “Suba a minha oração perante a tua facecomo incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde”; I Tm. 2:8 - “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contendas.”
Os dois textos falam de oração. Aquela oração auricular, o crente fechado em seu quarto conforme Mt.6:6. Nessa oração, o crente pode se prostrar diante de Deus, colocar o rosto nochão, levantar as mãos em sinal de adoração e total rendição a Deus. Levantar as mãos não é para fazer espetáculo, chamar atenção dos circunstantes, fazer-se de muito fervoroso. Tudo issonão passa de ostentação barata, o que não deve acontecer com os fiéis servos de Deus que desejam tão somente gozar de íntima comunhão com o Senhor. O servo de Deus pode, na sua oraçãoparticular, chorar, sorrir, falar línguas estranhas, levantar as mãos em sinal de adoração ao Senhor.
Não consegui encontrar na Bíblia, nem na tradição das Assembleias de Deus, qualquer ponto de apoio para o que estão fazendo esses pregadores modernos.
Consultemos primeiro a Bíblia Sagrada que é a nossa única regra de fé e prática. Nos sermões de Jesus, nunca O encontramos mandando seus ouvintes levantarem as mãos. O livro de Atos dos apóstolos registra dois grandes sermões do Apóstolo Pedro. Um no capítulo dois, v.v. 14 a 16, outro no capítulo três, v.v. 11 a 26. Não encontramos nem uma vez o apóstolo mandando o povolevantar as mãos, ou dar brados de glória. O que aconteceu nesses dois sermões de Pedro? Está escrito que, ouvindo eles isto, compungiram em seus corações (v.37). A mensagem ungida pelo Espírito Santo tocou o coração dos ouvintes. Nos dois sermões, quase oito mil almas se converteram ao Senhor. É esse resultado positivo que esperamos quando pregamos hoje a Palavra de Deus.
Encontramos ainda, em Atos dos Apóstolos, os sermões do Apóstolo Paulo registrados por Lucas, o médico amado, mas nunca encontramos o Apóstolo Paulo, nos seus sermões, mandando seus ouvintes levantarem as mãos, darem brados de glória e aleluia, e falar aos seus irmãos do seu lado, ou abraçar seus irmãos. Não seria bem melhor imitarmos esses exemplos? (I Co. 11: 1).
Consultemos agora a tradição das Assembleias de Deus no Brasil. Desde os fundadores, Daniel Bergue e Gunnar Vingren, até os nossos pastores mais recentes. Eu tive o privilégio de ouvir, algumas vezes, o Missionário Daniel Bergue, o Pr. Cícero Canuto de Lima, o Missionário Eurico Bergesten, o Pr. Alfredo Reikdal, o Pr. Bruno Skolimowsky, e tantos outros servos de Deus que tanto se destacaram na história das Assembleias de Deus. Atualmente, o nosso Pr. Presidente, Pr. José Welington Bezerra da Costa. Todos esses pastores que mencionamos, e tantos outros que tivemos o privilégio de ouvir ao longo de nossos sessenta anos de Assembleia de Deus, nenhum deles lançou mão desses recursos. Nunca ouvi nenhum deles dizer: Levanta as mãos, dá um brado de glória, fala para o teu irmão, abraça o teu irmão.
Esses homens de Deus pregavam a Palavra de Deus com simplicidade, não inventando nada, a Palavra de Deus não precisa de incremento humano para surtir efeito, ela é completa e poderosa para efetuar aquilo a que se propõe (Rm.1:16). Em muitas dessas mensagens, a igreja era tomada pelo poder de Deus; os crentes glorificavam a Deus, falavam línguas estranhas, doentes eram curados, oprimidos por espíritos imundos ficavam libertos, e muitos eram batizados com o Espírito Santo. Falando em batismo com o Espírito Santo, é bom lembrar que quem concede a língua estranha é o Espírito santo (At. 2:4). Temos visto, com muita tristeza, alguns “batizadores” querendo ensinar os crentes a remedar uma língua por eles adotada. Isso é pecado. Pecado gravíssimo. Fiquei sabendo até que há quem usa um fio elétrico descascado para encostar nos irmãos e lhes dar um choque de baixa voltagem, e quando o irmão pula com o efeito do choque, o “batizador” grita: mais um batizado aqui. Isso é brincar com coisa séria, tenhamos temor de Deus e não tentemos manipular o Espírito Santo, pois Ele é Deus, e como Deus que é, merece nossa adoração e louvor.
Jovens pregadores, essa nova geração de pregadores que Deus está levantando, por favor, não copiem esse nefando modelo. O pregador não deve ser vaidoso dizendo: Quando eu prego, cai o poder de igreja, os crentes gritam e levantam as mãos, até dançam no espírito. Eu lhes pergunto: Quantos pecadores se convertem, quantos doentes ficam curados, quantos oprimidos são libertos? A glória é só de Deus. “Convém que Ele cresça, e eu diminua.” (Jo.3:31). “Não a nós, Senhor; não a nós, mas ao Teu nome dá glória” (Sl.115:1).
Deus nos ajude em nome de Jesus.
* Pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, colaborador do Portal Escola Dominical