Postado por Josiel Dias
Anistia Internacional culpa líderes mundiais pela morte de milhares de civis que fogem de guerras no Oriente Médio e na África
— Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, o número de deslocados ultrapassou os 50 milhões. E a maioria vem da Síria, onde mais da metade da população teve que fugir por causa da guerra civil que toma conta do país há mais de quatro anos.
A denúncia, publicada nesta segunda-feira em novo relatório da Anistia Internacional, mostra que, no total, cerca de quatro milhões de mulheres, homens e crianças são hoje refugiados no país — 95% deles divididos em cinco Estados vizinhos.
“Estamos testemunhando a pior crise de refugiados de nossa era, com milhões de mulheres, homens e crianças que lutam para sobreviver em meio a guerras brutais, redes de traficantes de pessoas e governos que perseguem interesses políticos egoístas, em vez de mostrarem compaixão humana”, disse Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional, em um comunicado.
“A crise de refugiados é um dos principais desafios do século XXI, mas a resposta da comunidade internacional tem sido um fracasso vergonhoso. Precisamos de uma reforma radical das políticas e práticas para criar uma estratégia global coerente.”
Trata-se de uma das maiores crises de refugiados na História e a resposta da comunidade internacional, no entanto, tem sido um fracasso. De acordo com a ONG, apesar do enorme afluxo de migrantes, os países de acolhimento têm recebido quase nenhum apoio internacional significativo. No total, 86% dos refugiados estão em países em desenvolvimento.
“É claro que a situação na Síria não vai permitir que eles voltem para casa em breve. No entanto, países vizinhos estão chegando ao limite e alguns têm recorrido a medidas profundamente preocupantes, incluindo negar às pessoas a entrada, empurrando-os de volta para o conflito”.
Nesta segunda-feira, autoridades turcas reabriram suas fronteiras a centenas de sírios que fogem dos combates entre as forças curdas e os jihadistas do Estado Islâmico pelo controle da cidade de Tall Abyad.
“Não se deveria deixar um Estado sozinho frente a uma crise humanitária maciça, simplesmente porque ele partilha uma fronteira com um país em um conflito”, acrescentou Shetty.
No relatório, a ONG pede ainda a criação de um fundo para os refugiados e um compromisso coletivo para o recebimento de um milhão de pessoas nos próximos quatro anos. O pedido foi reforçado pelo relator especial da ONU sobre os Direitos Humanos de migrantes e assuntos de minorias, que criticou as ações adotadas na Europa para lidar com o problema.
— Lamentamos a contínua ineficácia do sistema da União Europeia para controlar as fronteiras e a falta de coerência na abordagem das questões de migração — afirmou nesta segunda-feira François Crépeau durante debate no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.
Na África, onde se estima que vivam três milhões de refugiados, embora muitos países abrem suas fronteiras, o discurso xenófobo e racista foi normalizado. Em vários lugares, os refugiados têm direitos limitados e, em alguns casos, não são legalmente reconhecidos como tal. Um exemplo recente foram os ataques na África do Sul, em abril de 2015, que deixaram milhares de deslocados internamente.
Sobre a crise de imigrantes no Mediterrâneo — pelo menos 1.865 pessoas morreram nos primeiros meses deste ano tentando chegar à Europa pelo oceano — a ONG pediu aos países europeus que compartilhem o fardo do acolhimento, dividido especialmente entre Itália e Grécia. E elogiou, com ressalvas, a operação Triton foi lançada em novembro de 2014 para ajudar a Itália a controlar as suas fronteiras marítimas e resgatar os imigrantes.
“A crise global dos refugiados não será resolvida, a menos que a comunidade internacional reconheça que é um problema global e lide com ela como tal”, destaca o relatório.
Depois de uma série de naufrágios que mataram centenas de pessoas, a Comissão Europeia decidiu, em abril, triplicar o orçamento da operação.
OGlobo/Agências internacionaishttp://josiel-dias.blogspot.com.br/