Artigo do Pr. Marcelo de Oliveira, publicado originalmente no Jornal Mensageiro da Paz - Junho/2015
Sélah – O “misterioso” sinal - Por Pr. Marcelo de Oliveira
A palavra “sélah” é empregada 71 vezes nos salmos e 3 vezes no profeta Habacuque. Ao que parece, Habacuque era um profeta-sacerdote relacionado com os cantores do templo (Hc 3.1,3,9,13,19).
Até hoje sua etimologia, mas especialmente seu real significado são incertos para os estudiosos. Os comentaristas apresentam as seguintes sugestões para o seu significado:
a) Um sinal litúrgico (salal=elevar), talvez para que fossem elevadas as vozes ou as mãos em atitude de oração.
b) Deriva-se de uma raiz aramaica – sl = prostrar-se. Seria um sinal indicativo para que nesse ponto o adorador se prostrasse.
c) Uma orientação musical dada aos cantores ou à orquestra para “elevar”, isto é, cantar ou tocar mais forte, ou um acompanhamento mais alto. Esta explicação é a mais generalizada e mais aceita por todos.
d) O original hebraico sélah significa “descanso de um; suspender ou erguer”, podendo significar o suspender de uma balança para
e) Na Septuaginta, ou a tradução dos setenta, do hebraico para o grego, sélah foi traduzida por – “diapsalma”, que significa intervalo, interlúdio, mudança de tom.
f) Em outras traduções gregas como a de Áquila, sélah foi traduzida por aevi – sempre; enquanto Teodocião traduz por eivs tevlos – evs tilos = no fim; parecendo indicar uma benção litúrgica semelhante a Amém e Aleluia.
g) Sélah é uma pausa para que o nosso pensamento seja elevado a Deus. É um suspiro pausado de alegria, quando alguém que amamos chega inesperadamente a nossa frente ou à nossa casa. Seria uma espécie de interjeição de alegria ou satisfação.
h) Sélah é o expressar harmonioso de todas as fibras de um coração que ansiasse pelo auxílio de Deus e de repente sentisse a doce serenidade da presença divina, como seu conclui dos Salmos 67.1
Nos salmos 143.6 está escrito: “A ti levanto as mãos; a minha alma anseia por ti, como terra sedenta – Sélah”. A palavra aqui significa fazer uma pausa e elevar e não simplesmente a voz.
O erudito Stainer comenta que “sélah” seria uma tentativa de retratar uma imagem através de sons, como um interlúdio musical. Partindo deste pressuposto Stainer descreve vários tipos de “sélas”, que mostraremos a seguir:
1. O sélah sacrificial – Stainer comenta sobre esse sélah dizendo: “Sabe-se que o som de trombetas acompanhava o ritual do altar, produzindo um ressoar de trombetas de prata, como se fosse a fumaça do sacrifício subindo ao céu. Depois que a vítima era consumida, a música do ofertório silenciava”. Aqui cabe uma explicação das palavras difíceis dos Salmos 47.5: “Deus subiu em meio a gritos de alegria; o Senhor, em meio ao som de trombetas”. O sélah que precede esse versículo era o interlúdio sacrificial das trombetas aumentando com aleluias altos, que iam desaparecendo à medida que a fumaça diminuía até que, acima das brasas quase extintas do sacrifício, os levitas entravam novamente para dizer que o Senhor, que lhes pareceu descer até eles do mais alto do céu para receber a oferta, tinha voltado novamente para seu trono sublime.
2. O sélah da guerra (Sl 60.4; 76.1-3) – Nesses salmos vemos Deus quebrando as armas de guerra e entrando na batalha. O Senhor é apresentado aqui como “Senhor dos Exércitos”. As trombetas, provavelmente é o “shofar”, feito com chifre de carneiro retorcido. Essa trombeta era usada especialmente nas batalhas, para conduzir as tropas. Quando os líderes de Israel tocavam esta trombeta, Deus entrava em ação em favor de seu povo. Veja estas referências: Js 6.5,20; Jz 3.27; 6.34; 7.16,18; Ne 4.18-20. Esse sélah de guerra – um interlúdio musical – servia certamente para descrever a ira e a fúria da batalha.
3. O sélah triunfal (Sl 49.15) – O salmista declara: “Mas Deus redimirá a minha vida da sepultura e me levará para si. Sélah”. Nos versos 13 e 14, observa-se o “sélah” da morte, quando as flautas tocavam uma melodia fúnebre sobre o perverso. Mas o interlúdio musical [sélah] do verso 15 seria o ressoar do trombeta – imagem do triunfo e da ressurreição dos mortos. Talvez isso indique a ressurreição dos justos na segunda vinda de Cristo, ao som da última trombeta (I Co 15.51-57; I Ts 4.13-18). Esse será sem dúvida o “sélah triunfal”.
Conclusão
Essas interpretações do termo “sélah” certamente servem de ajuda para ensinar a “verdade”. Às vezes compreendemos os versos apenas pelos “sélas”. O “sélah” não é apenas uma pausa, é também um interlúdio musical descritivo que ilustra e interpreta o que vem antes e depois dele, dando um “tom colorido” ao cenário, estimulando a imaginação dos ouvintes. A orquestra e os músicos do templo assim ajudavam os cantores com esses “sélas” descritivos, “sélas” de sinfonia melódica, sacrifício, guerra, paz e triunfo. Isso tornava nítido na mente dos cantores e adoradores aquilo que Deus estava dizendo através das palavras dos salmos.
Pr. MARCELO OLIVEIRA - Editor do BlogDavar Elohim
Teólogo, Pós Graduado em AT. Hebraísta. Escritor com 13 livros publicados. Membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil. Doutor Honoris Causa em Teologia pela Faculdade de Teologia Antioquia Internacional e Doutor Honoris Causa em Letras pela Academia de Ciências, Letras e Artes de Minas Gerais.
Bibliografia
KAISER, Hilmar Sathler. Selah. CCBB. 2009
CONNER, Kevin J. Segredos do Tabernáculo. Ed. Atos 2004
WIERSBE, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora
http://www.pointrhema.com.br/